A primeira leitura traz-nos uma “confissão de fé” que os israelitas faziam quando apresentavam a Deus as primícias dos frutos da terra. Reconhecendo a ação salvadora e libertadora de Deus nas suas vidas, os crentes israelitas afirmavam a sua fé e a sua inabalável confiança no poder e no amor de Deus; constatando que tudo o que tinham provinha da generosidade e da solicitude de Deus, percebiam que só Deus é fonte de vida em abundância.Ao fazer memória dos “feitos” de Deus em favor do seu povo, o israelita fiel tomava consciência do lugar e do papel de Deus na sua vida. Percebia que Deus era a sua grande referência e que não fazia sentido trilhar caminhos onde Deus não estivesse. Tudo o que tinha e tudo o que era devia-se a Deus, à sua generosidade, à sua solicitude, ao seu amor. Na mesma linha, talvez nos fizesse bem, a nós homens e mulheres do séc. XXI, olharmos mais atentamente para a história da salvação, a fim de redescobrirmos o lugar de Deus nas nossas vidas e na vida da humanidade. Talvez então não nos sentíssemos tentados a colocar no centro da nossa existência “deuses” que não compensam nem nos garantem vida com sentido: os bens materiais, o bem-estar, o poder, o êxito social ou profissional, a ciência ou a técnica, os líderes, as ideologias… Que lugar ocupa Deus nas nossas vidas? Quais são os “deuses” em que apostamos?
O Evangelho apresenta-nos uma catequese sobre as opções de Jesus. Ele recusou sempre as propostas e os valores que punham em causa o projeto de Deus para o mundo e para os homens. Para Jesus, os valores de Deus tiveram sempre primazia sobre os bens materiais, a sede de poder, a embriaguez oferecida pelo êxito fácil. Aos seus discípulos Jesus pede que sigam um caminho semelhante.Começamos, nestes dias, a percorrer um caminho, o caminho quaresmal. É o caminho que nos conduz à Páscoa, à ressurreição, à vida nova. Ao longo desse caminho seremos convidados a analisar, com lucidez e sentido de responsabilidade, as nossas opções, as nossas prioridades, os nossos valores, o sentido da nossa vida… Este tempo poderá ser um tempo de conversão, de realinhamento, de renovação, de mudança; poderá ser a oportunidade para nos reaproximarmos de Deus e das propostas que Ele nos faz. A Palavra de Deus que escutaremos cada domingo ajudar-nos-á a perceber o sem sentido de algumas das nossas escolhas e a detetar alguns dos equívocos em que navegamos. Aceitamos o desafio de percorrer este caminho? O Evangelho deste domingo refere algumas das “tentações” que Jesus teve de enfrentar e vencer. Estamos dispostos, da nossa parte, a identificar as “tentações” que nos escravizam e nos impedem de viver uma vida mais digna, mais humana, mais repleta de sentido e de esperança? Quais são as “tentações” que, com mais frequência, nos afastam do estilo de vida e do projeto de Jesus?
A segunda leitura diz-nos que a salvação é-nos dada através de Jesus. Quem acredita em Jesus e abraça a proposta de vida que Ele traz, será salvo. Os que acolhem a proposta de Jesus tornam-se membros de uma família onde “não há diferença entre judeu e grego”, pois “todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos os que o invocam”.Todos os homens e mulheres que aderem a Jesus e que acolhem a sua proposta de salvação passam a fazer parte de uma única família, sem distinção de qualquer tipo. Não há diferença “entre judeus e gregos”, entre amigos e inimigos, entre ricos e pobres, entre superiores e inferiores: todos têm como pai o mesmo Deus e fazem parte de uma comunidade de irmãos e de irmãs. Essa “família”, unida e fraterna, é chamada a dar testemunho no mundo do amor, da misericórdia, da bondade, da salvação de Deus. É isso que vemos nas nossas comunidades cristãs? Nós, família que nasceu de um “sim” a Jesus, somos uma comunidade que testemunha a comunhão e a fraternidade? Na nossa comunidade cristã há lugar para todos, independentemente das suas “diferenças”, sejam elas quais forem?
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