segunda-feira, 30 de junho de 2025

Pedro e Paulo



«Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?».

És Pescador

com barco, remos e redes…

No mar imenso, na noite e na escuridão…

Lançaste novamente as redes… um milagre aconteceu.


És pescador de Homens!

Seguiste Jesus! És Seu Discípulo!


Duvidaste… não foste capaz de caminhar sobre as águas.

Afirmaste que Jesus é o Cristo… o Messias de Deus.

Já não és servo… És amigo dO Cristo!


Não querias que O Pão Vivo Te lavasse os pés…

Negaste-O três vezes…

Correste ao sepulcro. Estava vazio. Acreditaste.


O Cristo manda-te apascentar o Seu Rebanho!

Tu és Pedro. És a pedra onde a Igreja nasce!

És aquele que amas o Senhor!


«Saulo, Saulo, porque me persegues?»


És fariseu.

Perseguidor astuto…

Feroz cumpridor da tradição…


Em Damasco caíste por terra. Ficaste na escuridão.

Indefeso e cego…. viste a Luz invisível de Deus!

És Batizado.


Ai de ti se não evangelizares…

Já não és tu que vives… é Cristo quem vive em ti.

És perseguido.

Tens um espinho na carne que na tua fraqueza faz-se força em ti.

O Espírito é muito mais do que a carne.

Nem a morte nem a vida poderá separar-nos do amor de Deus.

Há ressurreição!

Cantas o Amor que “Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”

És Paulo. És Apóstolo dO Cristo.


S. Pedro e S. Paulo, Peregrinos da Esperança…

Rogai por nós!



Liliana Dinis,


domingo, 29 de junho de 2025

Papa no Angelus: como os Santos Pedro e Paulo, confiar e perdoar

 

                                     (96) Angelus 29 de junho de 2025 - Papa Leão XIV - YouTube

Na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, Leão XIV rezou o Angelus e recordou que a Igreja nasce do testemunho, do sangue e da conversão contínua dos seus membros.

Thulio Fonseca – Vatican News

O Papa Leão XIV rezou o Angelus neste domingo (29/06) com os fiéis reunidos na Praça São Pedro após presidir a Missa na Basílica Vaticana pela Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. A data, que é feriado no Vaticano e em Roma, marca a celebração dos padroeiros da capital italiana.

O Pontífice iniciou sua reflexão recordando que a Igreja de Roma foi “gerada pelo testemunho dos Apóstolos Pedro e Paulo e fecundada pelo seu sangue e pelo de muitos mártires”. E, olhando para os desafios do tempo presente, destacou que ainda hoje há cristãos que, movidos pelo Evangelho, são capazes de gestos de grande generosidade e coragem, muitas vezes à custa da própria vida:

“Existe um ecumenismo de sangue, uma unidade invisível e profunda entre as Igrejas cristãs, mesmo que não vivam ainda uma comunhão plena e visível entre si. Por isso, nesta solene festa, quero confirmar que o meu serviço episcopal é um serviço à unidade e que a Igreja de Roma está empenhada, pelo sangue dos Santos Pedro e Paulo, em servir com amor a comunhão entre todas as Igrejas.”
A pedra que foi rejeitada

Ao comentar a passagem do Evangelho do dia, Leão XIV destacou que a pedra sobre a qual Pedro recebeu o próprio nome é Cristo. “Uma pedra rejeitada pelos homens e que Deus fez pedra angular.” E com um olhar simbólico sobre os lugares de Roma, o Papa recordou que tanto a Basílica de São Pedro como a de São Paulo foram erguidas “fora dos muros” da cidade antiga. “O que hoje nos parece grandioso e glorioso, antes foi descartado, porque estava em contradição com a lógica mundana.”

Seguir Jesus, explicou o Santo Padre, significa trilhar o caminho das bem-aventuranças, onde os pobres de espírito, os mansos, os misericordiosos e os que promovem a paz muitas vezes encontram oposição, incompreensão e até perseguição, “no entanto, a glória de Deus brilha nos seus amigos e os vai moldando, ao longo do caminho, de conversão em conversão”.
Jesus nos chama sempre

Diante dos túmulos dos Apóstolos, que há milênios acolhem peregrinos do mundo inteiro, Leão XIV ressaltou que a santidade de Pedro e Paulo não nasceu da perfeição, mas da experiência do perdão.

“O Novo Testamento não esconde os erros, as contradições, os pecados daqueles que veneramos como os maiores entre os Apóstolos. Na verdade, a sua grandeza foi moldada pelo perdão. O Ressuscitado foi buscá-los, mais do que uma vez, para os colocar de novo no seu caminho. Jesus nunca chama apenas uma vez. É por isso que todos nós podemos sempre ter esperança, como também nos recorda o Jubileu.”
A unidade começa nas famílias e comunidades

O Santo Padre concluiu sua reflexão fazendo um apelo à unidade, que não é fruto de discursos, mas de práticas concretas:

“A unidade na Igreja e entre as Igrejas alimenta-se do perdão e da confiança mútua. A começar pelas nossas famílias e comunidades. Porque se Jesus confia em nós, também nós podemos confiar uns nos outros, em seu Nome.”

Por fim, Leão XIV confiou à intercessão dos Santos Pedro e Paulo, juntamente com a Virgem Maria, o caminho da Igreja no mundo de hoje: “Que, neste mundo dilacerado, a Igreja seja sempre casa e escola de comunhão.”


https://www.vaticannews.va/pt

Solenidade de S. Pedro e S. Paulo

 



A Igreja celebra, no dia 29 de junho, a Solenidade dos apóstolos São Pedro e São Paulo. Eles chegaram a Jesus por caminhos diferentes. Pedro, o pescador, ouviu o chamamento de Jesus nas margens do Mar da Galileia; Paulo, o rabi judeu, encontrou-se com Jesus no caminho de Damasco. Ambos apostaram tudo em Jesus e seguiram-no até ao martírio (os dois foram mortos em Roma, durante a perseguição ordenada pelo imperador Nero). São Pedro e São Paulo, cada um à sua maneira, são duas grandes referências para os cristãos de todas as épocas. As leituras deste dia desafiam-nos a seguir o seu exemplo de fidelidade a Jesus e ao Evangelho.

O Evangelho convida os discípulos a aderirem a Jesus e a verem-no como “o Messias, o Filho de Deus vivo”. Dessa adesão, nasce a Igreja – a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro, que tem como missão dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Igreja e a Pedro é confiado o poder das chaves – isto é, de interpretar as palavras de Jesus, de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos aqueles que aderem à proposta de salvação que Jesus oferece.Não esqueçamos, no entanto, que a Igreja de Jesus não existe para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do “Messias, Filho de Deus vivo”; mas existe para dar testemunho de Jesus, para continuar a obra de Jesus e para oferecer a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Jesus veio trazer. Paulo, o grande missionário, estava plenamente consciente disto. Por isso, desde o momento em que se encontrou com Jesus, tornou-se arauto do Evangelho. Temos consciência desta dimensão “profética” e missionária da Igreja? Os homens e as mulheres com quem contactamos no dia a dia – no nosso espaço familiar, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos acontecimentos sociais – são contagiados pelo nosso entusiasmo por Jesus e recebem de nós o convite para integrar a comunidade da salvação?
A comunidade dos discípulos é uma comunidade organizada e estruturada, onde existem pessoas a quem foi confiada a missão de presidir, de coordenar e de desempenhar o serviço da autoridade. Essa autoridade que lhes é confiada não é, no entanto, absoluta e inquestionável; é uma autoridade que deve ser exercida em benefício da comunidade, como amor e serviço. O modelo dessa autoridade é o bom pastor, que orienta o rebanho, que cuida das suas ovelhas, que as defende dos perigos e que dá a vida por elas. Como vemos e entendemos, na Igreja de Jesus, o serviço da autoridade?

A primeira leitura mostra como Deus cauciona o testemunho dos discípulos e como cuida deles quando o mundo os condena. A maravilhosa libertação de Pedro da prisão onde estava encerrado mostra a solicitude de Deus pela sua Igreja e pelos discípulos que testemunham no mundo a Boa Nova da salvação.A proposta de salvação que Deus fez aos homens através de Jesus continua válida? Como é que ela chega ao mundo em cada época e em cada passo da turbulenta história dos homens? O livro dos Atos dos Apóstolos tem uma resposta clara para estas questões: sim, Deus continua a oferecer aos homens e mulheres de cada época a sua salvação; e são os discípulos que Jesus deixou no mundo que têm a missão de tornar realidade, em cada tempo, em cada “hoje”, a proposta libertadora de Deus. A Igreja nascida de Jesus não é uma comunidade de homens e mulheres que vivem apenas de olhos postos no céu, a murmurar orações e a contemplar a majestade de Deus; nem é uma comunidade de teólogos que gasta o tempo a discutir doutrinas elevadas e transcendentes… Mas é uma comunidade de discípulos de Jesus que, com gestos concretos de amor, de misericórdia, de partilha, de serviço, de perdão, leva ao mundo – inclusive às periferias, aos sítios onde ninguém vai, aos lugares do choro e do desespero – a Boa notícia da salvação de Deus. Pedro e Paulo, os apóstolos que a liturgia de hoje nos convida a celebrar, fizeram-no. Seremos capazes de o fazer também nós, neste tempo histórico tão exigente e tão desafiante que nos tocou viver?

A segunda leitura apresenta-se como o “testamento” de Paulo. Numa espécie de “balanço final” da vida do apóstolo, o autor deste texto recorda a resposta generosa de Paulo ao chamamento que Jesus lhe fez e o seu compromisso total com o Evangelho. É um texto comovente e desafiante, que convida os discípulos de todas as épocas a percorrerem o caminho cristão com entusiasmo, com entrega, com ânimo, a exemplo de Paulo.Paulo experimentou, no seu caminho de testemunho missionário, o abandono, a solidão, a traição, a incompreensão de muita gente, inclusive de alguns irmãos na fé. Por outro lado, sentiu sempre que o Senhor estava com ele, o animava e lhe dava forças para que “a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todos os pagãos a ouvissem”. A experiência de Paulo é, afinal, a experiência de todos os “profetas” que Deus envia ao mundo para serem arautos da sua salvação no meio dos homens: de um lado está o ódio do mundo, que desgasta e traz desânimo; do outro está a solicitude de Deus que conforta, sustenta, defende, anima e renova as forças dos seus enviados. É esta também a nossa experiência? A certeza da presença de Deus ao nosso lado dá-nos a força necessária para cumprirmos fielmente a missão que nos foi confiada?


https://www.dehonianos.org

sábado, 28 de junho de 2025

A tua história não acaba hoje, nem aqui



O que eu vivo agora não é o meu destino final. Por pior ou melhor que seja o momento atual, não nos devemos deixar levar pela ilusão de que tudo acaba aqui e será para sempre assim.

O peregrino não desespera porque ainda não chegou. Sabe que demorará, que terá de sofrer e que nunca chegará se não acreditar e lutar até o alcançar.

É preciso acreditar, com mais força do que uma paixão, na verdade de um futuro que queremos e havemos de viver e abraçar.

A fé é a vida no seu estado mais puro. Mesmo os que não acreditam que a têm são animados por ela a sonhar, a criar e a amar. Mas essa certeza que é a fé e que consola os que passam por adversidades é a mesma que deve tornar prudentes aqueles que vivem momentos bons. Ter fé é não acreditar em tudo o que se vê.

Quem só acredita no que é possível e provável, quem não se espanta perante os milagres à sua volta… até pode respirar e estar bem de saúde, mas já não vive, por mais orgulhoso que seja. Aliás, o orgulho é o contrário da fé.

A vida é uma viagem que somos chamados a fazer. É dada a cada um de nós a escolha livre sobre o rumo e o destino que quer buscar. Esta vida aqui é apenas uma parte da minha história e o dia de hoje é apenas um fragmento dessa parte.

Quem acredita não tem pressa. Importa aprender a ver ao longe. Distanciar-se e compreender que nada aqui fica como está durante muito tempo. Mesmo naquilo que há de mais nobre, ou se luta muito para que algo se conserve, ou então, mais cedo ou mais tarde, perder-se-á.

Um homem é a sua fé, a sua esperança no amanhã e o amor de que é capaz para que se cumpra.


José Luís Nunes Martins

sexta-feira, 27 de junho de 2025

AS APARÊNCIAS PERVERTEM O CORAÇÃO...



Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração, disse-nos Jesus, que passou pelo mundo a fazer o bem. Com humildade e confiança, pedimos-lhe que nos ajude a ter os mesmos sentimentos, a ter um coração semelhante ao seu para que nos amemos uns aos outros como ele nos amou, até ao fim.
Quem vive de consciência tranquila a pensar que pode amar a Deus, a quem não vê, descartando o irmão, a quem vê, adocica demasiadamente o Evangelho, a qual doçura ultrapassa bem para lá a do delicado pudim do abade de Priscos. Os níveis do colesterol espiritual, do ruim e bem ruim, ficarão mui altos, de braço dado com os triglicerídeos que também ninguém deseja por companhia. Ora vejam lá as coisas que eu sei!...
Ao celebrarmos a solenidade litúrgica do Sagrado Coração de Jesus e a sua entrega por todos, aprofundamos melhor quanto devemos, também nós, dar a vida uns pelos outros e quão distantes estamos de o fazer acontecer!
É no Coração de Jesus, trespassado pela lança e ardente de amor pela humanidade, símbolo da sua imensa caridade, divina e humana, é nele que se encontra a origem da nossa fé, a fonte de salvação para todos.
Por amor nasceu em Belém, percorreu a Galileia, falou com autoridade, não fez acessão de pessoas, fez-se próximo, revelou-nos a plenitude do amor do Pai, sensibilizou-se com os pobres e frágeis, foi perseguido, amou-nos até ao fim, morreu na cruz, ressuscitou e vive gloriosamente no meio de nós. Identificando-se com os outros, tudo quanto se faz ou não se faz seja a quem for, sobretudo aos pobres e humildes, aos doentes e desprezados, aos que sofrem no corpo e no espírito, é a ele que se deixa de fazer ou se faz.
Com a sua encarnação e presença, com o que disse e fez, com o que ensinou e testemunhou, Jesus estabeleceu o princípio mais revolucionário e inovador da História. Proclamou que o ser humano é tanto mais digno de respeito e de amor quanto mais fraco, pobre, sofredor e desprezado se encontra. E, pelos vistos, já no Império Romano isso fazia furor e suscitava invejas. Os cristãos tinham muito respeito e prestavam muita atenção e ajuda aos pobres e descartados da sociedade, fossem cristãos ou não. Isto criava borboletas na barriga do Imperador Juliano, o apóstata, o qual reconheceu que os cristãos eram muito respeitados por causa do seu cuidado com os pobres. Achando intolerável que os seus próprios pobres fossem apoiados pelos cristãos, toca a criar iniciativas e instituições que pudessem competir com os cristãos e também atrair o respeito da sociedade. Os objetivos, porém, não foram atingidos. Por detrás destas possíveis iniciativas faltava o amor cristão, o único capaz de os levar a ver em cada pessoa a sua própria dignidade.
É evidente que o contributo de Jesus para o reconhecimento e o desenvolvimento da noção atual de dignidade humana é indiscutível, como indiscutível é quanto continua a influenciar a história social e política, bem como o direito nacional e internacional dos povos, os direitos humanos. Com Jesus, que viveu e ensinou a não fazer acessão de pessoas, o rosto da humanidade muda. Para todos começa a olhar com outros olhos, sobretudo para aqueles que se encontram em condições mais desfavoráveis e sofridas, independentemente da sua origem, condição, raça, cultura e geografia atual. É certo que o amor aos outros não se dá nem se compra, não se reivindica nem se fabrica, não se pode medir nem obrigar. É por isso que, saindo da escura toca da sua ambição, do seu mesquinho pensar e desumana formação, há quem, ainda hoje, se sinta superior, dono de tudo e de todos, uma exceção por excelência, preferindo a lógica da arrogância, da força e da morte de inocentes à lógica do bom senso, da fraternidade e do amor, da diplomacia e da paz. Para legitimar ambições pessoais e pátrias, substitui-se a força da razão pela razão da força, a força do direito internacional e humanitário pelo suposto direito de obrigar só porque sim e lhe deu na gana. Leão XIV afirma que isso “é indigno do homem, é vergonhoso para a humanidade e para os responsáveis pelas nações".
Francisco, por sua vez, na ‘Dilexit Nos’, falava da necessidade de se recuperar a importância do coração, pois é no coração de cada pessoa que se “encontram a fonte e a raiz de todas as suas outras potências, convicções, paixões e escolhas”. Perverter o coração com ambições sem sentido, com aparências, dissimulações, mentiras, arrogâncias e equívocos, não é saudável, só traz vazio e barbárie. “Para além das muitas tentativas de mostrar ou exprimir o que não somos, é no coração que se decide tudo: ali não conta o que mostramos exteriormente ou o que ocultamos, ali conta o que somos. E esta é a base de qualquer projeto sólido para a nossa vida, porque nada que valha a pena pode ser construído sem o coração”. Como ideal, temos o Coração de Cristo, “a mais alta plenitude que a humanidade pode atingir”, pois, só o amor de Cristo “pode dar um coração ao nosso mundo e reavivar o amor onde quer que pensemos que a capacidade de amar foi definitivamente perdida”.
São João Paulo II, em 1995, instituiu, no Dia da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, o Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero. A sua missão, embora bela e imprescindível, nem sempre é fácil. Como em todas as atividades humanas, há altos e baixos, podendo arrastar ao cansaço, ao desencorajamento, a viver de aparências. Todavia, é importante ser e ter pastores à imagem de Cristo, para que, ungidos pelo Espírito, possam ungir e evangelizar a vida daqueles a quem são enviados. Rezar pelo clero para que se conforme cada vez mais com o coração do Bom Pastor é sinal de quem sente e ama a Igreja.


D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 27-06-2025.

perDOAR



“Senhor, quantas vezes devo perdoar,
se meu irmão pecar contra mim?” (Mt 18, 21)


Quantas vezes esta pergunta vem às nossas mentes? Quantas vezes já ouvimos alguém dizer: ‘Posso até perdoar, mas esquecer, nunca’? Ao cairmos na armadilha destas palavras, denunciamos não saber ainda o que é o perdão.

Contamos sempre com a misericórdia de Deus, mas ficamos paralisados quando nos é pedido para perdoar o nosso irmão não ‘até sete vezes, mas até setenta vezes sete.’ (cf. Mt 18, 22). Fizeram logo a conta de cabeça? Pensem em 490 abdominais ou flexões por cada pessoa que nos fez mal. Só de pensar em fazê-los já me dói. Se por vezes nos custa perdoar uma vez, imaginem 490.

Paramos para pensar nas 490 vezes em que alguém é chamado a perdoar uma única das nossas ofensas? Raramente damos valor ao perdão que nos dão os outros e demasiadas vezes damos o perdão de Deus como garantido. Estamos sempre mais focados no ‘argueiro nos olhos dos nossos irmãos do que do que na trave nos nossos’ (cf. Mt 7, 3). Serão as dívidas dos outros mais fáceis de contar ou serão as punhaladas apenas mais fáceis de sentir? A verdade é que quando alguém nos ofende, rouba-nos a paz e a nossa noção de justiça. Sentimo-nos feridos e as feridas doem. Às vezes doem mesmo muito. O chão parece abrir-se sob os nossos pés e lá vamos nós em queda livre sem saber como travar. Quando nos cortamos ou esfolamos um joelho, sabemos perfeitamente o que fazer: desinfetar a ferida e deixar que o nosso corpo faça o que foi criado para fazer, ou seja, cicatrizar e renovar. Sabemos perfeitamente que se tirarmos a crosta que se forma sobre a ferida antes da sua hora, reabrimo-la, voltamos a sangrar, temos novamente de a desinfetar e esperar que cicatrize.

Precisamos urgentemente perceber que as feridas que nos fazem passam pelo mesmo processo de cicatrização. A grande dificuldade por vezes é compreender e, sobretudo, aceitar que o perdão não vem de nós e sim de Deus. É Deus quem “desinfeta” as nossas feridas, purificando a nossa dor. Só Deus é capaz de converter a mágoa, a raiva, o rancor e até mesmo o ódio que nos cega e nos aprisiona fora da lógica da misericórdia de Deus.

Sempre que rezamos a oração que Jesus nos veio ensinar dizemos com confiança ‘perdoai as nossas ofensas’, mas engasgo-me sempre ao dizer ‘assim como nós perdoamos os que nos têm ofendido’. Engasgo-me por saber que nem sempre sou capaz de o fazer. Sei que tenho feridas que ainda não entreguei a Deus e que até o fazer, estarei apenas a arrancar crostas e a impedir que a graça de Deus opere em mim. Porque o verdadeiro perdão é isso mesmo, uma graça, mas temos de ser nós a pedi-la, temos de ser nós a permitir que Deus venha ao nosso encontro para nos devolver a paz e recriar-nos no seu amor.

O perdão cristão não é um simples ajustar de contas numa balança subjetiva e arbitrária. ‘O amor é maior do que a justiça porque justiça é dar ao outro o que é dele, mas amor é dar ao outro o que é nosso’ (Ratzinger). O perdão cristão começou na cruz e é a salvação nela oferecida que nos permite verdadeiramente compreender que ‘errar é humano, perdoar, divino. (Alexander Pope).



Raquel Dias

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Quando os nossos olhos se abrem!



Quando os nossos olhos se abrem para ver de verdade, dificilmente haverá retrocesso!

Porque tudo fica mais claro, mais intenso, mais impossível de nos deixar deslumbrar com a superficialidade, de acreditar que as vidas são perfeitas e que só nós é que temos dores! É que cada um trava as suas batalhas como pode e sabe.

É como o subir do pano no teatro, onde só vemos o que os atores querem que vejamos e quanto muito sentimos cada um à sua forma.

Mas no final da peça, há silêncios de quem já gritou, lágrimas de quem já sorriu, vazio onde já houve aplausos. E assim seguimos pela vida.

"Nem tudo o que parece é" e de facto é assim. Só que para se "ver bem", com olhar mais profundo é preciso caminhar no sentido da luz. Ser aluno e professor. Estar atento. Perfurar armaduras. Dar a mão a quem estiver preparado para a agarrar. Não desistir.


 Lucília Miranda

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Ninguém nos acontece por acaso


Ninguém chega à nossa vida por casualidade. Há quem venha para nos ensinar, para nos testar, para nos fazer perder a cabeça. E há quem venha para nos alinhar, para nos nutrir e para nos recordar do nosso propósito como pessoas, neste plano terreno.

Há pessoas que, quando se cruzam connosco, gostaríamos de guardar para sempre e, pelo contrário, haverá outras que desejaríamos não ter encontrado.

No entanto, tanto as primeiras como as segundas são igualmente importantes. As pessoas boas e valiosas trazem-nos ar novo para respirar. Dilatam-nos o coração e abrem espaço para que nos conheçamos melhor, para que saibamos aproveitar a vida a partir do lado certo. Estão por perto quando precisamos, mas também sabem dar-nos o espaço necessário quando estamos a reorganizar a nossa bússola interna.

As pessoas que se revelam diferentes do que esperávamos, ou que nos desiludem, também nos trazem uma mensagem importante. Aliás, várias. A primeira é a de partirmos com menos expectativas quando conhecemos alguém. Cada pessoa tem o seu mundo interno e está refém das suas próprias dores e histórias. E, muitas vezes, os ecos dessas dores e dessas histórias (por estarem guardados há tanto tempo) derramam por cima de quem está mais perto. Claro que isso causa desentendimento, mágoa e incompreensão de ambas as partes. Contudo, e mais uma vez, há uma lição importante a receber: todas as pessoas trazem coisas para nos ensinar sobre elas, sobre o mundo e sobre nós próprios.

Mas o que escrevo hoje é um elogio às pessoas que nos marcam.


Que nos salvam sem boias nem grandes aparatos, mas que nos resgatam inúmeras vezes.

Que nos acrescentam dias à vida que, tantas vezes, nos entorpece a vontade e o entusiasmo.

Que nos mostram que há caminho, mesmo quando queremos estar parados.

Que nos dão sem querer (ou pedir) nada em troca.

Que nos renovam pela forma genuína como nos olham e como nos tocam, mesmo quando nem estão perto fisicamente.

É por essas pessoas que vale a pena fazer caminho.

Mas por todas as outras, também.


Marta Arrais

terça-feira, 24 de junho de 2025

S. João Baptista

 


João Batista, além da Virgem Maria, é o único santo de quem a Liturgia celebra o nascimento para a terra. João, como "Precursor" de Jesus teve, de fato, um papel único na História da Salvação. Filho de Zacarias e de Isabel, a sua vida não desabrochou por iniciativa humana, mas por dom de Deus a dois pais de idade avançada e, por isso, já sem possibilidade de gerar filhos. Situado na charneira entre o Antigo e o Novo Testamento, como Precursor, João é considerado profeta de um e outro Testamento. O paralelismo estabelecido por Lucas entre a infância de Jesus e de João Batista levou a Liturgia a celebrar o nascimento de ambos: o de Jesus no solstício de Inverno e o de João no solstício de Verão.

A festa do nascimento de João Batista leva-nos a pensar no amor preveniente de Deus e na importância das suas preparações para o acolhermos devidamente e com fruto. Deus prepara o nascimento de João: um anjo anuncia a Zacarias que a sua mulher, idosa e estéril, vai ter um filho, cujo nascimento alegrará a muitos; inesperadamente, o nome da criança não é Zacarias, mas João, cujo significado é: "Deus faz graça"; João é enviado a preparar os caminhos do Senhor, o "ano de graça" do Senhor, a vinda de Jesus. Como o agricultor prepara o terreno antes de lhe lançar a semente, assim Deus prepara os tempos e os corações para receberem os seus dons. É por isso que havemos de viver vigilantes, de estar atentos à ação de Deus em nós e nos outros, para a sabermos discernir no meio dos acontecimentos humanos e nas mais variadas situações da nossa vida. João ajuda-nos a estarmos atentos a Jesus e ao que Ele quer fazer em nós e no nosso mundo. João acreditou e indicou Jesus aos que o seguiam: "depois de mim, virá alguém maior do que eu... Eis o Cordeiro de Deus!"
Por todas estas razões, a festa de hoje é um dia de alegria para a Igreja. E, todavia, João foi um profeta austero, que pregou a penitência com uma linguagem pouco amável: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de conversão e não vos iludais a vós mesmos, dizendo: 'Temos por pai a Abraão!'" (Mt 3, 7-8). O profeta exortava a uma penitência que se torna alegria, alegria da purificação, alegria da vinda do Senhor.
A missão de João Batista é, de certo modo, a missão de todo o crente: preparar a vinda do Senhor, o que é mais do que simplesmente anunciar. É preciso por ao serviço de Jesus não só as nossas palavras, mas também a nossa vida toda.


https://www.dehonianos.org/

segunda-feira, 23 de junho de 2025

«E vós, quem dizeis que Eu sou?»

 


«E vós, quem dizeis que Eu sou?»


És Luz na fome

És Semente na terra árida

És Água no abismo

És Sal na escuridão

És Brisa na tempestade

És Sol no deserto

És Fogo na sombra

És Misericórdia na injustiça

És Paz na ignorância

És Pão no desalento

És Palavra no silêncio

És Fé no vazio

És Esperança na morte

És Amor sem medida


És meu amigo… e estás sempre comigo.

“Tu és tudo e eu não sou nada…”



Liliana Dinis

domingo, 22 de junho de 2025

Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me.

 



A liturgia do décimo segundo domingo comum convida-nos a mergulhar um pouco mais no mistério de Jesus. O objetivo não é ampliarmos conhecimentos sobre uma figura histórica ou cunharmos fórmulas abstratas de fé; mas é “acreditarmos” em Jesus, tornarmo-nos discípulos, caminharmos atrás d’Ele no caminho que leva à vida verdadeira.

No Evangelho Jesus confronta os discípulos com uma questão decisiva: “quem dizeis que Eu sou, que lugar ocupo eu no vosso projeto de vida?” Depois, convida-os a ir com Ele até Jerusalém, até à cruz, até ao dom total da vida por amor. Jesus garante aos discípulos que uma vida vivida em chave de amor, de serviço, de entrega, de dom, não é uma vida desperdiçada; mas é uma vida plenamente realizada.Jesus convida os seus discípulos a renunciarem a si mesmos… O que é “renunciar a si mesmo”? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a autossuficiência, a ambição, a mentira, dominem a nossa vida. O seguidor de Jesus não vive fechado na sua zona de segurança, a olhar para si mesmo, indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades dos irmãos, alheado das lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos. Até que ponto estamos disponíveis para renunciar a nós mesmos e para colocar a nossa vida ao serviço do projeto de Deus?
Jesus também convida os seus discípulos a tomarem a cruz… O que é “tomar a cruz”? É amar até às últimas consequências, até à morte, se for necessário; é gastar cada instante da vida a servir, a amar, a cuidar, a fazer o bem… O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura, as represálias dos poderosos. Aceitamos tomar cada dia a nossa cruz e a viver para os outros, como Jesus?

Na primeira leitura o profeta Zacarias desafia os habitantes de Jerusalém a olharem para um misterioso profeta “trespassado”, cuja entrega se transformou em fonte de vida nova para os seus irmãos. João, o autor do Quarto Evangelho, identificará essa misteriosa figura profética com o próprio Cristo.Quem, é chamado a ser “profeta”? Todos os homens e mulheres a quem Deus pede que sejam no mundo testemunhas do Bem e da Verdade. Isto inclui naturalmente todos aqueles que, no dia do seu batismo, foram ungidos com o óleo do Crisma e constituídos “profetas” à imagem de Jesus. Eles receberam, nesse dia, a missão de serem no mundo sinais de Deus, da verdade de Deus, da luz de Deus. Como temos “cumprido” e vivido a nossa missão profética? Na fidelidade e no compromisso, ou na preguiça e no comodismo? No medo que paralisa, ou na inquebrantável confiança no Deus que está ao nosso lado?

Na segunda leitura Paulo convida os cristãos das comunidades da Galácia a “revestirem-se” de Cristo. “Revestir-se de Cristo” é fazer de Cristo a sua referência, viver em comunhão com Ele, caminhar ao ritmo d’Ele, abraçar o projeto que Ele veio propor. Os que fazem essa opção entram numa grande família de irmãos, iguais em dignidade e herdeiros da vida em plenitude.O que é um “cristão”? É alguém cujo nome consta do livro de registos de batismo de uma determinada paróquia? É alguém que, uma vez por semana, no “dia do Senhor”, “assiste” à eucaristia e depois considera a sua vivência cristã “arrumada” por toda a semana? É alguém que “cumpre” regularmente os mandamentos da Igreja? É alguém com ligação direta a alguns “santinhos” que são a grande referência da sua fé? Para Paulo, o “cristão” é simplesmente aquele que, no dia do seu batismo, se “revestiu” de Cristo e nunca mais despiu essa “veste”; é aquele que faz de Cristo a sua referência: vive de Cristo e em comunhão com Cristo, escuta as palavras de Cristo, caminha ao ritmo de Cristo, cultiva os valores de Cristo, faz da vida um dom de amor a Deus e aos homens, como Cristo fez. Como é que eu sou “cristão”? Que lugar ocupa Jesus Cristo no quadro da minha fé?
A identificação com Cristo faz de todos os batizados iguais em dignidade. Na comunidade de Jesus, portanto, não faz sentido qualquer tipo de discriminação. “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem ou mulher”; todos são “um só em Cristo Jesus”. Nós cristãos temos sabido tirar as consequências deste facto? Como acolhemos os mais humildes, os estrangeiros, os divorciados recasados, os desprezados, os sem voz e sem vez na sociedade ou nas Igrejas? Como acolhemos e como integramos os “diferentes”, aqueles que têm vidas consideradas “irregulares”, aqueles que a sociedade condena? A nossa comunidade cristã é uma casa “de todos” e “para todos”?



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sábado, 21 de junho de 2025

Pequenos gestos de... generosidade!



Pequenos gestos de... generosidade!

Começo a achar que a vida (me) conta histórias... daquelas que aquecem o coração.

A generosidade não tem nome, é espontânea e nasce por inteiro. Tem uma linguagem, muitas vezes, silenciosa. Não faz alarido. Não se mede pelo que se dá. A generosidade flui, entrega-se com um sorriso. É simples e extraordinária ao mesmo tempo.

Num destes dias, pelo Alentejo, um casal de sorriso e alegria contagiante ofereceu-me cerejas, a mim e à minha família. Assim... porque sim. Sem qualquer motivo.

Provavelmente, nem voltarei a ver o casal que tornou o nosso dia num momento especial, apenas com um gesto de generosidade.

É possível, no corre corre de cada dia, nos contagiarmos com pequenos gestos de humanidade.

É possível, por breves momentos, tornar o dia de alguém mais bonito.

Este texto não é sobre cerejas, é sobre a força de um sorriso, de um abraço, de um tempo de escuta, de partilha.

Mas as cerejas, essas, eram doces!

Ainda ficámos com umas quantas sementes para plantar. 🍒

Boa semana!



Carla Correia

sexta-feira, 20 de junho de 2025

SINODALIZAR É TAREFA QUOTIDIANA E RESPEITOSA



A JMJ2023, segundo o meu entendimento e nestes tempos mais chegados, foi um exemplo excelente de sinodalidade, desde as cúpulas mais altas da organização, passando pelas intermédias até às bases mais simples e longínquas, envolvendo crentes e não crentes, autoridades, famílias, instituições, escolas, movimentos, associações, comunidades paroquiais com as suas crianças, jovens, adultos, idosos e doentes.
Com alegria e entusiasmo, congregaram-se vontades, competências e sinergias, para, escutando-se uns aos outros com respeito e atenção, discernir o melhor, e, com imensa jovialidade e empenho, se meter mãos à obra, tendo-se conseguido um resultado conjunto e belo aos olhos de todos, deixando marcas saudáveis no coração de muita gente.
Em janeiro deste ano, em Fátima, decorreu um Encontro Sinodal Nacional, com cerca de 300 participantes, gente empenhada de todas as dioceses portuguesas. O propósito deste encontro foi o de, tendo como base o Documento Final do Sínodo, discernir e inserir, nas Igrejas locais, a transformação sinodal proposta para toda a Igreja. Não sendo uma opção, mas uma caraterística essencial da Igreja, a sinodalidade não só implica uma mudança de mentalidade e de ação, como também implica uma espiritualidade que leve ao envolvimento, à compaixão e à solidariedade. E tudo isso sem descurar a formação contínua em chave missionária, com abertura à sociedade e ao diálogo com a cultura, nomeadamente com as periferias, em especial com os migrantes, sem medo da novidade e de arriscar em busca de novas formas de agir, aprofundando a espiritualidade batismal e potenciando a escuta e a conversação no Espírito.
Já neste mês de junho, mais uma vez em Fátima, decorreram as Jornadas Pastorais do Episcopado com a participação de representantes das equipas sinodais diocesanas, dos órgãos nacionais da Conferência Episcopal Portuguesa, bem como com membros dos Movimentos e dos Institutos Religiosos e Seculares. Como lemos no Comunicado Final, mais do que um encontro de balanço, estas jornadas procuraram ser um verdadeiro exercício de sinodalidade, onde, cada voz, a partir do seu Batismo, foi chamada a contribuir para a construção de uma Igreja que caminha junta, em permanente conversão e aberta ao Espírito. A partilha revelou a riqueza do sensus fidei do Povo de Deus, manifestando um autêntico desejo de se aprofundar e alargar os horizontes do caminho sinodal. Identificaram-se e destacaram-se dimensões importantes, sem esquecer a “dimensão pastoral, que apela à ousadia missionária; a fraterna e comunitária, que exige a reconciliação e o cuidado nas relações; a ontológica, que reconhece a necessidade de autoconhecimento para a verdadeira entrega; a formativa, que aponta a urgência de formar para a sinodalidade; a ministerial, que valoriza os diversos carismas e vocações na Igreja; a histórica, que convida a ler com sabedoria os sinais dos tempos; e a contemplativa, que recorda que a oração partilhada é o coração do discernimento comum”. Sem pretensão de esgotar a riqueza do tema, estas dimensões apontam para uma espiritualidade encarnada, dialogante e atenta à realidade concreta das comunidades. Foi bom constatar que todas as Dioceses estão envolvidas neste caminho sinodal, com ritmos e metodologias próprias, na certeza de que o caminho se faz caminhando, o qual não é isento de alguns solavancos como as resistências culturais, a falta de tempo e de meios, as dificuldades de comunicação, o cansaço institucional ou pessoal.
A atualização e o funcionamento das estruturas; uma comunicação mais atenta e presente; uma maior transparência na prestação de contas em todos os âmbitos do fazer; uma maior articulação entre as estruturas nacionais, diocesanas e outras; a revisão de estatutos que conjuguem diversas vocações, experiências e saberes da vida eclesial, valorizando tanto as competências técnicas como a maturidade espiritual; o delinear, a nível nacional, algumas linhas programáticas comuns para a ação pastoral da Igreja em Portugal; a partilha de boas práticas entre todas as instâncias; a construção conjunta de projetos pastorais, reunindo sinergias, convergências e espírito de unidade, sem sufocar a legítima diversidade; e a cultura de avaliar para crescer, de escutar para corrigir, de discernir para decidir em comunhão, também foram questões em cima da mesa.
Olhamos estas Jornadas num horizonte de esperança e de compromisso renovado, pois, a sinodalidade, segundo o Papa Leão XIV “deve-se tornar mentalidade, no coração, nos processos de decisão e nos modos de agir”. Caminhar juntos, escutar com mais profundidade, discernir com o coração e decidir com humildade é o desafio que brota do Evangelho e do sopro do Espírito, exigindo coragem, conversão e perseverança.


D. Antonino Dias Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 20-06-2025.

Para ti, que talvez (também) precises de ler isto hoje



Todos precisamos de um abraço que nos abrigue.

Todos precisamos de uma mão que nos segure (para) sempre.

Todos precisamos de um sorriso que nos abrace o coração.

Todos precisamos de um olhar que nos envolva a alma.

Todos precisamos de ternura que nos cure.

Todos precisamos de um colo que nos serene o coração.

Todos precisamos de um refúgio onde (re)pousar a vida e ficar.

Todos precisamos de uma palavra que nos conforte.

Todos precisamos de um silêncio que nos escute, mesmo sem ser preciso falar.

Todos precisamos de um riso que nos contagie.

Todos precisamos de uma companhia que nunca nos desampare.

Todos precisamos de alguém que nos olhe nos olhos e nos diga, com o coração (e ao coração), que vai correr tudo bem.

Todos precisamos de quem nos queira bem, de verdade.

Todos precisamos de um gesto que nos faça sorrir.

Todos precisamos da bondade a recordar-nos o sentido de tudo.

Todos precisamos da esperança a reacender-se no nosso coração.

Todos precisamos de amor que nos salve.

Todos precisamos, sabes?

Está tudo bem.

Um abraço para ti. (E para mim.)



Daniela Barreira

quinta-feira, 19 de junho de 2025

DIA DO CORPO DE DEUS OU CORPUS CHRISTI

 


Hoje celebramos o Dia do Corpo de Deus.

Celebramos a presença de Jesus Cristo na Hóstia de Deus, ao mesmo tempo que significa uma homenagem de fé e amor à presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo no Sacramento, com o Seu Corpo e Sangue, Alma e Divindade sob as espécies consagradas – o pão e o vinho.

Neste dia é também comum a Igreja celebrar as primeiras comunhões de crianças.

A Primeira Comunhão é um dos momentos mais significativos na vida de um católico. Para muitas crianças e suas famílias, esta celebração marca o ínicio de um relacionamento pessoal e activo com Cristo através da Eucaristia.

Mas, além do evento em si e da celebração que o acompanha, a Primeira Comunhão contém um mistério profundo, um ao compromisso de vida e uma oportunidade de renovar nossa fé.

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Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

 




Na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, a Palavra de Deus fala-nos da Eucaristia, o alimento que Jesus nos deixou como fonte de vida. Quando comungamos o pão e o vinho, corpo e sangue de Jesus, acolhemos em nós a vida e o amor de Jesus. Aprofundamos, além disso, os laços que nos ligam a Jesus e a todos os irmãos que se se sentam connosco à mesa da Eucaristia.

A primeira leitura traz-nos um episódio das “tradições patriarcais”. Conta como Melquisedec, rei e sacerdote de Salém (Jerusalém), veio ao encontro de Abraão trazendo pão e vinho, se sentou com ele à mesa e o abençoou. A catequese cristã viu em Melquisedec uma prefiguração de Jesus, o sacerdote eterno que veio de Deus para oferecer no altar o pão e o vinho, seu corpo e seu sangue.

No Evangelho Jesus divide cinco pães e dois peixes com uma multidão esfomeada. Os gestos feitos por Jesus nesse dia num “local deserto” perto de Betsaida, antecipam os gestos que Ele irá fazer na última ceia, na véspera da sua morte, quando partir e partilhar o pão e o vinho com os discípulos. “Partir”, “partilhar”, “dar” é uma bela forma de resumir toda a vida de Jesus. Assim vivem os que estão com Ele e se alimentam d’Ele.O “pão” que Jesus faz distribuir à multidão faminta refere-se a algo mais do que o pão material que mata a nossa fome física. Aquelas pessoas que correm atrás de Jesus para saciar a sua “fome” são aqueles homens e mulheres que todos os dias encontramos e que, de alguma forma, estão privados daquilo de que necessitam para viver dignamente… Os “que têm fome” são os que são explorados e injustiçados e que não conseguem libertar-se; são os que vivem na solidão, sem família, sem amigos e sem amor; são os que têm que deixar a sua terra e enfrentar uma cultura, uma língua, um ambiente estranho para poderem oferecer condições de subsistência à sua família; são os marginalizados, abandonados, segregados por causa da cor da sua pele, por causa do seu estatuto social ou económico, ou por não terem acesso à educação e aos bens culturais de que a maioria desfruta; são as crianças que sofrem violência; são as vítimas da economia global, cuja vida dança ao sabor dos interesses das multinacionais; são os que são espezinhados pelos interesses dos grandes do mundo… Que outras “fomes” conhecemos e que poderíamos acrescentar a esta lista?

A segunda leitura oferece-nos o mais antigo relato dos gestos que Jesus fez na última ceia sobre o pão e sobre o vinho. Paulo de Tarso, o autor deste relato, avisa-nos que “comer o pão” e “beber o vinho” de Jesus significa compromisso com Jesus e com a sua maneira de viver e de amar. Comungar o corpo e o sangue de Jesus é, por isso, incompatível com tudo o que signifique divisão, conflito, discórdia, desprezo pelos irmãos mais pobres e mais pequenos.A Eucaristia é o memorial da vida de Jesus: das suas palavras, dos seus gestos, do seu amor, da sua vida dada até ao extremo, especialmente da sua paixão, morte e ressurreição. Concentra, resume e explicita tudo aquilo que Jesus viveu e propôs desde que entrou no mundo até que voltou para o Pai. Faz os discípulos regressarem àquela noite inolvidável em que Jesus se despediu deles e lhes deixou em testamento a sua vida e o seu amor. Não é um mero “recordar” algo que aconteceu há dois mil anos; é um reviver, um atualizar a doação de Jesus, a sua entrega por amor. É um verdadeiro encontro com Jesus, vivo e presente no pão e no vinho, que se dá aos seus como alimento de vida. A Eucaristia é, assim, o centro da vida da Igreja, o maior tesouro que Jesus deixou aos seus. Como é que sentimos e entendemos a Eucaristia? Vemo-la como uma “obrigação” que a Igreja impôs aos seus membros, como uma tradição que vem dos nossos antepassados e que temos de manter, como um ritual a despachar o mais depressa possível para podermos voltar de consciência tranquila a ocupar-nos dos nossos interesses corriqueiros, ou como o momento do encontro com Jesus, da escuta de Jesus, da comunhão com Jesus? Que lugar ocupa na nossa vida a celebração da Eucaristia?


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quarta-feira, 18 de junho de 2025

Gotas no oceano





Por onde começar, Senhor?

São tantas as desgraças e catástrofes que assolam aqueles que criaste para ti! Guerras, terremotos, inundações e incêndios destroem quotidianamente a tua criação. Uns por força da natureza, mas tantos pela mão do Homem. Avanços médicos transformados em armas biológicas, preparadas para causar o maior número de mortes possível.

Avanços tecnológicos transformados em armas de guerra, drones guiados remotamente protegendo covardes que querem dizimar raças, etnias e credos em nome de ídolos que criam às suas medidas.

Governantes ensimesmados que preferem privilégios, fama e riqueza em detrimento do bem comum, endeusando-se e desrespeitando tudo o que nos vieste ensinar. Justificam genocídios, negam ajuda humanitária, roubam pessoas da sua dignidade e direitos, como o direito de tomar decisões em liberdade e sem medo de represálias ou como o direito de ser diferente, de ser humano. Se nos quisesses todos iguais, terias criado clones, manietados por ti.

Governantes que se tomam por salvadores de Portugal e do mundo inteiro, sedentos de poder e tentando roubar também a ti a liberdade de seres quem és.

Será mesmo verdade que ‘não sabem o que fazem’(cf. Lc 23, 34)?

Por onde começar, Senhor?

Neste oceano de tormentas no qual chapinhamos com medo de afogar, só tu nos podes ajudar a dobrar o cabo da Boa Esperança. Só a ação do teu Santo Espírito em nós conseguirá converter os nossos ‘corações de pedra em corações de carne’ (cf. Ez 36, 26) e capacitar-nos para cumprir o teu mandamento de ‘amar como tu nos amaste’ (cf. Jo 15, 12). Só a ação do teu Espírito de amor pode agraciar o nosso entendimento de sabedoria para compreender a responsabilidade, a fidelidade e o compromisso que este mandamento nos urge: estarmos dispostos a entregar a vida em liberdade para o bem do outro, a ‘tomar a nossa cruz diariamente e seguir-te’ (cf. Lc 9, 23), não só por ‘caminhos retos, verdes prados e águas refrescantes, mas também por vales tenebrosos’ (cf. Sal 23, 2-4) para, sem medo, estarmos dispostos a beber do cálice do teu batismo de sangue na cruz da salvação.

Mas, por onde começar, Senhor?

Por onde começar a ser uma gota na imensidão deste oceano à deriva e sem fé, esperança e amor? Como combater a sensação de impotência perante estas marés vivas? A quem acudir primeiro?

Guia-nos, Senhor, e ensina-nos a ‘alegrarmo-nos com os que se alegram e chorarmos com os que choram’ (cf. Rom 12, 15). Dá-nos a mansidão e humildade para vestir o que foi despido de dignidade; visitar os doentes e os presos, oferecendo consolo e liberdade interior com a tua Palavra; dar abrigo aos excluídos (cf. Mt 25, 35-46) , aliviando o cansaço de quem ‘não tem onde repousar a cabeça’ (cf. Lc 9, 58), e alimentar o faminto com o pão de cada dia e dar a conhecer o teu pão de Vida a quem não ainda não sabe quem és (cf. Mt 25, 35-46) . Ensina-nos ainda a rezar pelos que à nossa frente partiram ao teu encontro, fazendo memória de tudo o que foram para nós e mantendo viva a comunhão dos santos que nos faz pedras vivas da tua Igreja.

Ajuda-nos a ser coerentes em gestos e palavras com a lógica das bem-aventuranças que nos propuseste, a sermos capazes de ser ‘misericordiosos como o Pai’, e a crescer no teu amor. Dissipa os nossos medos e aumenta a nossa fé e diz-nos, Senhor, por onde começar.


 Raquel Dias, Lavar o dia




terça-feira, 17 de junho de 2025

Grande é a paz que espera aqueles que amam



O sentido da vida é amar. Só dessa forma se pode alcançar a felicidade. A determinação com que se tem de agir leva-nos muitas vezes a grandes angústias e desesperos, porque não se ama quando se quer amar apenas pela metade. Amar é sempre entregar-se por completo, sem prudências.

E se tudo aquilo em que acredito for vão? Não será que os egoístas são mais sensatos? Quanto terei de sofrer até conseguir pagar o preço que pareço dever?

Amar é um sacrifício, mas que vale a pena, qualquer pena, por mais penosa que seja. Neste mundo apenas importa seguir pelo caminho que nos leva ao céu, ainda que seja o mais exigente em termos de fé e de obras. Só vai para o céu quem vive aqui sabendo que não se deve deixar seduzir pelas coisas deste mundo. Elas ficarão, nós não.

Estamos de passagem, importa ter por certa a ideia de que dar-se não é empobrecer nem perder-se. Muito pelo contrário, é dando que se recebe, e é o que damos que nos enriquece do único tesouro que levamos connosco.

Quantas vezes amar nos leva a uma sensação de abandono? Grande parte dos que vivem connosco não procuram o que deviam, não valorizam o que importa e acreditam em promessas que apenas pretendem encantá-los, adormecer-lhes a consciência e a existência.

Talvez ninguém neste mundo possa viver com muita paz, e neste nosso tempo parece ser ainda pior, porque o bem é pouco reconhecido. Mas a verdade é que o mal não deixa de ser mal por estar na moda. A falta de paz deveria ser um sinal de alarme para a distância a que se está do caminho certo.

Importa ter a firme a convicção de que é grande a paz que espera todos aqueles que foram capazes de, amando, entregar esta sua vida.


José Luís Nunes Martins

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Santíssima Trindade



Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,
ao Deus que é, que era e que há de vir.

                                                                                                                   Ap 1, 8


É no Teu colo que me sinto Tua filha amada.

Por Ti fui criada no seio materno.

Louvo-Te a cada dia pelas Tuas maravilhas que me sustentam,

e embelezam a Fé que providencia a alegria de viver em comunhão fraterna.


É em Ti e conTigo que caminho sem hesitar.

Por Ti fui salva e para Ti ergo a minha cruz a cada manhã.

Dou-Te graças, porque Tu és a Palavra Viva que sacia a minha fome,

és TU o Pão Vivo que fortalece as baterias da Esperança.


É a Tua Luz que me guia no silêncio da noite.

Por Ti a minha vida arde, não se consome, é fecunda numa caridade que dá a Paz.

Peço-Te a bênção dos Teus dons que regam a semente do meu coração,

para que de mim nasçam frutos abundantes e saborosos.

Meu Deus Trino e uno…



Liliana Dinis


domingo, 15 de junho de 2025

FESTA DA FÉ- 6º ANO DE CATEQUESE

 



Hoje, domingo, as meninas do 6.° ano da catequese, professaram a sua Fé junto da comunidade paroquial.

A nossa primeira profissão de fé faz-se, por ocasião do Batismo.

Um dia receberam o Batismo e, desde há algum tempo, tem vindo a desenvolver a sua fé, pela oração, a participação na Eucaristia, e o amor ao próximo.

Hoje afirmaram diante de todos a sua fé e o desejo de continuar a fazê-la crescer. Quando foram batizados, foram os pais e padrinhos que seguraram nas suas mãos o círio e proclamaram a fé em seu nome.

Hoje, passados 6 anos de catequese, eles não os substituem. Foram eles que falaram.

Assim, com “chama da vela acesa” fizeram, eles mesmos, a sua afirmação de Fé!