quarta-feira, 31 de março de 2021

Aberta



Aberta a porta do coração, o que pode confinar o nosso pensamento e o nosso agir? Nada. A nossa vida, a vida dos outros e a vida do próprio planeta depende da abertura do nosso coração. O seu palpitar faz fluir o sangue que corre nas veias e leva todos os nutrientes que precisamos para viver. Também se os nossos pensamentos e acções estiverem embebidos do mesmo fluir vital, renovam-se as estruturas, renovam-se os relacionamentos, e acende-se a luz sobre o próximo passo a dar.

Manter a mente aberta não é fácil. O conforto das nossas seguranças cristalizam o nosso modo de ver o mundo e a sua dinâmica. Sair das zonas de conforto é o impulso de quem se encontra sempre na disposição de aprender coisas novas. E só na descoberta de coisas novas mantém-se a nossa mente aberta.

Manter a acção aberta não é fácil. Por vezes, implica acolher a acção do outro, diferente da nossa, ou até oposta à nossa. Agimos por sentirmos possuir a razão de agir. Sabemos (ou pensamos saber) que a nossa acção é a mais correcta. Mas só uma acção aberta está disposta a deixar-se transformar pela acção do outro, de tal modo que a acção final não provém de mim, ou do outro, mas dos dois.

Manter abertas as palavras implica colocar-me primeiro no lugar do outro antes de as pronunciar. As palavras abertas são as que revelam novos horizontes e espaços de possibilidade. São palavras que suscitam no outro o desejo de falar, também, com palavras. São palavras de nos ligam, mas mantêm a nossa ligação aberta e disposta a acolher a sabedoria contida nas palavras daqueles que se cruzam no nosso caminho.

Manter a porta aberta pode dar ao sofrimento do outro um ponto de referência ao qual pode sempre retornar. Quem encontra aberta a porta e deseja entrar sente-se acolhido. Mas as portas não se reduzem aos lugares, ou os dividem, antes, unem-os. O exterior ao interior, independentemente do sentido. E são um sinal de acesso a um mundo de surpresas que se encontra do outro lado.

Manter as mãos abertas para acolher o que o outro nos quiser oferecer, ou oferecer o que as nossas contêm ao outro. Mãos vazias oferecem-se. Só podemos dar uma mão para ajudar se estiver aberta. Só podemos consolar com um toque no ombro do outro se abrirmos a mão. Só tocamos o rosto do outro para lhe demonstrarmos o nosso carinho com uma mão aberta.

Manter os braços abertos é uma mensagem clara ao outro de como lhe quero bem. Braços abertos revelam uma posição de vulnerabilidade. São um sinal de um acto de doação desinteressado e irresistível. Aliás, quem abre os braços para abraçar dificilmente volta atrás nessa decisão. É, por isso, um salto na confiança de que o outro acolhe a minha vulnerabilidade.

Manter a escuta aberta significa retirar todos os filtros dos preconceitos que tenho em relação ao que escuto. Requer uma atenção particular às ideias, emoções e razões do outro. Mantém-me vazio para poder, verdadeiramente, acolher o pouco de si que o outro me quer oferecer. Uma escuta aberta estabelece a confiança e com essa estreitam-se os laços que nos unem e nos entusiasmam a superar os maiores obstáculos.

Mas não posso esquecer que existem feridas que abertas continuam a magoar. Ou que fendas abertas no terreno seco continuam a dividir e a afastar, ou se essas fendas estiverem abertas no casco de um barco, podem afundá-lo. Existem processos que se abrem, mas mantêm por tanto tempo abertos que não dão espaço a novos processos. Há aberturas que têm limites e só um discernimento aberto pode ajudar-nos a perceber o que fazer.

Por fim, sê uma página aberta. Aberta para que os outros possam escrever o que mais os perturba e, assim, encontrar, de novo, o sentido da sua vida. Uma página aberta ao imaginário que os sonhos contêm e nos levam a pensar tudo se inventa e reinventa, e o impossível só demora mais tempo. Uma página aberta para estimular o fluir da história através do espaço aberto à novidade que existe no coração de cada pessoa que interage connosco. Uma página aberta que pode deixar-se modelar no origami dos contornos que transformam o vazio e o nada, em algo que embeleza o mundo à sua volta. E se uma página aberta se junta a outras páginas abertas, perfazem um caderno aberto à criatividade de Deus, e onde Ele pode desenhar um futuro novo e deslumbrante.



Miguel Oliveira Panão


terça-feira, 30 de março de 2021

Não percas tempo!



Esquecemo-nos, muitas vezes, da pressa que a vida tem. Esquecemo-nos que não temos autorização para perder tempo. Quando nos arriscamos a julgar que os dias são nossos, tudo pode virar-se do avesso, subitamente, para nos voltar a colocar no lugar. Não somos daqui. Não somos do mundo. Não somos dos nossos e, infelizmente, também não somos dos que amamos tanto.

Abrimos o coração, como uma caixa, e colocamos nele as coisas mais preciosas desta vida. O sorriso dos nossos. O toque da sua pele. O cheiro do seu perfume. O desalinho dos seus cabelos. O mar que dorme, sossegado, atrás dos seus olhares. Alheio a todas as lonjuras que nos terminam e querem determinar.

Não temos tempo. Andamos enganados a vida toda e ninguém nos diz a verdade. O tempo não é nosso. Não é teu. Nada do que viste, ou amaste, alguma vez te pertenceu. Aquilo que julgámos ter e guardar para sempre foi, somente, o esboço de uma ilusão. O rascunho de uma promessa sem lágrimas que nunca se cumpriu.

Estamos de passagem. Com um pé aqui e com o coração já preso ao Céu.

Estamos aqui como quem poisa, sem nunca deixar pegada alguma.

Estamos aqui como quem voa, sem nunca ter consciência das asas que só existem na nossa imaginação.

Estamos aqui como quem não sabe absolutamente nada. Como quem não compreende. Como quem quer respostas para todas as perguntas.

Dou-vos uma novidade: perguntas haverá sempre muitas. As respostas? Estarão sempre em vias de extinção. Como um lince ibérico condenado à solidão ou um tigre branco que nunca chegará a ver nascer nenhuma cria com o mesmo azul dos seus olhos.

Estamos condenados e, ao mesmo tempo, profundamente livres.

Estamos perdidos e, ao mesmo tempo, seguros de ter encontrado a nossa casa e os nossos lugares.

A vida não espera por ninguém.

Vê se dizes, hoje, o quanto amas.

Amanhã não sabemos se ainda cá estamos.

Vê se dizes, hoje, o quanto amas.

Marta Arrais


segunda-feira, 29 de março de 2021

O Sacramento da Reconciliação

 

https://www.youtube.com/watch?v=Rp1l8lDnGHM&t=13s




INFORMAÇÕES PAROQUIAIS - SEMANA SANTA

SEMANA SANTA

Dia 29-Alegrete-Segunda-Feira Santa

-18H30-Confissões


Dia 30-Arronches-Terça-Feira

-17H30-Confissões e Eucaristia


Dia 1 de Abril-Quinta-Feira Santa-Alegrete e Arronches-18H30-Ceia do Senhor


Dia 2 de Abril-Sexta-Feira Santa-Alegrete Arronches

-15H00-Celebração da Paixão


Dia 3 de Abril-Vigília Pascal.

-Arronches-21H30


Dia 4 de Abril-Horário habitual dos Domingos




domingo, 28 de março de 2021

DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO SENHOR

 

https://www.youtube.com/watch?v=yi7XlM8NfTk


A liturgia deste último Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projectos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste "servo" a figura de Jesus.
Temos consciência de que a nossa missão profética passa por sermos Palavra viva de Deus? Nas nossas palavras, nos nossos gestos, no nosso testemunho, a proposta libertadora de Deus alcança o mundo e o coração dos homens?
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
Os acontecimentos que, nesta semana, vamos celebrar garantem-nos que o caminho do dom da vida não é um caminho de "perdedores" e fracassados: o caminho do dom da vida conduz ao sepulcro vazio da manhã de Páscoa, à ressurreição. É um caminho que garante a vitória e a vida plena.
O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus - esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
A figura do jovem que, no jardim das Oliveiras, deixou o lençol que o cobria nas mãos dos soldados e fugiu pode ser figura do discípulo que, amedrontado e desiludido, abandonou Jesus. Já alguma vez virámos as costas a Jesus e ao seu projecto, seduzidos por outras propostas? O que é que nos impede, por vezes, de nos mantermos fiéis ao projecto de Jesus?
. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
Que esta semana seja "santa"... fixar alguns momentos precisos. É prudente, na vida trepidante que levamos, reservar na nossa agenda alguns encontros precisos que desejamos ter com o Senhor: em cada dia, viver com Ele um momento de oração, de meditação, de adoração; fixar as celebrações nas quais poderemos participar; prever a serviços a prestar, as visitas, etc. Que a semana seja "santa" nos momentos quotidianos de encontro com Jesus Cristo!



https://www.dehonianos.org

sábado, 27 de março de 2021

Quão próximo tens estado?



Quão próximo tens estado? Até onde tens deixado que a Sua presença te toque? Até onde tens permitido que a Sua presença te envolva?

Quão próximo tens estado? Podes achar que é difícil chegar mais perto. Umas vezes preferes achar que é impossível, outras ateimas que não és digno de tal merecimento. E ainda tantas outras, pensas que se deres mais um passo que todas as tuas certezas serão derrubadas e que terás, finalmente, que dar lugar ao desconhecido de ti mesmo, do outro e d'Aquele que sempre te convida.

Poderá ser mais fácil ficar nesse impasse. Poderá ser muito mais cómodo até nem enfrentares o medo de tudo vir a ser diferente, no entanto o que tens a ganhar com isso? A desculpa de que Ele não te quer, de que Ele não te aceita ou de que és imperfeito, foi demovida há uns bons milhares de anos quando Ele, depois de medir toda a Sua vida, decidiu dá-La sem medidas para que nenhum obstáculo, medo ou incerteza te impedissem de fazer caminho até ao Seu amor.

Permitires-te chegar mais próximo d'Ele não te livrará de todo o mal, nem te eliminará todas as questões, mas dar-te-á um sentido. Permitires-te chegar mais próximo d'Ele dar-te-á a oportunidade de seres envolvido e abraçado inteiramente pelo Seu coração. Permitires-te chegar mais próximo d'Ele levar-te-á a estar mais próximo de ti. Dos outros.

Quão próximo tens estado? Até onde tens deixado que Ele se manifeste? Que imagens é que tens guardado deste Deus?

Neste tempo de Quaresma, dá mais um passo até Ele. Só mais um e do jeito que tu quiseres. Dá mais um passo e abandona-te em Deus!



Emanuel António Dias


sexta-feira, 26 de março de 2021

Coloque na porta da sua casa uma cruz

Pastoral Familiar Portalegre - Castelo Branco

Em união com muitas paróquias a nível Diocesano e Nacional, vimos propor a todas as famílias que no Domingo de Ramos, possam colocar nas vossas portas, varandas ou janelas uma Cruz enfeitada com ramos e uma fita roxa, que ficará durante toda a Semana Santa. No Domingo de Páscoa, dia da Ressurreição do Senhor, a mesma cruz possa ser adornada com uma fita/tecido branco e flores, sinal da Páscoa florida, da Vitória de Cristo sobre o sofrimento e a morte.



E CADA UM VOLTOU PARA SUA CASA!...



Há frases a que nunca damos qualquer importância, mesmo que as leiamos vezes sem conta. Mas lá chega um momento em que nos fazem acordar como se de um relógio despertador se tratasse. Levantam-nos da soneira e levam o pensamento para voos sem fim. Isso acontece, sobretudo, quando lemos a Sagrada Escritura. Mesmo que conheçamos certos livros e passagens, há sempre novas perspetivas a descobrir, novas lições a tirar, passagens que, apesar de tantas vezes lidas e escutadas, nunca nos disseram nada. Mas chega um momento em que nos fazem abrir as janelas ao ar fresco da vida, trazem luz, sacodem-nos, levam-nos a outras paragens. É a riqueza da Palavra de Deus, de Deus que sempre nos surpreende e toca no ombro. Há dias, o Evangelho da Eucaristia terminava dizendo que “e cada um voltou para sua casa”.
Oh! Que frase tão comezinha e nada importante, é verdade! Mas o silêncio feito depois de a escutar, fê-la ecoar no sótão pensante e pôs-me a divagar. Neste voltar a casa, a casa pode ser entendida como a pátria, a terra natal, à qual nem sempre há gosto em voltar, sobretudo, se, por falta de condições, até se foi obrigado a sair de lá, ou, como neste momento, muitos não poderão regressar por causa da pandemia. Mas deixemos essa dimensão e fixemo-nos na outra casa, na casa de família. Pode-se voltar para casa vindo de muitos lugares: do trabalho, do cinema, do baile, da tasca, da noite, do café, do casino, da criminalidade, da casa do vizinho, da festa, do estrangeiro... Atendendo às circunstâncias de cada um, esse voltar a casa, pode não trazer consigo o sentimento de alegria, do desejo do encontro. Pode trazer tristeza e até rancor. Tristeza, por tantas e tantas razões. Talvez por saber que tem gente doente em casa, a sofrer, e não sabe o que lhe há de fazer, porque não tem pão na mesa para dar aos filhos e acaba de ser despedido do emprego, porque o amor e a paz deixaram de existir lá dentro daquelas paredes, porque...porque... Mas quem volta a casa pode também vir carregado de más intenções, de revolta, de desejo de violência, de ajuste de contas, de desprezo, vingança.... É verdade que tudo isso, aqui ou ali, pode acontecer. Esse voltar a casa, porém, também pode suscitar diferentes estados de alma a quem está em casa. Pode suscitar sentimentos de alegria e de boas-vindas naqueles que valorizam a família, que a cultivam nos valores e na verdade, que a promovem cada vez mais como comunidade de vida e de amor, como lugar saudável de refúgio e acolhimento, de alegria e de paz, de solidariedade e corresponsabilidade. Mas também pode acontecer que, quem está em casa, esteja sempre com o coração nas mãos. Pressente que quem está a chegar vem alcoolizado como de costume, esmurrado porque sempre em zaragatas, violento a exigir a mísera reforma de seus pais para a sua vida airada, useiro e vezeiro em violência, truculento com jeitos de quem pode e manda e a pensar que quanto mais alto fala mais razão tem...pobres filhos, pobres pais, pobre comunidade familiar!
E cada um voltou para sua casa!... A frase em questão aparece no contexto da discussão sobre quem era afinal aquele homem chamado Jesus, o Senhor da vida e da alegria de viver. Os próprios guardas do Templo, que foram mandatados para o prender, encostaram-se aos outros a ouvir o que Ele dizia e acabaram por regressar a casa sem o prender. Nunca tinham ouvido ninguém falar como aquele homem. A pessoa de Jesus fascinava, era profundamente atraente e inspiradora, nunca fechada a ninguém, sempre disponível ao dom e à alegria. Multidões sem conta apertavam-se para o ouvir falar e lhe tocar. A sua fama espalhava-se cada vez mais por toda a região. Muitos deixavam-se dominar pelo espanto e permaneciam encantados a louvar a Deus por estarem a ver e ouvir coisas tão extraordinárias e diferentes, como transformar a água em vinho, multiplicar o pão e o peixe, perdoar os pecados, ressuscitar os mortos, dar vista aos cegos, curar os coxos, sarar os doentes, acalmar os ventos e as tempestades.... Outros, sem palavras que os satisfizesse, limitavam-se a dizer que um grande profeta aparecera entre eles, que Deus, de facto, tinha visitado o seu povo. Outros, ainda, não menos maravilhados, também se perguntavam, boquiabertos, de onde é que lhe vinha tanta sabedoria e poder, pois pensavam conhecê-lo muito bem como o filho do carpinteiro e de Maria. O impacto que Jesus provocava, não por malabarismos ou excentricidades, mas pelas maravilhas que operava e pela força empática da sua palavra cheia de serenidade e beleza, alegrava as multidões e muitos deixavam tudo para o seguir. No entanto, se uns se maravilhavam com tudo o que estava a acontecer, os que se julgavam donos da verdade e dos outros, sentiam-se incomodados no seu posto, tornaram-se adversários rancorosos de Jesus, mesmo que em desacordo quanto à sua pessoa. Uns diziam: “Ele é realmente o Profeta”, outros afirmavam: “É o Messias”. Outros, porém, contestavam: “poderá o Messias vir da Galileia? Não diz a escritura que o Messias será da linhagem de David e virá de Belém, a cidade de David?”. “De Nazaré poderá vir alguma coisa boa?”. Nesse animado e desconfiado palanfrório de que nos dá conta o Evangelho, depois de terem ouvido Jesus e de se terem ouvido uns aos outros, puseram fim à discussão “e cada um voltou para sua casa”! Se discordavam quanto à pessoa de Jesus, este voltar a casa transportava neles um pensamento unânime. Todos magicavam como é que se haveriam de ver livres daquela “pestinha”, espécie de intruso a quem era preciso fazer calar, prender e matar. No próximo Domingo, na Leitura da Paixão, à pergunta hipócrita de Pilatos sobre o que havia de fazer a Jesus, ouvi-los-emos a gritar: “Crucifica-o! Crucifica-o!” Obtido esse objetivo e muito senhores de si, também “cada um voltou para sua casa!”
Pensando curtir a vida na libertinagem, fora e longe da casa paterna, também o filho pródigo acabou por voltar para casa. Caindo em si, constatou que a sua atitude aventureira o fez cair na maior das misérias. Nostálgico da casa paterna, sentiu o abandono dos amigos da onça, sentiu a vergonha e a solidão, o vazio e o nada, a tristeza e a fome. Arrependido e confiante, ganha coragem e decide regressar. Incerto quanto à reação do pai, ensaiou-se para lhe pedir perdão e que o tratasse como a um simples empregado. O pai, porém, surpreende-o. Logo que o vê, corre ao seu encontro, abraça-o, beija-o numa felicidade inaudita que nem sequer o quer ouvir a pedir perdão e apoio. Reveste-o com a dignidade de filho, de filho querido e amado com todos os direitos de filho, faz festa e festa rija. Que bom, o filho tinha regressado!
Esta parábola do pai do filho pródigo, foi-nos contada por Jesus para nos revelar o amor de Deus por cada um de nós. O pecado, tantas vezes manifestado no desejo de domínio, na falta de diálogo e transparência, na corrupção, nas formas de vida dupla, na tibieza ou vazio espiritual, na apatia e indiferença, faz-nos sentir mal, afasta-nos de Deus, gera vazio interior, mal estar, desassossega. Mas ninguém pode perdoar os pecados a si próprio. O perdão pede-se a quem se ofendeu. Pelo pecado, pela fuga da casa paterna, cava-se uma rutura na comunhão com Deus e com a Igreja, o que implica a necessidade do perdão de Deus e da reconciliação com a Igreja. Isto acontece através do sacramento da Confissão. Por maior que seja o pecado, a misericórdia de Deus é muito maior. Até no alto da cruz Ele perdoa a quem o matava! É por isso que o perdão dos pecados no sacramento da Confissão deve ser procurado e recebido “como uma prenda, como um dom do Espírito Santo, que nos enche da torrente de misericórdia e de graça que brota incessantemente do Coração aberto de Cristo Crucificado e Ressuscitado”, como afirma o Papa Francisco. É lá que experimentamos, de novo, a proximidade, a misericórdia, a surpresa de Deus que vem ao nosso encontro, nos abraça e dá paz. Não como mera segurança e conforto pessoal, mas como encontro vivo com Ele na força do Espírito Santo, donde nasce um renovado compromisso na construção da santidade e de um mundo melhor. Se o Sacramento da Reconciliação, ou Confissão, for central na vida de cada cristão, tudo será diferente e poderemos dizer uns dos outros que “cada um voltou para sua casa”, com uma fé mais adulta e madura, fermento de renovação familiar e social.
Na esperança da Ressurreição, a Quaresma passa por aí! Feliz Páscoa para todos, com muita saúde, alegria e paz.
D. Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 26-03-2021.

A importância do Domingo de Ramos

 O Domingo de Ramos ensina nos que seguir Cristo é renunciarmos a nós mesmos


A Semana Santa começa no Domingo de Ramos, porque celebra a entrada de Jesus em Jerusalém montado em um jumentinho – o símbolo da humildade – e aclamado pelo povo simples que O aplaudia como “Aquele que vem em nome do Senhor”. Esse povo, há poucos dias, tinha visto Jesus ressuscitar Lázaro de Betânia e estava maravilhado, pois tinha a certeza de que esse era o Messias anunciado pelos profetas, mas, esse mesmo povo tinha se enganado com tipo de Messias que Cristo era. Pensava que, fosse um Messias político, libertador social, que fosse arrancar Israel das garras de Roma e devolver-lhe o apogeu dos tempos de Salomão.

Para deixar claro a este povo que Ele não era um Messias temporal e político, um libertador efêmero, e sim, o grande Libertador do pecado, a raiz de todos os males, então, o Senhor entra na grande cidade, a Jerusalém dos patriarcas e dos reis sagrados, montado em um jumentinho; expressão da pequenez terrena. Ele não é um Rei deste mundo! Dessa forma, o Domingo de Ramos dá o início à Semana Santa, que mistura os gritos de hosanas com os clamores da Paixão de Cristo. O povo acolheu Jesus abanando seus ramos de oliveiras e palmeiras.

A importância do Domingo de Ramos-artigo

Foto ilustrativa: Arquivo CN/cancaonova.com

Os ramos lembram nosso batismo

Esses ramos significam a vitória: “Hosana ao Filho de Davi: bendito seja o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel; hosana nas alturas”. Os ramos santos nos fazem lembrar que somos batizados, filhos de Deus, membros de Cristo, participantes da Igreja, defensores da fé católica, especialmente nestes tempos difíceis em que essa é desvalorizada e espezinhada. Os ramos sagrados que levamos para nossas casas, após a Missa, lembram-nos de que estamos unidos a Cristo na mesma luta pela salvação do mundo, a luta árdua contra o pecado, um caminho em direção ao Calvário, mas que chegará à Ressurreição.

O sentido da Procissão de Ramos

O sentido da Procissão de Ramos é mostrar essa peregrinação sobre a terra que cada cristão realiza a caminho da vida eterna com Deus. Ela nos recorda que somos apenas peregrinos neste mundo tão passageiro, tão transitório, que se gasta tão rapidamente e nos mostra que a nossa pátria não é neste mundo, mas sim, na eternidade; aqui nós vivemos apenas em um rápido exílio em demanda da casa do Pai.

Felipe Aquino


INFORMAÇÃO PAROQUIAL

A Conferência Episcopal Portuguesa, na sequência das decisões governamentais, emanou orientações para a vida da Igreja em Portugal, no momento actual, nomeadamente o regresso das celebrações com assembleia.
Respeitando as normas da DGS e orientações da Conferência Episcopal, com as devidas condições de segurança, retomámos as celebrações nos dias e horários habituais.

Domingo de Ramos- Eucaristia no horário de Domingo - 12:00h

No cumprimento das orientações emanadas não se realiza a habitual Procissão de Ramos.

A Benção dos Ramos que cada pessoa trouxer consigo, terá lugar na Igreja Matriz durante a Eucaristia, não havendo distribuição de ramos nem deve haver trocas. 

Tenha em atenção que na noite de sábado para domingo os relógios adiantam uma hora.



Mudança da Hora – 28 de Março de 2021




quinta-feira, 25 de março de 2021

Já ouviste falar da renúncia quaresmal?


Já ouviste falar da renúncia quaresmal?



D. Antonino escreveu:

(...) "A Quaresma pede especial atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes socias… ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde dos outros… Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu Filho.

A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese.

Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.

Está disposto a ajudar-nos?


O resultado da sua Renúncia Quaresmal pode ser enviado por um dos seguintes meios:

- Em envelope disponível nas Paróquias

- IBAN: PT50003501170000319353023



Nunca és tu!



Nunca somos nós que discriminamos.

Nunca somos nós que olhamos de lado. Que temos segundas intenções. Que adivinhamos sentidos terríveis nas entrelinhas das palavras dos outros.

Nunca somos nós a cometer os erros que criticamos nos outros.

Nunca somos nós a fechar as portas. A fazer que os outros se sintam mal.

Nunca somos nós a atirar as primeiras pedras. As primeiras farpas. Os primeiros golpes.

Nunca somos nós a desistir. A atirar a toalha ao chão. A dizer que, por ali, não vamos mais.

Nunca somos nós a não querer saber. A não amar mais e melhor. A deixar para trás e a não olhar de volta.

Nunca somos nós a fechar o coração. A dizer que não damos mais oportunidades. Que já chega e que dar a outra face é para os fraquinhos.

Nunca somos nós. São sempre os outros que nos atacam. Que nos julgam. Que nos deixam. Que nos abandonam. Que nos amam pouco. Que não (nos) suportam. Que não têm paciência. Que não querem fazer um esforço.

Nunca somos nós a fazer queixas. A falar da vida dos outros e a avaliá-los, erradamente, por todas as coisas que não sabemos deles (nem queremos saber).

Nunca somos nós a apanhar o autocarro do pouco. A voar baixinho e a não querer arriscar a pele.

Nunca somos nós a ficar parados.

Nunca somos nós, pois não?

Ou seremos?


Marta Arrais


quarta-feira, 24 de março de 2021

Que o silêncio te guarde do mal




Quando estou mais sozinho, cansado ou intranquilo, e preciso de paz, busco-a na quietude que existe à minha volta… por vezes, uma simples pedra é capaz de me dar uma lição. Percebo, por exemplo, que todas as coisas que existem têm um propósito e que, no caso das pessoas, temos a liberdade de o decidir. Mas não basta escolhê-lo, depois é preciso cumpri-lo.

A pedra será sempre pedra, mas eu, para ser quem sou, preciso de orientar o que penso, digo e faço no sentido de me construir, apesar de tudo o que se passa à minha volta.

No meio de toda a confusão do mundo, as flores não deixam de florir. Não para serem mais belas, mas apenas para serem o que são.

As desgraças maiores não são aquelas que acontecem em nosso redor, mas as que deixamos entrar em nós e nos corroem a vontade de amar e ser felizes.

O que me anima? Acreditar que apesar de não ter poder para mandar no mundo à minha volta, posso mandar em mim e escolher um pedaço do mundo onde há paz e fazer desse lugar a minha morada. Anima-me ser capaz de dar paz a mim mesmo, quando tudo à minha volta está em guerra… Há algures em mim uma luz que é mais evidente quando tudo está escuro… é pequena, mas nunca se extingue. Há quem se revolte por este pequeno lume não ser uma fogueira enorme, mas a luz que me protege é capaz de pegar fogo e queimar todo o mal em mim, se eu quiser mesmo que assim seja!

Quantas desgraças na minha vida não são culpa do medo do silêncio?

A vida exige-nos que soframos com paciência e em silêncio.

Quando faço silêncio em mim e em torno de mim, descanso e encontro cura para muitos males.

Procura compreender o silêncio. Sem isso, nunca entenderás a profundidade do que os outros te dizem quando te amam.



José Luís Nunes Martins

terça-feira, 23 de março de 2021

ORAÇÃO- CARDEAL TOLENTINO MENDONÇA

 




Jesus não é isso que tu pensas



Jesus não é isso que tu pensas. Não, não é um milagreiro que te atende a tudo o que Lhe pedes. Muitos menos se pode definir como um "Deus S.O.S" que aparece apenas nas tuas aflições ou somente quando te lembras d'Ele. Não é alguém que te resolve os impossíveis com um simples estalar de dedos.

Jesus não é isso que tu pensas. Um conto de fadas que encanta e que seduz tudo e todos. É uma pessoa concreta. Real. Tão verdadeiramente humana que se deixou divinizar. E tudo o que disse e fez tocou e toca o mais profundo de cada um de nós. Tudo o que nos diz é revelador da radicalidade de um verdadeiro amor.

Jesus não é isso que tu pensas. Não é um tolo que disse apenas umas coisas acertadas. Ele é testemunho de que quando nos deixamos humanizar conseguimos interpretar, de forma simples, a complexidade existente em cada vivência. Ele é a prova de que antes de qualquer palavra, vale muito mais a presença. O toque. O olhar. Ele é a prova de que por trás de qualquer condição ou história há sempre espaço para acolher a pessoa com toda a sua dignidade.

Jesus não é isso que tu pensas. Não é alguém que te aponta constantemente o dedo. Ele é quem te acolhe sempre. É quem vai a correr até ti depois de o teres negado e de te teres desviado tantas e tantas vezes. É o único que mesmo tendo todos não fica descansado enquanto não te tiver a ti. Por perto a saborear da Sua alegria e do Seu banquete.

Jesus não é isso que tu pensas. É bem mais. É Deus feito homem que decidiu tornar toda a Sua vida num eterno caminho que nos conduz à verdade da vida. É Aquele, que não te livrando de todo o mal, sempre está. Através do silêncio. Das palavras. Dos rostos que tantas vezes nos mostram a Sua ternura e o Seu sorriso.

Jesus não é isso que tu pensas. É bem mais... muito mais!



Emanuel António Dias


segunda-feira, 22 de março de 2021

Ninguém sabe mais do que eu!



Não gostamos que os outros tenham coisas para nos ensinar. Sentimo-nos frágeis, perdidos, como se tivéssemos perdido o controle de tudo. Como é que alguém ousa querer saber mais do que eu? Mais do que a minha razão? Mais do que a minha arrogância?

Não conseguimos dar espaço aos outros para que nos digam que não temos sempre razão. Que há coisas que podemos não saber. Que nos enganamos e que isso não tem que nos diminuir, não tem que nos encolher o coração nem tem que nos fazer sentir que somos mais pequenos do que, na realidade, somos.

Fomos educados para não errar. Para não cair. Para não vacilar. Para não dar razão aos outros. Para não pedir desculpa. Para mostrar uma segurança intelectual que, muitas vezes, nem sequer chega a ser embrionária. Como é que ficámos assim? Quando é que deixámos de encontrar espaço (dentro de nós) para a humildade do eu-não-tenho-que-saber-tudo-nem-quero?

Algures no caminho que fomos fazendo, perdemo-nos. Revirámos os olhos perante a audácia daquele que ousou corrigir-nos. Dizer-nos que não era assim. Que sabia mais (e melhor!) do que nós.

Julgo que nos falta percorrer um caminho longuíssimo até alcançarmos a clareza de espírito que precisamos: não é necessário saber tudo. Não é necessário fechar a porta a todas as coisas que podemos aprender com os que se cruzam connosco. Não é justo, também. Que vida seria a nossa se descobríssemos tudo sozinhos?

Somos maiores de cada vez que nos calamos para ouvir os outros.

Somos maiores de cada vez que nos dispomos para aprender.

Somos maiores, mas sem nunca deixarmos de ser pequenos.

É essa a beleza de tudo.


Marta Arrais


domingo, 21 de março de 2021

O ALENTEJO NÃO PODE PENSAR PEQUENINO



Algum tempo depois de eu ter chegado a esta cidade de Portalegre, já lá vão mais de doze anos, um grupo restrito de pessoas, com convidados influentes nas estruturas da cidade, convidou-me a fazer uma palestra sobre como é que eu, recentemente chegado, via a cidade de Portalegre. Disse o que disse, ao meu jeito, como não podia deixar de ser. No dia seguinte, ou já nessa noite, um dos meios de comunicação social ali presente, com certeza que muito distraído durante o bate papo, fez ecoar que eu tinha ridicularizado a Estátua do Semeador. Fui enxovalhado tanto quanto bastasse nas redes sociais. Como lá disse e está publicado, eu não conhecia a cidade, vinha de Braga. Porque estava nevoeiro cerrado e era por volta das 9,30 da manhã, depois de umas voltas na cidade sem saber por onde andava, senti necessidade de perguntar o caminho para chegar à catedral. Indicaram-me por aqui, por acolá e por mais ali até chegar à Rotunda do Semeador. Quando cheguei junto daquilo que me pareceu ser a dita cuja, duvidei, mas era mesmo aquela a Rotunda do Semeador. Eu que vinha lá do Alto Minho, da zona dos minifúndios, a cogitar na grandeza do Alentejo e a pensar encontrar uma estátua robusta dum lavrador hercúleo e de alma alentejana, esbarrei com aquela estátua que descrevi como de um homenzinho, escondido debaixo de um chapéu, cansado e de saca sementeira às costas, sem aparência de garbo ou orgulho de o ser. Naquele contexto, e tornando a palestra mais leve e agradável, não deixei de dizer as minhas impressões, foi para isso que fui convidado. É evidente que não quis nem estou a defender que o brio duma terra deve estar nas rotundas que tem ou tenciona fazer. Trago isto agora à baila, porque, de facto, o Alentejo não pode pensar pequenino. Infelizmente, por quase todo o lado, os agricultores, na sua maioria, continuam a ser pequeninos, sem grandes posses, sem poder económico e reivindicativo, sem muito quem os defenda, reconheça o seu trabalho e os ajude a conquistar algum conforto. Mas o que se diz do agricultor, diz-se de muitos outros setores da atividade humana. Para virar o bico ao prego, é preciso acabar com aquele jeito de apenas se gostar de ouvir o que sempre se ouviu e se quer continuar a ouvir, pensando que, quem destoa na forma de ver e dizer, é inimigo, despreza a terra e deve ser descartado quanto antes. É preciso ouvir os outros com atenção, é preciso ouvir o diferente e as suas achegas, e, nesse laboratório do debate de ideias, aprender, rasgar horizontes e apostar no essencial. Pode, depois de analisadas e debatidas essas ideias, concluir-se, até colegialmente, que estas ou aquelas não são úteis nem realizáveis, mas é do bom senso abrir espaço e tempo para ouvir, confrontar e decidir com os dados de todos aqueles que entram no debate de boa fé e desejam o melhor. Esses mesquinhos preconceitos que levam a recusar de imediato e a deitar fora o que diz este ou aquele só porque vê e pensa diferente, é tremendamente negativo, uma pedra na engrenagem do próprio desenvolvimento. E há linhas mestras, estruturantes, que, depois de se darem as mãos e serem refletidas e debatidas, são verdadeiros alicerces sobre os quais se apoia a construção do desenvolvimento e do progresso local e regional. Por consequência dessa metodologia, deveriam ser assumidas e implementadas com toda a prioridade por quem, nos turnos de sucessão governativa, deveria sentir o dever de os continuar e não os arrumar na gaveta só porque não são dele ou dos dele. Aqui há anos, em conversa com um Presidente da CCDR, ele me dizia que não há união programática entre os responsáveis políticos e autárquicos sobre o que seria essencial. Cada um quer mostrar trabalho e apenas procura resolver as bagatelas da sua terra, qual cemitério de Sucupira. Aí se gastam as verbas, mas não há projetos de fundo para abranger a coesão territorial. Não é que não se devam resolver essas nicas ou bagatelas locais, pois também elas serão importantes, mas não de forma a sacrificar o estruturante, o principal e prioritário de que todos, por tabela, podem beneficiar.
Neste sonhar conjunto e debate necessário, têm importância capital as academias, mas sobretudo o ensino superior. São eles que produzem conhecimento. Com esse conhecimento surge a inovação. Com conhecimento e inovação é que se promove o desenvolvimento, as empresas evoluem necessariamente, outras serão atraídas, os empregos aumentarão, o definhamento da população inverter-se-á, os talentos locais que abalaram terão vontade de regressar, haverá massa crítica, o futuro será melhor. Foi isso que esteve presente há dias numa interessante mesa redonda que, para dar resposta aos desafios da Comissão Europeia, o Centro de Informação Europe Direct do Alto Alentejo - Politécnico de Portalegre organizou sobre a política de coesão no Alentejo, e da qual faço eco tanto quanto a minha atenção conseguiu captar. Constituíam a mesa do debate, o Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, António Ceia da Silva, o Deputado na Assembleia da República pelo Círculo de Portalegre, Luís Moreira Testa, e o Vice-Presidente do Instituto Politécnico de Portalegre, Luís Carlos Loures. Trataram de expor e ajudar a refletir sobre o impacto que os fundos de coesão tiveram no Alentejo, particularmente no Alto Alentejo, e de tentar saber quais as oportunidades futuras para o desenvolvimento e sustentabilidade desta região, que, se representa um terço do território nacional, só tem oito por cento da população, o que, se poderá com isso ter algumas vantagens, tem muitas mais desvantagens, a começar pelos poucos votos, e, como consequência, pouco ou nenhum peso político. De facto, é bom saber-se como é que se olham esses impactos se é que neles se tropeça. Como é que foram geridos os fundos comunitários da política de coesão. Qual foi a sua importância na requalificação do território. O que se fez, o que não se fez e deveria ter sido feito, o que ainda é preciso fazer mas já passou a ocasião, e, agora, para que se faça o que não se fez e devia ter sido feito, vai dar muita água pela barba ou nem se fará, pois já são consideradas prioridades negativas pela União Europeia. Pelo que se ouviu, constata-se que fomos penalizados pela lentidão, perdeu-se a ocasião, a velocidade e o comboio para captar verbas disponíveis para investimentos em áreas determinantes para o desenvolvimento social e económico da região e o desfazer de assimetrias. Resgatar o tempo e os apoios para fazer o que já devia estar feito e não se fez, não é tarefa fácil, embora seja preciso voltar a isso em vários sectores, sobretudo em âmbitos supramunicipais, isto é, fora do canteiro de cada município, pois esses investimentos trariam, por contágio, repercussões e benefícios para todos. Os prazos estabelecidos para isso são agora muito curtos. Uns, até 2026, outros, quer dentro do Programa de Renovação e Resiliência, quer do quadro de financiamentos 20-30. E isto, não para chorar sobre leite derramado, bem ou mal derramado, mas para que se ande ligeiro da perna e se projete o futuro, decidindo quais os empreendimentos verdadeiramente importantes e passíveis de novos financiamentos, não se tornando a perder esta nova oportunidade.
Os intervenientes no debate salientaram o que se fez de positivo. O país em geral, foi dito, aproveitou os principais desígnios dos fundos de coesão para diminuir as assimetrias, reestruturando equipamentos básicos, como seja a reabilitação do território para o turismo e visitantes, a agricultura e agropecuária, a paisagem, o ambiente, os saneamentos, a requalificação da rede escolar, do espaço público, a valorização do património, da dinamização cultural, dos equipamentos de saúde, dos serviços coletivos de proximidade, no apoio social, etc. Também se trouxe ao de cima a importância das Academias e do Ensino Superior em geral, que, se presentemente tem feito um trabalho de grande mérito nos esforços para a coesão territorial, nem sempre foi assim, sobretudo quando a investigação não era tão dirigida para o meio ou não tinha aplicação direta nas necessidades do território. De facto, sendo espaços de estudo e investigação, o ensino inova, produz conhecimento, mas o território só beneficiará desse conhecimento se ele for orientado, não só para se saber mais no plano científico, mas também, e sobretudo, para as necessidades existentes, tendo aplicação prática na promoção do desenvolvimento local, estando ao serviço de tudo o que é expressão de vida empresarial, económica e social. Se não há inovação, se não há conhecimento de aplicação prática, as empresas existentes não evoluem, não se atrairá outras, o emprego não crescerá, as pessoas deixarão de se fixar, os talentos locais irão à vida, a demografia, um grande quebra-cabeças do território, não inverterá a sua marcha, nem as empresas terão mão de obra capaz, mão de obra qualificada e menos qualificada, mas todas com justa retribuição. E como foi dito, não haverá grande interesse em desenvolver tecnologia muito avançada se não tem aplicação nem interesse empresarial, gerando riqueza, promovendo a produção.
Também veio ao de cima a Fábrica de aeronaves ligeiras a construir no aeródromo Municipal de Ponte do Sor. Irá criar cerca de 1200 empregos dentro do triângulo aeronáutico Ponte de Sor, Évora e Beja, sendo esta a primeira aeronave ligeira que se faz em Portugal. Envolve o Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto (CEiiA), sediada no Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia, em Évora, e uma empresa brasileira. Este projeto luso-brasileiro está integrado no Programa ATL-100, prevê quatro protótipos de aeronave, cuja construção do primeiro se presume em 2023 e a comercialização em finais de 2025 princípios de 2026. Prevê-se ainda o envolvimento de 30 empresa e universidades nacionais e internacionais, num investimento global estimado em cerca de 140 milhões de euros, lia-se há pouco nos jornais.
Outra iniciativa que se realçou foi a fixação do Fórum de Energia e Clima lançado no Instituto Politécnico de Portalegre e criado por entidades dos nove Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), cujo financiamento, para além do Fundo Ambiental português, se prevê através de candidaturas aos fundos da União Europeia e das Nações Unidas, numa luta contra a crise climática e com projetos em cada país CPLP. Como sabemos, o Politécnico de Portalegre já investiga e valoriza a economia circular, as energias renováveis e outros programas para cuidar da casa comum. Se o Alentejo tem condições para a fixação deste Fórum, foi essencial que alguém andasse a tempo e horas para o atrair para cá, trazendo investimento e outros projetos.
Há oportunidades que surgem e cujas decisões têm de ser rápidas, não se compadecem com o amanhã pensaremos nisso! Entre o importante e necessário, e para o qual é preciso continuar a ter olho fino e pé ligeiro, falou-se da Barragem do Pisão, dos investimentos na área da mobilidade e equipamentos da saúde, na ação social, na ligação Sines-Elvas-Caia-Madrid, na ligação A6-A23, na importância da linha férrea, na gestão da água, do reforço do sistema de digitalização, nas áreas de acolhimento empresarial com capacidade industrial e produtiva, numa casa comum mais verde, etc. etc. e etc. No entanto, tudo isto só poderá acontecer se não se voltar a perder o comboio, se se deixar de pensar pequenino, se se pensar o território de forma macro, se se derem as mãos, se as sinergias de inovação e dos conhecimentos académicos, dos poderes públicos e políticos, da sociedade civil e serviços de proximidade, se a política de influência, se todos convergirem, sem politiquices de caserna que nada resolvem e tudo atrasam ou impedem que se faça, lavando as mãos em águas turvas.
Parabéns ao Instituto Politécnico de Portalegre pela sua iniciativa, pelo notável trabalho que tem desenvolvido em favor do ensino e do desenvolvimento regional, pela sua dedicação, pelo seu entusiasmo e esperança no futuro. Bem haja!
D,Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 21-03-2021.

MCC- VIA SACRA ONLINE

 

Mcc - Diocese de Portalegre-Castelo Branco





Amigos cursilhistas: é tempo de oração lembrando, refletindo e rezando os Passos do Senhor. Vamos fazê-lo juntos......
Convidamos todos os cursilhistas da diocese e todos os que o queiram fazer connosco, a participar na VIA SACRA através do facebook em: "paróquias do P. Adelino", ou "mcc diocese de Portalegre-Castelo Branco" na próxima 2ª feira, dia 22, pelas 21h.
Iremos acompanhar com o nosso "Guia do Peregrino", última edição, capa dourada.
"Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, Eu estarei no meio deles''. iremos rezar juntos, na certeza que Ele estará connosco.







MORRER PARA FRUTIFICAR

 

https://www.youtube.com/watch?v=ak5XNQlIydI

Na liturgia do 5º Domingo da Quaresma ecoa, com insistência, a preocupação de Deus no sentido de apontar ao homem o caminho da salvação e da vida definitiva. A Palavra de Deus garante-nos que a salvação passa por uma vida vivida na escuta atenta dos projectos de Deus e na doação total aos irmãos.
Na primeira leitura, Jahwéh apresenta a Israel a proposta de uma nova Aliança. Essa Aliança implica que Deus mude o coração do Povo, pois só com um coração transformado o homem será capaz de pensar, de decidir e de agir de acordo com as propostas de Deus. O projecto de uma nova Aliança entre Deus e o seu Povo concretiza-se em Jesus: Ele veio ao mundo para renovar os corações dos homens, oferecendo-lhes a vida de Deus. As outras duas leituras que nos são propostas neste 5º Domingo da Quaresma vão dizer-nos como é que Jesus concretizou este projecto.
A segunda leitura apresenta-nos Jesus Cristo, o sumo-sacerdote da nova Aliança, que Se solidariza com os homens e lhes aponta o caminho da salvação. Esse caminho (e que é o mesmo caminho que Jesus seguiu) passa por viver no diálogo com Deus, na descoberta dos seus desafios e propostas, na obediência radical aos seus projectos. O caminho da doação total ao Pai não é um caminho impossível para os homens (Jesus, tornado homem como nós, demonstrou-o); mas é um caminho que os homens podem percorrer, apesar das suas fragilidades. É esse caminho que Jesus, o homem como nós, nos aponta. Temos espaço, na nossa vida, para dialogar com o Pai, para perceber os seus projectos para nós e para o mundo, para escutar os desafios que Deus nos faz? A nossa vida cumpre-se na indiferença para com Deus e para com os seus projectos, ou numa procura sincera e empenhada da vontade de Deus?
O Evangelho convida-nos a olhar para Jesus, a aprender com Ele, a segui-l'O no caminho do amor radical, do dom da vida, da entrega total a Deus e aos irmãos. O caminho da cruz parece, aos olhos do mundo, um caminho de fracasso e de morte; mas é desse caminho de amor e de doação que brota a vida verdadeira e eterna que Deus nos quer oferecer. Jesus rejeita absolutamente o caminho da auto-suficiência, do fechamento em si próprio, do egoísmo estéril, dos valores efémeros. Na lógica de Deus, trata-se de um caminho de perdedores, que produz vidas vazias e sem sentido, sofrimento e frustração, medo e desilusão. Quem vive exclusivamente para si próprio, quem se preocupa apenas em defender os seus interesses e perspectivas, quem se apega excessivamente a uma realização pessoal cumprida em circuitos fechados, "compra" uma existência infecunda e que não vale a pena ser vivida. Perde a oportunidade de chegar ao Homem Novo, à realização plena, à vida verdadeira, à salvação. Talvez nesta Quaresma Jesus nos peça que dispamos o nosso egoísmo e que nos convertamos ao amor...

(portal dos dehonianos)

sexta-feira, 19 de março de 2021

É O CAMINHO QUE VEM AO NOSSO ENCONTRO?!...




Então não somos nós que andamos à procura do caminho que dê sentido à vida? Não somos nós que, perante tantas e tantas encruzilhadas de não menos estradas, caminhos e carreiros, sentimos dificuldade em fazer opção, porque nem sempre a melhor rota é a que está à frente ao nariz? Não somos nós que, por causa disso, tantas vezes cortamos por atalhos que nos levam a becos sem saída, fazendo-nos apear e atar as mãos à cabeça? Então como é o caminho que vem ao nosso encontro?
No Ofício de Leituras do Domingo passado, Agostinho de Hipona mimoseou-nos com um piropo de fazer ganir, assim: “Levanta-te, preguiçoso. O próprio caminho veio ao teu encontro e despertou-te do sono em que dormias, se é que chegou a despertar-te. Levanta-te e anda. Talvez tentes andar e não consigas, por te doerem os pés. E por que motivo te doem? Não será pela dureza dos caminhos que a avareza te levou a percorrer? Mas o Verbo de Deus curou também os coxos. “Eu tenho os pés sãos, dizes tu, mas não vejo o caminho”. Lembra-te que Ele também deu vistas aos cegos”.
Pois, pois, não sejas cego, amigo, abre os olhos e vê, nem que seja com os olhos de antanho, de há cerca de três mil anos atrás, assim: “Quem mediu com a mão as águas do mar, quem mediu a palmo as dimensões do céu? Quem mediu com o alqueire o pó da terra, quem pesou na báscula as montanhas e na balança as colinas? Quem dirigiu o espírito do Senhor, qual foi o conselheiro que lhe deu lições? De quem recebeu Ele conselho para julgar, para lhe ensinar o caminho da justiça? Quem lhe ensinou a sabedoria e lhe mostrou o caminho da prudência? As nações são para Ele como a gota de água no balde, não passam de um grão de areia na balança. As ilhas não pesam mais que uma poeira fina (...) As nações todas juntas nada são diante d’Ele (...) Porventura não sabeis? Nunca ouvistes dizer? Não vos foi anunciado desde o começo? (...) Erguei os olhos para o céu e observai: quem criou todos estes astros? Aquele que organiza e põe em marcha o exército das estrelas, chamando cada uma pelo seu nome. Tão grande é o seu poder e tão firme é a sua força, que ninguém deixa de se apresentar. (...) Não o sabes? Não ouviste dizer? O Senhor é o Deus eterno; foi Ele quem criou os confins do mundo. Ele não se cansa, nem se fadiga, e a sua inteligência é insondável. Ele dá ânimo ao cansado e recupera as forças do enfraquecido. Até os jovens se fatigam e cansam, e os rapazes também tropeçam e caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, criam asas, como águias, correm e não se fatigam, podem andar que não se cansam” (Is 40, 12-31). A sua mensagem ressoa por toda a terra: os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. O dia transmite ao outro esta mensagem e a noite a dá a conhecer à outra noite. Não são palavras nem linguagem cujo sentido se não perceba. O seu eco ressoou por toda a terra e a sua notícia até aos confins do mundo (cf. Sl 18). Um outro Salmo reza assim: Ele tudo vê e tudo ouve, todos os nossos caminhos lhe são familiares. Se assim é, quem se poderá esconder d’Ele? Para onde irei longe do teu sopro? Para onde fugirei, longe da tua presença? Se subo ao céu, Tu lá estás. Se desço ao abismo, lá Te encontro. Se levanto voo para as margens da aurora, se emigro para os confins do mar, aí me alcançara a Tua esquerda e a Tua direita me sustentará (cf. Sl 139).
Se não devemos permanecer como cegos deixando de contemplar as maravilhas do Senhor, também não podemos coxear para dizer que não conseguimos encontrar o caminho, tal como o jogador matreiro que, à boca da baliza, não mete um golo evidente e finge ter tido uma cãibra na perna. Aqui, nem desculpas dessas pode haver, é o próprio caminho que veio ao nosso encontro. Deus faz-se encontrado em seu Filho. Jesus, que veio do Pai e permanece junto do Pai, apresentou-se como a Verdade e a Vida. Mas também se apresentou como sendo o Caminho a seguir para encontrar a Verdade e a Vida. Eu sou o Caminho, disse-nos Ele, se queres vir, anda daí, pega na tua cruz e segue-me, Eu sou manso e humilde de coração, vim para que tenhas a alegria e a tua alegria seja completa, sem Mim nada podes fazer, fica comigo!
A Quaresma, que, aliás, não é só para os outros, é um tempo de descoberta e de acolhimento de Jesus, ficando com Ele. Dirás: “Não o vejo, não o sinto”. Mas será que é isso mesmo?... Se queres tirar as teimas, anda daí, deixa-te de preconceitos, fecha a porta, desliga todos os empecilhos e afins que te distraem. Abre os olhos, afina os ouvidos do teu coração para apanhares o tom e sintonizares na frequência da sua voz e das suas surpresas. Fala, grita, contesta, chora, discorda d’Ele se é isso que te vai na alma, bate com o punho na mesa. Ele, que te conhece muito melhor que tu a ti próprio, está aí, no silêncio de ti mesmo, a ouvir-te com toda a serenidade e paciência, sem te despachar, sem te cortar a palavra, sem te reprovar seja sobre o que for, sem perder a serenidade própria da amizade que sabe ouvir e gerar empatia. Depois dessa tua furiosa guerra, desce do cavalo e cria espaço para também o ouvires até ao fim. Com certeza que Ele, como amigo que te ama e por quem deu a vida, tem muita coisa a dizer-te. Como ovelhita perdida, alvo da sua preocupação e procura, Ele carrega-te aos ombros, os mesmos ombros que carregaram a cruz onde foi morto, morto por ti, morto por cada um de nós para a todos restituir à liberdade e à Vida. Ele quer festejar contigo, quer abraçar-te, vestir-te de gala para comemorar o teu regresso com uma multidão sem número, com aquela banda sonora que tu aprecias e um banquete sem igual...
É Quaresma!... A boa Quaresma exige passar pelo Sacramento da Reconciliação.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 19-03-2021

Amoris laetitia e São José se cruzam com surpreendente continuidade

Na Solenidade de São José e no Ano dedicado ao Patrono da Igreja Universal, tem início o Ano da Família Amoris laetitia, 5 anos após a publicação da Exortação pós-sinodal. Dois aniversários importantes que se cruzam com uma surpreendente continuidade.


São José e a família. Um vínculo de ternura que vem imediatamente à mente como a mais natural das associações. "Um homem justo e sábio", definiu-o o Papa Francisco na audiência de quarta-feira; um Pai amado, acolhedor e na penumbra, um Pai da coragem criativa, lemos em Patris corde, a Carta apostólica com a qual o Pontífice proclamou o Ano de São José no dia 8 de dezembro de 2020. Um ano que se sobrepõe ao da Família que começa nesta sexta-feira, na solenidade do esposo de Maria, e 5 anos após a publicação de Amoris laetitia. Francisco - outra importante associação - assinou a Exortação Apostólica precisamente em 19 de março de 2016, em meio ao Jubileu da Misericórdia e sob a proteção de São José. Na conclusão de Amoris laetitia, os muitos fios desta tela, tecida de amor pela Igreja e seus filhos, são entrelaçados.


Oração à Sagrada Família 


Jesus, Maria e José, em vós contemplamos o esplendor do verdadeiro amor, a vós, confiantes nos entregamos. Sagrada Família de Nazaré, tornai também a nossas famílias lugares de comunhão e cenáculos de oração, escolas autênticas do Evangelho e pequenas Igrejas domésticas. Sagrada Família de Nazaré, que nunca mais haja episódios de violência, fechamento e divisão nas famílias; que qualquer um que tenha sido ferido ou escandalizado seja prontamente confortado e curado. Sagrada Família de Nazaré, conscientizai a todos do caráter sagrado e inviolável da família, de sua beleza no plano de Deus.


O Ano da Família Amoris Laetitia

É na Festa da Sagrada Família, 27 de dezembro de 2020, que o Papa Francisco no Angelus anuncia o Ano dedicado à Família Amoris laetitia. O início é 19 de março de 2021, cinco anos após a publicação da Exortação Apostólica; a conclusão está marcada para 26 de junho de 2022, por ocasião do décimo Encontro Mundial das Famílias em Roma. "Um ano - ele explica ao anunciar o Ano - de reflexão, uma oportunidade para aprofundar os conteúdos do documento". Coordenando as iniciativas pastorais, espirituais e culturais está o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida que, em seu site em 5 idiomas, www.amorislaetitia.va, disponibilizou subsídios e anunciou conferências e estudos aprofundados sobre o documento pontifício. É o próprio Papa que esclarece, no texto no número 5, a importância de Amoris laetitia: 

“Esta Exortação adquire um significado especial no contexto deste Ano Jubilar da Misericórdia. Primeiro, porque a entendo como uma proposta para as famílias cristãs, encorajando-as a apreciar os dons do matrimônio e da família, e a manter um amor forte e cheio de valores como a generosidade, o compromisso, a fidelidade e a paciência. Em segundo lugar, porque se propõe a encorajar a todos a serem sinais de misericórdia e proximidade onde a vida familiar não é perfeitamente realizada ou não se desenvolve em paz e alegria". 

 A família de Nazaré, estrela polar 

Francisco olha para o "ícone da família de Nazaré, com sua vida cotidiana feita de dificuldades e até pesadelos", como a violência de Herodes, que ainda hoje se renova na pele de tantos refugiados, mas também à sua "aliança de amor e fidelidade" que "ilumina o princípio, que dá forma a toda família e a torna capaz de enfrentar melhor as vicissitudes da vida e da história". E em Amoris laetitia, o Papa cita Paulo VI e seu discurso em Nazaré em 5 de janeiro de 1964:

“Aqui entendemos o modo de vida da família. Nazaré nos lembra o que é a família, o que é a comunhão de amor, sua beleza austera e simples, seu caráter sagrado e inviolável; nos faz ver como é doce e insubstituível a educação na família, nos ensina sua função natural na ordem social”.

O Ano de São José

É José quem cuida deste tesouro, "como chefe da família", é Ele - escreve Francisco no Patris Corde - que nos ensina que "ter fé em Deus também inclui acreditar que Ele pode operar mesmo através de nossos medos, nossas fragilidades, nossas fraquezas". "É o verdadeiro milagre com o qual Deus salva a Criança e sua mãe", confiando em sua "coragem criativa". A esta figura muito amada pelos fiéis, 150 anos após sua proclamação como Patrono da Igreja Universal graças ao decreto do Papa Pio IX Quemadmodum Deus, Francisco decidiu dedicar um Ano a São José. Ele também concedeu o "dom das Indulgências especiais" até 8 de dezembro de 2021 sob as condições habituais: confissão sacramental, comunhão eucarística e oração de acordo com as intenções do Papa.



Benedetta Capelli, Silvonei José – Vatican News



quinta-feira, 18 de março de 2021

O que pensas dos outros diz muito de ti?




Gostamos de avaliar os outros com base na nossa própria imagem. Se somos pessoas mais frias e menos extrovertidas, esperamos que os outros sejam assim também e, se não forem, parece-nos estranho ou estrangeiro. Se somos pessoas calmas, de gargalhada fácil e de natural expressão de ternura, esperamos que os outros também (nos) correspondam nessas características e, quando não o fazem, analisamo-los de sobrolho franzido.

O que pensamos dos outros diz muito sobre nós.

Gostamos de julgar antes e confirmar depois?

Gostamos de prever o que o outro vai fazer para agir com base num mistério que pode nem chegar a concretizar-se?

Gostamos de pensar que os outros têm vidas menos complicadas que nós, menos problemas e menos preocupações?

Gostamos de definir o que pensamos com base nas opiniões de outras pessoas?

Ou, por outro lado, conseguimos compreender que as pessoas que conhecemos são (mesmo) como nós?

Ou, por outro lado, conseguimos dar-lhes uma oportunidade para serem como quiserem, sem querer moldá-las à nossa imagem?

Não é fácil querer conhecer alguém. Estar preparado para a desilusão. Para a discussão. Para a diferença de personalidades e feitios.

Na verdade, é mais fácil ficar apenas com aqueles que já sabemos como são. Que já nos mostraram com o que podemos contar.

Ainda assim, talvez valha a pena dar às pessoas que se estreiam no nosso círculo (e na nossa vida) uma oportunidade verdadeira. Para que nos ensinem o que têm que ensinar, para que nos mostrem outras perspetivas e para que nos aumentem à permeabilidade do coração.



Marta Arrais

quarta-feira, 17 de março de 2021

terça-feira, 16 de março de 2021

16 de Março- Dia em que Portugal reza pelas vítimas da Pandemia

 




Covid-19: Bispos católicos publicam orientações para a Semana Santa

Celebrações decorrem com limitações, por causa da pandemia, mas com participação da assembleia


(Ecclesia) – O Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) anunciou  um conjunto de orientações para a Semana Santa e a Vigília Pascal, entre 28 de março e 4 de abril.

Ao contrário do que aconteceu em 2020, por causa da pandemia, as celebrações deste ano vão contar com a participação de assembleia.

A CEP determinou o regresso das celebrações públicas da Missa, a partir de 15 de março, mantendo a suspensão de procissões e outras manifestações populares, entre elas o tradicional “compasso” da Páscoa.

Em comunicado enviado à Agência ECCLESIA, os bispos recordam que, a 17 de fevereiro, o Vaticano divulgou um conjunto de orientações para a celebração da Semana Santa em contexto de pandemia, à imagem do que aconteceu em 2020, assumindo a necessidade de “mudanças na forma habitual de celebrar a Liturgia”.

A CEP pede que se evitem procissões e outras expressões da piedade popular, como as ‘visitas pascais’ e a ‘saída simbólica’ de cruzes, de modo a evitar “riscos para a saúde pública”.

A celebração dos últimos dias da vida de Cristo começa pela evocação da sua entrada messiânica em Jerusalém e a bênção dos ramos.

Os bispos indicam que, no Domingo de Ramos, a celebração deve seguir a segunda forma prevista pelo Missal Romano e, onde for oportuno, “a terceira forma do Missal Romano, que comemora de forma simples a entrada do Senhor em Jerusalém”.

“Evitem-se os ajuntamentos dos fiéis; os ministros e os fiéis tenham nas mãos o ramo de oliveira ou a palma que trazem consigo; de nenhum modo seja permitido a entrega ou a troca de ramos”, assinala a CEP.

Quanto à Missa Crismal – que reúne em torno do bispo o clero diocesano -, a mesma pode ser celebrada na manhã de Quinta-feira Santa ou, segundo o costume de algumas dioceses, na quarta-feira de tarde.

“Se não for possível ‘uma representação significativa de pastores, ministros e fiéis’, o bispo diocesano avalie a possibilidade de transferi-la para outro dia, de preferência dentro do Tempo Pascal”, recomenda a Conferência Episcopal.

À imagem do que aconteceu em 2020, na Missa vespertina da “Ceia do Senhor” (Quinta-feira Santa) omite-se o rito do lava-pés.

“No final da celebração, o Santíssimo Sacramento poderá ser levado, como se prevê no rito, para o lugar da reposição numa capela da igreja onde se possa fazer a adoração, no respeito das normas para o tempo da pandemia”, apontam os bispos católicos.

A Missa vespertina da Ceia do Senhor marca o início o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor

Para a Sexta-feira Santa, cita-se indicação do Missal Romano – “em caso de grave necessidade pública, pode o ordinário do lugar autorizar ou até decretar que se junte uma intenção especial” -, pede-se que cada bispo introduza na oração universal uma intenção “pelos doentes, pelos defuntos e pelos doridos que sofreram alguma perda”.

“O ato de adoração da Cruz mediante o beijo seja limitado só ao presidente da celebração”, indica a CEP.

A Vigília Pascal, momento central do calendário litúrgico católico, “poderá ser celebrada em todas as suas partes, como previsto pelo rito”.

Cinco elementos compõem a liturgia da Vigília Pascal: a bênção do fogo novo e do círio pascal; a proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; a série de leituras sobre a História da Salvação; a renovação das promessas do Batismo, por fim, a liturgia Eucarística.

OC