Para onde caminhamos? O que nos espera no final do caminho? Como devemos viver para que a nossa vida não termine num fracasso? A Palavra de Deus que nos é proposta neste vigésimo primeiro domingo comum pretende responder a estas questões. Convida-nos a caminhar de olhos postos na salvação que Deus nos quer oferecer. Diz-nos em que direção devemos caminhar para lá chegar.
Na primeira leitura, um profeta não identificado desvela-nos o projeto que Deus tem para a humanidade: reunir à sua volta, na cidade da fraternidade e da paz, homens e mulheres de todas as nações e línguas, numa comunidade universal de salvação. Essa será a meta final, gloriosa e luminosa, da nossa peregrinação pela terra.Falar da universalidade da salvação, é falar de um Deus que vê cada ser humano como um filho muito querido. Ele cuida de todos e a todos ama, sem discriminar ninguém; Ele insiste em sentar à sua mesa todos os seus filhos, mesmo aqueles que o ignoram ou que se põem decididamente contra Ele. É estranho e dececionante que nós, seres humanos, ainda não tenhamos assimilado a lógica de Deus. Às vezes defendemos tenazmente o nosso bem-estar e recusamo-nos a partilhar com os nossos irmãos os bens que Deus ofereceu para todos; às vezes recusamo-nos a acolher aqueles que vêm bater à nossa porta, à procura de melhores condições de vida; às vezes tratamos os nossos irmãos como se eles não tivessem a mesma dignidade e os mesmos direitos que nós temos; às vezes privilegiamos o nosso comodismo em detrimento da justiça e da fraternidade; às vezes marcamos como inimigos determinados grupos, pessoas e comunidades, simplesmente para defender os nossos interesses ou a nossa vida acomodada. O racismo, a xenofobia, a discriminação de pessoas ou grupos, a indiferença face à sorte dos imigrantes, serão compatíveis com a pertença à família de Deus?
No Evangelho Jesus é confrontado com uma pergunta acerca do número dos que se salvam. Ele não responde; mas aproveita a oportunidade para sugerir como devem viver aqueles que querem construir uma vida com sentido: “esforçai-vos por entrar pela porta estreita”. Os que se esforçam por entrar pela porta estreita – isto é, aqueles que se dispõem a seguir Jesus e aceitam a Sua proposta de salvação – terão lugar à mesa de Deus, independentemente da sua raça, das suas raízes, da sua história de vida.Como devemos viver para que a nossa vida não seja perdida? No caminho para Jerusalém, Jesus deixa a sua resposta: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita”. Talvez esta frase dita assim, sem explicações, nos pareça estranha e enigmática. Contudo, o Evangelho de Jesus, no seu conjunto, explica-a bastante bem: “entrar pela porta estreita” é não viver de forma irresponsável, sem agarrar a vida e sem se comprometer; é recusar a mediocridade, a acomodação, a alienação; é não ceder ao facilitismo, à tentação do bem-estar, aos valores que não têm qualquer valor; é não viver exclusivamente voltado para os próprios interesses pessoais, alheado dos problemas do mundo e da sorte dos irmãos; é não se conformar com uma vida oca, de meias tintas, indolor, sem metas elevadas; é não confiar em falsas seguranças vindas do dinheiro ou de uma religião vazia e ritualista; é fazer-se pequeno, simples, humilde, servo, capaz de amar até ao dom total de si próprio… Como é que estamos a construir a nossa vida? Confundimos “felicidade” com “facilidade”? Apostamos na “porta estreita”, que implica esforço, renúncia, sacrifício, coerência, risco, luta, compromisso, ou procuramos a “porta larga” da facilidade, da superficialidade, do bem-estar, da popularidade, do êxito efémero, de tudo aquilo que não exige muito mas também não sacia a nossa fome e a nossa sede de vida verdadeira?
Na segunda leitura, um mestre cristão exorta os crentes a verem os sofrimentos e as contrariedades que tiverem de suportar, não como castigos, mas como sinais do amor de Deus. Dessa forma, poderão vencer o temor que desalenta e paralisa; alimentados pela certeza desse amor, poderão caminhar, com firmeza e perseverança, em direção à vida definitiva.Ao longo dos séculos, a questão do sofrimento tem sido, para muitos homens e mulheres um “obstáculo” intransponível na sua aproximação a Deus: se Deus existe, porque é que deixa que o sofrimento marque a vida do homem, inclusive a vida dos justos e dos inocentes? Porque é que tantas pessoas que optam por caminhos de violência e de maldade parecem ter tanta sorte e sucesso, enquanto outras pessoas, boas e generosas, são atingidas por males em catadupa? Nem os teólogos, nem os filósofos conseguiram, até hoje, encontrar respostas satisfatórias para estas questões. O mais honesto é reconhecer, simplesmente, que se trata de algo que ultrapassa a nossa “pobre” compreensão dos grandes mistérios da vida. A catequese cristã, sem explicar cabalmente o sentido do sofrimento, convida-nos a constatar uma realidade: embora não seja algo bom em si mesmo, o sofrimento pode dar-nos a possibilidade de crescermos, de amadurecermos, de alcançarmos uma compreensão superior do sentido da existência, de nos purificarmos de certas visões mesquinhas que só ultrapassamos quando mergulhamos no mistério do amor de Deus. Como lidamos com o sofrimento? Que sentido lhe damos?
https://www.dehonianos.org/
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