quinta-feira, 22 de abril de 2021

Ainda falta muito?



Julgo que teremos deixado, em parte, que estes novos tempos se apoderassem dos nossos dias e da nossa vida. Já não pensamos muito em dias especiais ou de festa, porque não se podem celebrar. Tentamos não pensar muito em quem nos morreu porque não os pudemos chorar devidamente. Tentamos não pensar na viagem que adiámos e que, provavelmente, já nem chegaremos a fazer. Tentamos contentar-nos com as vídeo chamadas, com as funcionalidades dos vários chats, com as muitas alternativas pobres ao verdadeiro “estarmos juntos”.

Os novos tempos que vivemos não querem deixar-nos. Colaram-se à nossa pele e não conseguimos enxaguar a nossa vida, os nossos dias, a nossa alma, o nosso coração. A pandemia tornou-se palavra velha. Os números de casos passaram a ser ruído de fundo. As esplanadas que abriram não nos trouxeram o ânimo que esperávamos e tudo parece exatamente igual ao que estava há um ano atrás. Estamos mais conformados, para sofrer menos. Estamos mais cabisbaixos para não pensar nas alegrias que eram tão fáceis de conseguir e que, agora, são impossíveis. Estamos mais anestesiados para que tudo doa um pouco menos.

No entanto, e ainda que a ideia de uma vida sem pandemia pareça estar longe, não nos podemos esquecer do mais importante: a vida ainda não acabou. Tudo é temporário. Até isto. Tudo passa. Até isto. Enquanto tentamos encontrar estratégias para lidar com tudo o que nos aconteceu, acontece e acontecerá (ainda neste contexto), não convém que nos esqueçamos das razões que ainda temos para estar bem. Ainda há alegria no meio do caos. Ainda há ternura escondida atrás das máscaras. A Primavera chegou na mesma, com a promessa de uma esperança que vence tudo.

Ainda assim, no mais íntimo de nós, continuamos a perguntar (como crianças pequenas impacientes):

Ainda falta muito?


Marta Arrais



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