Sobre que valores devemos alicerçar a nossa vida? A soberba, a ambição, a ganância, a arrogância, a obsessão pelas honrarias, as apostas interesseiras, serão bons companheiros de caminho? A Palavra de Deus que nos é servida neste dia convida-nos a optar por valores que nos humanizem, que deem profundidade à nossa vida, que nos abram à fraternidade, que nos tornem testemunhas e arautos do mundo novo sonhado por Deus.
Na primeira leitura, um sábio judeu dos inícios do séc. II a.C. exorta os seus concidadãos a não se deixarem deslumbrar pela arrogante cultura helénica. Sugere-lhes que, fiéis aos valores dos antepassados, rejeitem a soberba e escolham a humildade. Dessa forma, agradarão a Deus e aos homens. A humildade não é a virtude dos fracos; é a opção daqueles que estão apostados em viver uma vida plena de sentido.A humildade não deve marcar apenas a relação entre os seres humanos, mas também deve estar presente na atitude do homem face a Deus. De acordo com a catequese de Israel, o homem soberbo prescinde de Deus, coloca-se numa atitude de autossuficiência, descarta as indicações de Deus, deixa-se guiar pelo orgulho e avança por caminhos onde Deus não está; entregue a si próprio, acaba por construir uma história de infelicidade, de dor e de morte. É essa a origem de uma boa fatia do “pecado” que desfeia o mundo. Em contrapartida, o homem humilde reconhece a soberania do Criador, acolhe agradecido as indicações de Deus, confia totalmente em Deus e entrega-se totalmente nas Suas mãos, constrói a sua vida de acordo com as indicações de Deus; seguindo as orientações de Deus, constrói uma história de salvação e de graça, torna-se para os seus irmãos um sinal vivo do amor e da bondade de Deus. É essa a origem de muitas coisas bonitas que trazem esperança ao nosso mundo. Como nos apresentamos diante de Deus? Com soberba, ou com humildade?
O Evangelho faz-nos entrar em casa de um fariseu que tinha convidado Jesus para a “refeição de sábado”. Aos convivas que lutavam pelos “primeiros lugares”, Jesus fala de humildade e de simplicidade. Ao dono da casa, rodeado de amigos unidos pela mesma rede de interesses, Jesus convida a sair fora daquele círculo exclusivo e privilegiado, para abraçar o amor gratuito e desinteressado a todos. Humildade, simplicidade, amor universal, acolhimento misericordioso de todos: segundo Jesus, é a partir desses valores que será possível contruir o Reino de Deus.~Na época de Jesus, a religião do Templo considerava os aleijados, os cegos e os coxos gente indigna, castigada por Deus, que vivia à margem da comunidade da salvação. Apesar disso, Jesus recomenda ao dono da casa onde comeu naquele sábado que, quando der um banquete, os convide para a sua mesa. Para Jesus não há gente indigna, maldita, que deva ficar de fora do banquete do Reino de Deus. A Igreja nascida de Jesus é a comunidade da salvação onde “todos, todos, todos” os filhos e filhas de Deus têm lugar garantido. Os que erraram na vida, os que tropeçaram e caíram uma e outra e outra vez, os que se magoaram e magoaram os outros, os que levam vidas “irregulares” do ponto de vista canónico, são plenamente acolhidos na comunidade de Jesus? Que apoio se procura dar-lhes? Como se procura ajudá-los? Evitamos, criticamos, condenamos os “diferentes”, ou tratamo-los como irmãos, filhos queridos e amados de Deus?
Na segunda leitura, um pregador cristão da segunda metade do séc. I convida os crentes a reavivarem a sua opção por Cristo. Afinal, a experiência cristã é uma experiência que nos leva até Deus, que nos insere na família de Deus, que nos faz entrar na Jerusalém celeste, que nos irmana aos “santos” cujos nomes estão inscritos no céu. Como não viver com alegria e entusiasmo esta escolha?
BILHETE DE EVANGELHO
Jesus pode falar de gratuidade porque a sua vinda à terra é um dom gratuito de Deus, é uma graça, este amor gratuito, gracioso de Deus. E Deus não nos ama porque merecemos, mas porque não pode senão amar-nos, pois Ele é Amor. Então, Jesus pede ao homem, criado à imagem de Deus, para amar como Deus ama, isto é, gratuitamente, esperando ser declarado justo na ressurreição dos mortos. Trata-se de uma verdadeira revolução nas relações entre eles: pôr o dom em primeiro lugar e ter em resposta apenas a alegria de ter dado. Jesus vai mesmo ao ponto de declarar felizes aqueles que têm o sentido do gratuito nas suas relações humanas.
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