segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Rezar o Advento, por Tolentino Mendonça



Advento, tempo de espera. Não apenas de um dia, mas daquilo que os dias, todos os dias, de forma silenciosa, transportam: a Vida, o mistério apaixonante da Vida que em Jesus de Nazareth principiou.

Advento, tempo de redescobrir a novidade escondida em palavras tão frágeis como "nascimento", "criança", "rebento".

Advento, tempo de escutar a esperança dos profetas de todos os tempos. Isaías e Bento XVI. Miqueias e Teresa de Calcutá.

Advento, tempo de preparar, mais do que consumir. Tempo de repartir a vida, mais do que distribuir embrulhos.

Advento, tempo de procura, de inconformismo, até de imaginação para que o amor, o bem, a beleza possam ser realidades e não apenas desejos para escrever num cartão.

Advento, tempo de dar tempo a coisas, talvez, esquecidas: acender uma vela; sorrir a um anjo; dizer o quanto precisamos dos outros, sem vergonha de parecermos piegas.

Advento, tempo de se perguntar: "há quantos anos, há quantos longos meses desisti de renascer?"

Advento, tempo de rezarmos à maneira de um regato que, em vez de correr, escorre limpidamente.

Advento, tempo de abrir janelas na noite do sofrimento, da solidão, das dificuldades e sentir-se prometido às estrelas, não ao escuro.

Advento, tempo para contemplar o infinito na história, o inesperado no rotineiro, o divino no humano, porque o rosto de um Homem nos devolveu o rosto de Deus.



domingo, 29 de novembro de 2020

Advento: Caminho para a Luz...

 



Tempo de Advento
Este ano será vivido de forma diferente, mas o apelo é exatamente o mesmo: VIGILÂNCIA.
Vigilância pelo bem comum, seguindo as orientações da DGS;
Vigilância espiritual, não deixando adormecer a Fé;
Vigilância na atenção ao irmão;


Que o cansaço causado pela pandemia não nos deixe em estado de letargia, mas que nos momentos de confinamento sejamos capazes de criar momentos de profunda intimidade com o Senhor. A Luz do Deus Menino continua a brilhar no horizonte e quer iluminar as nossas trevas…

Pe Adelino Cardoso

Vem Senhor Jesus

 


A liturgia do primeiro Domingo do Advento convida-nos a equacionar a nossa caminhada pela história à luz da certeza de que "o Senhor vem". Apresenta também aos crentes indicações concretas acerca da forma devem viver esse tempo de espera.
A primeira leitura é um apelo dramático a Jahwéh, o Deus que é "pai" e "redentor", no sentido de vir mais uma vez ao encontro de Israel para o libertar do pecado e para recriar um Povo de coração novo. O profeta não tem dúvidas: a essência de Deus é amor e misericórdia; essas "qualidades" de Deus são a garantia da sua intervenção salvadora em cada passo da caminhada histórica do Povo de Deus.
O nosso texto apresenta em pano de fundo um Povo de coração endurecido, rebelde, indiferente, que há muito prescindiu de Deus e deixou de se preocupar em viver de forma coerente os compromissos assumidos no âmbito da Aliança. É um quadro que não difere significativamente daquilo que é a vida de tantos homens e mulheres dos nossos dias. Que lugar ocupa Deus na nossa vida? Que importância damos às suas propostas? As sugestões e os apelos de Deus têm algum impacto sério nas nossas opções e prioridades?
O Evangelho convida os discípulos a enfrentar a história com coragem, determinação e esperança, animados pela certeza de que "o Senhor vem". Ensina, ainda, que esse tempo de espera deve ser um tempo de "vigilância" - isto é, um tempo de compromisso activo e efectivo com a construção do Reino.
O tempo do Advento é, também, o tempo da espera do Senhor. O Evangelho deste domingo diz-nos como deve ser essa espera... A palavra mágica é "vigilância": o verdadeiro discípulo deve estar sempre "vigilante", cumprindo com coragem e determinação a missão que Deus lhe confiou. Estar "vigilante" não significa, contudo, preocupar-se em ter sempre a "alminha" limpa para que a morte não o apanhe com pecados por perdoar; mas significa viver sempre activo, empenhado, comprometido na construção de um mundo de vida, de amor e de paz. Significa cumprir, com coerência e sem meias tintas, os compromissos assumidos no dia do baptismo e ser um sinal vivo do amor e da bondade de Deus no mundo. É dessa forma que eu tenho procurado viver?
A segunda leitura mostra como Deus Se faz presente na história e na vida de uma comunidade crente, através dos dons e carismas que gratuitamente derrama sobre o seu Povo. Sugere também aos crentes que se mantenham atentos e vigilantes, a fim de acolherem os dons de Deus.
Qual o objectivo dos dons de Deus? Segundo Paulo, é "tornar firme nos crentes o testemunho de Cristo". Os dons de Deus destinam-se a promover a fidelidade das pessoas e das comunidades ao Evangelho, de forma a que todos nos identifiquemos cada vez mais com Cristo. Os dons que Deus me concedeu destinam-se sempre a potenciar a minha fidelidade e a fidelidade dos meus irmãos às propostas de Jesus, ou servem, às vezes, para concretizar objectivos mais egoístas, como sejam a minha promoção pessoal ou a satisfação de certos interesses e anseios?
A acção de Deus, o seu papel de "redentor" concretiza-se através de Jesus e das propostas que Ele veio fazer aos homens e ao mundo? Neste Advento, estou disposto a acolher Jesus e a abraçar as propostas que Deus, através d'Ele, me faz?



https://www.dehonianos.org/

sábado, 28 de novembro de 2020

Esclarecimento da CEP sobre a celebração do Natal



1. No seguimento da conferência de imprensa de D. José Ornelas, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, no final da Assembleia Plenária e face a algumas afirmações públicas sobre a celebração do Natal, nomeadamente “Conferência Episcopal admite não celebrar Missa do Galo”, fazemos alguns esclarecimentos.

2. O Presidente da Conferência Episcopal afirma que, desde que foi possível retomar o culto público católico, foi dada a maior prioridade à saúde de todas as pessoas e que é possível, nesse pressuposto e seguindo as indicações definidas pela Conferência Episcopal em diálogo com as autoridades de saúde (orientações de 8 de maio), participar com segurança nas celebrações religiosas, nomeadamente as Eucaristias.

3. A experiência das últimas semanas tem mostrado que, em alguns casos, os encontros familiares, também os que se seguem a celebrações religiosas, podem tornar-se focos de contágio do novo coronavírus. Uma preocupação bem expressa na nota da CEP de 14 de novembro: “em particular, este comportamento responsável deve ser vivido após as celebrações litúrgicas mais festivas (Batizados, Comunhões, Crismas e Casamentos), evitando sempre as concentrações fora das igrejas e nas próprias casas”.

4. Assim, o Presidente da CEP reafirmou, na conferência de imprensa que apresentou as conclusões da 199.ª Assembleia Plenária da CEP, que tudo é feito para que “seja seguro celebrar na igreja” e apelou a que, fora do templo, as pessoas “tentem não se afastar dessa lógica”, seguindo as indicações da Direção Geral da Saúde.

5. A respeito das celebrações religiosas do Natal, rejeitando antecipar cenários para os quais não há ainda elementos, D. José Ornelas reafirmou a mesma certeza: que é possível celebrar em segurança no interior dos templos. Quanto aos encontros familiares, afirmou que se devem evitar todos os possíveis riscos de contágio, dizendo mesmo: “Para que os nossos avós cheguem ao próximo Natal, se calhar é necessário que neste Natal não estejamos juntos”.

Estaremos atentos às condições que se venham a registar na época natalícia e tomaremos as orientações necessárias, sempre na defesa da vida das pessoas em todas as suas dimensões.

Secretariado Geral da CEP



sexta-feira, 27 de novembro de 2020

O PIRELIÓFORO DO PADRE HIMALAIA E O TIO SAM...



Porque já o fiz nesta semana, hoje vou fugir às temáticas habituais para falar dum cientista e inventor que nasceu em Cendufe, Arcos de Valdevez, Viana do Castelo. Chamava-se Manuel António Gomes. Sem recursos próprios e parcos apoios, se os craques da ciência em Portugal não abundavam, ele esteve na linha da frente da investigação científica da época, com reconhecimento da comunidade científica internacional pelas suas visões pioneiras e revolucionárias, como precursor dos atuais equipamentos fotovoltaicos, das energias renováveis, do desenvolvimento sustentável. E já lá vão mais de cem anos!...
Foi um dos sete filhos de uma família de pequenos agricultores de minifúndio em socalcos. Como não podia fugir à sina do tempo, do lugar e das suas circunstâncias existenciais, trabalhou no campo e fez os primeiros estudos na escola local, mais propriamente em Souto. Aos 15 anos, em 1882, ingressou no Seminário de Braga. Sendo de elevada altura, os seus colegas logo lhe tiraram as medidas e o alcunharam de Himalaia, e assim ficou conhecido até hoje. No Seminário, para além das temáticas letivas, a biblioteca, que havia sido recheada pelo Arcebispo de então, era o seu refúgio. Vivia apaixonado por saber o mais possível sobre as ciências naturais, os avanços tecnológicos, magicar e fazer experiências. Era ave rara!... Presumo que o seu abanar de asas produzisse forte ventania nos nervos dos formadores que não lhe terão feito a vida fácil. E vice-versa, pois amor com amor se paga, diz quem sabe!...
Chegou a Padre, foi ordenado em 26 de Julho de 1891. Aos 36 anos de idade, porém, o Padre Himalaia tornou-se uma celebridade badalado por esse mundo fora pelos seus inventos e artigos publicados nos principais jornais e revistas. Correu mundo, visitou algumas das principais universidades, laboratórios e instituições científicas do tempo. Contactou com professores de renome e com alguns dos principais cientistas. Frequentou universidades e tudo lhe interessava: matemática, química, medicina, botânica médica, técnicas de radiestesia, estruturas metálicas, unidades industriais de tecnologia avançada no domínio da metalomecânica e da fundição, fornos elétricos de altas temperaturas, fotometria, radiação solar e faíscas elétricas, temáticas relacionadas com a agricultura e a nutrição, a irrigação e barragens hidroelétricas. Interessou-se por explosivos, como a himalaíte, registou várias patentes, fez prospeção de minérios, dedicou-se à reciclagem no fabrico de fertilizantes derivados do aproveitamento de esgotos. Defendeu o naturismo e as medicinas naturais sobretudo à base da fitoterapia e da hidroterapia, desenvolveu o conceito de ecosofia, defendeu a saúde preventiva, uma espécie de "profilaxia social" à base do ser e não tanto do produzir e ter. Inventou, criou, ensinou, entrou em projetos nacionais e internacionais, apresentou numerosas comunicações, publicou trabalhos, desenvolveu teorias ecológicas, participou em múltiplos debates e proponha ideias inovadoras.
Membro da Academia das Ciências, apresentou comunicações sobre as mais diversas matérias, desde a agricultura, a economia e a política energética até às questões de sismologia e construção antissísmica. Defendia um plano de aproveitamento das energias renováveis com a construção de açudes, represas e albufeiras para irrigação e hidroeletricidade, apontava o lugar para a construção de centrais hidroelétricas, o uso futuro da energia das marés e da energia eólica e o aproveitamento da energia geotérmica dos geysers. O ordenamento do território e a florestação também lhe mereceram atenção. Em tempos de estiagem, chegou a propor o uso de canhões para provocar a chuva e fez experiências, mas, devido aos custos e não sei se também pelos resultados, o projeto ficou pelo caminho. Sempre motivado pelas inovações no campo da energia solar, esteve em Paris quando se preparava a Exposição Universal e se construía a Torre Eiffel, onde também procurava apoios para construir o seu principal invento a que deu o nome de Pyrheliophoro, do grego: pyr (fogo) + helios (sol) + phoros (portador) = o que traz o fogo do sol. “O engenho consistia, num espelho parabólico, com uma superfície refletora de 80 metros quadrados, formado por 6177 pequenos espelhos que refletiam a luz do Sol numa cápsula refratária, que funcionava como um recipiente, e onde se colocavam os materiais a fundir. O conjunto estava montado numa enorme armação em aço de 13 metros de altura, que acompanhava os movimentos do Sol mediante um mecanismo de relojoaria”.
Uma das versões do invento foi apresentada na Tapada da Ajuda, em Lisboa. Foi visitada pela fina flor da sociedade científica de Portugal, pouca, pelos vistos. O próprio rei e os espiões do fracasso, não do futuro, lá se apresentaram com olhos de lince a apreciar a geringonça solar já que a política nem sonhada era. A coisa, porém, não correu bem! E quem não era capaz de nada, não soube apreciar o alcance daquele embrião, logo o desvalorizou com tesouradas viperinas na casaca do seu angustiado autor. No entanto, se o aparelho encaprichou e não trouxe o fogo do sol, o homem não desistiu, bem haja por isso.
Em 1904 carrega com o invento para o Pavilhão Português na Exposição Universal de Saint-Louis, nos Estados Unidos. O aparelho logo se tornou o centro das atenções daquela feira mundial com cerca de 500 pavilhões e visitada por milhares de pessoas. Mais do que isso: mereceu o grande prémio e mais duas medalhas de ouro e uma de prata, com um diploma assinado pelo Presidente Theodore Roosevelt. A imprensa mundial destacou e elogiou o invento, alguns deram-lhe a primeira página. Aos interessados na compra, entre os quais haveria japoneses, Himalaia não quis vender o aparelho, mas também não o trouxe de regresso a casa. Talvez assolapados sob a capa de sérias e boas pessoas, também por lá se passeariam os amigos do alheio que, de dedo em riste, deram jus à frase de James Flagg na nova versão do tio Sam: “I Want You”, eu quero-te, eu quero você!... E foi-se, adeus geringonça!... Não sei se serão os descendentes dessa estirpe aqueles de quem o agora Presidente se queixa de o terem afastado do solário da Casa Branca, ahahahah!...
O pobre Padre regressou triste, nunca mais se dedicou à energia solar e ao Pirelióforo. É de prever que outros o tivessem feito... Li, e vá-se lá saber a verdade!, mas li que, depois da primeira Grande Guerra também correu (boato, com certeza!?), mas correu que os planos do seu invento para “bombardear as nuvens” e fazer chover, também teriam sido “desviados” e usados pelos alemães na construção de armas de guerra para bombardear noutro sentido, um sentido nada agrícola nem ecológico nem sustentável.
Depois de todas estas andanças, com encontros e desencontros, o Padre Himalaia, porque o sonho lhe comandava a vida, ainda se empenhou noutras aventuras. No entanto, doente, sem apoios pátrios e recursos financeiros, em finais de 1932, veio para junto do seu irmão Gaspar, também sacerdote e Pároco na vizinha paróquia da sua terra natal, em São Paio de Jolda, onde ainda se conservam alguns dos seus manuscritos. Finalmente, acabou por aceitar o lugar de capelão do Asilo de Velhos e Entrevados da Caridade, na cidade de Viana do Castelo. E se nasceu a 9 de dezembro de 1868, em dezembro faleceu, no dia 21 de 1933, aos 65 anos de idade. A fama já tinha passado, a sua morte não provocou notícia em que se tropeçasse, e se foi a sepultar no cemitério da sua terra natal, em Cendufe, não houve palmas nem flores da sua lusitana pátria.
Embora haja alguns estudos sobre ele, Jacinto Rodrigues, Professor da Universidade do Porto, publicou, em 1999, “A Conspiração Solar do Padre Himalaia”, um estudo atento que veio trazer ao de cima o talento deste homem, a importância dos seus inventos e aquela verdade que Cristo nos lembrou: um profeta só não é estimado na sua pátria. Um grupo de amigos – a Associação Padre Himalaya - continua a soprar as cinzas do esquecimento a que este cientista foi votado para que surja qual fénix renascida e seja reconhecido o seu génio e transmitida a sua obra. Há também um filme documentário de 2004, “A Utopia do Padre Himalaya”, do realizador Jorge António, baseado na obra de Jacinto Rodrigues. Na vila dos Arcos de Valdevez existe um monumento em sua homenagem da autoria do escultor José Rodrigues, e, na marginal urbana do Rio Vez, um busto, da autoria de Eduardo Tavares. No centenário do seu nascimento, houve comemorações a que presidiu o Arcebispo de Braga, Dom Francisco Maria da Silva, tendo-se inclusive deslocado ao cemitério de Cendufe onde também foi descerrado um busto do Padre Himalaia. São, de facto, os conterrâneos e amigos a bracejar para que este cientista e visionário itinerante não seja esquecido na história pátria. Também estou a dar o meu empurrãozinho para aguçar o apetite do leitor a que, pelo menos, abra a Wikipédia ou outras fontes à mão do teclado, pois irá gostar de ler.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 27-11-2020.

Mensagem da Conferência Episcopal Portuguesa para o Advento







Deus vem e enche o nosso tempo de “Bom-Dia”!
Advento. Deus vem. Deus vem, Deus saúda, Deus fala, Deus ama, Deus chama, Deus ordena, Deus escuta, Deus responde, Deus envia. Advento. Sujeito Deus. Primeiro Deus. O Deus do Advento, o Deus que Vem traz consigo uma grande carga verbal, que convém que se torne “viral” na nossa vida. Imitação de Deus. Deus que vem para nos dizer “Bom-Dia!”, que é o modo de fazer do Senhor Ressuscitado quando se apresenta no meio de nós, e diz: “Shalôm!”, “A Paz convosco!”.
Esta Saudação, este Shalôm, esta Paz, este “Bom-Dia”, que ressoa desde a Criação, entra em nós, enche-nos de Bondade e de Alegria, e faz-nos encontrar um modo novo de encarar a vida. Esta Saudação, este Shalôm, esta Paz, este “Bom-Dia”, estabelece connosco uma relação nova e boa, não nos transmite uma informação, não tem em vista um negócio, não solicita a nossa reflexão ou decisão. Não nos deixa a pensar, a escolher, a decidir. Apenas a responder. Apeia-nos, portanto, do pedestal do nosso “eu” patronal: eu penso, eu quero, eu decido, eu, eu, eu…, e deixa-nos apenas a responder. Apenas. Como se responder fosse coisa pouca. Responder ao Senhor da nossa vida. Ao “Bom-Dia” responde-se “Bom-Dia”. É a Bondade sete vezes dita na Criação, o Sentido da Criação e da Vida a passar de mão em mão, rosto a rosto, coração a coração. Do coração de Deus para o nosso coração. Dos nossos corações uns para os outros. Avenida ou torrente de Bondade e de Fraternidade. Advento. Deus vem e enche o nosso tempo de “Bom-Dia”!
Quando alguém te diz: “Bom-Dia!”, já sabes então o que isso significa, implica, replica, multiplica. Imagina agora que à beira da estrada encontras um pobre homem caído, abandonado, a esvair-se em sangue. Ao ver-te passar, balbucia para ti, ou apenas acende uma voz dentro de ti, que te diz, mesmo sem o dizer: “Olha para mim”, “olha por mim”, “cuida de mim”. Repara bem que o pobre não te diz: “Se quiseres, podes cuidar de mim”. Se assim fosse, podias pensar e decidir, sem precisares de descer do trono da tua sacrossanta liberdade de escolha. Mas o “cuida de mim” que o pobre balbucia para ti não é opcional: é uma súplica que é um mandamento; não tens opção de escolha; tu é que foste escolhido; tens de responder que sim, debruçando-te sobre o pobre desvalido que ordena e implora o teu auxílio. Repara bem: o pobre que jaz à beira da estrada elege-te e obriga-te, sem te obrigar, a debruçares-te sobre ele. Movimento inaudito: agora que te debruçaste sobre ele, que ordenou e implorou o teu auxílio, podes entender melhor a sua condição de soberano. Ele é, na verdade, o único verdadeiro soberano, pois sem te apontar nenhuma espingarda ou maço de dinheiro, fez com que tu te debruçasses sobre ele, libertando-te dos teus projetos e negócios, horários, agendas, calendários. Os poderosos e tiranos podem e sabem apenas escravizar-te. Mas não podem nem sabem libertar-te!
Por isso, o Deus que vem agora visitar-nos confunde-se com os pequeninos (cf. Mateus 25,40.45), e neles vem amorosamente ao nosso encontro, para conversar connosco, para nos dizer “Bom-Dia”, e ordenar suplicando: “Cuida de mim”. Estava atento Isaías, o profeta do Advento, que ouve Deus a dizer assim: «em lugar alto e santo Eu habito, mas estou também com os oprimidos e humilhados, para dar vida e alento aos que não têm espaço nem sequer para respirar, aos que têm o coração despedaçado» (Isaías 57,15). Bem podia o profeta dizer que Deus desceu à nossa pandemia. E nós, os habitantes da pandemia, bem podemos rever-nos no Salmista que reza: «Do “confinamento” invoquei o Senhor» (Salmo 118,5), chegando-nos a resposta outra vez através de Isaías: «No tempo favorável te respondi; no dia da salvação te socorri» (Isaías 49,8), resposta que Paulo também regista, atualiza e pontualiza: «É agora o tempo favorável! É agora o dia da salvação!» (2 Coríntios 6,2).
O andamento do Advento traz-nos um Deus que vem para o meio de nós e da nossa anemia e pandemia, e diz: “Bom-Dia”, e suplicando ordena: “Cuida de mim”. É terrível termos de assumir que, se não cuidamos bem dos pobres e necessitados, também não cuidamos bem de Deus! Mas é agora o tempo favorável! É agora o dia da salvação! É agora o tempo da enchente da Palavra de Deus, de que não devemos fugir, mas a que nos devemos expor. O nosso “eu” patronal e autorreferencial entrará em crise, e teremos de mudar comportamentos. Acolher e responder deve ser o nosso alimento. O Deus que vem não vem mudar as situações. Vem mudar os corações. E são os nossos corações mudados que podem mudar as situações. O Advento é tempo de mudança e de esperança. Celebrar o Advento é deixar entrar em nós esta torrente de Bondade, esta Saudação, este Shalôm, esta Paz, este “Bom-Dia”, este “Cuida de mim”. E responder “Bom-Dia!”, e responder que “Sim”.
Sim, porque a resposta de Deus hoje somos nós. «Desci a fim de libertar o meu povo da mão dos egípcios…», diz Deus a Moisés, mas pega logo em Moisés pela mão, e diz-lhe: «E agora vai; Eu te envio ao Faraó, e faz sair do Egito o meu povo» (Êxodo 3,8.10). Texto grandioso e emblemático. O Deus do Advento vem para o meio desta pandemia, pega na nossa mão, muda o nosso coração e envia-nos a mudar a situação. Está aberta a oficina do Advento: enquanto uns se afadigam na vacina, outros nos hospitais, outros nos lares, nas farmácias, na padaria, empenhemo-nos todos em encher este mundo de Paz, de Esperança e de “Bom-Dia”, à imagem e sob a proteção maternal de Maria!

Lisboa, 22 de novembro de 2020



quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Ele anda por aí.


Ele anda por aí. Comprometido connosco e com o projeto do Reino. Continua a depositar toda a Sua fé na nossa fé. Frágil. Pequena. Cheia de dúvidas e inquietações, mas mesmo assim não se descose de nós em momento algum.

Ele anda por aí. A costurar o Seu Reino em nós. A deixar que as Suas linhas nos circundem de cima a baixo. Usa o Seu ponto de Cruz para nos juntar com todas as encruzilhadas, porque nos quer assim. Autênticos. Imperfeitos, mas em busca de Si. Numa total dádiva. Numa total liberdade.

Ele anda por aí. Empenhado em estar e em demonstrar que nunca nos deixa. Expressando-se em gritos de silêncio ensurdecedores. Arriscando revelar-Se na face daqueles que O levam no coração. Daqueles que O levam no olhar limpo e acolhedor. Daqueles que O transportam em abraços puros e sinceros tornando-os em sacrários vivos.

Ele anda por aí. Onde menos esperamos. Muitas vezes batendo-nos à porta quando não desejamos a Sua presença. É esta a Sua forma de estar. Procurar-nos quando achamos que não O merecemos. Escancarar as portas da nossa vida quando não O entendemos. Deita tudo a perder para não nos perder e admite precisar de nós. Confessa que não há nada que Lhe agrade mais do que partir o Seu pão na mesa da nossa vida e repartir o Seu vinho sobre os pecados da nossa existência.

Ele anda por aí. A dedicar-nos toda a Sua Palavra. Como quem revela ter um fraquinho por nós. Não anda ocupado a medir vidas. Anda, isso sim, sensibilizado com a história de cada um. Conhecendo-nos ao mais ínfimo pormenor. Deixando um rasto de esperança repleto de misericórdia e de total dádiva..

Ele anda por aí…


Emanuel António Dias

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Como se chega ao céu?

 



Quase todos queremos ir para o céu, mas poucos se esforçam por descobrir, escolher e aceitar o seu caminho para lá chegar.

 

Só há um caminho para cada um de nós. Passa por quem está perto de nós, todos aqueles com quem nos cruzamos várias vezes ao longo dos dias. Por vezes, no mesmo dia. Os nossos familiares, aqueles com quem trabalhamos e, de uma forma ou outra, todos aqueles de que conhecemos o olhar.

 

Na verdade, todos fazemos parte uns dos outros, pelo que não podemos ser felizes se os outros não estiverem bem. É promovendo a sua felicidade que alcançamos a nossa.

 

Por mais paradoxal que pareça, quem cuida apenas de si não consegue o resultado que deseja: paz e alegria.

 

Os egoístas julgam que os outros são meros figurantes numa história que tem apenas um protagonista: eles mesmos. São o centro do seu mundo, onde não cabe mais ninguém, de tão grandiosos que se julgam. Vivem sempre sozinhos, mesmo que haja quem lhes satisfaça os caprichos. Vivem descontentes, mesmo que tenham mais do que o suficiente para serem felizes.

 

O caminho para o céu passa por dar com amor, não por acumular com egoísmo.

 

Pode até a nossa vida ser muito mais pesada do que alguma vez julgámos possível, mas nunca é mais pesada do que aquilo que os nossos ombros aguentam. E se nos derrubar uma vez, que sejamos capazes de nos erguer e de seguir adiante. Muitas vezes, precisaremos da ajuda de outros. Assim também os outros, por mais fortes que sejam e os julguemos, precisam da nossa força.

 

Amar é ir ao encontro de quem está fraco. Não por ele ser fraco, mas apenas porque somos iguais a ele e é sempre tempo de apoiar quem vive um momento de necessidade.

 

As portas do céu estão à nossa volta, um pouco por todo o lado. Precisamos de parar e fazer do nosso silêncio espaço e tempo para que o outro nos revele aquilo de que precisa. Mais, precisamos de estar atentos aos olhares que se cruzam com o nosso, buscando a verdade que está por detrás de cada um. Depois de parar, escutar e olhar, é tempo de agir.

 

É tempo de amarmos e fazer com que os que sofrem se sintam amados. Sem palavras nem discursos, pois as obras do amor não se fazem de promessas nem de belas frases.

 

Nunca basta amar. É preciso que o outro se sinta amado. Caso contrário, é apenas um exercício de boa vontade, sem resultado. Talvez até um pouco egoísta, porque o objetivo deve mesmo ser que o sofrimento do outro seja apaziguado através do amor de que formos capazes.



José Luís Nunes Martins

 

Para chegar ao céu é preciso ser luz.

 

Quem não é luz apenas aumenta a escuridão!


terça-feira, 24 de novembro de 2020

UM ADVENTO QUE INTERPELE E PROVOQUE



O Advento, que todos os anos a Igreja se propõe viver para preparar o Natal, é um tempo que, pelo seu próprio ritmo e cadência, interpela, provoca e faz crescer. E o momento da história que vivemos está cheio de contextos que interpelam, provocam e pedem caminho. A inesperada pandemia é, neste sentido, como que uma súmula condensada de todos os problemas com que a humanidade e cada pessoa se confronta. É a sociedade no seu todo. É cada uma das pessoas e famílias em busca de melhores condições de vida. São os nacionalismos, os populismos, as curvas do poder e as eleições, a fragilidade da saúde e a evidência da provisoriedade da condição humana, o esgotamento dos recursos do planeta, os refugiados e os pobres ao lado da debilidade das políticas sociais, a educação e a incapacidade para a fraternidade, enfim, um mundo inteiro de desafios. Toda a vida quer viver e ser bem vivida. E há uma dimensão em que a vida humana se diferencia de todas as outras formas de vida: é o apelo e o acolhimento do outro, é o encontro e a relação, é o projeto e a construção.
Havia um homem que recebeu de outro um talento, teve medo e escondeu-o. Na mesma hora, outro homem recebeu cinco talentos, e, outro, dois talentos, trabalharam-nos, fizeram-nos render. Cada um destes, conforme as suas capacidades, ganhou o dobro, um, mais cinco talentos, outro, mais dois, cem por cento cada um. A narrativa é parábola evangélica (Mt 25, 14-30). Jesus conta-a, como muitas outras parábolas, não para dar uma resposta fechada como se fosse uma receita, mas para nos interpelar, provocar e fazer ir mais longe.
Estamos, diríamos, entre a expectativa e a desilusão. O Advento é tempo de expectativa. É uma esperança que tem na sua origem, não apenas a dimensão do homem, mas, sobretudo, a Promessa de Deus. É essa Promessa da aproximação de Deus à condição humana que faz gerar e viver a expectativa do encontro com Ele. O fundamento claro da fé cristã não é tocar Deus mas deixar-se tocar por Ele. Ser tocado por Jesus tem sempre o sabor da cura, a marca da sua humanidade, a expressão da sua ternura. Então, claro, há uma diferença entre esconder ou enterrar um talento e trabalhá-lo ou fazê-lo render. A nossa condição humana é um talento para fazer render.
Há expectativas estáticas que nada ajudam a crescer. Há expectativas meramente racionais que isolam as atitudes dos sentimentos. Há expectativas exclusivamente afetivas. Há expectativas que são apenas memórias e se fecham à surpresa do futuro. Há expectativas meramente legais. Mas também há expectativas que interpelam, comprometem, fazem alargar o horizonte, abrem o coração à surpresa da novidade.
E para que não se venha a cair na desilusão do confronto com os talentos enterrados e apodrecidos, é importante questionarmo-nos sobre a realidade em que vivemos.
A família é um dos mais importantes campos em que a expectativa, como atitude própria de Advento, pode ser aprendida, educada, purificada, vivida e ajudar a vida com os seus talentos a dar fruto.
Podemos olhar para a família cristã como a força do dom recíproco em amor e dizer que, nela, cada um dos esposos encontra o seu futuro no outro: como sentido de vida, amor, segurança... Mas é igualmente importante afirmar que o amor também se constrói. Seria um erro enorme pensar que o amor, e a própria família, são um instinto, uma disposição natural do coração, sem mais. O amor tem tanto de espontâneo como de realidade a construir com inteligência, com sabedoria-experiência própria e dos outros, com paciência. É por isso que não existe amor nem existe família se cada um dos esposos não tiver vontade de se comprometer, não tiver maturidade para a fidelidade, não for capaz de confiança.
De facto, amar é confiar. E comprometer-se é o que salva o amor de se enlear numa valsa - hesitação estéril. É um ato de fé em si, no outro e no próprio amor ... é também um ato de esperança. Amar implica comprometer-se num caminho que gera expectativas construtivas porque nem se instala nem fica na hesitação. Então é necessário “desejo” e “dom”. O amor “exige” sempre a conjugação do desejo com o dom. Na família, o amor dito platónico não serve porque não tem densidade existencial e o amor dito heroico não dura sempre.
É com as bases da comunicação e comunhão, da ternura, da sexualidade libertadora, do projeto comum, da fé, que, no próprio momento da celebração sacramental a família se constrói a partir do batismo e fé, da liberdade, da livre vontade, do amor e respeito, da fidelidade, da intensidade diária de relação, da saúde e doença, tristeza e alegria como horizontes reais da vida quotidiana.
O tempo de Advento proporciona a toda a Igreja a vivência da expectativa como construtora do dia a dia mais aberto à presença de Deus. E a todas as famílias, o tempo do Advento vem abrir uma oportunidade de, na expectativa cristã do encontro sempre mais profundo com Jesus Cristo, reconstruir e densificar relações, redefinir prioridades, encontrar momentos comuns de oração, desafiar ao compromisso eclesial e social em favor dos outros, investir valores e tempos na educação dos filhos, participar no cuidado da Casa comum.
Um dos homens que recebeu talentos escondeu-os e perdeu-os. Os outros puseram-nos a render. Tanto talento que o próprio Deus distribui abundantemente pelas nossas vidas para serem cuidados, postos a render e partilhados na alegria e na felicidade.
Um santo Advento para todos!
Para ajudar as famílias a preparar, em Família, a celebração do próximo Natal, apresento-lhe, a Coroa do Advento que o Secretariado Diocesano da Pastoral nos sugere.
Se desejar um símbolo universal para ajudar a preparar a celebração do Natal, em Família, apresento-lhe a Coroa do Advento, sugestão do nosso Secretariado Diocesano da Pastoral.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

A Virgem Maria, mulher orante



Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

No nosso caminho de catequeses sobre a oração, hoje encontramos a Virgem Maria como Mulher orante. Nossa Senhora rezava. Quando o mundo ainda não a conhece, quando é uma simples donzela, noiva de um homem da casa de David, Maria reza. Podemos imaginar a jovem de Nazaré, recolhida em silêncio, em diálogo contínuo com Deus, que em breve lhe teria confiado a sua missão. Ela já é cheia de graça e imaculada, desde a conceção, mas ainda nada sabe sobre a sua vocação surpreendente e extraordinária, e sobre o mar tempestuoso que terá de sulcar. Uma coisa é certa: Maria pertence ao grande exército dos humildes de coração, que os historiadores oficiais não incluem nos seus livros, mas com quem Deus preparou a vinda do seu Filho.

Maria não governa autonomamente a sua vida: espera que Deus tome as rédeas do seu caminho e a guie para onde Ele quer. É dócil, e com esta sua disponibilidade predispõe os grandes acontecimentos que envolvem Deus no mundo. O Catecismo recorda-nos a sua presença constante e atenciosa no desígnio benévolo do Pai e ao longo da vida de Jesus (cf. CIC, 2617-2618).

Maria encontra-se em oração, quando o arcanjo Gabriel lhe vai levar o anúncio a Nazaré. O seu “Eis-me!”, pequeno e imenso, que naquele momento faz saltar de alegria toda a criação, na história da salvação tinha sido precedido por muitos outros “eis-me!”, por muitas obediências confiantes, por tantas disponibilidades à vontade de Deus. Não há melhor maneira de rezar do que colocar-se, como Maria, em atitude de abertura, de coração aberto a Deus: “Senhor, o que Tu quiseres, quando Tu quiseres e como Tu quiseres!”. Ou seja, o coração aberto à vontade de Deus. E Deus responde sempre. Quantos fiéis vivem assim a sua oração! Quem é mais humilde de coração, reza assim: digamos com humildade essencial; com humildade simples: “Senhor, o que Tu quiseres, quando Tu quiseres e como Tu quiseres!”. Reza assim, sem se zangar porque os dias estão cheios de problemas, mas indo ao encontro da realidade e consciente de que é no amor humilde, no amor oferecido em cada situação, que nos tornamos instrumentos da graça de Deus. Senhor, o que Tu quiseres, quando Tu quiseres e como Tu quiseres! Uma oração simples, mas que consiste em pôr a nossa vida nas mãos do Senhor: que Ele nos guie! Todos nós podemos orar desta forma, quase sem palavras.

A oração sabe acalmar a inquietação: mas nós estamos inquietos, queremos sempre as coisas antes de as pedirmos, e queremo-las imediatamente. Esta inquietação fere-nos, e a oração sabe acalmar a inquietação, sabe transformá-la em disponibilidade. Quando estou inquieto, rezo e a oração abre o meu coração, tornando-me disponível à vontade de Deus. Nos poucos instantes da Anunciação, a Virgem Maria soube rejeitar o medo, embora tenha previsto que o seu “sim” lhe teria causado provações muito duras. Se na oração compreendermos que cada dia concedido por Deus é uma chamada, então dilataremos o coração e acolheremos tudo. Aprende-se a dizer: “O que quiseres, Senhor. Promete-me apenas que estarás presente em cada passo do meu caminho”. Isto é importante: pedir ao Senhor a sua presença em cada passo do nosso caminho: que não nos deixe sozinhos, que não nos deixe cair em tentação, que não nos abandone nos momentos difíceis. Conclui-se assim o Pai-Nosso é assim: a graça que o próprio Jesus nos ensinou a pedir ao Senhor.

Com a oração, Maria acompanha toda a vida de Jesus, até à morte e ressurreição; e no final continua, e acompanha os primeiros passos da Igreja nascente (cf. At 1, 14). Maria reza com os discípulos que atravessaram o escândalo da Cruz. Reza com Pedro, que sucumbiu ao medo e chorou de remorso. Maria está ali, com os discípulos, no meio dos homens e das mulheres que o seu Filho chamou para formar a sua Comunidade. Maria não age como sacerdote entre eles, não! É a Mãe de Jesus que reza com eles, em comunidade, como um membro da comunidade. Reza com eles e por eles. E, mais uma vez, a sua oração precede o futuro que está prestes a cumprir-se: por obra do Espírito Santo, tornou-se Mãe de Deus, e por obra do Espírito Santo, torna-se Mãe da Igreja. Orando com a Igreja nascente, torna-se Mãe da Igreja, acompanha os discípulos nos primeiros passos da Igreja, em oração, à espera do Espírito Santo. Em silêncio, sempre em silêncio! A prece de Maria é silenciosa. O Evangelho só nos narra uma oração de Maria: em Caná, quando pede ao seu Filho, por aquelas pobres pessoas, que estão prestes a fazer má figura na festa. Mas, imaginemos: oferecer uma festa de casamento e terminá-la com leite, porque não havia vinho! Mas que vergonha! E Ela suplica e pede ao seu filho que resolva aquele problema. A presença de Maria é por si só oração, e a sua presença entre os discípulos no Cenáculo, à espera do Espírito Santo, é orante. Assim, Maria dá à luz a Igreja, é Mãe da Igreja. O Catecismo explica: «Na fé da sua humilde serva, o Dom de Deus - ou seja, o Espírito Santo - encontra o acolhimento que Ele esperava desde o princípio dos tempos» (Catecismo, n. 2617).

Na Virgem Maria, a natural intuição feminina é exaltada pela sua união singular com Deus na oração. Por este motivo, lendo o Evangelho, observamos que às vezes Ela parece desaparecer, para depois reaparecer nos momentos cruciais: Maria está aberta à voz de Deus que guia o seu coração, que orienta os seus passos onde a sua presença é necessária. Presença silenciosa de mãe e de discípula. Maria está presente porque é Mãe, mas está presente também porque é a primeira discípula, aquela que melhor aprendeu as coisas de Jesus. Maria nunca diz: “Vinde, resolverei os problemas”. Mas diz: “Fazei o que Ele vos disser”, indicando sempre com o dedo Jesus. Esta atitude é típica do discípulo, e ela é a primeira discípula: reza como Mãe, ora como discípula.

«Maria conservava todas estas palavras, ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19). Assim o evangelista Lucas retrata a Mãe do Senhor no Evangelho da infância. Tudo o que acontece ao seu redor acaba por ter um reflexo no fundo do seu coração: tanto os dias cheios de alegria, como os momentos mais sombrios, quando até Ela tem dificuldade de compreender por que caminhos deve passar a Redenção. Tudo acaba no seu coração, para poder ser joeirado mediante a oração e por ela transfigurado. Quer sejam as dádivas dos Magos, quer a fuga para o Egito, até à tremenda sexta-feira da paixão: a Mãe conserva tudo, apresentando-o a Deus no seu diálogo com Ele. Alguém comparou o coração de Maria com uma pérola de esplendor inigualável, formada e limada pela aceitação paciente da vontade de Deus, através dos mistérios de Jesus meditados na oração. Que bom se também nós pudéssemos assemelhar-nos um pouco à nossa Mãe! Com o coração aberto à Palavra de Deus, com o coração silencioso, com o coração obediente, com o coração que sabe receber a Palavra de Deus, deixando-a crescer com uma semente do bem da Igreja.

Vaticano - Audiência Geral: Catequese - 15.

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domingo, 22 de novembro de 2020

Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

 

  https://www.youtube.com/watch?v=ICDlagg32WM

No 34º Domingo do Tempo Comum, celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. As leituras deste domingo falam-nos do Reino de Deus (esse Reino de que Jesus é rei). Apresentam-no como uma realidade que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a edificar na história (através do amor) e que terá o seu tempo definitivo no mundo que há-de vir.
A primeira leitura utiliza a imagem do Bom Pastor para apresentar Deus e para definir a sua relação com os homens. A imagem sublinha, por um lado, a autoridade de Deus e o seu papel na condução do seu Povo pelos caminhos da história; e sublinha, por outro lado, a preocupação, o carinho, o cuidado, o amor de Deus pelo seu Povo.
O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, o "rei" Jesus a interpelar os seus discípulo acerca do amor que partilharam com os irmãos, sobretudo com os pobres, os débeis, os desprotegidos. A questão é esta: o egoísmo, o fechamento em si próprio, a indiferença para com o irmão que sofre, não têm lugar no Reino de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses critérios ficará à margem do Reino.
Na segunda leitura, Paulo lembra aos cristãos que o fim último da caminhada do crente é a participação nesse "Reino de Deus" de vida plena, para o qual Cristo nos conduz. Nesse Reino definitivo, Deus manifestar-Se-á em tudo e actuará como Senhor de todas as coisas (vers. 28).
Descobrir que o Reino da vida definitiva é a nossa meta final significa eliminar definitivamente o medo que nos impede de actuar e de assumir um papel de protagonismo na construção de um mundo novo. Quem tem no horizonte final da sua vida o Reino de Deus, pode comprometer-se na luta pela justiça e pela paz, com a certeza de que a injustiça, a opressão, a oposição dos poderosos, a morte não podem pôr fim à vida que o anima. Ter como meta final o Reino significa libertarmo-nos do medo que nos paralisa e encontrarmos razões para um compromisso mais consequente com Deus, com o mundo e com os homens.


PALAVRA DE VIDA.
A sua coroa será feita de espinhos... O seu trono será uma cruz... O seu poder diferente do poder do mundo... O seu mandamento será o do Amor... O seu exército será composto por homens desarmados... A sua Lei são as bem-aventuranças... O seu Reino será um mundo de paz... Decididamente, este rei não é como os outros, porque o seu Reino não é deste mundo. Contudo, nós somos os seus sujeitos convidados a segui-l'O, e mesmo a fazer com que se realize este Reino. Fazemo-lo sempre que somos artífices da paz e nos amamos como Ele nos ama. Nada mais... mas nada menos!

https://www.dehonianos.org


sábado, 21 de novembro de 2020

O futuro é já ali!




Apoderou-se de nós um desalento pegajoso. Uma espécie de desânimo conformado que pesa nas costas, nos ombros e no coração.

Queremos descobrir sentido e significado neste vazio em que a nossa vida parece ter caído. A paciência parece gastar-se demasiado rápido. A tolerância, também.

As pessoas de sempre parecem mais cansativas, menos interessantes, mais amargas, menos atraentes. É como se o brilho natural de todas as coisas e de todos os momentos se tivesse apagado.

No entanto, julgo que o nosso desencantamento tem origem dentro do que somos e não, propriamente, fora de nós.

Somos nós que agora (e compreensivelmente) não conseguimos ver bem o lado bom que todas as coisas têm.

Ainda assim, e lá no fundo do que temos mais bem guardado, há sempre uma luz que se deixa acender. A luz da fé. Da luz de uma vacina que nos acena ao longe como um lenço branco. A luz de uma nova vida que encontra pela primeira vez os braços da mãe ou do pai. A luz do sol que aquece os dias e o coração. A luz dos nossos. Dos amores das nossas vidas.

E, de repente, até na noite descobrimos um ponto de luz que nos diz baixinho:

O futuro vem a caminho. E é teu.


Marta Arrais


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

DO VATICANO PARA A CIDADE DE LISBOA


Somos uma espécie de obra inacabada sempre em busca de acabamentos e também eles inacabados. Por isso, toda a pessoa se pergunta sobre a vida e o seu sentido, deseja ser feliz e saber como é que isso se há de alcançar. Mesmo que as realidades terrenas que a envolvam, realidades socias, laborais, económicas, políticas, sanitárias, etc., mesmo que essas realidades sejam difíceis e tantas vezes incómodas e obstáculo, ninguém consegue desanimar ou desistir de rasgar horizontes para a sua vida e dar resposta às perguntas que esse desafio lhe coloca. E se a vida é um dom belo e gratuito, viver é uma delicada arte, uma nobre tarefa. Mas também não é o grande sucesso dos negócios ou a concretização e êxito dos projetos sonhados que fará com que as perguntas sobre o sentido da vida deixem de existir. Como sabemos, neste mundo, mesmo que tenhamos tudo aquilo a que possamos aspirar, só a graça e a fidelidade ao Senhor nos satisfará, e, para além deste mundo, só a visão beatífica nos realizará plenamente. É por isso que muita gente sem grandes êxitos nesta vida e até com muitos dissabores, vive feliz e transmite felicidade, alegria e paz. São vidas alicerçadas na fé, não à espera de milagres, mas, sem descurar o seu esforço de procura e trabalho, sabem ter, concomitantemente, outras prioridades, sabem optar pelo caminho que, na verdade, dá sentido à vida e às coisas da vida, seja ela qual for e como for.
E se toda a gente procura a felicidade, muito mais os jovens. Na primavera da vida, eles procuram perguntar-se e entender qual será o verdadeiro caminho para lá chegar. Jesus Cristo, que veio para evangelizar os pobres, não só apontou o caminho para que isso acontecesse, mas também nos garantiu que Ele próprio era o caminho: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Mostrar e ensinar esse Caminho, essa Verdade e essa Vida é o que chamamos evangelizar. E podemos perguntar: mas quem são esses pobres perante os quais Cristo se apresentou a evangelizar? Se hoje há multidões de rostos, muita espécie de pobreza e miséria no mundo, toda ela tem como grande suporte aqueles que ignoram ou tentam, na prática ou na teoria, não aceitar esse Caminho, essa Verdade, essa Vida que nos faz sentir irmãos e solidários. É por isso que, mesmo que a Igreja jamais tenha interrompido o caminho da Evangelização, precisamos duma Nova Evangelização para que a descristianização não aumente, os valores humanos e cristãos essenciais não sejam atirados às malvas e se dê resposta à eterna pergunta que continua de pé: como viver, como ser feliz, individual e socialmente? É a esta pobreza, a esta fome e desejo de amor e de justiça, a esta fome de felicidade, que Cristo veio dar resposta. E os jovens foram os seus primeiros e principais entusiastas, basta recordar a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.
Ao celebrarmos, neste Domingo, a Solenidade litúrgica de Cristo Rei do Universo, recordamos tantos e tantos leigos e consagrados que, tendo estabelecido amizade sincera e profunda com Cristo, oferecem à Evangelização o contributo da sua ação e do seu próprio sofrimento, membros de comunidades, associações e movimentos de ação apostólica, pais e mães que se consagram à educação dos seus filhos na prática das virtudes humanas e cristãs, tantos jovens que dão o melhor de si a anunciar Cristo jovem, Rei e Senhor, para que todos encontrem o verdadeiro sentido para a vida, a felicidade, a alegria de viver. É também neste dia de Cristo Rei do Universo que os jovens portugueses vão receber das mãos do Santo Padre e dos jovens do Panamá que acolheram a última Jornada Mundial, os símbolos que sempre acompanham as Jornadas Mundiais da Juventude. A cerimónia será transmitida pela RTP, diretamente da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Se a Nova Evangelização precisa de todos, não pode dispensar os jovens nem eles querem ser dispensados nesta gesta de ir e anunciar, querem e são protagonistas da Evangelização.
A Igreja, mesmo que não seja muito claro, há muito iniciou a Nova Evangelização. Poderemos dizer que se iniciou com João XXIII que abriu as portas e as janelas da Igreja em busca de ar mais fresco e saudável. São Paulo VI foi um mártire persistente dessa renovação conciliar. João Paulo I, com o seu sorriso inesquecível e de curto pontificado, deu-nos motivos de esperança num mundo melhor e mais risonho. São João Paulo II batizou esse movimento como Nova Evangelização e, sem se poupar a esforços, deu-lhe mais um forte empurrão que Bento XVI e Francisco não deixaram de abraçar e continuar. As viagens pastorais destes Papas por todos os continentes, as Jornadas Mundiais da Juventude, os Encontros Mundiais da Família, os constantes Sínodos dos Bispos sobre temas diversos e pastoral de continentes, os vários Congressos Internacionais da Pastoral das Grandes Cidades, a proclamação e vivência de vários anos santos, as imensas iniciativas na passagem do milénio, a formação e responsabilização dos leigos, o surgimento de novas associações, grupos, movimentos e comunidades de vida consagrada, o Pátio dos gentios, as iniciativas ecuménicas e inter-religiosas, a reforma litúrgica, os encontros, simpósios e congressos internacionais e nacionais, os Documentos do Magistério, os esforços diocesanos nessa viragem, etc. etc. etc. Os próprios escândalos dentro da Igreja, se a todos nos humilham e envergonham, foram e continuam a ser motivo de paragem para aprender a escutar, a ver, avaliar, julgar e agir, para purificação e renovação atenta, para tomar consciência de que não há pessoas impecáveis e que todos caminhamos em pés de barro, para compreender melhor que a Nova Evangelização começa a partir de dentro.
Alguém dirá que nada tem resultado, que nada é palpável, que nada se vê. Embora muita coisa já tenha mudado, é possível que sim, que não sintamos grande alteração e que desejaríamos que tudo acontecesse mais rápido. No entanto, não podemos esquecer que se a tarefa de semear é nossa, a dinâmica do seu germinar e crescer é semelhante à do grão de mostarda que, sendo a mais pequenina das sementes, vai crescendo até se tornar em árvore frondosa. A lógica de Deus não é a nossa lógica e só Ele sabe quando e como a semente crescerá e dará fruto. No entanto, se o êxito é d’Ele e não nosso, também é certo que a sementeira do Reino que nos compete fazer tem exigências, exigências que se depreendem a partir de Cristo, missionário do Pai. Cristo foi enviado pelo Pai, veio em nome do Pai, estava em comunhão com Pai, não falava em seu nome mas em nome do Pai. O Espírito que o animava e nos enviou também não falava nem fala de si mesmo mas do que ouviu. Assim também o verdadeiro evangelizador, é um enviado de Jesus Cristo, não fala em seu próprio nome, vive em Cristo, escuta e dialoga com Cristo, faz-se voz e pés de Cristo, e, pela ação do Espírito, anuncia o que deve anunciar, com paciência e humildade, com alegria e esperança, sabendo que Cristo está com ele, vai à sua frente e é manso e humilde de coração.
Todos os métodos, iniciativas e entusiasmos serão vazios se cada um ceder à tentação de falar em seu nome pessoal e transmitir as suas ideias, se cada um pensar que o êxito se deve a si próprio, se a cada um faltar a formação, a oração e se esquecer que toda a vida de Jesus foi um caminho em direção à cruz. Se assim for, tudo soará a oco. Faltará a conversão de quem a anuncia e o dom de viver na comunhão com Jesus e com os outros, sem autojustificações, sem comparações, sem toques de mundaneidade, sem pieguices ou caprichos, mas caminhando com coerência de vida e alegria e criando comunidade de caminho já que uma conversão meramente individual não faz sentido nem terá grande consistência.
Que a Jornada Mundial da Juventude de 2023, em Portugal, comprometa cada vez mais os jovens nesta alegria de incendiar o mundo com o amor de Cristo. Eles são a alegria e a paz em movimento! Deixemo-nos contagiar por eles e caminhemos todos ao encontro de Jesus, o Caminho, a Verdade e a Vida.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 20-11-2020.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O que procuramos?




O que procuramos? Por onde andamos? Estaremos efetivamente à descoberta de algo ou de alguém? Vivemos para nos descobrirmos ou procuramo-nos no que vivemos?

O que procuramos? Teremos sequer consciência disto mesmo? Ou andamos numa velocidade que nos ilude, onde tudo nos parece resolvido? Em que nada em nós tem de ser descoberto? Como nos encontramos se não procuramos o outro? Como nos construímos se não nos questionamos?

O que procuramos? Deveríamos questionar-nos vezes sem fim. Não caindo num humor depressivo, mas direcionando-nos para a certeza de que não nos finalizamos em nós mesmos. Que não nos realizamos em tudo o que nos parece visível e palpável. Que a felicidade plena não acontece (sempre) naquilo que o mundo ateima em querer oferecer-nos.

O que procuramos? Deveríamos parar e deixar que esta questão ecoasse nos passos que damos. Criando em nós um despertar puro e sincero sem receio do que daí pudesse advir, porque é na procura que nos elevamos. Não perante os outros, mas com os outros. É na procura que nos deixamos encontrar e que proporcionamos esse mesmo encontro. É na procura que vamos permitindo que a vida se desenhe realçando em si a sua originalidade. É na procura que nos vemos mais verdadeiramente eliminando os véus que nos enganam dia após dia.

O que procuramos? O que buscamos nesta passagem brusca a fugaz? O que levamos desta efemeridade tantas vezes prometida como eterna? Quantas vezes nos realizamos por entre o contar das nossas horas?

Que a nossa procura, repleta de dúvidas, medos e incompreensões, ganhe sentido através do sedento desejo de nos sentirmos filhos, de nos sentirmos amados!


Emanuel António Dias


terça-feira, 17 de novembro de 2020

NÃO HAVERÁ NATAL?






(O Pe. Javier Leoz, pároco de São Lourenço em Pamplona, Espanha, publicou sua reflexão sobre o Natal, em forma de poema, que lido pelo Papa Francisco lhe mereceu um telefonema.)

NÃO HAVERÁ NATAL?

Claro que sim!
Mais silencioso e com mais profundidade,
Mais parecido com o primeiro em que Jesus nasceu em solidão.
Sem muitas luzes na terra, mas com a da estrela de Belém
fulgurando trilhas de vida em sua imensidão.
Sem cortejos reais colossais, mas com a humildade de sentir-nos
pastores e servos buscando a Verdade.
Sem grandes mesas e com amargas ausências, mas com a presença de um Deus que tudo plenificará.

Não haverá natal?
Claro que sim!
Sem as ruas a transbordar, mas com o coração aquecido pelo que está por chegar.
Sem barulhos nem ruídos, propagandas ou foguetes...
mas vivendo o Mistério sem medo do "covid-herodes" que pretende
tirar-nos até o sonho da esperança.
Haverá Natal porque Deus está ao nosso lado
e partilha, como Cristo no presépio, nossa pobreza, prova, pranto, angustia e orfandade.
Haverá Natal porque necessitamos de uma luz divina no meio de tanta escuridão.
A Covid19 nunca poderá chegar ao coração nem à alma dos que no céu põe sua esperança e seu maior ideal.

Haverá Natal!
Cantaremos nossos cantos natalinos!
Deus nascerá e nos trará a liberdade!

(tradução livre do espanhol)

José De Almeida Basto

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Põe o coração ao alto e descansa!


Não somos esperançosos o suficiente. Estamos a viver um tempo sem precedentes, e inegavelmente histórico, que nos cilindrou a todos. Mas sinto que estamos como que um pouco órfãos de esperança e, até, de algum otimismo. Ficamos ofendidos se nos surpreendem com conversas com notas de muita positividade. Não queremos acreditar que virão melhores dias porque não temos (ainda) capacidade para os vislumbrar. É como naqueles dias em que chove o dia todo. Quase nos esquecemos do sol que (quase) sempre está. Lamentamo-nos. Maldizemos a chuva e a tempestade. Tropeçamos no nosso mau humor, no nosso sobrolho franzido e na nossa rispidez.

Se pensarmos bem, é mais ou menos isto que nos acontece neste momento tão difícil da vida de todos nós. Não queremos isto. Não queremos esta chuva. Queremos que o sol volte para podermos voltar a dizer mal de tudo e de todos. Porque nem o Sol parece ser suficiente para nos afastar as impaciências do coração e dos dias.

Só conseguimos refilar. Reclamar. Atirar com a vida ao chão. Lamentar o quanto não aproveitámos a vida enquanto nos foi permitido.

Vale a pena pensar um pouco e sair desse círculo de venenos para o pensamento: de que me adianta pensar que não aproveitei? Que não vivi intensamente? Que não fiz como devia? Que não disse mais e melhor?

Não adianta de nada porque, na verdade, esse tempo já não existe. Está, já, longe de nós e do que somos agora.

Agora, é tempo de tentar colocar o coração ao lado dos pés, que vão andando sem saber por onde. É tempo de deixar que o Céu nos console. Seja porque nos trouxe um dia de Sol e porque é azul-bonito ou porque acreditamos que nele está contida a morada do Pai.

Agora, é tempo de pensar com calma no que queremos enquanto temos de viver estas horas. É tempo de entregar o coração a Quem pode cuidar dele. De o deixar descansar para que se cure das feridas que lhe impomos com o nosso egoísmo, a nossa falta de vontade e as nossas teimosias.

Se puderes, descansa. Respira fundo e deixa que tudo esteja como tem de estar.

O sentido disto? Havemos de o encontrar mais à frente.

Marta Arrais

domingo, 15 de novembro de 2020

Os dons de Deus

 

https://www.youtube.com/watch?v=x-4JJi4yU4M

A liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum recorda a cada cristão a grave responsabilidade de ser, no tempo histórico em que vivemos, testemunha consciente, activa e comprometida desse projecto de salvação/libertação que Deus Pai tem para os homens.
O Evangelho apresenta-nos dois exemplos opostos de como esperar e preparar a última vinda de Jesus. Louva o discípulo que se empenha em fazer frutificar os "bens" que Deus lhe confia; e condena o discípulo que se instala no medo e na apatia e não põe a render os "bens" que Deus lhe entrega (dessa forma, ele está a desperdiçar os dons de Deus e a privar os irmãos, a Igreja e o mundo dos frutos a que têm direito).
Na segunda leitura, Paulo deixa claro que o importante não é saber quando virá o Senhor pela segunda vez; mas é estar atento e vigilante, vivendo de acordo com os ensinamentos de Jesus, testemunhando os seus projectos, empenhando-se activamente na construção do Reino.
A primeira leitura apresenta, na figura da mulher virtuosa, alguns dos valores que asseguram a felicidade, o êxito, a realização. O "sábio" autor do texto propõe, sobretudo, os valores do trabalho, do compromisso, da generosidade, do "temor de Deus". Não são só valores da mulher virtuosa: são valores de que deve revestir-se o discípulo que quer viver na fidelidade aos projectos de Deus e corresponder à missão que Deus lhe confiou.
Quantos homens, mulheres e crianças, em todo o mundo, mas também perto de nós, lançam SOS para que a sua vida seja salva, e que eles possam viver de pé, dignamente, humanamente! Jesus ouviu os seus gritos, escutou-os, respondeu-lhes com uma palavra, um olhar, um gesto, e era sempre para transmitir dignidade, confiança, saúde, paz. Fechamos hoje os nossos ouvidos? Agarramo-nos às nossas riquezas? E se fizéssemos um desvio no nosso caminho para nos aproximarmos, para nos fazermos próximo de todos aqueles que caíram na beira do caminho?

https://www.dehonianos.org/portal/liturgia/?mc_id=2990

sábado, 14 de novembro de 2020

As perguntas que fazem medo, por Tolentino Mendonça




Há perguntas que nos fazem medo, e talvez não devessem. Há interrogações que não nos pedem unicamente informações, mais sérias ou mais banais que sejam, que estamos educadamente dispostos a fornecer, mas aquela verdade concreta de nós que nos custa reconhecer.

Há indagações que não são apenas técnicas, dirigidas às nossas competências e aos nossos argumentos defensivos. Há questões dirigidas a um território interior feito de silêncios, adiamentos, fadigas, sonhos que se extinguiram sem deixar espaço a outros sonhos.

Vem à minha memória um pequeno facto que me foi contado por um amigo. Um destes dias, quando trazia da escola para casa a filha, ela, com os seus quatro anos, perguntou-lhe: «Papá, os grandes são felizes?».

Ela tomou a menina nos braços, e só conseguiu abraçá-la com força, durante muito tempo. «Se respondo, desabo em lágrimas», dizia para si.

Ajuda-nos, Senhor, a colher a importância das perguntas que nos desestabilizam, em vez de nos tornarmos, com idade adulta, profissionais da fuga.


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

CADA UM SABE ONDE LHE APERTA O SAPATO


Muito se fala e escreve sobre a pobreza. Há organismos, gabinetes de estudos, debates, discursos, propósitos e promessas, a médio e a longo prazo, raramente para o hoje e o agora. Fala-se da pobreza, epidêmica e endêmica. Se não for apenas para encher o ego, é muito importante que se fale nisso e disso, mas não seria justo passar o tempo a falar da pobreza e esquecer o pobre. Para ele, cada dia que passa é uma eternidade! Embora os números não batam certo, estima-se que, de fome, morrem vinte e quatro mil pessoas por dia, cerca de nove milhões por ano. E não existe consenso sobre como resolver o problema. Uns, investem dinheiro, tempo e outros recursos, pensando que sim, que assim tudo será resolvido. Outros, dizem que isso não é suficiente, que é necessário combater as desigualdades económicas e sociais entre os países e dentro de cada país. Todos têm razão, tudo é importante e preciso. No entanto, os pobres continuarão a ser esquecidos ou explorados se tudo isso não passar de meras narrativas ideológicas, de interesses daninhos escondidos atrás de falsa meritocracia, se as políticas estiverem ao serviço de quem detém a riqueza e o poder, e, sobretudo, se faltar a conversão do coração. Certo será que o grande objetivo de erradicar a pobreza até 2030, está cada vez mais longe... A pobreza real continuará a ser um enorme protesto contra a injustiça social. É “o reumatismo agudíssimo da humanidade”, diria Camilo em proveito da patologia. Sentindo-nos irmãos, a pobreza de que falamos é, de facto, uma vergonha para quem a provoca ou a não quer ver e ajudar a resolver.
Por estes dias, corria nas redes sociais a grande preocupação pelas mortes e pelo sofrimento que a covid-19 causa na vida da comunidade humana, e bem, as suas consequências são enormes. Para acabar com esse sofrimento, a comunidade científica e todos os países do mundo, deram as mãos, estão a fazer convergir todos os esforços para que, em menos de um ano, surja a tão esperada vacina. O vírus é novo, quase desconhecido, não tem fronteiras, já bate à porta do vizinho e à nossa. No entanto, se é uma tragédia, está prestes a ser resolvida, oxalá que sim, todos o pretendemos. Ao contrário, desde há muito que conhecemos o vírus que mata e faz sofrer milhões e milhões de pessoas. O vírus é universalmente conhecido: é a fome! A comunidade científica e todos os países conhecem a vacina eficaz: o alimento!... Esta vacina, segundo debates e estudos de vária ordem, não está esgotada nem fora de prazo. Esbarra, isso sim, com a crescente indiferença e o egoísmo de muita gente na rede da sua distribuição. Sabemos que nem tudo é fácil, mas os detentores e os responsáveis de a distribuir vivem de repentes, tantas vezes egocêntricos! Como não lhes toca, não dão as mãos para pôr cobro a tanta mortandade, que morram!...
Apesar de as Nações Unidas terem proclamado o dia 17 de outubro como o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza e seja de reconhecer que os níveis de pobreza tenham vindo a decrescer nas últimas décadas, o Papa Francisco, ao terminar o Jubileu da Misericórdia, quis oferecer à Igreja o Dia Mundial dos Pobres, sempre no penúltimo Domingo do fim do ano litúrgico. São dois dias complementares, não concorrentes nem ao despique. O dia instituído pelas Nações Unidas pretende sensibilizar para a necessidade de políticas públicas e universais que visem a erradicação das injustiças e das desigualdades sociais geradoras de pobreza e miséria. O Dia Mundial dos Pobres, sem deixar de alertar para o mesmo, foi sobretudo instituído “para que as comunidades cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vez mais e melhor sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e os mais carenciados”, reagindo “à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro”. Mas tudo isso sem deixar de dirigir o convite “a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade”.
Como afirma o Papa Francisco na sua Mensagem para este quarto dia Mundial dos Pobres, e à qual deu o título de «Estende a tua mão ao pobre» (Sir 7, 32), é verdade que “a Igreja não tem soluções globais a propor, mas oferece, com a graça de Cristo, o seu testemunho e gestos de partilha”. Lembra a todos o grande valor do bem comum e o direito de todos a viver com dignidade. E o facto de se “reconhecer que, no mundo imenso da pobreza, a nossa própria intervenção é limitada, frágil e insuficiente, leva a estender as mãos aos outros, para que a mútua colaboração possa alcançar o objetivo de maneira mais eficaz. Somos movidos pela fé e pelo imperativo da caridade, mas sabemos reconhecer outras formas de ajuda e solidariedade”, dialogando com humildade, colaborando sem protagonismos.
«Estende a tua mão ao pobre»! Francisco afirma que, “estender a mão é um sinal: um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor”. E, dizendo porquê, ele recorda tantas formas de pobreza e tantas mãos que, nestes tempos difíceis de pandemia, desafiam o “contágio e o medo, a fim de dar apoio e consolação”. Mas também denuncia “a atitude de quantos conservam as mãos nos bolsos e não se deixam comover pela pobreza, da qual frequentemente são cúmplices”.
A Igreja, por um lado, valoriza a pobreza como opção de vida, ao jeito das bem-aventuranças ou da radicalidade evangélica, numa justa liberdade face aos bens materiais e traduzida em atitudes de vida. Por outro lado, recusa a miséria ou a pobreza imposta, que se pode traduzir na negação dos direitos fundamentais das pessoas, da sua participação na construção da sociedade, na recusa da igualdade de oportunidades ou da parte dos bens criados ou produzidos a que têm direito. É aqui que a Igreja, na fidelidade ao Espírito e à sua história de mais de dois mil anos, também se associa para fazer ecoar o grito dos que não têm voz.
Perante este cenário da pobreza, cada um sabe bem onde lhe aperta o sapato. Se também a sofre na pele ou se está do lado do desperdício, do esbanjamento e da indiferença, pensando apenas em si. Se está do lado de quantos sofrem a pobreza e dá as mãos para que as situações se resolvam ou vive de mãos nos bolsos e a dizer que hoje não há pobres. Se é um forreta com graves sintomas de avarento e mão estendida apenas para receber ou sabe poupar e estender a mão para partilhar com o pobre e dar-se a si próprio.
Mesmo que não tenhamos voz nos grandes palcos das decisões mundiais, muito podemos fazer nas nossas próprias comunidades, desde que atentos e organizados, agindo, com amor e respeito, junto de crentes e não crentes, ajudando as pessoas a libertarem-se desse jugo e a investir na sua promoção cultural com o seu trabalho e o seu mérito.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 13-11-2020.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A Amizade Social, por Tolentino Mendonça



Pode soar como uma categoria inusitada, e a que reagimos com estranheza, esta da “amizade social” que o Papa Francisco coloca no centro da recente encíclica “Fratelli Tutti”. Habituamo-nos a declinar a amizade como uma categoria pessoal e privada e, para falar das relações em sociedade, recorremos a termos mais latos como respeito, solidariedade, civismo, cidadania, etc. Reservamos a palavra amizade ao círculo eletivo dos nossos afetos, coisa aliás aconselhada por várias tradições sapienciais, a começar por aquela bíblica.

Mas a proposta do Papa parte da situação do nosso tempo, onde a globalização nos tornou vizinhos, mas não irmãos uns dos outros. Pelo contrário, estamos mais distantes e sós, mais desagregados e vulneráveis, limitados ao estatuto de espectadores e consumidores. De forma manifesta, as nossas sociedades mostram dificuldades em constituir-se como um projeto que diga respeito a todos. Obviamente não nos sentimos companhia do mesmo barco e locatários da mesma casa comum. Como se escreve na encíclica, “partes da humanidade parecem sacrificáveis em benefício duma seleção que favorece um sector humano” em detrimento de outro (“FT”, n. 18).

A amizade não é um clube exclusivo, mas uma escola onde treinamos competências para serem universalmente aplicadas

A “amizade social” é uma tentativa de inverter esta situação. O seu ponto de partida é o basilar reconhecimento “de quanto vale um ser humano, sempre e em qualquer circunstância” (“FT”, n. 106), considerando-o precioso e digno de todo o cuidado. Só exercitando esta visão da vida é que concretizaremos uma fraternidade aberta a todos. Contudo, precisamos, para isso, de transpor as cómodas fronteiras que nos aquietam. O desafio de Francisco é a irmos “mais além”, percebendo, por exemplo, que a amizade não é um clube exclusivo, mas uma escola onde treinamos competências para serem universalmente aplicadas. Os amigos que só cuidam dos seus amigos reduzem o horizonte da amizade. E, do mesmo modo, quando as famílias apenas se preocupam com o bem dos seus, e pretensamente esgotam aí a sua responsabilidade humana, algo de decisivo fica por cumprir. A experiência da amizade e do amor deve também servir para abrir o coração ao que está em redor, tornando-nos sensíveis a essa realidade, implicando-nos na sua qualificação ética, dotando-nos da generosidade para sairmos de nós mesmos e acolhermos a todos. Não existimos num vácuo, mas num contexto amplo e diversificado de relações pelo qual somos corresponsáveis.

Falando dos bens materiais e dos espirituais, o Papa chama a atenção para a necessidade de reconhecermos, com maior consciência, a função social de tudo o que possuímos, que não pode permanecer indiferente ao primeiro princípio de toda a ordem ético-social, que é o princípio do bem comum e da destinação universal dos bens criados. Os grupos fechados, que se constituem na prática como um “nós” contraposto ao mundo, rapidamente se tornam uma desculpa para o egoísmo social e a autoproteção dos seus interesses. Quer em relação aos bens materiais, como àqueles culturais, afetivos ou espirituais, somos desafiados a implementar o sentido positivo do direito de propriedade, que para Francisco consiste no seguinte: “guardo e cultivo algo que possuo, a fim de que possa ser uma contribuição para o bem de todos” (“FT”, n. 143). E o Papa não tem dúvidas: os heróis do futuro serão aqueles que souberem esquecer a lógica dos seus interesses e se decidam a romper o cerco atual da indiferença, sustentando amigável e universalmente uma palavra densa de verdade humana. A “amizade social” é uma categoria para enquadrar no âmbito da fraternidade, da prática comprometida da solidariedade e de uma ativa compaixão. E aí todos podemos fazer mais.



quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Os vazios do coração



Só quando nos esvaziamos de nós mesmos é que abrimos espaço para que os tesouros que nos esperam possam entrar. Como se o nosso íntimo estivesse ocupado e sequestrado por um conjunto de coisas sem valor que o enchem e impossibilitam de viver de forma plena.

É certo que a nossa vida é composta de momentos de inspiração e de expiração, ora mais vazios, ora mais cheios. Mas será sempre melhor que, antes de nos preenchermos com o que é bom, nos purifiquemos de todo o mal que – qual sujidade – possa teimar em ficar em nós.

Há vazios que doem porque neles reinam e escavam as trevas, ao contrário de outros em que a luz transforma o espaço interior em alegria. A dor e o amor não pesam, mas podem ocupar todo o espaço da nossa intimidade.

O desejo, quando a respeito de algo vão, enfraquece-nos, porque abre buracos desnecessários que ferem a nossa integridade. Isto, ao contrário das aspirações mais nobres, que buscam revestir-nos de algo que promova o que (já) somos.

A fé implica confiar no que não se vê, na certeza convicta a respeito do que se espera.

Quando vivemos em busca do bem, a dúvida e as tentações provocam, através de alguns medos, uma instabilidade que nos perturba, mas face à qual não devemos ceder. Talvez nos possa animar a simples verdade de que o mal só seduz quem dele está fora, ou seja, só é tentado quem está no caminho certo!

Não há maior paixão do que a fé, porque ela é a certeza de que não estamos sós.


José luís nunes martins

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Papa dedica intenção de oração de novembro à robótica (c/vídeo)





O Vídeo do Papa de novembro acaba de ser lançado com a intenção de oração que Francisco confia a toda Igreja Católica por meio da Rede Mundial de Oração do Papa(que inclui o Movimento Eucarístico Jovem - MEJ). Neste mês, o Santo Padre chama a atenção para a mudança histórica pela qual a humanidade está passando graças aos avanços da inteligência artificial. Para Francisco, este progresso deve estar sempre “a serviço do ser humano”, respeitando sua dignidade e zelando pela Criação. Esta edição do O Vídeo do Papa contou com o apoio da Enel, empresa multinacional de energia e um dos principais players integrados nos mercados globais de energia, gás e energias renováveis.

Progresso real

Não é novidade que, nos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) avançou de forma exponencial, como fica evidenciado por suas múltiplas aplicações em diferentes áreas do conhecimento. Hoje 37% das organizações no mundo implementaram IA de alguma forma (representando um aumento de 270% nos últimos quatro anos).

O Papa Francisco esclarece que esse avanço, como o da robótica, "pode ​​tornar possível um mundo melhor se estiver vinculado ao bem comum". Nesse sentido, ele espera um progresso tecnológico que não aumente as desigualdades na sociedade, pois do contrário não seria um “progresso real”, que leva em consideração a dignidade da pessoa e o cuidado com a Criação.

A inteligência artificial é capaz de resolver muitas questões que têm o ser humano como centro: entre outras, pode avaliar a capacidade de aprendizagem dos alunos para detectar oportunidades de melhoria; pode ajudar pessoas com deficiência visual ou auditiva a desenvolver melhores ferramentas de comunicação (como conversão de texto em fala ou tradução de fala em texto); ou pode agilizar a coleta, o processamento e a disseminação de dados e informações de saúde para melhorar o diagnóstico e o tratamento dos pacientes, especialmente aqueles que vivem em áreas remotas. O mesmo acontece no campo da ecologia: por exemplo, graças à inteligência artificial é possível analisar dados sobre as mudanças climáticas e desenvolver modelos que podem ajudar a prever desastres naturais. Também serve para criar cidades inteligentes e sustentáveis: reduzindo gastos urbanos, melhorando a resiliência das estradas e aumentando a eficiência energética, entre outras questões. As possibilidades de usar o progresso para o bem comum são enormes, e este vídeo, feito com imagens da Enel e do Instituto Italiano de Tecnologia, mostra algumas delas.

A serviço do ser humano

“A inovação”, diz o CEO da Enel, o engenheiro Francesco Starace, “disponibilizou ferramentas extraordinárias que devemos ser capazes de usar da melhor maneira possível. Como o Papa Francisco reafirma, é nossa tarefa garantir que os benefícios resultantes sejam distribuídos de forma equitativa e gerem oportunidades e bem-estar. Para nortear positivamente nossas ações e escolhas em relação ao presente e ao futuro, é necessário colocar o respeito às pessoas e ao meio ambiente em primeiro lugar, adotando uma visão baseada na sustentabilidade. Só assim a evolução tecnológica pode ser uma aliada da humanidade e gerar oportunidades que até poucos anos atrás nem imaginávamos”.


VATICANO

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Papa no Angelus: uma vida de caridade, não de egoísmo, prepara para o encontro com Deus


Não é suficiente a lâmpada da fé, mas é necessário também o óleo da caridade e das boas obras, disse o Papa, ao comentar a parábola das 10 virgens proposta pelo Evangelho de hoje.

Os fiéis compareceram à Praça São Pedro para rezar o Angelus com o Papa Francisco não obstante o aumento do número de contágios na Itália, mantendo a devida distância. Em sua alocução, o Pontífice comentou o Evangelho deste domingo (Mt 25,1-13), que convida a prolongar a reflexão sobre a vida eterna iniciada por ocasião da Festa de Todos os Santos e da Comemoração de Finados.

Fé e caridade


Com esta parábola, explicou o Papa, Jesus quer nos dizer que devemos estar preparados para o encontro com Ele. “Não somente para o encontro final, mas também para os pequenos e grandes encontros de todos os dias.”

Não é suficiente a lâmpada da fé, mas é necessário também o óleo da caridade e das boas obras. Ser sábios e prudentes significa não esperar o último momento para corresponder à graça de Deus, mas fazê-lo ativamente desde já, começar agora:

“Sim, mais para frente me converto. Converta-se agora! Mude hoje de vida! – “Sim, sim: amanhã”. Para dizer o mesmo amanhã, que jamais chegará. Hoje!”
Viver o hoje repleto de esperança

Se quisermos estar prontos para o último encontro com o Senhor, devemos desde já cooperar com Ele e realizar boas ações inspiradas no seu amor.

Mas infelizmente, lamentou Francisco, se esquece que a meta da nossa vida é o encontro definitivo com Deus, perdendo assim o sentido da espera e absolutizando o presente.

“Quando alguém absolutiza o presente, olha somente para o presente, perde o sentido da espera, que é tão bonito. Esperar o Senhor é tão necessário e nos tira das contradições do momento.”

E então a preocupação é somente possuir, emergir, estabilizar-se. "Sempre mais."

Se deixarmos guiar por aquilo que parece mais atraente, pela busca dos nossos interesses, a nossa vida se torna estéril, disse ainda Francisco; não acumularemos nenhuma reserva de óleo para a nossa lâmpada, e esta se apagará antes do encontro com o Senhor.

“Devemos viver o hoje, mas o hoje que vai em direção ao amanhã, em direção àquele encontro, o hoje repleto de esperança.”

Ao invés, se formos vigilantes e fizermos o bem correspondendo à graça de Deus, podermos aguardar com serenidade a chegada do esposo, mesmo dormindo, porque temos a reserva de óleo acumulada com as boas obras de todos os dias, “acumulada com a espera do Senhor, que Ele venha o mais rápido possível e que venha para me levar com Ele”.

Invoquemos a intercessão de Maria Santíssima, concluiu o Papa, “para que nos ajude a viver, como Ela fez, uma fé atuante: essa é a lâmpada luminosa com a qual podemos atravessar a noite além da morte e alcançar a grande festa da vida”.

https://www.youtube.com/watch?v=IXUEUyN4Dkg&feature=youtu.be