sexta-feira, 31 de março de 2023

SE ELES SOUBESSEM NÃO O TERIAM TRATADO ASSIM ...


Ai se eu soubesse o que sei hoje!... Usa-se esta expressão para dizer que, se soubéssemos isto ou aquilo que hoje sabemos, não teríamos metido, tantas vezes, a pata na poça ou o pé na argola, teríamos sido e agido de forma diferente. No entanto, hoje sabemos muita coisa de coisas muitas, mas agimos como se nada soubéssemos. Isso atribui-nos mais responsabilidade e faz-nos carregar maior culpa quando não agimos em conformidade.
Ora, a semana que se aproxima, vai-nos ajudar a entrar progressivamente na celebração dum acontecimento levado a cabo pela prepotência de quem fechou os ouvidos e o coração à verdade e à justiça. De quem teimou em não querer saber mais, pensando que tudo sabia e agia mais que bem. Aliás, o injustiçado não se cansou de lhes dizer quem era, de onde vinha, porque é que vinha e para o que é que vinha. Chamou-lhes a atenção para tudo o que estava dito e escrito sobre o que haveria de acontecer, sobre aquilo que eles, doutores de tal ciência, sabiam, esperavam e ensinavam, e para o que Ele próprio – o injustiçado - dizia e fazia como concretização disso mesmo. Pois vamos recordar como é que eles fizeram orelhas moucas. Vamos celebrar o mistério pascal de Jesus, a Paixão, a Morte e a Ressurreição do Senhor, o Filho de Deus. Vamos viver a Semana Santa, a Semana Maior! Se puder, não deixe de participar e celebrar.
Começamos com a Bênção e a Procissão de Ramos. Segundo uma pormenorizada descrição de uma peregrina do século IV, já nesse tempo se celebrava esta procissão em Jerusalém. Começava com a leitura da passagem do Evangelho que recorda o acontecimento, e, em seguida, o bispo e todo o povo caminhavam a pé, saindo do alto do Monte das Oliveiras até ao Santo Sepulcro, com hinos e antífonas, respondendo sempre: ‘Bendito Aquele que vem em nome do Senhor’. O mesmo testemunho refere a elevada participação do povo nessa Procissão, incluindo crianças, mesmo de tenra idade aos ombros dos pais. Toda a gente participava, uns com folhas de palmeiras, outros, com ramos de oliveira. De Jerusalém, com o tempo, esta Procissão foi-se estendendo a toda a Igreja. Ela recorda a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, a cidade de David, a cidade centro e símbolo duma humanidade cheia de esperança nas promessas que lhe haviam sido feitas, uma cidade a vibrar de alegria porque soavam os alarmes a anunciar que tinha chegado a hora de tudo se concretizar: “Dança de alegria, cidade de Sião; grita de alegria, cidade de Jerusalém! Eis que o teu Rei, vem ao teu encontro, Ele é justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta” (Zac 9,9). Nesta feliz hora, há tanto tempo anunciada e desejada, neste momento tal solene e alegremente ruidoso e aplaudido, “numerosa multidão estendia as capas no caminho; outros cortavam ramos de árvores e espalhavam-nos pelo chão. E tanto as multidões que vinham à frente de Jesus como as que o seguiam, diziam em altos brados: ‘Hossana ao Filho de David! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hossana nas alturas!’. Quando Jesus entrou em Jerusalém, toda a cidade ficou em alvoroço. “Quem é Ele?” – perguntavam. E a multidão respondia: “É Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia” (Mt 21, 1-11).
A entrada dos peregrinos em Jerusalém fazia-se a pé. Jesus, porém, desta vez, faz questão em entrar a cavalo. Não com aquele espetáculo de um rei a caminho do seu trono no palácio real, cheio de pompa e circunstância, de pajens e continências, altivo e dominador. Jesus, o Rei dos reis, o Messias esperado, apresenta-se manso, humilde e pobre, despojado de toda a sua grandeza, montado num jumentinho. Sendo de condição divina, “não se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz” (Fil 2, 6-11).
Sete séculos antes disto ter acontecido, o profeta Isaías descreve a atitude deste Servo sofredor de forma realista: “Apresentei as costas àqueles que me batiam, e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio, e, por isso, não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido” (Is 50, 5-7). Foi por tudo isto, por esta obediência ao projeto de salvação sonhado no seio da Trindade, que “Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fil 2, 6-11).
Amor com amor se paga! No entanto, todos nós, pecadores, sempre que recaímos nos vícios e no pecado, sempre que mergulhamos na desordem e no mal, o Filho de Deus é crucificado de novo no nosso coração, expondo-o à ignomínia. A nossa responsabilidade, afirma São Paulo (1 Cor 2,8), é muito maior do que a daqueles que o levaram ao Calvário. Nós sabemos quem Ele é, o que Ele disse e fez. Se aqueles que o condenaram à morte “tivessem conhecido a Sabedoria de Deus, não teriam crucificado o Senhor da glória” (cf. CIgC598).
A indiferença para com Deus é grande! Ele, que nos criou para interagirmos no amor, é tratado como se não existisse ou nada tivesse feito ou faça por nós. O mundo, porém, precisa de o conhecer cada vez mais. Precisa de conhecer a pessoa de Jesus Cristo, o estilo de vida que anunciou, as suas palavras e as suas ações, o seu projeto profundamente humanizante, a sua história e testemunho de vida, a sua linguagem simples e acessível, a sua preocupação e ação pela bem de todos, a sua proximidade e empatia com os mais frágeis e sofridos, as suas prioridades em benefício da justiça e da paz, da tolerância e do respeito mútuo, o seu compromisso com a história, a sua mensagem de esperança.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 31-03-2023.


Não guardas o Domingo? Não vens de Deus!





Penso que muitos de nós, tal como alguns fariseus no tempo de Jesus, permanecemos no pecado. No Evangelho deste domingo ficamos agarrados à cura do cego de nascença. Ainda esperamos que o Cristo que acreditamos altere a nossa vida num passo de magia. Mas o texto diz-nos muito mais...

Quando ouço a proclamação deste trecho, a frase que mais ecoa no meu coração é a seguinte: «Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado».

A sociedade em que vivemos – tenho receio de chamar-lhe comunidade - em que estamos imersos é marcada por uma cultura da morte que se manifesta através da indiferença, da exclusão, da violência, do abandono e da solidão. Esta frase pronunciada pelos fariseus é sinal disto mesmo.

É verdade que é sábado. Os judeus, quanto mais devotos, mais rigorosamente observavam o sábado como tempo reservado exclusivamente a Deus, e por isso impõem a mais absoluta proibição de trabalhar. Mas Jesus, para curar o cego, fez lodo. Portanto, ele trabalhou e, consequentemente, transgrediu o mandamento de descansar no dia de sábado.

Imediatamente a comunidade local, que se reúne na sinagoga, inicia um julgamento. Os pais do homem são chamados para testemunhar. Estes sentem-se ultrapassados pelos factos e refugiam-se numa prudente neutralidade: «Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós». Além do homem curado, ninguém é capaz de ir além dos factos. Não conseguem ver algo mais que a simples cura física... No final, os fariseus expulsam da sinagoga o pecador que não reconhece Deus. Ou seja, o deus que eles conhecem.

E quantas vezes somos nós assim? Quando vejo as nossas reações ao escândalo da pedofilia na igreja e tratamos logo de anunciar que o Deus daqueles, não é o nosso deus, não caímos no mesmo erro dos fariseus?

Sem dúvida que no Evangelho se trata de uma cura e aqui não. Claro que devemos condenar qualquer tipo de violação! Claro que é um crime hediondo! Claro que devemos procurar banir do meio da nossa sociedade esta aberração! Claro que devem ser punidos perante a lei civil e canónica! Claro que não nos podemos calar e deixar andar! Mas...

A atitude não será idêntica no uso do nosso deus individual? De quantos ouvi a decisão ou justificação de abandono da Igreja?! Mas...

Procuramos ver os nossos erros pessoais? Procuramos olhar para as violações ao Amor de Deus que nós próprios cometemos? Procuramos escutar as vítimas que fazemos no nosso quotidiano? Procuramos ir ao encontro dos que mais sofrem nas nossas comunidades?

Porém, para Jesus, aquele dia, aquele sábado serve para manifestar a glória de Deus. Um dia que deveria ser dedicado exclusivamente a Ele...

Façamos nós também!


Paulo J. A. Victória


quinta-feira, 30 de março de 2023

Sabes o que me custa?





Já te fizeram esta pergunta? Na verdade, a maior parte das vezes em que ouvimos esta pergunta é no sentido retórico. Geralmente quer expressar um sentimento de injustiça perante alguma coisa.

Sabes o que me custa... ter dado.

Sabes o que me custa… ter confiado.

Sabes o que me custa… ter acreditado.

Sabes o que me custa… ter de ouvir

Sabes o que me custa… pôr-te de castigo

Sabes o que me custa… trabalhar

Sabes o que me custa… ?

São expressões muito comuns e que, na maioria das vezes, nada têm a ver com o valor material das coisas, mas com o incomensurável valor do que sentimos.

Custa muito sentir que merecíamos um retorno que não existe.

Custa muito fazer algo que não queremos mas, temos de fazer por um bem maior.

Custa muito dar esmola.

Custa muito jejuar.

Custa muito lutar contra pensamentos de raiva e desconforto em relação a pessoas com quem temos de lidar diariamente

Custa muito…


Mas se te custa é porque tem valor!

E se tem valor merece ser olhado como algo precioso. Mesmo que os outros não reconheçam o valor do teu sacrifício, tu deves sempre valorizar o que te custa. Não o deves apregoar, sob pena de acharem que estás a precisar de consolo (mesmo que estejas), mas deves reconhecer que se te custa é porque também o tens para dar. Sabes, “ninguém dá o que não tem”, pelo que se tens é natural que te custe a dar. Outros porém, pouco ou nada dão, por isso pouco ou nada lhes custa.

E tu amiga, o que te custa?


Raquel Rodrigues


quarta-feira, 29 de março de 2023

Alguém que seja abrigo



Alguém que seja abrigo. Alguém que seja porto seguro. Onde (re)pousar no final de tudo. E no início. E sempre.

Alguém que seja abraço. Alguém que seja aconchego do corpo, da alma, do coração.

Alguém que seja mão (que) segura. Alguém que seja âncora e força. Que acompanhe. Que fique. Sempre. Que não desenlace.

Alguém que seja sorriso. Alguém que seja a parte bonita do dia. Que faça sorrir. Mesmo até sem saber. Só porque toca o coração. Só porque abraça a alma.

Alguém que seja colo. Alguém que seja amparo, refúgio, cuidado. Que não deixe cair. Que serene. Que cure.

Alguém que seja casa. Alguém que seja ninho, lugar para onde voltar. Todos os dias. Conforto. Onde poder (de)morar.

Alguém que seja o lado bonito. Alguém que seja sol nos dias cinzentos, luz na escuridão, paz na tempestade.

Alguém que seja amor. Alguém que seja e que viva com o coração. Que saiba, e que mostre, que (só) o amor salva.

Alguém que seja abrigo. Por tudo e por tanto. Mesmo sem saber. Só por ser, por estar, por existir.

Que nunca nos falte.

Que nunca o deixemos faltar, também.


Daniela Barreira

terça-feira, 28 de março de 2023

Informações Paroquiais

 ESTA SEMANA: 

ARRONCHES - 18H30- 3ª E 5ª FEIRA- MISSA

31 DE MARÇO:  18H30- ESPERANÇA- VIA SACRA PELAS RUAS


  DOMINGO DE RAMOS- 02 DE ABRIL

SÁBADO  - 17H00- BENÇÃO DOS RAMOS E MISSA EM VALE DE CAVALOS

DOMINGO- EM TODAS AS EUCARISTIAS, BENÇÃO DOS RAMOS ANTES DA CELEBRAÇÃO

REGUENGO- 9H30
ALEGRETE - 10H30
ESPERANÇA- 11H00
DEGOLADOS - 11H30
LAPA- 15H00

ARRONCHES- 11H30- BENÇÃO DOS RAMOS JUNTO À IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ, SEGUIDA DE PROCISSÃO ATÉ À IGREJA MATRIZ E CELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA.



segunda-feira, 27 de março de 2023

Não te julgues indigno!



Em muitos desafios da nossa vida julgamo-nos indignos de alcançar o sucesso. Talvez por causa do que sabemos sobre nós mesmos, tendo em conta as nossas faltas e falhas, em muito pouco semelhantes aos méritos aparentes de quem nos rodeia.

Chegamos a julgar justo que aquilo que ambicionamos para nós, acabe por ficar para os outros, porque nos parecem, de facto, muito melhores do que nós.

A verdade é que cada um de nós se conhece a partir de dentro, mas aos outros apenas a partir de fora. Estamos bem conscientes de muitos dos nossos defeitos, tristezas, preocupações, desejos e memórias, e muitas destas sensações são experimentadas de forma tão intensa que acabamos por nos avaliar como muito mais vulneráveis e fracos do que o resto das pessoas que conhecemos.

Dos outros apenas sabemos o que fazem e o que nos dizem. O que pode ser, e é, muitas vezes, mais ou menos adulterado para que nos cause boa impressão e que, a partir dela, criemos uma imagem do interior do outro, mais bela do que a realidade.

A solução para este complexo que nos atinge não é mais do que tomarmos os que nos são estranhos, e os próximos, como muito mais semelhantes a nós do que parecem. Todos os que estão à nossa volta, no fundo, não são mais dignos nem mais excelentes do que nós. Por mais que brilhem as suas aparências.

A única indignidade que talvez importe sentir é a de quando nos sentimos amados, uma vez que ela significa que reconhecemos ao outro a decisão gratuita e generosa de ser dom na nossa vida, apesar de tudo.

José Luís Nunes Martins


domingo, 26 de março de 2023

VIDA É ESPERANÇA

 


Neste 5º Domingo da Quaresma, a liturgia garante-nos que o desígnio de Deus é a comunicação de uma vida que ultrapassa definitivamente a vida biológica: é a vida definitiva que supera a morte.
Na primeira leitura, Jahwéh oferece ao seu Povo exilado, desesperado e sem futuro (condenado à morte) uma vida nova. Essa vida vem pelo Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de obediência a Deus e de amor aos irmãos.Na nossa existência pessoal passamos, muitas vezes, por situações de desespero, em que tudo parece perder o sentido. A morte de alguém querido, o desmoronar dos laços familiares, a traição de um amigo ou de alguém a quem amamos, a perda do emprego, a solidão, a falta de objectivos lançam-nos muitas vezes num vazio do qual não conseguimos facilmente sair. A Palavra de Deus garante-nos: não estamos perdidos e abandonados à nossa miséria e finitude... Deus caminha ao nosso lado; em cada instante Ele lá está, tirando vida da morte, "escrevendo direito por linhas tortas", dando-nos a coragem de "sair do sepulcro" e avançar mais um passo ao encontro da vida plena.
O Evangelho garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser "amigo" de Jesus e aderir à sua proposta (fazendo da vida uma entrega obediente ao Pai e um dom aos irmãos) é entrar na vida definitiva. Os crentes que vivem desse jeito experimentam a morte física; mas não estão mortos: vivem para sempre em Deus.
A segunda leitura lembra aos cristãos que, no dia do seu Baptismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as obras de Deus e a viverem "segundo o Espírito". Diante da certeza que a fé nos dá, somos convidados a viver a vida sem medo. O medo da morte como aniquilamento total torna o homem cauteloso e impotente face à opressão e ao poder dos opressores; mas libertando-nos do medo da morte, Jesus torna-nos livres e capacita-nos para gastar a vida ao serviço dos irmãos, lutando generosamente contra tudo aquilo que oprime e que rouba ao homem a vida plena.
O baptizado é alguém que escolheu identificar-se com Cristo - isto é, alguém que escolheu viver na obediência aos planos do Pai e no dom da vida em favor dos irmãos. O exemplo de Cristo garante-me: uma vida gasta desse jeito não termina no fracasso, mas na vida definitiva, na felicidade total. A realização plena do homem não está nos valores efémeros (muitas vezes propostos como os valores mais fundamentais), mas no amor e no dom da vida. É daí que brota a ressurreição. 

BILHETE DE EVANGELHO.

A vida é esperança. Estão vivos aqueles que esperam. Depois do momento do nosso nascimento, em que fomos criados, somos habitados pela esperança. Não cessamos de procurar, esperar, desejar. Procuramos os sinais de Deus? Esperamos a sua vinda? Desejamos a sua presença? Neste tempo da Quaresma, somos convidados à conversão. A esperança opera uma mudança nos nossos comportamentos. Não nos contentemos com esperanças que nos podem decepcionar. Nós vivemos de esperança, porque Deus não pode decepcionar-nos. Porque o nosso Deus é um Deus que fala, somos chamados por Ele. A esperança faz-nos escutar os seus apelos e responder-lhes. Sejamos vivos. Sê-lo-emos se nós esperamos.

https://www.dehonianos.org/

sábado, 25 de março de 2023

De que se mascaram os fariseus da nossa Igreja?






De que se mascaram os fariseus da nossa Igreja? Relembrar a rigidez e as intransigências dos fariseus faz-me questionar se não vivemos tempos em que tenhamos, dentro da nossa instituição, alguns comportamentos característicos daqueles senhores do templo. Irónico alguns destes tiques serem encontrados no seio da Igreja quando o fundador da mesma os menosprezava e criticava intitulando-os como hipócritas.

De que se mascaram os fariseus da nossa Igreja? Não estarão escondidos por baixo da lei e da doutrina? Não estarão cobertos de palavras e de tradicionalismos vazios e sem misericórdia? Não viverão sedentos por medir vidas e costumes? Não estarão cegos com os ritos e o poder? Não estarão também, como os fariseus do tempo de Jesus, cheios de certezas sobre quem é o próprio Deus? Não estarão obcecados com uma única forma que se esquecem que o Espírito Santo é rebelde e indomável e que, por isso, sopra em tudo e em todos?

Independentemente da forma como cada um vive a sua fé e o catolicismo, ninguém pode negar a importância da atuação do Espírito Santo sobre a Igreja. É Ele que sustenta a Igreja, mas é também Ele que a vivifica e que traz novidade. É através d’Ele que surge a Boa Nova e só a conseguimos identificar se estivermos predispostos à mudança. Se estivermos predispostos a querer vê-Lo e a escuta-Lo de um outro jeito. Como posso ouvir o Espírito Santo se ateimo em experienciar Deus dentro das minhas certezas? Como posso sentir o Espírito Santo se vivo preocupado em aprisionar? Como posso deixar que o Espírito Santo atue se não acredito que Ele possa ser revelado de um outro jeito?

De que se mascaram os fariseus da nossa Igreja? Os fariseus da nossa Igreja andam por aí a apontar pecados e a colocar ainda mais peso sobre a vida de tantos e tantas. Os fariseus da nossa Igreja andam preocupados em discutir qual o rito mais digno em vez de se dedicar a que todos se sintam dignos do Seu amor. Os fariseus da nossa Igreja andam preocupados com o cumprimento das regras. Os fariseus da nossa Igreja andam obcecados em servir para ter em vez de se dedicarem a uma total doação. Os fariseus da nossa Igreja andam desconfiados de tudo e de todos e esquecem-se que foi a mesma falta de fé que levou o Seu amado a ser crucificado. Os fariseus da nossa Igreja andam por aí a esconder a verdadeira face de Deus.


Emanuel António Dias




sexta-feira, 24 de março de 2023

UM CORAÇÃO COM BICOS DE PAPAGAIO



‘Aquele indivíduo é de gancho’!... ‘Aquela senhora é de gancho’..., ouvimos dizer de quando em vez. Isto para dizer que tal pessoa é de temperamento difícil, tem maus fígados.
Em forma de gancho, e a quem, pelas suas semelhanças, se dá o nome de bicos de papagaio, são aquelas estruturas ósseas que, devido a várias causas - a que não estão alheias o envelhecimento e as más posturas -, surgem nas vértebras, causando dores e formigueiros, um mal-estar geral. E, de facto, não faltam pessoas com sintomas de grave osteofitose que as atormenta, encarquilha e curva. Mas acho que estes bicos de papagaio, se fazem sofrer, não são os piores. Embora causem imenso dano, estão circunscritos àquelas pessoas que os suportam. A ginástica acompanhada, os analgésicos, os corticoides e as cirurgias, podem ajudar o paciente, dizem os entendidos. E dizem-no tanto mais convencidos quanto mais eles próprios não sofrem do mesmo!
Mais prejudiciais, porém, – acho eu! - são aqueles outros ‘bicos de papagaio’ que atingem o coração humano, invisíveis na estrutura, mas notórios na atuação e com efeitos de contágio. Em vez de deixarem o coração trabalhar a irrigar naturalmente o mundo de bem-fazer e paz, de beleza e arte, de alegria e esperança, provocam a desconstrução pessoal, familiar e social como se de saltos civilizacionais se tratasse. Embandeirados em arco, são difíceis de gerir e digerir, são forças que se desencadeiam do interior do homem e rolam como bola de neve, crescendo, esmagando, destruindo. Se momentaneamente servem o próprio ego e o ego de muitos outros, não tardam em os vencer e tornar subservientes. É por isso que o mundo se apresenta, “simultaneamente poderoso e débil, capaz do melhor e do pior, tendo patente diante de si o caminho da liberdade ou da servidão, do progresso ou da regressão, da fraternidade ou do ódio” (GS9).
Reconhecendo o desempenho e os notáveis sucessos do homem no campo das ciências, das técnicas e das artes, coisa que todos apreciamos, aplaudimos, agradecemos e da qual usufruímos, também se constata que “os desequilíbrios de que sofre o mundo atual estão ligados com aquele desequilíbrio fundamental que se radica no coração do homem”.
Limitado como criatura e ilimitado nos seus sonhos e desejos, atraído por muitas solicitações e nem sempre isento de impulsos e pressões menos boas, interiores e exteriores, o homem tem de fazer opções em consciência e liberdade, sem se minimizar nem se exaltar em norma absoluta. Se isto implica, de facto, uma consciência verdadeira, reta e certa, uma consciência bem formada, também implica aquela liberdade que dignifica o homem, o constrói e constrói o bem comum, aquela liberdade que está na capacidade de optar sempre pelo bem, que atrai para a verdade, que manifesta sabedoria. Quando opta pelo mal, o homem está a ser escravo de si mesmo e escraviza os outros. E se, pelo lugar que ocupa, das suas opções depende o futuro duma sociedade, podemos ter o sofrimento coletivo, a tragédia social, a guerra, o mal-estar.
O homem tem tido, sobre si mesmo, inúmeras opiniões, diferentes e contraditórias. E perante a evolução atual do mundo, “cada dia são mais numerosos os que põem ou sentem com nova acuidade as questões fundamentais: Que é o homem? Qual o sentido da dor, do mal, e da morte, que, apesar do enorme progresso alcançado, continuam a existir? Para que servem essas vitórias, ganhas a tão grande preço? Que pode o homem dar à sociedade, e que coisas pode dela receber? Que há para além desta vida terrena?”.
A fé ilumina a inteligência e orienta a vontade com uma nova luz, dando sentido à vida e às coisas da vida. A Igreja acredita e anuncia que Jesus Cristo, morto e ressuscitado por todos, oferece à pessoa, pelo seu Espírito, a luz e a força para poder corresponder à sua vocação integral. Sabe que não foi dado aos homens outro nome pelo qual possamos ser salvos. Crê que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e mestre. Afirma que, subjacentes a todas as transformações, há muitas coisas que não mudam, cujo último fundamento é Cristo, o mesmo ontem, hoje, e para sempre (cf. GS10).
Estamos na Quaresma. Deixemos que Jesus nos tome pela mão, nos conduza para fora de nós mesmos, nos imponha as mãos, uma e outra vez, e nos ajude a curar os ‘bicos de papagaio’ do coração que até nos podem transformar em ‘pessoas de gancho’, de maus fígados!
O desfio é sermos santos e ‘santos de ao pé da porta’ para todos. Não santinhos de pau ou de pedra, mas de carne e osso, afáveis na arte de ser e bem servir, amando.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 24-03-2023.

Ainda há gente (muito) boa!





Não sei como vamos conseguindo trazer o coração e a alma à tona dos dias, quando nos obrigam a chafurdar, numa base diária, em notícias horrorosas. Vamos passando os olhos por um pouco de tudo: ou a guerra, ou os abusos, ou os maus-tratos, violência em todas as formas e feitios. Obrigam-nos a enterrar a alegria na “força do ódio”, do abanar de cabeça de espanto permanente.

Enquanto os dias se desfiam, esperamos pouco. Esperamos que as pessoas sejam mesquinhas, traiçoeiras, que nos queiram enganar ou passar a perna pelo simples gozo de nos ver de nariz a beijar o chão.

É precisamente neste cenário de pouca bondade e justiça que, por vezes, a vida nos permite encontrar pessoas boas. Pessoas que ainda valem a pena. Pessoas que ajudam os outros porque é essa a cor do sangue que lhes corre nas veias do peito e da alma. Ali, num salão de cabeleireiro de bairro, mora e trabalha uma D. Fernanda que prefere que nem se dê por ela. Mais vale ouvir do que falar, diz ela. E é isso que faz. Dá espaço aos “velhos” da sua rua e do seu bairro e deixa-lhes a porta aberta. Deixa que entrem como quem entra na sua casa. Sabe-lhes de cor as manias, as conversas, os hábitos e as dores já habituadas. Conhece-lhes o sentido de humor. Ou a falta dele. Abre-lhes os braços e o coração só com o simples facto de existir. Poisam à sua beira como pássaros que sabem onde é o ninho e que sabem onde é seguro aterrar. É ali. Numa rua que ninguém conhece, e que não faz as notícias e os telejornais, que mora uma alma boa. Que cuida dos outros como quem nasceu para o fazer. Que não sente já as próprias dores por serem muitas. Mas que nunca parece cansar-se de aliviar as alheias.

Há pessoas que fazem muito, com tão pouco.

Há pessoas que ainda são boas só por ser. Ninguém sabe delas, e muito menos quem são. Só a conhecem os que precisam de a conhecer. Basta-lhe isso e a certeza de que a vida é curta. Que enquanto cá andarmos, só vale a pena viver para dar.

Ainda há gente muito boa por aí. E por todas as vezes em que tanta gente se pode esquecer de lhe(s) agradecer, hoje agradeço eu.


Marta Arrais


quinta-feira, 23 de março de 2023

É tão bom estarmos aqui!



Sabes, aquela sensação de bem-estar, quando fazes algo que te dá tanto prazer que nem te apetece que o dia acabe? Imagino que seja um sentimento semelhante ao que os discípulos de Emaús tiveram e que os levou a pedir que Jesus ficasse mais um pouco? Ou a que os discípulos tiveram quando subiram ao monte com Jesus e vendo a sua transfiguração ficaram tão felizes que queriam montar tenda e ficar?

Lembras-te quando foi a última vez que tiveste essa sensação?

Lembras-te quando te sentiste tão tranquila que não pensavas em mais nada, apenas em saborear o momento e ficar mais um pouco? Estavas sozinha ou estavas acompanhada? O que estavas a fazer que dava tanto bem estar? Está na hora de recuperar esses momentos e trazê-los para o dia a dia.

No meu caso recordo um momento simples em que estava num grupo e estava tão bem que me apetecia ficar e "montar tenda", outro estava em caminho e parada a contemplar a beleza sentia que podia ficar ali, eternamente a olhar. Em ambos senti que o mundo havia parado, não havia amanhã, nem chatices, nem notícias…nada, apenas o momento. Senti-me vazia de pesos e ao mesmo tempo repleta de alegria. São momentos fugazes e se calhar, é por isso que são tão intensos, mas fazem-nos falta.

Precisamos de saber apreciar melhor os prazeres da vida mas também fazer um esforço para que eles se propiciem. Todos os dias nasce o sol e todos os dias ele se põe e geralmente são espetáculos maravilhosos e gratuitos mas, tens-te propiciado a apreciar? Reparaste como os astros se alinharam nestas noites? Reparaste nas pinturas que as nuvens fizeram no céu? Pois, todos os dias acontecem eventos maravilhosos e únicos, mas infelizmente rapidamente somos absorvidos por compromissos, relógios e agendas. Que seja! Mas enquanto durar, pára e saboreia! Afinal a alegria pode estar aí onde tu estás!

E tu amiga, onde sentes que é bom estar?



Raquel Rodrigues

quarta-feira, 22 de março de 2023

PONTO DE SITUAÇÃO DA IGREJA



No início deste mês, o jornal L’Osservatore Romano publicou as últimas estatísticas da Igreja Católica, referentes ao ano 2021. Principais conclusões:
1. Aumentou o número total de católicos, em cerca de 1.3%, atingindo a marca de 1.378 mil milhões.
2. O número de padres (diocesanos e religiosos) diminuiu em cerca de 0,57%.
3. Continua em queda o número de seminaristas, de modo mais acentuado na América e na Europa (5.8%).
4. O número de religiosas também diminuiu em 1.7%.
5. A desproporção entre o número de católicos e sacerdotes é mais evidente na América do Norte e do Sul onde, apesar de terem cerca de 48% do número total de católicos, apenas estão presentes 29% do total dos sacerdotes.
6. O número de bispos diminuiu e ratio é de 76 padres para cada bispos. Notícias recentes dizem que também aumentam o número de padres que recusam ser bispos, passando de 1 em cada 10 para 3 em cada 10.
7. Os diáconos permanentes decrescem em 1.1%.
8. O Brasil detém o número mais elevado de cristãos, ou seja, cerca de 180 milhões.
9. A Igreja cresce rapidamente em África, apesar das perseguições, aumentando em 3.1%.
10. África é ainda o único local onde aumentaram o número de seminaristas (0.6%) e religiosos (2.2%).

Comunicar a Igreja em Portugal

terça-feira, 21 de março de 2023

Quem é o sentido da tua vida?



Para quem vives? Tão importante quanto saberes em quem te queres tornar é saberes a quem queres oferecer os teus dias e anos.

A tua identidade está em construção, não importa quantos anos já viveste nem quantos te serão ainda dados. Se julgas que já és o melhor que podes ser, estás mesmo muito enganado e tens andado a desperdiçar o que de mais precioso tens na tua vida: tempo.

Há quem procure o sentido da sua vida em razões concretas, em teorias mais ou menos espirituais, em paixões que movem ou em emoções que se fomentam, outros há que procuram alguém.

Uma vida só tem sentido se servir a outra vida, quer seja para lhe dar alegria ou para lhe reduzir as tristezas. Ninguém é para si mesmo. Somos para sermos um, mas não connosco próprios.

Uma vida com sentido é, muitas vezes, uma vida feliz. Há objetivos a atingir, rumo a seguir e a força necessária para cumprir todo esse demorado caminho. Uma vida plena é um compromisso a muito longo prazo.

Fazer alguém feliz é algo muito mais importante do que buscar o seu sorriso.

O que deves fazer por quem amas? Aquilo que mais arrependerás de forma mais profunda de não ter feito, se a outra pessoa morrer. Quando? Esta semana.


José Luís Nunes Martins


domingo, 19 de março de 2023

PROCISSÃO DOS PASSOS



A Procissão dos Passos, em Arronches, realizou-se este domingo, 19 de Março, num cortejo de dezenas de fiéis, acompanhado das marchas fúnebres da Banda Filarmónica de Alegrete.
O programa iniciou, pelas 16h00 com Missa Solene na Igreja Matriz, seguida da Procissão do Senhor dos Passos até ao Largo Serpa Pinto, num encontro com as imagens da mãe de Jesus Cristo durante a Via Sacra.
Aí o Padre Rui proferiu o sermão alusivo ao momento, lembrando Nossa Senhora ( das Dores) como mãe sofredora.
A procissão prosseguiu depois pela Rua 5 de Outubro até ao ponto de partida.
A procissão representa o percurso de Jesus Cristo até à crucificação, sendo que o momento alto é registado no encontro das procissões oriundas da Igreja Matriz e da Igreja de Nossa Senhora da Luz.
Nosso Senhor dos Passos, ou Senhor Bom Jesus dos Passos, é uma invocação de Jesus Cristo e uma devoção especial na Igreja Católica a ele dirigida que faz memória ao trajeto percorrido por Jesus Cristo desde a sua condenação à morte no pretório até ao seu sepultamento, após ter sido crucificado no Calvário, e o encontro com a sua Mãe.

As celebrações foram organizadas pela Paróquia de Arronches com o apoio da Câmara Municipal de Arronches.