sábado, 13 de agosto de 2016

MIGRANTES E REFUGIADOS: ROSTO DA MISERICÓRDIA



O Dia Mundial do Migrante e do Refugiado teve origem numa carta circular que uma Congregação da Cúria romana enviou, em 6 de dezembro de 1914, aos Bispos de Itália. Pela primeira vez se pedia que fosse estabelecido um dia anual de sensibilização sobre o fenómeno da migração. A Assembleia Geral das Nações Unidas, determinou, no ano 2000, que o Dia Internacional das Migrações se celebrasse anualmente no dia 18 de dezembro. A Igreja sempre tem envolvido a comunidade humana na reflexão sobre esta problemática das migrações. Em Portugal, estamos a celebrar, com esse espírito, a 44ª Semana Nacional das Migrações. Todos os anos, os Papas que se têm seguido, publicam, por altura do Dia Mundial, uma Mensagem para aprofundar e centralizar a reflexão a nível de toda a Igreja. Para este ano, ano do Jubileu da Misericórdia, Francisco sujeitou a sua Mensagem ao facto de os emigrantes e os refugiados nos interpelarem e a única resposta da nossa parte outra não deve ser senão a resposta do Evangelho da misericórdia. E justifica o tema dizendo-nos que “neste nosso tempo, os fluxos migratórios aparecem em contínuo aumento por toda a extensão do planeta”, “constituem já uma realidade estrutural”, “imprimem novos rostos às sociedades e aos povos”, “interpelam a comunidade internacional, testemunha de inaceitáveis crises humanitárias que surgem em muitas regiões do mundo” e denuncia que “a indiferença e o silêncio abrem a estrada à cumplicidade, quando assistimos como expectadores às mortes por sufocamento, privações, violências e naufrágios”. Ora, perante a situação de sofrimento destes migrantes: “o Evangelho da misericórdia sacode as consciências, impede que nos habituemos ao sofrimento do outro e indica caminhos de resposta”. Os emigrantes, continua o Papa, “são nossos irmãos e irmãs que procuram uma vida melhor longe da pobreza, da fome, da exploração e da injusta distribuição dos recursos do planeta, que deveriam ser divididos equitativamente entre todos”. Como primeira prioridade, dever-se-ia dar às pessoas o direito a não emigrar, podendo elas contribuir para o desenvolvimento dos próprios países de origem. Quão longe estamos dessa possibilidade! Quão egoísta permanece a humanidade! E o pior é que essa Humanidade somos todos nós!... Se é o sonho que comanda a vida, este sonho tornar-se-á possível quando se entender que “a solidariedade, a cooperação, a interdependência internacional e a distribuição equitativa dos bens da terra são elementos fundamentais para atuar, em profundidade e com eficácia, sobretudo nas áreas de partida dos fluxos migratórios, para que cessem aquelas carências que induzem as pessoas, de forma individual ou coletiva, a abandonar o seu próprio ambiente natural e cultural”. São “êxodos impostos pela pobreza, a violência e as perseguições.” Mas nesta necessidade de sair da própria pátria, por estas e outras razões, para buscar vida melhor e paz, “ninguém pode fingir que não se sente interpelado pelas novas formas de escravidão geridas por organizações criminosas que vendem e compram homens, mulheres e crianças como trabalhadores forçados na construção civil, na agricultura, na pesca ou noutros âmbitos de mercado. Quantos menores são, ainda hoje, obrigados a alistar-se nas milícias que os transformam em meninos-soldados! Quantas pessoas são vítimas do tráfico de órgãos, da mendicidade forçada e da exploração sexual!”. No rosto do outro manifestam-se os traços de Jesus Cristo, recorda Francisco que não deixa de realçar aqueles que, com total dedicação, se colocam ao serviço dos migrantes: “Muitas instituições, associações, movimentos, grupos comprometidos, organismos diocesanos, nacionais e internacionais experimentam o encanto e a alegria da festa do encontro, do intercâmbio e da solidariedade. Eles reconhecem a voz de Jesus Cristo: «Olha que Eu estou à porta e bato» (Ap 3, 20). E procuram responder a esta inquietação: “Como fazer para que a integração se torne um enriquecimento mútuo, abra percursos positivos para as comunidades e previna o risco da discriminação, do racismo, do nacionalismo extremo ou da xenofobia?”. Saudamos todos os migrantes, os que o são em liberdade e por boas causas e os que são forçados e sofrem com tal situação. Rezemos por eles e por todos quantos os exploram e fazem sofrer para que reconsiderem, se convertam e sejam misericordiosos como Deus é misericordioso.

 Foto de perfil de Antonino Dias      Dom Antonino Dias - Bispo Diocese Portalegre Castelo Branco

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