domingo, 12 de outubro de 2014

"A parábola do banquete de casamento"


https://www.youtube.com/watch?v=u8DtYzQVakE

A parábola nos diz que os convidados fizeram pouco caso do intento do Rei, cada um voltou os olhos para o «seu» pequeno mundo: «suas posses, seus negócios». Haviam esquecido quanto era grande o privilégio de terem sido os convidados da festa que o Rei preparava. Não se tratava de uma festa qualquer, era para o «seu Filho». Repetia-se, desse modo, o contraste entre os grandes valores e os pequenos interesses. Contraste que se nos apresenta continuamente, toda vez que precisamos escolher entre o nosso “pequeno mundo” feito de realizações imediatas e visíveis, de necessidades com as quais justificamos a nossa consciência, e o interesse de Deus.



Em quantas ocasiões nos proclamamos dispostos a quiçá quais coisas mas, bem no fundo, as fazemos somente se essas não incomodarem os nossos projetos particulares, os nossos pequenos «campos». Levamos tão em consideração os nossos objetivos particulares que até desconsideramos a hipótese de que Deus possa ter um outro projeto! E se fossemos nós os convidados? Será esta uma analogia tão inadequada, se considerarmos a riqueza de todos os tesouros que temos à disposição?



Enquanto nós estamos tão acostumados com coisas tão valiosas como a possibilidade de conhecer a Palavra que Deus nos dirige, o seu carinho e fidelidade discreta que apenas os olhares sutis percebem; enquanto podemos fazer experiência da sua mão forte e delicada que nos sustenta nos momentos em que perdemos a esperança... quantas pessoas precisam sentir que não estão sozinhas, à mercê de um mecanismo desumano! São pessoas que não conhecem que há um Deus que conduz a história, que Ele está sempre corrigindo as opções erradas que os homens fazem. Quantas pessoas não estão conscientes da própria dignidade, não sabem que podem sair de suas condições, que têm algo para dar! Quantos homens existem nas encruzilhadas, nos becos sem saída, nos caminhos que parecem não ter retorno! São pessoas que esperam. Pessoas que não têm outra opção que aquela de esperar, sem saber o que esperar. Simplesmente pessoas que estão sem rumo, sem lugar para onde ir: nem «campo», nem «negócios», nem coisas a fazer.




A parábola diz que o Rei enviou seus servos para convidar «os sem juízo». Ou seja: não pessoas bem sucedidas na vida, não pessoas que alcançaram um status, não pessoas satisfeitas consigo mesmas, que se comprazem com seus resultados. Somente «pessoas sem juízo», que por qualquer motivação, casualidade, erros de julgamento, se encontraram de repente num beco sem saída. E quantas destas existem! São pessoas boas, capazes, mas que acabaram numa encruzilhada da vida. Ao Rei não interessava qualquer atribuição moral que pudesse ser dada a elas. Pede para convidar «maus e bons», pouco importa a condição em que eles estejam no momento que são alcançadas pelo convite de Deus. É assim que age a Sabedoria de Deus; bem contrastante com o péssimo hábito dos homens de dividir o mundo em “bons e maus”. A sabedoria de Deus, ao contrário, faz da «pedra rejeitada pelos construtores a pedra angular», dirá Jesus citando o Sal. 118 e, nas suas pegadas, São Paulo dirá aos Corintos que «Deus escolheu o que é loucura para mundo a fim de envergonhar os sábios e escolheu o que é fraco para confundir os fortes» (1Cor. 1,27). A estas pessoas que estão à espera, a sabedoria de Deus se dirige pois, bem mais do que qualquer um, elas sabem o que significa ter errado o caminho e, não obstante isso, terem sido consideradas dignas do convite para uma festa além de qualquer expectativa. Pessoas que, uma vez chamadas, saberão partilhar com todos a longanimidade de um Deus que não julga com os critérios do “bem e mal” mas que chama todos de «amigo». Essas são pessoas não “acostumadas” a conviver com os privilégios, então sabem muito bem valorizar o que lhes é dado. São homens que, tirados das encruzilhadas da vida, se deixarão envolver pelo sentimento de gratidão e reconhecimento da bondade de Deus.

É esta a «veste nupcial» da qual fala o Evangelho, é a resposta dada à atitude do Rei. É uma veste que representa todo o caminho com o qual o convidado busca se apresentar de modo digno da festa, tenta agradar como puder ao Rei.

É a vida cristã movida pelo sentimento de gratidão e reconhecimento, durante a qual, quem assim decide, pode deixar-se revestir de forma adequada para que o Rei seja feliz com a «sua» festa .



Não é um traje que serve para por em realce a si mesmo, pois o Rei sabe muito bem de onde veio o convidado, mas um indumento revestido com o desejo de que a festa aconteça como o Rei a imaginou.



Revestir o traje de festa é o símbolo de uma vida de fé vivida como grata resposta e não como desejo de auto aperfeiçoamento.

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