domingo, 6 de agosto de 2023

Festa da Transfiguração do Senhor

 


É de revelação que se trata neste domingo: somos convidados a contemplar a divindade de Cristo que se manifesta aos olhos dos homens.
A primeira leitura fala da revelação em termos de “visão”: cena grandiosa do Filho do homem servido por todos os povos. A visão do profeta Daniel acontece quando o povo sofre a perseguição e a deportação. Nesta situação que parece desesperada para a fé, Deus anuncia o seu grande projeto de enviar, não um anjo ou qualquer outro mensageiro celeste, mas o Filho do homem.
O anúncio de um “filho de homem” que virá “sobre as nuvens” para instaurar um reino que “não será destruído” leva-nos a Jesus. Ele veio ao encontro dos homens para lhes propor uma nova ordem, em que os pobres, os débeis, os fracos, os marginalizados, aqueles que não podem fazer ouvir a sua voz nos grandes areópagos internacionais, não mais serão humilhados e espezinhados. Jesus introduziu na história uma nova lógica, substituindo a lógica do orgulho e do egoísmo, por uma lógica de amor, de serviço, de doação. É verdade que, mais de dois mil anos depois do nascimento de Jesus, esse reino ainda não se tornou uma realidade plena na nossa história; contudo, o reino proposto por Jesus está presente na vida do mundo, como uma semente a crescer ou como o fermento a levedar a massa. Compete-nos a nós, discípulos de Jesus, fazer com que esse reino seja, cada dia mais, uma realidade bem viva, presente e actuante no nosso mundo.
O Salmo 96 canta que o Senhor é rei e que os povos viram a sua glória!
Na segunda leitura, Pedro dá testemunho da “glória resplandecente de Deus” vinda sobre Jesus. O seu comentário da Transfiguração é tão esclarecedor que não saberíamos dizer melhor: todo o mistério da Luz vinda nas nossas trevas é proclamado nestas poucas palavras. Esta mensagem é um motivo de esperança para nós, que estamos a caminho, e um incentivo a sustentar a nossa espera do regresso do nosso Mestre.
O Evangelho relata o episódio da Transfiguração em que a voz do Pai designa Jesus como seu “Filho bem-amado”, Aquele que devemos escutar. Aqui está todo o sentido da festa de hoje: celebrar este instante de Luz pelo qual Jesus se faz conhecer, contemplar a visão do Senhor transfigurado, escutar a sua mensagem, descer do monte e espalhar a Luz à nossa volta.
A interpretação tradicional desta cena da Transfiguração liga-a à agonia e à paixão de Jesus, em que os três discípulos verão o seu Mestre humilhado. Mas podemos descobrir aí uma outra dimensão. Com efeito, a luz que transfigura o rosto de Jesus não para no seu corpo. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear». Cremos facilmente que o nosso corpo para na nossa pele. É certo que temos um corpo bem definido, com peso e medida… Mas esquecemos demasiado que, na realidade, o nosso corpo está organicamente ligado a toda a criação. Somos tirados do pó da terra e, dizem os sábios, somos moldados pelo pó das estrelas. O nosso corpo não pode viver independentemente do resto da criação. O Filho de Deus, ao tornar-Se homem, assume toda esta dimensão corporal e cósmica. Integra n’Ele a totalidade do cosmos. Não vem salvar apenas as “almas”! Faz entrar toda a criação no movimento de amor que O liga ao Pai. A luz da Transfiguração que irradia sobre as vestes do Senhor é uma espécie de sinal de que toda a criação será, um dia, transfigurada pela glória de Deus.


https://www.dehonianos.org/

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