quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

UMA SOGRA E DUAS NORAS: TRÊS AMORES


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UMA SOGRA E DUAS NORAS: TRÊS AMORES – 23-01-2016

Devido à fome em Belém de Judá, um casal e dois filhos partiram para os campos de Moab. O homem chamava-se Elimelec, a mulher Noemi. Maalon e Quelion era o nome dos filhos. Algum tempo depois, Elimelec, marido de Noemi, faleceu, talvez sem avisar, não sabemos. Noemi ficou viúva com os dois filhos. Mais tarde, os filhos, presumimos que com pompa e circunstância, promoveram a mãe a sogra, casaram-se, com jovens moabitas. Quelion, com Orfa, Maalon, com Rute. Acontece que, ainda jovens, Maalon e Quelion, “lembraram-se” também de morrer e não deixaram filhos. Contribuíram, assim, para que o número de viúvas pobres e indefesas aumentasse lá em casa: a sogra, Noemi, e as duas noras, Orfa e Rute, cunhadas entre si.
Noemi, depois destes tristes acontecimentos e de presumir que já haveria fartura na sua terra, pensou voltar, com as duas noras, para Belém de Judá. Mas, e há sempre um mas… Noemi estimava-as muito, admirava-as como pessoas e pela bondade com que tinham tratado os seus maridos e também pelo carinho com que sempre a trataram a ela. Por isso, nesta hora de decisões entre lágrimas e insónias, ela questionava-se sobre o que é que, na verdade, seria melhor para as suas jovens noras. Será que elas iriam ser felizes em Belém de Judá? Será que elas, lá, iriam reconstituir família? Será que se iriam adaptar aos costumes e à vizinhança, sendo elas estrangeiras? Só o futuro poderia responder as tantas e pertinentes perguntas.
Pelo sim ou pelo não, tirando força da fraqueza, Noemi coloca a questão às jovens. Em jeito de quem as quer convencer e provocar à melhor decisão, diz-lhes que gostaria que elas regressassem ao seio das suas famílias, refizessem as suas vidas, encontrassem um novo marido e fossem muito felizes. Abraçou-as, beijou-as e elas inauguraram uma sessão de choro, sensibilizadas com a delicadeza e o interesse da sogra pelo destino feliz de ambas. A resposta, porém, não se fez esperar: “De modo nenhum! Nós vamos contigo para o teu povo”. Noemi, ainda que sogra apaparicada, voltou a insistir, talvez agora com argumentos mais consistentes. Que seria melhor, na verdade, que voltassem para as suas famílias e cuidassem do seu futuro. Com o alarido de quem chora, as noras redobraram o carpir das mágoas, sentindo, por certo, a dificuldade em fazer uma opção tão decisiva quão importante. No entanto, Orfa repensou melhor, ou mais friamente, e sempre aceitou o conselho da sogra. Despediu-se de ambas e voltou para o seu povo, para refazer a sua vida. Dela não se fala mais no livro em causa, mas, com certeza que foi muito feliz, ela merecia e não temos razões para duvidar. E também não vou perguntar aos meus amigos leitores se a conheceram e souberam alguma coisa a tal respeito pois o século V antes de Criso fica já a uma grande lonjura. À Rute, que não ficou muito convencida para regressar a sua casa, a sogra bisou: “Olha: a tua cunhada voltou para o seu povo e o seu deus (Camos). Volta também com ela”. Rute, porém, imediatamente lhe responde: “Não insistas comigo. Não vou voltar, nem te vou deixar. Para onde fores eu irei também. Onde tu viveres, eu também viverei. O teu povo será o meu povo, e o teu Deus será o meu Deus. Onde morreres, eu também morrerei e serei sepultada. Somente a morte nos poderá separar!”. Noemi, vendo que Rute estava decidida a ir com ela, não insistiu mais. Chegaram a Belém de Judá quando se iniciava a colheita da cevada. Viúvas, sozinhas e pobres, tinham que, juntas, refazer as suas vidas. E refizeram, e bem, reconquistaram o seu lugar na sociedade. Aconselho o amigo leitor a que abra o pequeno Livro de Rute, só tem 4 pequenos capítulos, e leia o resto desta linda história, uma história que toca muito de perto a realidade humana, deixa muitas mensagens e pistas de ação. Noemi e Rute encontraram a solidariedade dos pobres, a proteção das leis e a justa misericórdia dos homens. Rute acabou por constituir família, casou com Booz, teve um filho, Obed. Este veio a ser o bisavô do grande Rei David e foi da linhagem de David que nasceu o Salvador.
O Senhor recompensa sempre quem confia n’Ele e age com amor e misericórdia. Querer o bem dos outros, dar bons conselhos e dar-lhes liberdade para que eles decidam por si, são obras de misericórdia a pôr em prática. Noemi era amiga das noras e as noras da sogra, e não invadiam os campos umas das outras. Porque se respeitavam, amavam e todas queriam o bem de todas, ajudaram-se mutuamente e rasgaram caminhos de felicidade. Palmas p’ra elas!...

D. Antonino Dias

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