quinta-feira, 19 de junho de 2025

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

 




Na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, a Palavra de Deus fala-nos da Eucaristia, o alimento que Jesus nos deixou como fonte de vida. Quando comungamos o pão e o vinho, corpo e sangue de Jesus, acolhemos em nós a vida e o amor de Jesus. Aprofundamos, além disso, os laços que nos ligam a Jesus e a todos os irmãos que se se sentam connosco à mesa da Eucaristia.

A primeira leitura traz-nos um episódio das “tradições patriarcais”. Conta como Melquisedec, rei e sacerdote de Salém (Jerusalém), veio ao encontro de Abraão trazendo pão e vinho, se sentou com ele à mesa e o abençoou. A catequese cristã viu em Melquisedec uma prefiguração de Jesus, o sacerdote eterno que veio de Deus para oferecer no altar o pão e o vinho, seu corpo e seu sangue.

No Evangelho Jesus divide cinco pães e dois peixes com uma multidão esfomeada. Os gestos feitos por Jesus nesse dia num “local deserto” perto de Betsaida, antecipam os gestos que Ele irá fazer na última ceia, na véspera da sua morte, quando partir e partilhar o pão e o vinho com os discípulos. “Partir”, “partilhar”, “dar” é uma bela forma de resumir toda a vida de Jesus. Assim vivem os que estão com Ele e se alimentam d’Ele.O “pão” que Jesus faz distribuir à multidão faminta refere-se a algo mais do que o pão material que mata a nossa fome física. Aquelas pessoas que correm atrás de Jesus para saciar a sua “fome” são aqueles homens e mulheres que todos os dias encontramos e que, de alguma forma, estão privados daquilo de que necessitam para viver dignamente… Os “que têm fome” são os que são explorados e injustiçados e que não conseguem libertar-se; são os que vivem na solidão, sem família, sem amigos e sem amor; são os que têm que deixar a sua terra e enfrentar uma cultura, uma língua, um ambiente estranho para poderem oferecer condições de subsistência à sua família; são os marginalizados, abandonados, segregados por causa da cor da sua pele, por causa do seu estatuto social ou económico, ou por não terem acesso à educação e aos bens culturais de que a maioria desfruta; são as crianças que sofrem violência; são as vítimas da economia global, cuja vida dança ao sabor dos interesses das multinacionais; são os que são espezinhados pelos interesses dos grandes do mundo… Que outras “fomes” conhecemos e que poderíamos acrescentar a esta lista?

A segunda leitura oferece-nos o mais antigo relato dos gestos que Jesus fez na última ceia sobre o pão e sobre o vinho. Paulo de Tarso, o autor deste relato, avisa-nos que “comer o pão” e “beber o vinho” de Jesus significa compromisso com Jesus e com a sua maneira de viver e de amar. Comungar o corpo e o sangue de Jesus é, por isso, incompatível com tudo o que signifique divisão, conflito, discórdia, desprezo pelos irmãos mais pobres e mais pequenos.A Eucaristia é o memorial da vida de Jesus: das suas palavras, dos seus gestos, do seu amor, da sua vida dada até ao extremo, especialmente da sua paixão, morte e ressurreição. Concentra, resume e explicita tudo aquilo que Jesus viveu e propôs desde que entrou no mundo até que voltou para o Pai. Faz os discípulos regressarem àquela noite inolvidável em que Jesus se despediu deles e lhes deixou em testamento a sua vida e o seu amor. Não é um mero “recordar” algo que aconteceu há dois mil anos; é um reviver, um atualizar a doação de Jesus, a sua entrega por amor. É um verdadeiro encontro com Jesus, vivo e presente no pão e no vinho, que se dá aos seus como alimento de vida. A Eucaristia é, assim, o centro da vida da Igreja, o maior tesouro que Jesus deixou aos seus. Como é que sentimos e entendemos a Eucaristia? Vemo-la como uma “obrigação” que a Igreja impôs aos seus membros, como uma tradição que vem dos nossos antepassados e que temos de manter, como um ritual a despachar o mais depressa possível para podermos voltar de consciência tranquila a ocupar-nos dos nossos interesses corriqueiros, ou como o momento do encontro com Jesus, da escuta de Jesus, da comunhão com Jesus? Que lugar ocupa na nossa vida a celebração da Eucaristia?


https://www.dehonianos.org/

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