domingo, 9 de novembro de 2025

Dedicação da Basílica de Latrão

 



A Basílica de S. João de Latrão é a catedral do Papa, enquanto Bispo de Roma. Construída pelo imperador Constantino, no tempo do Papa Silvestre I, foi consagrada no ano 324. Ela é chamada “a igreja-mãe de todas as igrejas da Urbe e do Orbe”; e é o símbolo das Igrejas de todo o mundo, unidas à volta do sucessor de Pedro. A Festa da Dedicação da Basílica de Latrão convida-nos a tomar consciência de que a Igreja nascida de Jesus (que a Basílica de S. João de Latrão simboliza e representa) é hoje, no meio do mundo, a “morada de Deus”, o testemunho vivo da presença de Deus na caminhada histórica dos homens.

Na primeira leitura, o profeta Ezequiel anuncia aos exilados na Babilónia que Deus vai fixar definitivamente a sua morada no meio do Seu Povo. Da “casa de Deus” brotará um rio de água viva e abundante que se derramará sobre toda a terra de Israel. Essa água irá fecundar o deserto, fazer com que nasçam árvores de toda a espécie, carregadas de frutos comestíveis e de folhas medicinais que serão remédio contra a morte. O povo de Deus, vivificado pela água que brota da morada de Deus, conhecerá a vida em abundância, a felicidade sem fim.Se Deus reside no meio dos homens e derrama sobre eles vida em abundância, porque é que existem na história do nosso tempo tantos pontos negros de miséria, de injustiça, de exploração, de sofrimento? Dificilmente conseguiremos, alguma vez, encontrar uma resposta totalmente satisfatória para esta questão… Convém, no entanto, ter presente que uma parte significativa dos males da humanidade resulta do facto de os homens serem indiferentes às propostas de vida que Deus continuamente lhes faz… Não é Deus que falha; são os homens que, utilizando a sua liberdade, recusam a vida que Deus lhes oferece e preferem construir a história humana de acordo com esquemas de egoísmo e de pecado. Para que a presença de Deus na nossa história tenha um impacto real na forma como, dia a dia, se constrói o nosso mundo, é necessário que a humanidade abandone os caminhos do orgulho e da autossuficiência e aprenda a escutar, com humildade e simplicidade, as propostas e os desafios de Deus. No que nos diz respeito, estamos dispostos a isso?

No Evangelho, Jesus apresenta-Se como “o Templo Novo” onde Deus reside e onde marca encontro com os homens para lhes oferecer a sua Vida e a sua salvação. Quem quiser encontrar Deus deve aproximar-se de Jesus, tornar-se seu discípulo, abraçar o seu projeto, seguir os seus passos, viver animado pelo seu Espírito.Como é que podemos encontrar Deus e chegar até Ele? Como podemos perceber as propostas de Deus e descobrir os seus caminhos? O Evangelho que nos é proposto na Festa da Dedicação da Basílica de Latrão responde: é olhando para Jesus. Nas palavras e nos gestos de Jesus, Deus revela-Se aos homens e manifesta-lhes o seu amor, oferece aos homens a vida plena, faz-Se companheiro de caminhada dos homens e aponta-lhes caminhos de salvação. “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9) – disse um dia Jesus a Filipe, quando este Lhe pediu que “mostrasse o Pai” aos Seus discípulos. Somos, assim, convidados a olhar para Jesus e a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho”, aquela proposta de vida e de salvação que Deus nunca desistiu de nos apresentar; somos convidados a tornarmo-nos discípulos, a seguir Jesus a par e passo. Jesus é o Caminho que nos leva até Deus (“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém pode ir até ao Pai senão por Mim” – Jo 14,6). Estamos dispostos a deixarmo-nos conduzir por Jesus?

Na segunda leitura, Paulo recorda aos cristãos de Corinto (e aos cristãos de todos os tempos e lugares) que são, no mundo, o Templo de Deus onde reside o Espírito. Animados pelo Espírito, os cristãos são chamados a viver segundo um dinamismo novo, dando testemunho da bondade e da misericórdia de Deus no meio dos seus irmãos.O apóstolo Paulo vê nos conflitos, divisões, ciúmes, contradições, vaidades, dos membros da comunidade cristã de Corinto sinais evidentes da preponderância daquilo a que ele chama “a sabedoria do mundo”. Essa “sabedoria do mundo” opõe-se à “loucura da cruz”. A “sabedoria do mundo” é a lógica de quem ainda vive de forma egoísta, entrincheirado atrás do seu orgulho e da sua autossuficiência e ainda não se revestiu de Cristo. A nossa comunidade paroquial ou religiosa é uma comunidade fraterna, solidária, e que dá testemunho da “loucura da cruz” com gestos concretos de amor, de partilha, de doação, de serviço, ou é uma comunidade fragmentada, dividida, cheia de contradições, onde cada membro puxa para o seu lado, ao sabor dos interesses pessoais?

https://www.dehonianos.org/

Jesus fala do Templo que é seu corpo! 
Onde está Jesus? 
Jesus está presente na Igreja, que é o seu corpo, de vários modos: quando ela reza, quando assiste aos pobres, quando prega, quando governa o povo de Deus, quando administra os sacramentos, mas principalmente e de um modo especial quando ela celebra a Eucaristia!
 A presença Eucarística é a mais completa presença de Cristo na terra.
 Nesta vida, é desses modos que temos sua presença. 
Na vida futura nos uniremos a Ele diretamente, de modo total, sem necessidade de sinais sensíveis.

sábado, 8 de novembro de 2025

Assim também está bem!




No outro dia, enquanto lia um livro, deparei-me com uma frase que me fez parar; a frase era: “assim também está bem”. Vinha na sequência do relato de um testemunho de alguém que acabou por mudar radicalmente a sua vida após uma experiência de quase morte. Para além da força e da profundidade do relato, chegava esta frase simples, quase inaudível, mas, ao mesmo tempo, um grito.

“Assim também está bem”.

A reflexão que fiz trouxe-me ao lugar onde estou na minha própria vida. E resgatou-me esta ideia de que nem sempre a versão idealizada dos acontecimentos é a melhor versão. Claro que vivo (e vivemos) com uma expectativa elevada sobre tudo. Gostávamos de ser isto ou aquilo. De trazer este ou aquele resultado brilhante e iluminado para a nossa vida. Gostávamos, até, de evitar o sofrimento, os dissabores, as quedas e os momentos em que resvalamos ladeira abaixo. Contudo, não é isso, a vida. Quase nunca é isso, a vida. E talvez nos seja necessária esta sabedoria encerrada aqui: “assim também está bem”. Ou seja:

Não é como eu quero, mas assim também pode ser.

Não é o que eu esperava, mas quem sabe não chegue a ser melhor do que imaginei.

Não é como eu tinha visto o cenário final, mas aceito que também possa ser assim.

Comecei, assim, a fazer este exercício internamente. O de imaginar várias situações com resultados diferentes dos que eu gostaria ou quereria. E em cada um que contrariava a minha esperança ou as minhas vontades, tentava dizer: “assim também está bem”. E mudava tudo.

Ou melhor, mudava o mais importante: a minha postura relativamente ao que poderia acontecer.

Gostava de viver mais como este homem que viu a vida virada do avesso, mas que a recuperou de uma forma completamente nova e inaugurada.

Talvez nos falte amar mais as reviravoltas. Os planos trocados. As perspetivas nunca imaginadas.

Talvez esteja aí a raiz para uma vida mais pacificada.


Marta Arrais


sexta-feira, 7 de novembro de 2025

A esperança renovada...



É preciso acreditar, confiar e entregar-se, para que a magia da vida aconteça.
E a magia da vida é esta experiência de amor e de fé.

A Porta Santa, é a porta do nosso coração. E o nosso coração é o elo de maior ligação com Deus e, por isso, o elo de maior ligação com todos.

É preciso desarrumar, provocar e humanizar a vida, para que ela se regenere.

É preciso fazer o simples e o verdadeiro: limpar a casa por dentro.

Descobrirmo-nos na nossa existência
é uma ampliação profunda do nosso ser.

Estamos. Somos. Caminhamos.
A Esperança quando é viva, tem um sabor a eternidade!

Boa semana!


Carla Correia,

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Os arrogantes caem de muito alto



A arrogância leva os que se deixam ir a pensar e a julgar-se acima de todos os outros. O egoísta considera-se o centro do seu mundo e quer que os outros também o vejam como o ponto em torno do qual tudo se move, porque julga ser o único importante.

O arrogante vê sempre o que lhe é dado como uma pequena prestação de tudo aquilo a que julga ter direito.

A humildade é o reconhecimento da verdade; ser humilde é a forma mais concreta de ser grande.

A arrogância é fruto da ignorância, pois só quem ignora o que ainda lhe falta saber pode achar que já sabe muito.

Todos temos raízes humildes. Todos começamos do zero e, por mais harmonioso que seja o meio em que crescemos, terá sempre limitações.

Há quem não aceite a sua pequenez, igual à de todos nós, e por isso procure a todo o custo apresentar-se como alguém que não é. Quem assim se preocupa com aquilo que, de facto, não é, acaba por se esquecer de valorizar e de usufruir do que tem e do que é. Erro atrás de erro.

Talvez o maior problema de quem decide centrar-se em si é que acaba por nem amar nem se deixar amar. E isso é trágico.

O orgulho vai-nos fazendo subir, degrau a degrau, para níveis sempre mais elevados. O problema é que desses patamares nunca se desce… apenas se cai… no chão… e sozinhos.

A boa notícia é que há sempre quem ama e se preocupa com os que se escondem no orgulho. Não nos esqueçamos de agradecer a quem nos ajudou a levantar depois das nossas maiores quedas.


José Luís Nunes Martins

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Que história queres viver?



Ninguém nos explica que quem escreve a história da nossa vida somos nós.

Ninguém nos prepara para as intempéries que os outros podem ser, para as expectativas, para a vontade de corresponder ao que o mundo espera de nós.

Vimos a este plano (e a esta vida) sem manual de instruções, sem guia, sem mapa. Tudo nos parece uma experimentação constante. Às vezes julgamos que a vida adulta abrandará as dificuldades e nos premiará com mais certezas e mais definição. Mas é precisamente quando crescemos (e temos de tomar conta de tudo o que somos) que tudo parece desfocar-se ainda mais. Já não sentimos que é devido agradar aos pais, mas também parecemos não saber agradar-nos a nós mesmos. Como se estivéssemos numa permanente descoberta que, em vez de nos arrumar e pacificar, nos desestabiliza e desfortalece.

Queremos aceitar que somos adultos e, tantas vezes, nos aparece a nossa criança interna a precisar de colo, de atenção, de validação externa. E é nesses momentos que parecemos menos capazes de o fazer. Mais permeáveis às imprevisibilidades, mais frágeis, mais pequenos.

No entanto, e enquanto a vida não (nos) prescreve, somos chamados a escrever o que queremos que a nossa vida seja. Sem pretensões. Sem querer agradar. Mas sabendo que a única pessoa que não devíamos desiludir é aquela criança que mora, ainda, dentro de nós. É por ela que vale a pena continuar a apagar linhas, a reescrevê-las e a tornar a fazer (e a ser!) se for necessário.

Pedem-nos muito, todos. Pede-nos muito, a vida.

Mas somos nós os únicos capazes de dizer o não (ou os nãos) que mais nos trouxer(em) de volta à rota.
E a única rota por que vale a pena viver é a do coração.

A da alma.

Porque o dinheiro, os interesses, o prestígio e o parecer bem têm sempre os dias contados. Mas a alma e o coração que nos são casa… esses… nunca prescrevem. Nem mesmo quando a vida (nos) terminar.


Marta Arrais

terça-feira, 4 de novembro de 2025

A Deus os que partiram



“Formamos um só corpo em união com Cristo e

estamos unidos uns aos outros como membros do mesmo corpo.” (Rom 12, 5)



Senhor,

Quero os teus santos conhecer,

E em comunhão com eles viver.

Têm tanto para nos ensinar,

Exemplos de vida convertida em amor

Por, como Paulo, terem sido

por ti encontrados pelo caminho.


Santos que a tua vida testemunharam,

A ti se consagraram e por amor

Beberam do cálice do teu batismo,

Aceitando encarcerações, perseguições,

E muitos deles o martírio.


Nessa comunhão, sejamos gratos também

Pelos santos de trazer por casa e

Por aqueles que connosco conviveram,

Partilharam o pão, as nossas alegrias e tristezas

Até terem sido chamados por ti.


Há sempre dor no partir porque os olhos já não os veem,

Os ouvidos já não os escutam e as mãos já não os sentem.

Mas consola-nos a esperança de saber

que venceste o aguilhão da morte

Para nos ressuscitar contigo (cf. 1 Cor 15, 42-57).

Dá-lhes agora, Senhor, o eterno descanso na tua presença.


A nós que por aqui ainda andamos,

Dá-nos a tua graça para que

A chama da fé não se apague,

E amor pelos outros nunca acabe,

Sejam amigos ou inimigos.


Ajuda-nos a combater o bom combate (cf. 2 Tim, 4, 6-7)

Lutando contra a tirania do poder,

O egoísmo do dinheiro,

A marginalização dos que são diferentes

Ou que não compreendemos

E as muitas injustiças e desigualdades da sociedade.


Livra-nos das tentações do tentador,

Dos olhos que fingem não ver,

Dos ouvidos que não te escutam,

Da indiferença de corações empedernidos

E da ingratidão por tudo o que fazes

Por cada um de nós, através de nós e

Apesar de nós.



Raquel Dias,

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Os Nós e os outros.



Prolifera o discurso do Nós e ou outros como se Nós fossemos os detentores da verdade, da razão e da pureza. Os outros, esses... são diferentes e como tal não são Nós. Há que defender o Nós seja lá o que isso for. Se o Nós é um estatuto, uma condição social ou económica então eu não faço parte disso.

Alguém nos anda a vender a ideia de que há os bons e os maus, os que podem e os que não podem e esquecem-se que entre o Nós há quem mate, roube e seja corrupto como os dito ”outros”. Alguém nos anda a vender a ideia que não há mal em ser sexista, racista ou machista pois isso até dá likes e pronto, se o Nós gosta então está tudo bem.

Se isso é o Nós, então não quero!

Gosto de ouvir opiniões diferentes e sujeito-me muitas vezes a isso para treinar a minha resistência. Ainda que revire os olhos, tento ouvir os que têm uma opinião diferente e tentar perceber a razão disso. Não é fácil!

Não gosto de pessoas que tentam impor o anormal como a nova normalidade, pois para mim não vale tudo.

Não vale o insulto disfarçado de piadola;

Não vale o desdém disfarçado de presunção;

Não vale a ignorância disfarçada de sabedoria.

O resultado é bem visível.

Andamos agressivos uns com os outros, prontos a atirar pedras a quem ousa questionar ou até, com a melhor das intenções, se atreve a discordar de algo.

Andamos a incendiar relações, a pôr em causa amizades em troca de um suposto lugar entre os bons. O problema é que ninguém é perfeito e volta e meia caímos na desgraça tal qual anjo caído do céu. De repente alguém começa a ver que não és perfeita, que falhas como todos e rapidamente deixas de pertencer ao Nós. E aí começam as guerras internas, as mágoas e as tristezas.

Enquanto isso, brincamos com o nosso tempo e damos demasiado tempo a ouvir barulho que nos separa e, a dar um péssimo exemplo do que somos. Sem que nos apercebamos o nosso Nós está a ser destruído porque em breve todos querem ser os outros.

E tu amiga, quando sentes que não fazes parte do Nós?


Raquel Rodrigues