sexta-feira, 7 de dezembro de 2018
FELIZ ENCONTRO NA ALEGRIA DA PALAVRA
No final do Ano da Misericórdia, o Papa Francisco achou conveniente «que cada comunidade pudesse, num domingo do Ano Litúrgico, renovar o compromisso em prol da difusão, conhecimento e aprofundamento da Sagrada Escritura: um Domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus». Entre nós, e em cada ano, o Domingo dedicado inteiramente à Palavra é o III Domingo do Advento, o Domingo da Alegria. De forma pedagógica, e a partir já deste II Domingo do Advento, não faltarão dinâmicas e criatividade para enriquecer tal iniciativa em cada comunidade cristã. Porque a Igreja vive da Palavra de Deus, a Palavra de Deus tem de ecoar na Igreja, no seu ensinamento, em toda a sua vida. O Deus da Bíblia é o Deus que fala, o Deus que intervém na História, muitas vezes e de muitos modos. É o Deus que não desiste de nos chamar à salvação. O Deus que tem nos profetas as testemunhas e os intérpretes mais qualificados da Sua Palavra e dos acontecimentos históricos pelos quais fala ao Seu povo. Nos últimos tempos, porém, o Filho deste Deus que falou e fala, fez-se homem, é o Verbo, é a Palavra incarnada, é Cristo Jesus. É o enviado como homem aos homens para testemunhar tudo quanto viu e ouviu da parte do Pai, quem O vê, vê o Pai. Os Apóstolos, por sua vez, sempre se apresentaram como testemunhas das palavras e dos acontecimentos que Jesus disse e fez. E é pelo acolhimento da Palavra e do testemunho de Deus em Jesus Cristo, que o encontro com Deus acontece. A palavra é um facto interpessoal, um ser-para-o-outro, interpela, é algo vivo, dá a conhecer o mistério de uma pessoa a outra, põe-nos em comunicação através de conteúdos e gestos vários. No entanto, o ponto mais alto da comunicação interpessoal feita pela palavra é o da Palavra eterna. Esta, de tal modo se entregou aos homens que Ela própria se tornou Homem. Incarnou em Jesus Cristo, tornou-Se próxima de cada homem, entrou na história, nessa história que ao longo dos tempos preparou, anunciou e prefigurou Aquele que haveria de vir. Mas os Seus não O receberam, recusaram o diálogo, recusaram receber a Palavra em que Deus se queria manifestar, enfraqueceram a comunicação que Deus quis estabelecer com o homem. Quando meramente religioso, o homem prefere dialogar com os seus próprios ídolos, prefere fazer súplicas, em monólogo, a um Deus transcendente e distante, sem encontro, sem afeto, sem consequências. O verdadeiro cristão, porém, sabe que é precisamente na ausência de comunicação do homem com Deus que se situa o "fracasso” e a tragédia da cruz. Sabe que só a Palavra encurta a distância entre Deus e o homem, tornando-O o Emanuel, o Deus-connosco, o Deus que nos trata como amigos, o Deus que Se revela na e pela Palavra, o Deus que comunica ao homem o mistério da Sua Pessoa para tornar o homem participante da vida divina. O cristão sabe que a Palavra mais perfeita e mais significativa alguma vez dita por Deus à humanidade está na oferta de Cristo, como Palavra e como Vida, na Cruz. Sim, se a Cruz significa a tragédia do corte da relação entre Deus que fala e o homem que não escuta nem aceita, Ela também exprime a plenitude do amor de Deus pela humanidade. Merece, por isso, uma resposta pronta, alegre e vital da parte do cristão, peregrino que é neste mundo em direção à Pátria definitiva. Aí, sim, aí, nesse encontro final, nesse conhecimento perfeito do Emissor divino com o recetor humano, aí viver-se-á a verdadeira dimensão do amor (cf. H. Alves, Doc. da Igreja sobre a Bíblia desde 160 a 2010, Dif. Bíblica, 2011, Introdução).
Podem perguntar: mas se é Deus que toma a iniciativa de estabelecer o contacto com o homem, se é Ele que desce até nós, se é Ele que inicia o diálogo, se é Ele quem primeiro nos dirige a Palavra e de forma progressiva ao longo da história, se é Ele que Se comunica de forma mais perfeita em Cristo Palavra incarnada, como é que esta Palavra que vem de Deus até ao homem pode subir do homem até Deus? Sim, como é que isso acontece? Só acontecerá depois de ter sido posta em prática pelo homem no amor aos outros. Só o amor aos irmãos pode ter eco no coração de Deus que é amor e misericórdia.
Maria Imaculada acolheu a Palavra e aderiu à vontade de Deus. Pelo Espírito Santo tornou-se Mãe de Jesus e associou-Se à Sua obra redentora. É nossa Mãe na ordem da graça, é Mãe da Igreja. Diante do Presépio, diante do Menino, de Maria e de José, deixemo-nos encontrar por Jesus que vem ao nosso encontro, contemplemos a sua extraordinária condescendência, humildade e simplicidade. E, sobretudo, deixemo-nos de peneiras!...
D. Antonino Dias - Bispo de Portalegre Castelo Branco
Portalegre, 07-12-2018.
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