sexta-feira, 1 de agosto de 2025

OS PARTIDOS TAMBÉM EXCOMUNGAM!...ihihihihih



Devido ao título, já sei que me vai ler. Fico feliz por isso, mesmo que não goste e me mande à fava! Essa é a missão do título: não satisfazer o leitor com um mero olhar, mas espevitar-lhe a curiosidade, aquela curiosidade que nunca matou o gato. E sabe o que é excomungar? É isso mesmo, é afastar da comunhão, é excluir, é expulsar alguém de uma comunidade, associação, instituição ou grupo, devido aos seus desvios comportamentais, doutrinais ou edeológicos em relação a essa entidade. Hoje, infelizmente, com grande sofrimento para quem, sem qualquer espécie de culpa, apanha por tabela, vivemos num tempo de muitos Ex. Dá a impressão de que muitos Ex acontecem só porque sim, por dá cá aquela palha, é in!
Quando a Igreja, devido a matéria grave, e pública, afasta alguém da comunhão e da participação em determinados bens espirituais, é considerada discriminatória, retrógrada, sem sentido, medieval, segregacionista, uma coisa do demónio mais chifrudo que se possa imaginar. E esta pena, na Igreja, é o último recurso, só acontece quando se esgotam todos os outros instrumentos possíveis e imaginários, de âmbito pastoral e jurídico, tendo sempre em conta o bem do próprio culpável e a integridade espiritual e moral da Igreja. Não se trata tanto de expulsar, mas de chamar à razão. Até porque a comunhão da pessoa com a Igreja tem uma raiz ontológica que nunca se perde, ninguém lha pode tirar, radica no Batismo. O Batismo imprime carácter, não se repete, não se pode apagar nem safar, mesmo que alguém peça para o riscar dos livros, como às vezes acontece. Há, porém, uma dimensão mística ou sobrenatural e uma dimensão jurídica que podem perder-se. A mística perde-se, em parte, pelo pecado e, plenamente, com a perda da fé. A jurídica, aquela que une o fiel com a Igreja enquanto sociedade visível, com direitos e obrigações, perde-se mediante um ato constitutivo da legítima autoridade que o priva de certos direitos. É sobre esta comunhão jurídica que pode recair a pena de excomunhão. Também há determinados atos que, para além de pecado, são crime. Quem os comete, autoexclui-se da comunhão eclesial, excomunga-se a si próprio, mesmo que não exista uma declaração escrita por parte da autoridade da Igreja. É o caso, por exemplo, de quem pratica voluntariamente um aborto ou colabora para que ele aconteça, é o caso da profanação da Eucaristia, da absolvição do cúmplice, da violação do sigilo sacramental, do fingir ser padre, ‘celebrando’ missa ou ouvindo de confissão, etc. etc. Se se quiser reintegrar, a pessoa tem de fazer caminho, sendo sempre acolhida, animada e ajudada a que o faça, com determinação e esperança. Atenda-se, porém, que é o delito, o crime, que está em causa, não o pecado. Pecado e crime são duas realidades distintas. O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta, é uma falta de amor a Deus e ao próximo, fere a natureza do homem e a solidariedade humana. O crime é uma ação, uma infração sujeita às penas da Lei penal, tem uma pena anexa. Se todo o crime pode ser pecado, nem todo o pecado é crime. A gravidade de ambos também depende da consciência e circunstâncias de cada um. O pecado é perdoado por quem tem a faculdade de o perdoar em nome de Cristo e da Igreja, desde que haja arrependimento, propósito de emenda e estejam terminadas as penas, se penas houver. A aplicação destas ‘penas medicinais’ por parte da Igreja, que é mãe, perita em humanidade e quer o bem dos seus filhos, quando acontece nem sempre é compreendida por todos, escandaliza uns e mete medo a outros. Paciência!
Os Partidos políticos, porém, também excomungam, apesar das lições de inclusão e de democracia interna que sempre gostam de exibir e dar! Quando algum dos seus membros cospe fora do caco, também usam a pena de excomunhão, afastam-no da comunhão. Expulsam-no das suas fileiras por não alinhar com os seus princípios e modos de proceder. Com grande estrondo e alarido, mandam-no às malvas ou a pentear macacos. Não raro, deixando transparecer um certo ar de alívio e de desamor, aplaudindo o momento em que estas pessoas se põem realmente ao fresco, ficando até os não crentes do Partido a ‘rezar’ para que nem o diabo deles se lembre. Coisa que, aliás, alguns peritos da comunicação social, na sua função de mosca impertinente, não permitem que isso aconteça. Repetem-no à saciedade, picando os miolos de uns e de outros e saciando o seu apetite de alguma maledicência, não raro, em literatura de cordel. Mas também é certo que alguns membros dos partidos se auto excluem do mesmo. Se o Partido não muda, mudam eles, e pronto, ponto. Não sabendo nós se é na busca de carreirismo noutros partidos, já que o próprio não olha com atenção para o seu incomparável talento, se é por se sentir com uma superioridade moral e intelectual mui triste e amarfanhada por aquelas bandas, se apenas é para se ver livre daquela morrinha que lhe faz formigueiro nos movimentos peristálticos. São razões que a razão nem sempre é capaz de entender, embora todos saibamos que sempre houve canas agitadas pelos ventos: ora dobrando para a esquerda, ora para a direita, ora para o centro, ora para os lados em que os ventos levam os incêndios do coração!
Depois do 25 de abril andaram muito em voga os vira-casacas. Aliás, sem grande corte e alfaiataria pouco empática. Era uma estratégia de sobrevivência social para não serem chamados fascistas, retrógrados ou não serem perseguidos pelos puros, puríssimos, pelos donos da Revolução dos Cravos dos quais alguns pelejavam por partir os dentes à reação mesmo que dentes não tivesse e reacionários não fossem.
Acreditamos que os Partidos políticos também estão abertos a ‘todos, todos, todos’ sob a bandeira da sua alta definição de inclusão. Quanta mais gente filiada e mais fervorosa, sem fanatismos, melhor. No entanto, não confundem este estar aberto a ‘todos, todos, todos’, com o ter de aceitar ‘tudo, tudo, tudo’, engolindo sapos, cobras, lagartos e saramelas. Embora o espírito crítico e a diversidade seja uma mais-valia para a construção da unidade bela dum partido, há valores e princípios que todos devem respeitar. No entanto, nesse ato de excluir da comunhão, de excomungar, os partidos políticos puxam pelo engenho e arte para esclarecer, com a ternura própria do seu pio parenético, que foi um ato de lisura, de transparência, de coerência política e partidária, de purificação, de purga exemplar. Sabemos, porém, que, em muitas situações, não é preciso expulsar para impor uma certa cultura sectária. Basta fazer desaparecer o espírito crítico e a capacidade de renovação e de adaptação às novas exigências, mesmo que elas possam surgir em fidelidade aos valores e princípios fundacionais.
Quando da Igreja se trata, porém, muita gente acha que a Igreja, sendo enviada a todo o mundo para evangelizar e acolher ‘todos, todos, todos’, tem o dever de entender que este ‘todos, todos, todos’ é sentir-se na obrigação de aceitar tudo, tudo, tudo quanto alguns pensam, fazem, vivem, dizem, reivindicam e propagam. Ora, a Igreja existe precisamente para evangelizar e dizer a todos que nem tudo é igual a tudo, não é tanto faz...
As pessoas amam-se e acolhem-se, sem preconceitos e sempre, na sua igualdade e diferença, com mútua atenção, escuta e respeito. As ideias e erros, porém, discutem-se com fair play, esclarecem-se com diálogo sincero, tratam-se com delicadeza na certeza de que só a verdade nos libertará e é conversando que as pessoas se entendem.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 01-08-2025.

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