Na quarta etapa do “caminho da Quaresma”, a liturgia fala-nos de vida nova. Diz-nos como chegar lá. Convida-nos a experimentá-la.
A primeira leitura mostra-nos o Povo de Deus a começar uma nova vida na terra de Canaã. Para trás ficaram a escravidão do Egito e a desolação do deserto. Agora, na Terra Prometida, Israel pode começar a viver de uma forma nova, construindo um futuro de liberdade e de felicidade. É essa experiência – de passagem da escravidão à liberdade, da vida velha à vida nova – que somos convidados a fazer neste tempo de Quaresma.O batismo marcou, para nós, o momento em que nos comprometemos com Deus e passamos a fazer parte da família de Deus. Nesse dia, dissemos não à escravidão do egoísmo e do pecado e comprometemo-nos a viver a vida nova de Deus. Fomos ungidos com o óleo dos catecúmenos e recebemos a força de Deus para dizer “não” ao mal; fomos também ungidos com o óleo do crisma, que nos constituiu sacerdotes, profetas e reis, à imagem de Jesus, membros do povo da nova Aliança; fomos envolvidos numa veste branca e foi-nos pedido que nos mantivéssemos assim, vestidos de Deus, ao longo de todo o nosso caminho; recebemos a luz de Cristo e fomos convidados a nunca deixar apagar essa luz nas nossas vidas… Temos vivido na fidelidade a essa vida nova? A Quaresma não será um tempo favorável para renovarmos o nosso compromisso batismal e para regressarmos a essa fonte de vida nova onde mergulhamos no dia em que fomos batizados?
No Evangelho, através da parábola do “pai misericordioso”, Jesus garante-nos que Deus nunca nos fechará as portas: estará sempre à nossa espera de braços abertos, pronto para nos acolher e para nos reintegrar na sua família. “Voltar para Deus” é a opção certa para quem quiser dar sentido pleno à sua existência.A parábola do pai misericordioso deixa no ar algumas questões: se Deus é assim, se Deus está sempre de braços abertos para acolher os filhos que fizeram escolhas erradas, vale a pena ser bom? Não será mais lógico “gozar a vida” o mais possível, sem problemas de consciência, uma vez que Deus tudo perdoa? Na verdade, a parábola é clara: a opção pela futilidade e pelos valores efémeros não é uma boa opção. O filho mais novo da parábola constatou isso mesmo: as suas escolhas erradas levaram-no para um beco sem saída e deixaram-lhe feridas quase fatais. Foi por ter percebido que aquele tempo longe do pai tinha sido um tempo perdido, que ele voltou para casa. Podemos, nós também escolher a autossuficiência e afastar-nos de Deus… Será uma boa opção? Isso não será perder tempo? Podemos dar-nos ao luxo de desperdiçar a nossa breve vida em caminhos que não nos levam a lado nenhum?
Na segunda leitura Paulo de Tarso, recorrendo ao conceito de “reconciliação”, lembra-nos que Cristo veio derrotar o egoísmo e o pecado e sanar a separação que havia entre Deus e os homens. Aqueles que aceitam ligar-se a Cristo e caminhar atrás d’Ele, estão reconciliados com Deus. Vivem uma vida nova, a vida dos filhos queridos e amados de Deus.
Paulo fala, neste texto, da “reconciliação” com Deus. Não fala explicitamente da “reconciliação” com os irmãos. Mas, quando escreve as palavras que lemos, ele está angustiado pelo conflito que o distancia dos seus queridos filhos de Corinto. Ora, Paulo sabe que só será possível a reconciliação entre os irmãos desavindos se, antes, esses irmãos descobriram o amor de Deus e aceitaram viver no dinamismo do amor. Quem descobre o amor de Deus e vive reconciliado com Deus, percebe que deve viver reconciliado com os seus irmãos. Nós, os que fomos tocados pelo amor de Deus, procuramos viver reconciliados com todos os nossos irmãos? Testemunhamos o amor de Deus vivendo em paz e harmonia uns com os outros?
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