Nas leituras litúrgicas do décimo quarto domingo do tempo comum prevalece a temática do “envio”: Deus escolhe pessoas, confia-lhes uma missão e envia-as ao mundo e aos homens. Esses “enviados” atuam em nome de Deus e são chamados a testemunhar, no meio dos seus irmãos, o projeto que Deus tem para os homens e para o mundo.
O Evangelho conta que Jesus, quando se dirigia para Jerusalém, enviou setenta e dois discípulos à sua frente, “a todas as cidades e lugares aonde Ele devia de ir”. A missão desses discípulos é a mesma de Jesus: propor a Boa Nova do Reino de Deus e “curar” todos os que estão feridos pela dureza da vida ou pela maldade dos homens. Pela ação dos “enviados” de Jesus, concretiza-se a vitória do Reino de Deus sobre tudo aquilo que oprime e escraviza os seres humanos.O anúncio do “Reino” não se esgota em palavras, mas deve ser acompanhado de gestos concretos. “Quando entrardes nalguma cidade, curai os doentes que nela houver” – pede Jesus aos discípulos. “Curar” é libertar os homens e mulheres que são prisioneiros da injustiça, da prepotência dos grandes, da exploração dos poderosos; “curar” é limpar, através do amor, as feridas que deixaram marcas no corpo e no espírito dos sofredores; “curar” é acolher aqueles que são desprezados, ignorados e abandonados pela sociedade e pelas igrejas; “curar” é tratar como irmãos os “diferentes”, os desadaptados, os que assumem atitudes ou comportamentos pouco ortodoxos; “curar” é cuidar de cada homem ou cada mulher que encontrarmos caído na berma da estrada da vida. Sentimo-nos enviados de Jesus a “curar” as feridas dos irmãos e das irmãs com quem nos cruzamos todos os dias?
Na primeira leitura um profeta anónimo, enviado aos desanimados habitantes de Jerusalém, proclama o amor de pai e de mãe que Deus tem pelo seu Povo. O profeta é sempre um “enviado” de Deus, através do qual Deus consola os seus filhos, liberta-os do medo e acena-lhes com a esperança do mundo novo que está para chegar.Deus, pela boca do profeta, convida os “filhos de Jerusalém” à alegria. Quem é amado como eles, não pode deixar-se abater pela tristeza, pela angústia e pelo medo. O amor de Deus pelos seus filhos é infinitamente mais forte do que a maldade, a mentira, o sofrimento, as desgraças que nos atingem em alguns passos mais escuros do caminho que percorremos. Nós, filhos queridos e amados de Deus, vivemos iluminados pela alegria, ou acabrunhados sob o peso da angústia? Testemunhamos alegria e esperança no meio dos nossos irmãos?
Na segunda leitura o apóstolo Paulo indica, a partir da sua própria experiência, qual deve ser a primeira preocupação do “enviado” de Jesus. No centro do testemunho de qualquer “enviado” deve estar a cruz de Jesus: a maneira como Ele amou, até ao extremo de dar a vida por todos. Paulo, no que lhe diz respeito, tem procurado concretizar essa missão. Provam-no as feridas que recebeu por causa do seu serviço ao Evangelho.A propósito da reflexão feita por Paulo sobre os “títulos de glória” que devem interessar a um discípulo de Jesus, podemos questionar-nos sobre os valores sobre os quais construímos o nosso projeto de vida. Os influenciadores e os líderes da opinião pública dizem-nos todos os dias a que valores devemos agarrar-nos para ter êxito, para ser socialmente considerado, para triunfar… Sabemos, no entanto, que em muitos casos esses valores estão em flagrante contradição com o Evangelho de Jesus. Quais são os “títulos de glória” a que damos apreço? Quais os valores sobre os quais alicerçamos a construção da nossa vida?
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