domingo, 10 de agosto de 2025

O Projecto de Deus



Domingo 19 Ciclo C ( Portugês ) - YouTube

Necessitamos continuamente de redescobrir o nosso lugar e o nosso papel no projeto que Deus tem para nós e para o mundo. A Palavra de Deus que a liturgia deste domingo nos propõe lembra-nos isso mesmo. Diz-nos que viver de braços cruzados, numa existência de comodismo e resignação, é malbaratar a vida. Deus precisa de nós, Deus conta connosco; quer-nos despertos, atentos, comprometidos com a construção de um mundo mais justo, mais humano e mais feliz.

Na primeira leitura um “sábio” de Israel recorda a noite em que Deus libertou os hebreus da escravidão do Egito. Para os egípcios, foi uma noite de desolação e de morte; para os hebreus, foi uma noite de libertação e de glória. Os hebreus perceberam nessa noite, que caminhar com Deus e seguir as indicações que Ele deixa é fonte permanente de vida e de liberdade. É nessa direção que o “sábio” nos convida a construir a nossa vida.
A reflexão que a sabedoria de Israel nos propõe nesta leitura coloca-nos, talvez de uma forma algo arcaica, diante de uma questão bem atual: num mundo que gira a uma velocidade estonteante e onde a cada instante surgem novas modas, novas teorias, novos valores, novas propostas de realização e de felicidade, que papel tem e que lugar ocupa Deus nas nossas vidas? O homem do séc. XXI sente alguma relutância em incluir a transcendência no seu cenário de vida. Vive indiferente a Deus e olha para as propostas de Deus como algo que não cabe numa compreensão moderna da existência. Substitui Deus por “deuses” efémeros, define como meta da sua vida objetivos fúteis e contenta-se com ilusões de felicidade. Corre atrás de bens materiais que lhe asseguram bem-estar material e que lhe dão uma sensação de segurança, mas sente a cada momento uma sede de vida e de realização que não consegue saciar. Como construir uma vida que valha a pena? O “sábio” que escutamos na primeira leitura deste décimo nono domingo comum, garante-nos que só Deus pode encher de significado a nossa existência e oferecer-nos a salvação que ansiosamente procuramos. Que sentido faz isto para nós? Deus tem um lugar primordial na nossa vida? Vemos as propostas de Deus como indicações imprescindíveis para chegarmos à vida eterna?

No Evangelho Jesus lembra aos discípulos que foram escolhidos para levar o projeto do Reino de Deus ao encontro do mundo. Devem, portanto, viver para o serviço do Reino. Nesse sentido, têm de estar sempre atentos e vigilantes, cumprindo a cada instante as tarefas que Deus lhes pede, servindo o Reino com humildade e simplicidade.
As palavras de Jesus que o Evangelho deste domingo nos trouxe contêm uma interpelação especial a todos aqueles que desempenham funções de responsabilidade, quer na Igreja, quer no governo central do país, quer nas autarquias, quer nas empresas, quer nas repartições… Convida cada um a assumir as suas responsabilidades e a desempenhar, com atenção e empenho as funções que lhe foram confiadas. A todos aqueles a quem foi confiado o serviço da autoridade, a Palavra de Deus pergunta sobre o modo como se comportam: como servos que, com humildade e simplicidade cumprem as tarefas que lhes foram confiadas, ou como ditadores que manipulam os outros e que tratam com prepotência os pequenos e os humildes? Sempre que nos são confiadas tarefas de responsabilidade e de coordenação, entendemos a missão que nos foi confiada como serviço e acolhemos as pessoas com delicadeza, com doçura, com compaixão?

Na segunda leitura um “catequista” cristão anónimo propõe-nos Abraão e Sara como modelos de fé. Eles confiaram incondicionalmente em Deus e não hesitaram em caminhar ao encontro dos bens prometidos. Essa “aposta” trouxe-lhes frutos: ultrapassando as limitações e a caducidade da vida presente, puderam alcançar os bens eternos.
Quando decidimos que Deus é fiável, passamos a caminhar de olhos postos em realidades que ultrapassam a nossa debilidade, a nossa finitude, e até mesmo a nossa compreensão. O nosso olhar dirige-se para os bens futuros, para a vida eterna, para o encontro com Deus. Compreendemos, sem dramas nem angústias, que o tempo que vivemos na terra é um tempo de passagem a caminho da nossa pátria definitiva. Isso dá-nos uma outra perspetiva das coisas. Ajuda-nos a relativizar os bens materiais, a repensar as nossas apostas, a rever os nossos valores, a refazer o nosso olhar sobre as coisas, a ter uma outra perspetiva dos nossos êxitos e dos nossos fracassos, talvez até a aproveitar de uma forma diferente a nossa existência terrena. Temos consciência de que a vida verdadeira, a vida eterna, não é aqui? Que consequências é que isso tem na forma como vivemos? A consciência de que caminhamos ao encontro da pátria celeste é para nós motivo de angústia e medo, ou de alegria e paz?



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