domingo, 13 de agosto de 2023

Quem é Deus? Como é Deus?

 


A liturgia do 19º Domingo do Tempo Comum tem como tema fundamental a revelação de Deus. Fala-nos de um Deus apostado em percorrer, de braço dado com os homens, os caminhos da história.
A primeira leitura convida os crentes a regressarem às origens da sua fé e do seu compromisso, a fazerem uma peregrinação ao encontro do Deus da comunhão e da Aliança; e garante que o crente não encontra esse Deus nas manifestações espectaculares, mas na humildade, na simplicidade, na interioridade.
Quem é Deus? Como é Deus? É possível provar, sem margem para dúvidas, a existência de Deus? Estas e outras perguntas já as fizemos, certamente, a nós próprios ou a alguém. Todos nós somos pessoas a quem Deus inquieta: há um "qualquer coisa" no coração do homem que o projecta para o transcendente, que o leva a interrogar-se sobre Deus e a tentar descobrir o seu rosto... No entanto, Deus não é evidente. Se confiarmos apenas nos nossos sentidos, Deus não existe: não conseguimos vê-l'O com os nossos olhos, sentir o seu cheiro ou tocá-l'O com as nossas mãos. Mais ainda: nenhum instrumento científico, nenhum microscópio electrónico, nenhum radar espacial detectou jamais qualquer sinal sensível de Deus. Talvez por isso o soviético Yuri Gagarin, o primeiro homem do espaço, mal pôs os pés na terra apressou-se a afirmar que não tinha encontrado na estratosfera qualquer marca de Deus... O texto que nos é proposto convida todos aqueles que estão interessados em Deus, a descobri-l'O no silêncio, na simplicidade, na intimidade... É preciso calar o ruído excessivo, moderar a actividade desenfreada, encontrar tempo e disponibilidade para consultar o coração, para interrogar a Palavra de Deus, para perceber a sua presença e as suas indicações nos sinais (quase sempre discretos) que Ele deixa na nossa história e na vida do mundo... Tenho consciência de que preciso encontrar tempo para "buscar Deus"? De acordo com a minha experiência de procura, onde é que eu O encontro mais facilmente: na agitação e nos gestos espectaculares, ou no silêncio, na humildade e na simplicidade?
O Evangelho apresenta-nos uma reflexão sobre a caminhada histórica dos discípulos, enviados à "outra margem" a propor aos homens o banquete do Reino. Nessa "viagem", a comunidade do Reino não está sozinha, à mercê das forças da morte: em Jesus, o Deus do amor e da comunhão vem ao encontro dos discípulos, estende-lhes a mão, dá-lhes a força para vencer a adversidade, a desilusão, a hostilidade do mundo. Os discípulos são convidados a reconhecê-l'O, a acolhê-l'O e a aceitá-l'O como "o Senhor".
Para que seja possível viver de forma coerente e corajosa na dinâmica do Reino, os discípulos têm de estar conscientes da presença de Jesus, o Senhor da vida e da história, que as forças do mal nunca conseguirão vencer nem domesticar. Ele diz aos discípulos, tantas vezes desanimados e assustados face às dificuldades e às perseguições: "tende confiança. Sou Eu. Não temais". Os discípulos sabem, assim, que não há qualquer razão para se deixarem afundar no desespero e na desilusão. Mesmo quando a sua fé vacila, eles sabem que a mão de Jesus está lá, estendida, para que eles não sejam submergidos pelas forças do egoísmo, da injustiça, da morte. Nada nem ninguém poderá roubar a vida àqueles que lutam para instaurar o Reino. Jesus, vivo e ressuscitado, não deixa nunca que sejamos vencidos.
A segunda leitura sugere que esse Deus, apostado em vir ao encontro dos homens e em revelar-lhes o seu rosto de amor e de bondade, tem uma proposta de salvação que oferece a todos. Convida-nos a estarmos atentos às manifestações desse Deus e a não perdermos as oportunidades de salvação que Ele nos oferece.
Este texto propõe-nos também uma reflexão sobre as oportunidades perdidas... Israel, apesar de todas as manifestações da bondade e do amor de Deus que conheceu ao longo da sua caminhada pela história, acabou por se instalar numa auto-suficiência que não lhe permitiu acompanhar o ritmo de Deus, nem descobrir os novos desafios que o projecto da salvação de Deus faz, em cada fase, aos homens. O exemplo de Israel faz-nos pensar no nosso compromisso com Deus... Em primeiro lugar, mostra-nos a importância de não nos instalarmos num esquema de vivência medíocre da fé e sugere que o "sim" a Deus do dia do nosso baptismo precisa de ser renovado em cada dia da nossa vida... Em segundo lugar, sugere que o cristão não pode instalar-se nas suas certezas e auto-suficiências, mas tem de estar atento aos desafios, sempre renovados, de Deus... Em terceiro lugar, sugere que o ter o nome inscrito no livro de registos da nossa paróquia não é um certificado de garantia de salvação (a salvação passa sempre pela adesão sempre renovada aos dons de Deus).

https://www.dehonianos.org/

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