sábado, 9 de agosto de 2025

AS CRIANÇAS NÃO SÃO CIGARRO DE AFIRMAÇÃO





Há quem fume para se afirmar, buscando atenção, identidade, influência social, integração.... Diz quem sabe que são sobretudo os adolescentes quem mais deita mão dessa arma. Mas pode tornar-se mortífera, sobretudo se quem a usa se deixa deslizar para o vício, ignorando os seus malefícios para a saúde do corpo e da carteira, bem como, em muitos casos, para o desequilíbrio dos parcos orçamentos familiares. No entanto, a meu ver, vão surgindo outras formas de afirmação mais difíceis de interpretar. São pouco estudadas nas suas causas, acho eu, muito menos nos seus efeitos, mesmo que possíveis pela ciência e permitidas pelas leis. As leis dizem-nos se um ato é legal ou ilegal. O que é legal, porém, nem sempre é lícito ou moral, até pode ser eticamente reprovável. Por outro lado, a experiência da vida, o peso da idade, os cabelos brancos e a ferrugem das dobradiças a afastar cada vez mais os pés para os enfiar nas meias e calçar os sapatos, fazem olhar para certas novidades com pouco entusiasmo. Muito mais quando se foi educado e passou a vida a viver e a ensinar a viver noutros padrões, com respeito absoluto pela dignidade humana, sobretudo dos mais frágeis. Seja como for, há que dar atenção a tais ‘modernices’, com paciência, com ternura e esperança, com dignidade, mesmo que com alguma dor. Não se pode perder o tino nem as estribeiras, mesmo que alguns espinoteiem com gana de partir a loiça!
Ora, antes que anoiteça, acompanhe-me, por favor, por esta cangosta adiante. Duas mulheres juntaram-se civilmente. Uma delas recorreu ao Banco de Esperma para ter uma criança. O óvulo que ela forneceu foi fecundado em laboratório com o sémen de um doador, não sei se identificado se incógnito. Depois, o embrião foi transferido para o útero da sua companheira, sendo esta a que engravidou e deu à luz. Se a primeira é a mãe genética, esta, a segunda, ao receber os óvulos da outra, torna-se em mãe substituta ou de aluguer. Em Portugal, é permitido que a criança fique com duas mães biológicas quando ambas participam da geração da criança. A criança foi pois registada no civil com duas mães, passando a ser considerada filha biológica de ambas, embora só tenha o adn da mãe que forneceu os óvulos e do doador do sémen. É vontade das duas mulheres que a criança faça caminho integrada na Igreja, querendo agora batizá-la. Noutra diocese, lá na paróquia onde possivelmente residem, a criança não foi batizada. Como tem ascendentes algures por outras bandas, querem agora batizá-la lá, uma forma de agir bastante comum, muitas vezes na tentativa de furar esquemas. Não pondo em questão a criança, pois não tem culpa de tal situação, o responsável pastoral, sabendo que a criança não fora batizada na sua terra, perguntou como agir, inclusive como fazer o respetivo registo paroquial no caso de haver Batismo. São, pois, duas questões: se a criança deve ser batizada apesar de não o ter sido lá onde vive, e se, no Assento do Batismo, devem constar as duas mães.
Ora, quanto ao Batismo da criança, a Igreja sempre deixou a questão em aberto, deixando-a à responsabilidade dos agentes da pastoral. Apenas lhes diz o que sempre lhes disse, inclusive quando se tratava ou trata de filhos de pessoas não casadas: “para que a criança seja batizada, deve haver uma esperança fundada de que será educada na religião católica”. Talvez fosse a falta desta ‘esperança fundada’ que levou os agentes da pastoral da terra onde vivem a adiar o Batismo da criança. Se quem prepara e batiza precisa desta ‘esperança fundada’, não lhe bastará que alguém o diga, é preciso que o testemunhe. Coisa, aliás, nem sempre fácil de avaliar e discernir. Infelizmente, muitos pais e padrinhos mentem à Igreja. Querem ser exceção, ao ponto de até já ter acontecido de alguém apresentar, para padrinhos, pessoas que nem batizadas são. E não só ficam de consciência tranquila, como, por vezes, manifestam orgulho por terem ludibriado os agentes da pastoral e as normas que deveriam cumprir. Não é, porém, aos agentes de pastoral que eles mentem. Eles mentem à Igreja, o que é bem mais sério.
Sobre como fazer o Assento do Batismo, nunca houve uma resposta clara. Anda muito pó no ar à espera de assentar para se vassourar o que deve ser varrido. Num ou noutro país, porém, e segundo a opinião de alguns peritos nessas áreas, como estes casos vão sendo mais frequentes e são precisas orientações, a Igreja, em fidelidade à sua doutrina, tem assumido que, no Assento do Batismo, nunca se deve escrever o nome de dois pais ou de duas mães do mesmo sexo. É certo que não são estas questões as que verdadeiramente interessam à pastoral, é verdade, mas são reais e criam tensão. Sabendo eu que uma resposta precipitada ou mal dada, logo se espalharia e poderia fazer doutrina, entendi que deveria partilhar com alguém a questão e perguntar-lhe o que é que ele entenderia, pois até poderia ter havido algum pronunciamento superior e eu dele não me ter apercebido. Soube depois que essa pessoa a quem perguntei, mui capaz e com elevadas responsabilidades e competência, mas também com as suas dúvidas, fez chegar a questão ao nível mais alto, aguardando-se ainda a resposta. Tudo isto leva a crer que a questão não é assim tão fácil e linear. Costuma dizer-se que a prudência e os caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. E como o leitor sabe, na Igreja, nestes casos e noutros semelhantes, se há princípios também há sensibilidades e sensibilidades. Enquanto uns, querendo ser mais papistas que o Papa, passam orgulhosamente para além da taprobana, insinuando que foi o Papa quem disse aquilo que eles gostariam que o Papa tivesse dito, mas, de facto, não o disse, outros há que, pelo facto de o Papa ter dito o que disse e disso não gostarem, preferem rasgar as vestes, vestir-se de saco e sentar-se na cinza, rezingando, não pelo calor das brasas que lhe aquecem as calças, mas pela frieza de coração e grave hiponatremia! Como veem, há perguntas cuja resposta é difícil, e, seja ela qual for, nunca agradará a todos. Só o Vasquinho da Anatomia é que, finalmente, com garbo e grande aplauso, conseguiu agradar às babosas tias sempre ludibriadas, aos colegas e fadistas da vida airada, ao embasbacado júri do exame de medicina e ao auditório presente na sala onde ele cacarejou sabedoria médica aos molhos, terminando a responder que o principal músculo flexor do pescoço era “o esternocleidomastóideo…”.
Embora todos desejemos que estas crianças cheguem ao nível mais alto no campo da cultura e do bem estar pessoal e social, há muitas perguntas que, embora se possam colocar perante qualquer criança que nasça, aqui, nestes casos, são muito mais pertinentes e abundantes. Os direitos inalienáveis das crianças não podem ser esquecidos por quem, porventura, delas se queira servir para se afirmar, pessoal, ideológica ou politicamente. E embora sejam contas doutro rosário, acho até que nem a legislação laboral portuguesa contempla os direitos e deveres relacionados com esta complexa parentalidade a três. Neste tempo de tantas perceções fulgurosas, esta é a minha perceção, aliás, aliada também ao direito da minha liberdade de expressão! ihihihih...



D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 08-08-2025.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Os rostos anónimos de Deus



“… porque todos deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo possuía, todo o seu sustento”
(Mc 12, 44).



Começa para muitos o tempo do descanso e sabe tão bem poder libertarmo-nos dos caminhos da rotina, da escravidão do despertador e da prisão do tempo sempre com hora marcada. Envergonho-me de o dizer, mas são mais que muitas as vezes que não guardo tempo para subir ao monte para orar em solidão (cf. Mt 14, 23), para falar-te em silêncio. Tantas outras começo, já deitada com o peso dos cansaços do dia, mas adormeço antes de te conseguir ouvir. Por isso, cada vez gosto mais destas nossas conversas semanais, durante as quais partilho contigo o que tenho trazido no coração.

Confrontada com imagens devastadoras dos incêndios desta última semana e, sobretudo, com rostos que retratam a exaustão que não carece de uma só palavra, o meu coração bate com arritmias de impotência. Tantos bombeiros, voluntários ou não, que não descansam neste mês em que o nosso país parece estar ‘fechado até setembro’, para que outros possam descansar, para que outros não percam os frutos do trabalho de uma vida e para impedir que alguém perca o dom mais precioso que nos deste: a vida. Lutam contra fogos descontrolados, tantas vezes ateados por ganância ou maldade, e com recursos ridiculamente limitados porque parece haver sempre meios para o supérfluo, mas nunca o suficiente para o necessário. Nesta rotina anual dantesca, só mesmo as populações locais se preocupam em alimentar e dar abrigo a estes homens e mulheres que dão tudo, como a viúva que com duas moedas deu todo o seu sustento (cf. Mc 12, 42-44).

Sei que há muitos outros heróis anónimos que por estes dias também têm dado tudo, pondo-se em situações de perigo para ajudar os mais fragilizados, como os idosos, enfermos, crianças e até animais, tentando poupá-los das consequências do egoísmo e da desumanidade do Homem. Simplesmente, a farda vermelha surge na época estival como símbolo deste esforço incansável. Nela estão estampados os rostos das pedras vivas que diariamente ajudam a construir a tua Igreja, mesmo que não o saibam.

Nunca deixa de me surpreender esta capacidade de tornar o pior no melhor de nós nestes momentos de maior angústia e dor. É entusiasmante ver que onde abunda o pecado, superabunda a graça (cf. Rom 5, 20) porque esta capacidade não vem de nós, mas de ti. É o teu Espírito que se move em nós e nos comove, que nos agita e impele, que nos enche de ti.

Nos momentos mais espinhosos da vida, nessa comunhão vemos a concretização da tua presença, da tua fidelidade e do teu amor no nosso ‘agora’. Perante tão grande e maravilhoso milagre, renova-se a esperança do nosso ‘amanhã’. Desconhecidos que aprendem a ver-se com compaixão; heróis que abrem caminhos de fé e caridade. Todos estes homens e mulheres bem-aventurados, com fome de coragem e de forças para continuar e com sede de justiça e de paz estão exaustos, Senhor. Oferece-lhes a leveza do teu jugo para que possam, enfim, descansar em ti.



Raquel Dias

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

«Mudam-se os tempos, mantém-se as vontades»



O mundo contemporâneo tem tão pouco de diferente de mundos de outros tempos, pelo menos na minha humilde compreensão!

O básico indispensável continua a sê-lo, embora mais requintado, mas nem por isso o foco se volta para a verdadeira essência do ser humano.

Olho para muitos problemas que afetam os nossos dias, como inacreditáveis de tão sem sentido, ridículos até?!

Que insanidade é esta de lutar por terra e mais terra para se ser dono e senhor? Mas de quê? - de léguas de sofrimento atroz que ceifam vidas a troco de nada?

Que loucura é esta que permite a terrível saga da FOME, quando há no mundo que chegue e que sobre para erradicar esta atrocidade?

Que dizer da ditadura do dinheiro que tudo pode e do poder que tudo domina, da violencia ? - como se fossemos imortais?!

E nós tantas vezes impavidos e serenos a normalizar o horror apresentado todos os dias aos nossos olhos? Temos um minuto de compaixão para 1 hora de scrol!

A diferença pode começar em nós, de forma simples e aparentemente inócua, mas há-de ressoar de alguma forma.

Força, luz e esperança para todos nós!

 Lucília Miranda

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Descansar sem culpa(s)



Chegamos ao fim de mais um ano letivo. Para muitos, esta é a medida de tempo que rege a época de trabalho e de descanso. O verão traz-nos a promessa de um tempo novo. Sem grandes preocupações nem responsabilidades. Sem grandes decisões ou complicações. Sem tantas dificuldades ou entraves. O trânsito nas grandes cidades abranda e faz-nos sentir que a vida seria mais fácil se não quiséssemos sempre ir todos para os mesmos sítios, a toda a hora. A migração de verão levará este movimento para Sul, onde nos encontraremos novamente e desejaremos, então, ter escolhido um destino de férias mais sossegado.

Parece que já não sabemos estar em lugares que não estão na moda, que não são mostrados nas redes sociais e que ninguém conhece. Bendito esse tempo da nossa infância em que as férias para sul significavam uma viagem de carro de dia inteiro, mas não implicavam o (re)encontro com milhares de pessoas. O tempo era diferente, a dispersão mais saudável e repartida. Havia tempo e espaço para todos. E sobrava. Não havia tantos atropelos nem na rua, nem nas praias, nem nos restaurantes que, por milagre, estão sempre cheios apesar “da(s) crise(s)”.

Usamos o verão para esquecer. As férias são arma pacífica e florida que não nos deixa espaço para sermos infelizes ou para desvelar as negatividades que nos assolam no resto do ano. E que bom que é.

Será? Será bom usarmos este tempo para esquecer o que não deixa de lá estar?

Ou faria mais sentido encontrar espaço para o descanso mais frequentemente, bem como para todas as outras emoções, sentimentos e eventos mais ou menos disruptores?

Queremos esquecer tudo num mês. Com três ou quatro mergulhos na piscina ou no mar que está cada vez mais quente (!).

Lamento informar que não é assim que funciona. O verão é só o verão e a vida continuará a desenrolar-se em nós como no inverno ou noutro tempo qualquer.

Que possamos encontrar tempo para descansar, para deixar o sol nutrir o corpo e a alma, mas que possamos encontrar também espaço para refletir de que formas podemos viver com mais coerência. Estejamos de férias ou não.

Boas férias! E bom descanso! Mesmo assim…



Marta Arrais

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Abraçar a experiência da vida!



Passamos grande parte da nossa vida focados no que está fora de nós. Tentamos controlar o que os outros pensam, o que sentem, o que fazem. Sofremos por palavras que não dissemos, por gestos que não recebemos, por acontecimentos que não conseguimos prever ou evitar.

E, nesse esforço constante de querer agarrar o incontrolável, esquecemo-nos daquilo que verdadeiramente está nas nossas mãos. Abraçar a vida como ela é, os outros como são, e a nós próprios com tudo o que trazemos.


Muitas vezes esquecemo-nos que nós somos o nosso lugar de chegada como peregrinos desta vida.

Esquecemo-nos que podemos recomeçar. Não importa quantas vezes. Cada dia é uma nova possibilidade. Cada manhã é uma folha em branco, onde podemos reescrever a nossa história, sem medo, mas com muita coragem.

Esquecemo-nos do amor. O amor que damos e o que recebemos. Acredito que é o motor do sentido da vida. Que transforma um mundo solitário, num lugar mais bonito e humano.

Está na hora de passarmos a olhar para dentro! O lugar onde podemos fazer as nossas escolhas, com a bússola do coração.

Boas férias!


Carla Correia

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Para Quem será?




A ideia de ser pó da terra não me agrada!

Possuir na mesma medida que o outro, não me basta!

A minha colheita é muito maior, pois trabalho para isso!

Aspiro para mim, para a minha vida, algo mais!

E Tu, Senhor… és Algo Mais.


Quero-Te na minha vida.

Quero-Te como colheita farta e maior vaidade.

Em Ti coloco toda a minha Esperança.

E abandono-me, totalmente, aos Teus desígnios.


Peço-Te uma Alma pobre.

Um coração capaz de se alegrar na dor e na desilusão.

Um corpo forte que leve Jesus a Todos e Todos a Jesus, de mãos abertas.

Que os meus olhos vejam a riqueza que é ter-Te sempre presente na minha vida.


Que a minha boca fale de Ti no silêncio profundo,

de uma oração humilde,

que me une a todos os jovens que, neste Jubileu,

anseiam encontrar-Te.

Vem, Senhor, com o Teu Reino de Amor.


Liliana Dinis,

S. João Maria Vianney, Cura de Ars, padroeiro do Clero com cura das almas


Se soubéssemos bem o que é um padre na terra, morreríamos: não de medo, mas de amor". A vida de São João Maria Vianney pode ser resumida neste pensamento.
Também conhecido como "Cura d'Ars", João Maria Vianney nasceu em 8 de maio de 1786, em Dardilly, próximo de Lyon. Seus pais eram camponeses e, desde pequeno, o encaminham ao trabalho da lavoura, tanto que, aos 17 anos, João ainda era analfabeto.
No entanto, graças aos ensinamentos maternos, conseguiu aprender muitas orações de cor e viveu uma forte religiosidade.



S. João Maria Vianney nasceu perto da cidade de Lião, em França, a 8 de Maio de 1786. Cedo descobriu a sua vocação para o sacerdócio. Mas foi excluído do seminário pela sua dificuldade nos estudos. Foi, então, ajudado pelo pároco de Écully e, com quase trinta anos, foi ordenado sacerdote em Grenoble. Em 1819, foi nomeado pároco de Ars. Permaneceu quarenta e dois anos a paroquiar a pequena aldeia, que transformou, graças à sua bondade, à pregação da palavra de Deus, a sua mortificação e à sua caridade. A sua fama espalhou-se de tal forma que gente de toda a parte o procurava para se confessar e ouvir os seus conselhos. Faleceu a 4 de Agosto de 1859. Foi canonizado por Pio XI, em 1925, que também o declarou padroeiro de todos os párocos.

Hoje, pretendo percorrer brevemente a vida do Santo Cura d'Ars, destacando alguns traços que possam servir de exemplo para os sacerdotes do nosso tempo, certamente uma época diferente daquela em que ele viveu, mas marcada, em muitos aspetos, pelos mesmos desafios fundamentais humanos e espirituais... O Santo Cura d'Ars sempre manifestou a mais alta consideração pelo dom recebido. Afirmava: "Que grandioso é o sacerdócio! Só se compreende bem no Céu... Mas, se o compreendesse sobre a terra, morrer-se-ia, não de temor, mas de amor". Além disso, quando criança, tinha confiado a sua mãe: "Se eu fosse padre, conquistaria muitas almas". E assim foi. No serviço pastoral, tão simples como extraordinariamente fecundo, este anónimo pároco de uma distante aldeia do sul da França conseguiu de tal modo identificar-se com o seu ministério que se tornou, de uma maneira visivelmente reconhecível,outro Cristo, imagem do Bom Pastor, que, ao contrário dos mercenários, dá a vida por suas ovelhas (cf. Jo 10:11). A exemplo do Bom Pastor, ele deu a vida durante as décadas do seu serviço pastoral. Sua existência foi uma catequese viva que adquiria uma eficácia particularíssima quando as pessoas o viam celebrar a missa, deter-se em adoração diante do sacrário ou passar muitas horas no confessionário... Atualmente, os desafios da sociedade moderna não são menos exigentes do que no tempo do Santo Cura d´Ars. Talvez até se tenham tornado mais complexos. Se naquele tempo havia a "ditadura do racionalismo", hoje verifica-se em muitos ambientes uma espécie de "ditadura do relativismo". Ambas oferecem respostas inadequadas à justa procura do homem... O racionalismo foi inadequado porque não teve em conta os limites humanos e aspirou a elevar apenas à razão a medida de todas as coisas, transformando-as numa ideia; o relativismo contemporâneo mortifica a razão, porque de fato chega a afirmar que o ser humano não pode conhecer nada com certeza além do campo científico positivo. Hoje, como então, o homem, "mendicante de significado e completude", sai em permanente busca de respostas exaustivas às questões de fundo, que não cessa de se colocar... O ensinamento que a este propósito continua a transmitir o Santo Cura d'Ars é que, na base de tal empenho pastoral, o sacerdote deve cultivar uma íntima união pessoal com Cristo, fazendo-a crescer dia após dia. Só se estiver apaixonado por Cristo, o sacerdote poderá ensinar a todos esta união, esta amizade íntima com o divino Mestre; poderá tocar os corações das pessoas e abri-las ao amor misericordioso do Senhor. Só assim poderá infundir entusiasmo e vitalidade espiritual à comunidade que o Senhor lhe confia... (Extratos de um discurso de Bento XVI, em 5 de Agosto de 2009).

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