As exigências da vida moderna obrigam-nos a correr a um ritmo estonteante e fazem-nos deixar para trás coisas fundamentais. A Palavra de Deus que a liturgia do décimo sexto domingo comum nos propõe convida-nos a redescobrir as prioridades e valores que tornam a nossa vida mais humana e mais cheia de sentido.
A primeira leitura propõe-nos o exemplo de Abraão, o homem que não se importa de gastar tempo com o “outro”. Quando aparecem junto da sua tenda três visitantes inesperados, Abraão acolhe-os, prepara-lhes um banquete, oferece-lhes o que tem de melhor. Em cada pessoa que nos “visita”, é Deus que vem ao nosso encontro. O tempo que gastamos a acolher e a cuidar dos nossos irmãos é um tempo que enche de significado a nossa vida.Através daquela velha lenda que narra a “visita” de Deus a Abraão, a catequese de Israel apresenta um Deus que vem ao encontro do homem, que aceita o convite do homem e entra na sua casa, que se senta à mesa com o homem e que estabelece com ele laços familiares, que conhece perfeitamente os sonhos do homem e os realiza. É esse Deus, o Deus da comunhão e do encontro, em quem acreditamos? É esse o Deus com quem caminhamos? Estamos disponíveis para o acolher na nossa vida, para lhe abrir as portas do nosso coração e para mergulharmos no seu amor?
No Evangelho duas irmãs – Marta e Maria – acolhem Jesus na sua casa. Marta prepara para o hóspede uma boa refeição; Maria senta-se aos pés de Jesus, a escutar o que Jesus diz. São duas atitudes válidas, próprias do discípulo. Mas Lucas, o narrador deste episódio, aproveita para sugerir que a escuta da Palavra de Jesus deve preceder a ação. A ação sem a escuta de Jesus torna-se mero ativismo que, mais tarde ou mais cedo, se esvazia de sentido.Qual é a nossa perspetiva da hospitalidade e do acolhimento? Como é que acolhemos as pessoas que entram na nossa vida e na nossa casa? Ao narrar-nos uma “visita” de Jesus a casa de uma família amiga, Lucas sugere-nos delicadamente que o verdadeiro acolhimento não se limita a abrir a porta, a instalar a pessoa no sofá mais cómodo, a ligar a televisão para que ela se entretenha sozinha enquanto corremos para a cozinha para lhe preparar uma refeição memorável; mas o verdadeiro acolhimento passa por dar atenção àquele que veio ao nosso encontro, por escutá-lo, por partilhar com ele a nossa vida, por fazê-lo sentir o quanto nos preocupamos com aquilo que ele sente… Temos consciência de que, muitas vezes, o “estar com” a pessoa é muito mais expressivo do que o “fazer coisas” para ela?
Jesus, contra os costumes da época, aceita hospitalidade na casa de duas mulheres; Jesus, contra o costume da época aceita que uma das mulheres – Maria – assuma o lugar de sua discípula. Nas mais diversas situações Jesus mostrou, com gestos bem concretos, que no projeto de Deus não há lugar para a discriminação de seja quem for. Estamos conscientes disso? Não será já altura de eliminarmos da sociedade e da Igreja atitudes discriminatórias que não vêm de Deus ou do Evangelho, mas sim do nosso egoísmo, da nossa prepotência, dos nossos preconceitos?
Na segunda leitura Paulo fala aos cristãos de Colossos da sua experiência: ele tem-se esforçado por testemunhar em todo o lado o projeto salvador de Deus revelado em Cristo. Espera que também os cristãos de Colossos se disponham a construir as suas vidas à volta de Cristo. Nesse sentido, exorta-os a viverem numa comunhão cada vez mais perfeita com Cristo, pois é em Cristo que os crentes encontrarão a salvação e a vida em plenitude.Paulo de Tarso, o “apóstolo dos gentios”, é uma figura ímpar da história do cristianismo. Devemos-lhe o ter levado o Evangelho ao encontro do mundo greco-romano, fazendo com que a proposta de salvação quer Jesus veio trazer saltasse todas as fronteiras e chegasse a todos os homens. Mas devemos-lhe, especialmente, o exemplo de compromisso pleno, de doação total, de entrega completa a Jesus e ao Evangelho (“já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” – Gl 2,20). Temos consciência – como Paulo tinha – que a Igreja nascida de Jesus é, fundamentalmente, uma comunidade missionária? É com o mesmo empenho e decisão de Paulo que nós “agarramos” a missão que Cristo nos confiou e que damos testemunho de Cristo em todos os lugares onde a vida nos leva? Como é que a nossa comunidade cristã considera e valoriza os homens e as mulheres que dedicam toda a sua vida à causa do Evangelho?
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