As crises e dificuldades que enfrentamos ao longo da viagem da vida deixam, frequentemente, feridas que, com as nossas frágeis forças, não conseguimos curar. Incapazes de superar a nossa debilidade, afundamo-nos no desespero. Quem poderá devolver-nos a esperança? As leituras que a liturgia deste domingo nos propõe dizem-nos: “Deus não abandona os seus queridos filhos que a vida magoou e deixou para trás. Ele está sempre disponível para nos purificar de todas as lepras que nos sujam e para nos oferecer a sua salvação”.
Na primeira leitura Deus, através da ação do profeta Eliseu, oferece a sua salvação a um leproso estrangeiro, o general sírio Naamã. Curado da sua doença física e da sua cegueira espiritual, Naamã reconhece o poder de Deus e proclama a sua fé. Só Javé é o Senhor da vida, só Ele pode salvar. A misericórdia infinita de Deus derrama-se sobre todos os que n’Ele confiam, independentemente da sua origem étnica, da sua história de vida, da sua condição social ou religiosa.A cada passo – às vezes de forma totalmente inesperada – somos confrontados com a nossa debilidade. As contrariedades que o dia a dia apresenta, os problemas que ameaçam o equilíbrio da nossa vida, a impotência que experimentamos diante da violência e da maldade, o desmoronamento repentino das nossas certezas, a precariedade da nossa saúde, fazem-nos descobrir que somos “barro” frágil, que facilmente se quebra em pedaços. Ansiamos por seguranças, buscamos certezas, procuramos vida em plenitude; mas, onde encontrar tudo isso? Nesses bens materiais que nos dão uma ilusão de poder, de bem-estar, de tranquilidade, mas que rapidamente nos fogem das mãos? Nos líderes de opinião que nos dizem todos os dias como devemos viver para termos êxito e nos sentirmos integrados, mas que logo nos usam para alimentar os seus projetos pessoais? Nos charlatães que nos garantem remédios para o mau olhado, para inveja, para os males de amor, para o insucesso nos negócios, para todas as doenças físicas e espirituais, mas que apenas estão interessados no nosso dinheiro? Os teólogos de Israel que nos ofereceram esta catequese sobre a cura do general sírio Naamã ensinam que só Deus é fonte de vida e que é apenas em Deus que podemos confiar. É em Deus que colocamos a nossa esperança de salvação e de vida plena, ou há outros deuses que nos seduzem e aos quais entregamos a condução da nossa vida?
No Evangelho, alguns leprosos pedem a Jesus que se compadeça deles. Foram colocados à margem da vida e foi-lhes roubada toda a esperança. Jesus, profundamente compadecido, dispõe-se a oferecer-lhes a salvação de Deus. Mostra-lhes o caminho que eles devem percorrer para chegarem à vida nova. Estranhamente, só um deles reconheceu os dons de Deus e se mostrou grato pela salvação que lhe foi oferecida. Era um samaritano, um “herege”. Por vezes são os “improváveis”, aqueles pelos quais ninguém dá nada, que mais facilmente se deixam “tocar” pela bondade de Deus.Daqueles homens que, no caminho, ficaram curados da “lepra”, só um veio a correr ter com Jesus e se prostrou diante d’Ele para Lhe agradecer. Só um viu naquilo que lhe tinha acontecido enquanto caminhava, um sinal extraordinário da misericórdia e do amor de Deus; só um viu em Jesus o enviado de Deus para oferecer aos homens a possibilidade de viverem uma vida nova, livre de todas as cadeias, de todos os medos e de todas as indignidades; só um foi capaz de captar a grandeza de Deus e a sua bondade insondável; só um experimentou uma gratidão tão grande que não podia ser calada por mais um instante sequer. O texto não diz porque é que os outros não voltaram a correr para Jesus. Terão achado que aquilo que lhes aconteceu era tão “normal” que não precisava de agradecimentos extraordinários? Terão achado que era obrigação de Deus compensá-los pelo azar que tinham tido na vida? Seriam simplesmente pessoas “desligadas”, que não tinham a sensibilidade suficiente para mostrar gratidão? E nós, somos capazes de reconhecer os dons que Deus todos os dias coloca na nossa existência? Conseguimos reconhecer em Jesus o “irmão” que Deus enviou ao nosso encontro e que nos oferece, gratuitamente e sem condições, a salvação de Deus? Lembramo-nos de agradecer a Deus os seus dons, a Sua bondade, o Seu amor, a Sua salvação?
Na segunda leitura, um catequista cristão do final do séc. I convida os crentes a terem sempre diante dos olhos o exemplo de Cristo. Ele, embora tenha passado pelo caminho da cruz, chegou à ressurreição. O cristão, na esteira de Cristo, não deve ter medo de enfrentar as dificuldades e as perseguições: é através desse caminho que chegará à salvação, à vida definitiva.Naturalmente, nenhum de nós está interessado em “falhar” a vida. Todos queremos que a nossa vida faça sentido e seja coroada de êxito. O que podemos fazer, como devemos viver, para que a nossa vida valha a pena? Deveremos apostar nos êxitos humanos, nos triunfos sociais, na busca da fama, do reconhecimento e dos aplausos daqueles que nos rodeiam? O autor da Segunda Carta a Timóteo, depois de ver o que aconteceu com Jesus, sugere um outro caminho: chegaremos à nossa realização plena se gastarmos a vida a servir e a amar, até ao do total de nós próprios. Jesus ressuscitou e foi glorificado depois de passar pela cruz. Se percorrermos o mesmo caminho de Jesus, encontrar-nos-emos, no final do caminho, com a vida definitiva (“se morremos com Cristo, também com Ele viveremos; se sofremos com Cristo, também com Ele reinaremos”). Achamos que isto faz sentido? Estamos dispostos a percorrer o caminho de Jesus, a viver e a amar como Ele?
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