segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Hoje é celebrada a Virgem das Lágrimas, que chora e intercede pelo mundo




ACI).- Hoje é celebrada a Virgem das Lágrimas, uma devoção que surgiu em Siracusa (Itália), onde uma imagem do Imaculado Coração de Maria derramou lágrimas de "dor" e "esperança" pelo mundo, como destacou São João Paulo II.

O fato ocorreu em 1953, na casa do humilde do casal Angelo Lannuso e Antonina Lucia Giusti, que tinham a imagem mariana, de gesso, que ficava pendurada na parede sobre a cama do casal e que derramou lágrimas durante quatro dias, entre 29 de agosto e 1º de setembro.

A imagem foi um presente de casamento e, quando chorou, a primeira pessoa que viu foi Antonina, que estava grávida do seu primeiro filho.
O casal vidente do milagre das lágrimas. Foto: Santuário della Madonna delle lacrime

Segundo assinala Famiglia Cristiana, as autoridades eclesiásticas foram muito cautelosas com o que aconteceu. O pároco Giuseppe Bruno chegou à casa do casal acompanhado por vários especialistas, entre os quais o Dr. Michele Cassola, abertamente ateu.

No local, os especialistas, que mais tarde participariam da comissão investigativa, também testemunharam as lágrimas da Virgem. Depois disso, a imagem não derramou mais lágrimas.

O líquido recolhido foi submetido a diversas análises que foram comparadas com lágrimas de um adulto e uma criança de dois anos e sete meses.

Cassola, que liderava a comissão, não tinha explicação científica para o que os estudos revelaram: efetivamente, o líquido derramado pela imagem mariana era correspondente às lágrimas humanas. O relatório foi divulgado em 9 de setembro de 1953.

Três meses depois, em 12 de dezembro de 1953, dia em que a Igreja celebra Nossa Senhora de Guadalupe, os bispos da região de Sicília declararam por unanimidade que a imagem da Mãe de Deus chorou.

Em 17 de outubro de 1954, o Papa Pio XII se referiu a este evento prodigioso e, em uma mensgem de rádio ao congresso regional mariano de Sicília, disse: "Os homens compreenderão a linguagem misteriosas destas lágrimas? Oh, as lágrimas de Maria? No Gólgota foram lágrimas de dor por Jesus e tristeza pelo pecado do mundo. Ainda chora pelas novas chagas no Corpo Místico de Jesus?".

"Ou chora por tantos filhos nos quais o erro e a culpa extinguiram a vida da graça e ofendem gravemente a divina majestade? Ou são lágrimas de espera pela demora da volta dos outros filhos, que um dia foram fiéis e que agora são arrastados por falsas miragens entre as hostes dos inimigos de Deus? ".

O grande número de fiéis que iam venerar a imagem milagrosa fez com que construíssem um santuário em 1968, que depois foi renovado em 1994. A consagração foi realizada naquele ano por São João Paulo II, em 6 de novembro.

Durante a sua visita pastoral a Catania e a Siracusa, o Papa peregrino disse que as lágrimas da Virgem "testemunham a presença da Mãe Igreja no mundo".

"São lágrimas de dor por aqueles que rechaçam o amor de Deus, pelas famílias separadas ou que têm dificuldades, pela juventude ameaçada pela civilização de consumo e muitas vezes desorientada, pela violência que ainda provoca tanto derramamento de sangue, e por todas as incompreensões e pelos ódios que abrem abismos profundos entre os homens e os povos", acrescentou.

Em 5 de maio, 2016, o Papa Francisco presidiu a vigília de oração "para enxugar as lágrimas", por ocasião do Jubileu da Misericórdia, quando o relicário da Virgem das Lágrimas foi levado ao Vaticano.

Naquela ocasião, o Santo Padre ressaltou que “junto de cada cruz, está sempre a Mãe de Jesus. Com o seu manto, Ela enxuga as nossas lágrimas. Com a sua mão, faz-nos levantar e acompanha-nos pelo caminho da esperança”.

Dois anos depois, em 25 de maio de 2018, Francisco presidiu novamente uma liturgia na presença do relicário com as lágrimas da Virgem.

Na capela da Casa Santa Marta, onde reside, o Santo Padre afirmou: “Trouxeram de Siracusa a relíquia das lágrimas de Nossa Senhora. Hoje estão aqui, e rezemos a Nossa Senhora para que nos dê e também à humanidade necessitada o dom das lágrimas, que nós possamos chorar: pelos nossos pecados e por tantas calamidades que provocam sofrimento ao povo de Deus e aos filhos de Deus”.

O Santuário Mariano de Siracusa recebe cerca de um milhão de pessoas que peregrinam até o local todos os anos.


Por Walter Sánchez Silva

domingo, 30 de agosto de 2020

"SE ALGUÉM QUISER SEGUIR-ME, TOME A SUA CRUZ..."



https://www.youtube.com/watch?v=BJNRuOFvKHw


A liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum convida-nos a descobrir a "loucura da cruz": o acesso a essa vida verdadeira e plena que Deus nos quer oferecer passa pelo caminho do amor e do dom da vida (cruz).
Na primeira leitura, um profeta de Israel (Jeremias) descreve a sua experiência de "cruz". Seduzido por Jahwéh, Jeremias colocou toda a sua vida ao serviço de Deus e dos seus projectos. Nesse "caminho", ele teve que enfrentar os poderosos e pôr em causa a lógica do mundo; por isso, conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição... É essa a experiência de todos aqueles que acolhem a Palavra de Jahwéh no seu coração e vivem em coerência com os valores de Deus.
Deus nunca prometeu a nenhum profeta um caminho fácil de glórias e de triunfos humanos. Temos consciência disso e estamos dispostos a seguir esse caminho?
No baptismo, fomos ungidos como "profetas", à imagem de Cristo. Estamos conscientes dessa vocação a que Deus, a todos, nos convocou? Temos a noção de que somos a "boca" através da qual a Palavra de Deus ressoa no mundo e se dirige aos homens?
A segunda leitura convida os cristãos a oferecerem toda a sua existência de cada dia a Deus. Paulo garante que é esse o sacrifício que Deus prefere. O que é que significa oferecer a Deus toda a existência? Significa, de acordo com Paulo, não nos conformarmos com a lógica do mundo, aprendermos a discernir os planos de Deus e a viver em consequência.
No Evangelho, Jesus avisa os discípulos de que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas passa pelo amor e pelo dom da vida (até à morte, se for necessário). Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo tem de aceitar percorrer um caminho semelhante.


O que é "renunciar a si mesmo"? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a auto-suficiência dominem a vida. O seguidor de Jesus não vive fechado no seu cantinho, a olhar para si mesmo, indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades dos irmãos, alheado das lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.

• O que é "tomar a cruz"? É amar até às últimas consequências, até à morte. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura, as represálias dos poderosos.



sexta-feira, 28 de agosto de 2020

UM JOVEM OPERÁRIO COM HISTÓRIA DE ARREPIAR


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Era congolês, de pele negra. Porque o Papa Francisco também o fez constar no Documento conclusivo do Sínodo sobre os jovens, vou recordá-lo, servindo-me, com a devida vénia, de várias fontes de divulgação. Chamava-se Isidoro Bakanja e terá nascido por volta de 1890, em Bokendela, numa família da tribo Boangi. Essa região, nessa altura, e como consequência da divisão da África entre as potências europeias, era património pessoal do rei Leopoldo II, da Bélgica. Os seus mercenários, porém, exploravam-na com regime de terror sobre os nativos que o escândalo logo ecoou pelo mundo ocidental. A pressão internacional foi tal que o território acabou por passar de património pessoal a colónia belga. Habitada há milhares e milhares de anos, com uma história de lutas e mais lutas, e depois de já ter sido conhecido por vários nomes, este território, dos mais ricos do mundo em biodiversidade e em recursos naturais, dá-se atualmente pelo nome de República Democrática do Congo. Em área, é o segundo maior país de África. Ora vejam lá!... e era uma pequena hortazinha do pobre rei Leopoldo, coitado!...
Sabemos que a caravela de Diogo Cão aí terá chegado por volta de 1483, à foz do rio Zaire. Mais tarde lá terá voltado, trazendo alguns nativos e sendo cá recebidos “mui honrosamente...”. Instruídos na nossa língua e tomando conhecimento da religião cristã, regressaram à sua terra. O rei do Congo recebeu bem os portugueses que os acompanhavam, pediu missionários e desejou o Batismo. Fossem como fossem o progresso e o retrocesso na evangelização, no tempo de Isidoro, neste centro-setentrional do Zaire, o cristianismo ainda dava os primeiros passos. Isidoro foi um dos primeiros cristãos, foi batizado a 6 de maio de 1906. Nesse dia, recebeu como presente um rosário e o escapulário de Nossa Senhora do Carmo. Cristão assumido, a recitação do terço constituía para ele um ponto de honra diário. E de tal forma se tornou devoto do escapulário que a todos contava o porquê e a história do mesmo, ao ponto de ficar conhecido como o "leigo do escapulário".
Porque a pobreza o exigia, cedo saiu da terra em busca de trabalho. Trabalhou como pedreiro e como agricultor, sobretudo num seringal, uma herdade onde também havia árvores-da-borracha. André Van Cauteren Longange, um europeu nascido em Bruxelas, era o administrador da empresa SAB, uma Sociedade Anónima Belga. Tinha a exclusividade na exploração dos recursos agrícolas e minerais naquela zona. Mas este colonizador era fraca rês. Tinha rabugens de tirano e coração de pedra. Descrente e longe de Deus, era cevado por caterva de negros ao seu serviço mas não suportava os cristãos nem os missionários. Um dos seus empregados contou que mais de uma vez o ouvi repetir: “Não quero nenhum sacerdote aqui! Se encontro algum deles, mato-o!” E mais disse a esse empregado: “Se um dia você for ter com o missionário, acabo com a sua vida, corto-lhe a cabeça!”. E como o empregado lhe perguntasse se na Europa não havia sacerdotes, Longange respondeu: “Não, entre nós não existem... É coisa do passado... Na Europa conseguimos fazê-los desaparecer”.
Para ele, os nativos eram fáceis de explorar e dispensar, baratos e submissos, sem liberdade para manifestarem as suas ideias e aspirações. Os missionários, porém, se evangelizavam e ensinavam a rezar, também fomentavam, tanto quanto lhes era possível, o desenvolvimento pessoal, social e cultural da pessoa, o que ele não via com bons olhos.
Apesar de ser um recém convertido, Isidoro nunca escondeu que era cristão e que tinha muita devoção à Virgem. Enquanto trabalhava, rezava, cantava com alegria, gerava empatia. O seu testemunho exercia, naturalmente, grande influência nos companheiros. Por isso, a perseguição intensificou-se. O colonizador, inventando, acusava os africanos convertidos de rezarem demais e perderem muito tempo com isso. Certo dia, Isidoro, que já fora espancado algumas vezes, mas sempre ciente de que mais vale obedecer a Deus que aos homens, quis mesmo deixar de trabalhar no seringal. A retaliação não tardou. Foi proibido de regressar a casa e ordenaram-lhe que deitasse fora o escapulário de Nossa Senhora do Carmo, sinal da sua fé. A recusa de Isidoro valeu-lhe que o próprio belga o agredisse a soco e a pontapé, lhe arrancasse o escapulário e lho atirasse fora, com desprezo. Mas não bastou, logo dá ordens para que fosse flagelado, com um chicote com dois pregos amarrados. O próprio carrasco descreve que o começou a chicotear, ocultando os pregos na mão, mas que o branco percebeu e gritou: “Não é assim! Bata com os pregos!”. Vendo que ele batia levemente, voltou a gritar: “Assim não! Mais forte!”. Com medo de homem tão perverso, o carrasco golpeou-o mais forte. Enquanto Isidoro se contorcia pela dor, o branco pressionava o seu pé sobre o dorso do jovem a fim de ele não se poder mover, e pediu a um dos presentes que lhe segurasse os braços e a outro que lhe imobilizasse as pernas. Depois da flagelação, Isidoro foi levado à prisão. Aí ficou, preso a correntes fechadas a cadeado e ligadas a um peso, sendo alimentado às escondidas por alguém, com medo do belga.
Para justificarem tão grande castigo, inventaram que tinha roubado. A mentira não pegou, logo surgiram testemunhas a negar tal acusação. Inventaram então que se tinha metido com uma das concubinas de Longange. É falso, atestaram outros. E afirmaram que não se acreditasse naqueles que vinham dizer “que Isidoro foi chicoteado por causa disso ou daquilo. Foi chicoteado unicamente porque era cristão e porque usava o escapulário, a veste de Nossa Senhora”.
Longange começou a ficar preocupado com a situação, até porque esperava o inspetor geral da fazenda. Planeou então retirá-lo dali, mandou-o para um povoado na floresta. As forças de Isidoro, porém, não davam para mais. Caminhando na estrada em direção a Yele, acabou por cair por terra, privado de forças, com fome e frio. O belga, sabendo que o desgraçado ainda estava por ali, perto, mandou alguém para o exterminar de vez. Ele próprio também se pôs a caminho para ajudar na tarefa, mas já era tarde. O inspetor esperado, que já se dirigia para a fazenda, ouviu os gemidos de Isidoro. Parou, escutou o jovem, viu e ficou horrorizado: “Eu vi um homem vindo da floresta com as costas rasgadas por feridas profundas e fétidas, cobertas de sujeira, assaltadas por moscas. Ele se apoiou em dois gravetos para se aproximar de mim – ele não andava, ele arrastava-se”. O encontro entre o inspetor e o administrador teve conversa ruidosa e assanhada, e teve consequências. O administrador foi transferido, Isidoro foi resgatado e acolhido. Os próprios vizinhos cuidaram dele com todo o carinho. As feridas é que jamais se curaram, infecionaram, fizeram-no sofrer horrivelmente, causaram-lhe uma agonia muito mais dolorosa que a própria flagelação. A 15 de agosto de 1909, envolto no "hábito de carmelita", com o rosário nas mãos e o escapulário ao pescoço, faleceu no Senhor, fiel aos seus compromissos batismais, à sua fé e devoção. Quando ainda podia falar, perguntaram-lhe porque é que o branco lhe tinha batido. Ele respondeu: “O branco não gostava dos cristãos. Não queria que eu trouxesse o hábito de Maria, o escapulário. Insultava-me quando rezava. (…) Não tem importância que eu morra. Se Deus quer que eu viva, viverei; se Deus quer que eu morra, morrerei. Para mim é igual. (…) Não guardo nenhum rancor contra o branco. Açoitou-me mas isso é um assunto seu. Se morrer, pedirei no Céu muito por ele”.
Este jovem leigo, “mártir do escapulário”, com vinte e poucos anos de idade, foi beatificado por São João Paulo II, em 1994. A sua memória litúrgica celebra-se em 12 de agosto de cada ano. Sentia enorme alegria em ser discípulo de Cristo e tinha grande devoção a Maria sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo. Encontrava na oração a força para testemunhar a fé ao seu redor. Perdoou a quem o flagelou até à morte, e morte dolorosa!
É sempre comovente contemplar a extraordinária grandeza dos pequeninos, fracos e humildes perante a pequenez dos que se julgam grandes, fortes e orgulhosamente donos e senhores. A palavra de Cristo permanece atual e atuante: “Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos céus a vossa recompensa” (Mt 5, 11-12).
D.Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 28-08-2020.

Cristo ajuda-nos a atravessar as águas tumultuosas da doença, da morte e da injustiça

PAPIEŻ FRANCISZEK

“Nós estamos a viver uma crise. A pandemia pôs-nos todos em crise. Mas recordai-vos: de uma crise não se pode sair iguais, ou saímos melhores ou saímos piores”

O Papa Francisco convidou hoje todos os cristãos a aceitarem o dom da esperança que vem de Cristo, neste tempo de incerteza e angústia.
É Jesus “que nos ajuda a navegar nas águas tumultuosas da doença, da morte e da injustiça, que não têm a última palavra sobre o nosso destino final”, afirmou o Papa em sua catequese semanal.
A pandemia pôs em evidência e agravou os problemas sociais, especialmente a desigualdade. Alguns podem trabalhar de casa, enquanto para muitos outros isto é impossível. Algumas crianças, apesar das dificuldades, podem continuar a receber uma educação escolar, enquanto para muitas outras houve uma brusca interrupção. Algumas nações poderosas podem emitir moeda para enfrentar a emergência, enquanto que para outras isso significaria hipotecar o futuro.
Segundo o Papa, estes sintomas de desigualdade “revelam uma doença social; é um vírus que provém de uma economia doente”.
Devemos simplesmente dizê-lo: a economia está doente. Adoeceu. É o resultado de um crescimento econômico iníquo – esta é a doença: o fruto de um crescimento econômico iníquo – que prescinde dos valores humanos fundamentais. No mundo de hoje, muito poucas pessoas ricas possuem mais do que o resto da humanidade. Repito isto porque nos fará refletir: poucos riquíssimos, um pequeno grupo, possui mais que o resto da humanidade. Esta é mera estatística. É uma injustiça que clama aos céus!
O Papa também advertiu que este modelo econômico é indiferente aos danos infligidos à casa comum.

Não cuida da casa comum. Estamos quase a superar muitos dos limites do nosso maravilhoso planeta, com consequências graves e irreversíveis: desde a perda de biodiversidade e alterações climáticas ao aumento do nível dos mares e à destruição das florestas tropicais. A desigualdade social e a degradação ambiental andam de mãos dadas e têm a mesma raiz: a do pecado de querer possuir, de querer dominar os irmãos e irmãs, de pretender possuir e dominar a natureza e o próprio Deus. Mas este não é o desígnio da criação.
O Papa enfatizou que existe «uma relação responsável de reciprocidade» entre nós e a natureza. Uma relação de reciprocidade responsável entre nós e a natureza. Recebemos da criação e damos por nossa vez. «Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger».
De fato, ‘a propriedade dum bem faz do seu detentor um administrador da providência de Deus, com a obrigação de o fazer frutificar e de comunicar os seus benefícios aos outros’. Nós somos administradores dos bens, não donos. Administradores. ‘Sim, mas o bem é meu’. É verdade, é teu, mas para o administrares, não para o possuíres egoisticamente.
Segundo Francisco, para assegurar que o que possuímos seja um valor para a comunidade, a autoridade política tem o direito e o dever de regular, em função do bem comum.
As propriedades, o dinheiro são instrumentos que podem servir para a missão. Mas transformamo-los facilmente em fins individuais ou coletivos. E quando isto acontece, são minados os valores humanos essenciais. O homo sapiens deforma-se e torna-se uma espécie de homo oeconomicus – num sentido menor – individualista, calculista e dominador. Esquecemos que, sendo criados à imagem e semelhança de Deus, somos seres sociais, criativos e solidários, com uma imensa capacidade de amar. Com frequência esquecemo-nos disto.
O Papa recorda que “somos os seres mais cooperadores entre todas as espécies, e florescemos em comunidade, como se pode ver na experiência dos santos”.
Segundo Francisco, isto foi compreendido pelas primeiras comunidades cristãs, que, como nós, viveram tempos difíceis.
Nós estamos a viver uma crise. A pandemia pôs-nos todos em crise. Mas recordai-vos: de uma crise não se pode sair iguais, ou saímos melhores ou saímos piores. Eis a nossa opção. Depois da crise, continuaremos com este sistema económico de injustiça social e de desprezo pelo cuidado do meio ambiente, da criação, da casa comum? Pensemos nisto. Que as comunidades cristãs do século XXI recuperem esta realidade – o cuidado da criação e a justiça social: caminham juntas – dando assim testemunho da Ressurreição do Senhor. Se cuidarmos dos bens que o Criador nos concede, se partilharmos o que possuímos para que não falte nada a ninguém, então de facto podemos inspirar esperança para regenerar um mundo mais saudável e mais justo.
No encerramento de sua fala, o Papa pediu para pensarmos nas crianças.
Lede as estatísticas: quantas crianças, hoje, morrem de fome devido à má distribuição das riquezas, a um sistema económico como disse acima; e quantas crianças, hoje, não têm direito à escolarização, pelo mesmo motivo. Que esta imagem, das crianças necessitadas, com fome e com falta de escolarização, nos ajude a compreender que desta crise devemos sair melhores.
https://pt.aleteia.org/

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Hoje é celebrada Santa Mônica, padroeira das mães cristãs





(ACI).- “Continue a rezar, pois é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas”. Este foi o conselho dado por um Bispo a Santa Mônica, cuja memória litúrgica a Igreja celebra neste dia 27 de agosto.

A santa seguiu este conselho, não se deixou abater pelas dificuldades até ver seu filho, Santo Agostinho, convertido. Por essa razão, tornou-se a padroeira das mães cristãs.

Ao recordar a vida desta santa, em 2013, o Papa Francisco destacou o exemplo que ela deixa a tantas mulheres que atualmente choram por seus filhos. “Quantas lágrimas derramou aquela santa mulher pela conversão do filho! E quantas mães, também hoje, vertem lágrimas a fim de que os seus filhos voltem para Cristo! Não percais a esperança na graça de Deus!”, disse.

Santa Mônica nasceu em Tagaste, atual Argélia, na África, em 331. Ainda jovem e por um acordo dos seus pais, casou-se com Patrício, um homem violento e mulherengo.

Algumas mulheres lhe perguntaram por que o seu marido nunca lhe batia, então lhes disse: “É que, quando meu marido está de mau humor, eu me esforço por estar de bom humor. Quando ele grita, eu me calo. E para brigar é preciso de dois e eu não aceito a briga, pois... não brigamos”.

Suportando tudo no silêncio e mansidão, encontrava o consolo nas orações que elevava a Cristo e à Virgem Maria pela conversão do esposo, que mudou de vida, batizou-se e morreu como bom cristão.

Mas a dor dessa mulher não terminaria aí. Agostinho, seu filho mais velho, tinha atitudes egoístas, caprichosas e não se aproximava da fé. Levava uma vida dissoluta e ela sofria por ver o seu filho afastado de Deus. Por isso, durante anos continuou rezando e oferecendo sacrifícios.

Agostinho se tornou um brilhante professor de retórica em Cartago. Mais tarde, foi, às escondidas, para Roma e depois para Milão, onde conseguiu o cargo de professor em uma importante universidade. Em Milão começaria também sua busca por respostas que a vida intelectual não oferecia. Abraçou o maniqueísmo e rejeitava a proposta da fé cristã.

Mônica não desistiu e viajou atrás de seu filho. Ela sentiu que a sua missão foi realizada quando, tempos depois, Santo Agostinho foi batizado na Páscoa de 387. Mãe e filho decidiram voltar para a terra natal, mas, chegando ao porto de Óstia, perto de Roma, Mônica adoeceu e logo depois faleceu, em 27 de agosto de 387.

O Papa Alexandre III confirmou o tradicional culto à Santa Mônica, em 1153, quando a proclamou padroeira das mães cristãs.

Sobre sua mãe, Santo Agostinho, que se tornou Bispo e doutor da Igreja, escreveu: “Ela me gerou seja na sua carne para que eu viesse à luz do tempo, seja com o seu coração para que eu nascesse à luz da eternidade”.

No Ângelus de 27 de agosto de 2006, o Papa Bento XVI, recordando estes dois santos, disse: “Santa Mônica e Santo Agostinho nos convidam a dirigirmo-nos com confiança a Maria, Sede da Sabedoria. A Ela confiemos os pais cristãos para que, como Mônica, acompanhem com o exemplo e a oração o caminho dos filhos”.

Oração a Santa Mônica pelos filhos

A ti recorro por ajuda e instruções, Santa Mônica, maravilhoso exemplo de firme oração pelos filhos.

Em teus braços amorosos deposito meu(s) filho(s) / minha(s) filha(s) (mencionar aqui os nomes), para que, mediante a tua poderosa intercessão, eles alcancem uma genuína conversão a Cristo, nosso Senhor.

A ti também apelo, mãe entre mães, para que peças a nosso Senhor que me conceda o mesmo espírito de oração incessante que te concedeu.

Tudo isso te peço pelo mesmo Cristo, nosso Senhor.


Amém.


Ser corajoso é muito difícil




O contrário da felicidade é o medo. O que queremos tem sempre custos. Alguns são imediatos, outros só chegam muito mais tarde. Escolher um caminho é aceitar a responsabilidade de todas as consequências que isso implica, mesmo aquelas de que não temos consciência.

Arriscar é, por vezes, não avançar. Preferir ficar ou voltar atrás também podem ser gestos corajosos. Será cobarde o homem que, em face de uma guerra, não por medo, mas por amor, decidiu não deixar a sua mulher viúva e voltar para o seu lar?

Ser corajoso implica esquecer o próprio ego. Escolher o bem não é o mesmo que escolher o meu bem. A coragem não é uma loucura cega. Na verdade, nada ganhamos por nos expormos a perigos desnecessários, mesmo quando saímos ilesos.

O desejo do aplauso da multidão faz-nos muito mal.

A verdadeira coragem revela-se nas situações em que não há uma recompensa concreta. Poríamos a nossa vida em risco para salvar um desconhecido se ninguém estivesse a assistir ou viesse a saber?

Uma vida simples e honesta implica muito mais coragem do que subir à montanha mais alta do mundo ou atravessar um oceano sozinho. Há vidas muito difíceis, que exigem uma superação constante… apenas para se manterem à tona. Por mais cruel e injusto que seja… é assim. A coragem é a força de gente assim, que ainda sorri, apesar de tudo. Os heróis das pequenas coisas são maiores do que os das grandes.

Educar filhos em condições duras, combater e sobreviver a uma doença cruel, manter uma promessa nobre, acabar com uma relação longa, amar e entregar-se por esse amor, lidar com a traição, as perdas e todo o tipo de desilusões… Nada disto se faz sem coragem, apesar do medo que nos faz tremer, mais ainda face a escolhas onde não há certezas.

Não nascemos corajosos, escolhemos sê-lo, de cada vez que nos fazemos fortes para enfrentar o que a necessidade nos coloca no caminho.

Talvez o maior feito das nossas vidas seja termos chegado até aqui.

Cada um de nós é do tamanho dos obstáculos que ultrapassou e das derrotas com que teve de seguir para diante.

José Luís Nunes Martins


quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Um dia seremos



Um dia seremos. Mais inteiros e verdadeiros. Cumprindo a nossa autenticidade. Descobrindo quem realmente somos num encontro face a face.

Um dia seremos. Aquilo que tanto quisemos cumprir e que fomos chamados a ser. Eliminando o que já não conta. Cortando o que não nos deixou ver a plenitude do nosso ser. E confirmaremos assim a nossa existência num encontro vivo e pleno. Repleto do fogo do amor capaz de nos iluminar de cima a baixo.

Um dia seremos. Nem melhores, nem piores. Seremos apenas. E reconhecer-nos-ão por isso. Estará à vista de todos os dons que cada um recebeu. Daremos testemunho verdadeiro, porque teremos encontrado n'Ele toda a nossa vida.

Um dia seremos. Revelados pela Sua Luz. Passando-nos as fotografias do nosso filme e dando a conhecer a presença da Sua existência. Veremos com maior clareza. Sem que nada nos ofusque. Estarão delineados todos os pormenores e não haverá espaço para mais dúvidas. Alcançaremos, depois de tantas hesitações, a nossa definição.

Um dia seremos. Sem o desespero do desencontro. Sem a angústia das perguntas. Sem o cansaço do caminho percorrido. Sem o desânimo das quedas. Seremos na totalidade. Sem rodeios, nem metades que nos façam parecer por inteiros.

Um dia seremos, mas isso não impede que comecemos já hoje. Desvelando sem receios. Deixando que a Sua Graça nos clarifique todo este mistério. Permitindo que os nossos véus sejam destapados e nos curemos da cegueira de não querermos efetivamente ser.

Um dia seremos, se assim quisermos ser!

Emanuel António Dias

terça-feira, 25 de agosto de 2020

A solidão não se mede aos palmos



Por vezes, dentro de uma casa, a solidão mais invisível é a dos jovens. A solidão não se mede aos palmos — isto deve ser explicado a quem pensa que ela está confinada ao mundo dos adultos. É certo que, a partir de certa idade, e de uma sucessão de acontecimentos desamparados com os quais se colide, surge esse coágulo da alma, que luta para se tornar fixo. Não admira que os adultos farejem mais recorrentemente a solidão uns nos outros, lhe reconheçam os códigos, despistem os seus ziguezagues... Mas, por serem adultos, podem também fazer uso de mais recursos internos, de forças que possuam já ou que procurem, para fazer-lhe frente. A vulnerabilidade dos (mais) velhos é ainda outro discurso, porque aí a solidão, não raro, é um eufemismo para ocultar a palavra abandono. E, sobre isso, as nossas sociedades precisariam de refletir melhor. Mas a solidão dos (mais) novos é, porventura, aquela mais submersa, mais enigmática e confusa para os próprios sujeitos, aquela sobre a qual falamos menos. Possivelmente só daqui a muitos anos, por exemplo, vamos perceber como é que a geração das crianças e adolescentes de hoje viveu esta experiência da pandemia, que medos e incertezas se alojaram neles pela primeira vez ou que perguntas sem resposta se fizeram. Só mais adiante compreenderemos o que representou para eles o fecho abrupto das escolas, a distância dos amigos e coetâneos ou este regresso a uma intensidade da família nuclear, que antes talvez não haviam tido. Contou-me uma amiga que um dos filhos à mesa, tentando interpretar a situação extraordinária que a família está a viver, disse: “Acho que estamos aqui a construir memórias.” Todos olharam para ele, espantados com a grandeza inesperada da definição na boca de um fedelho, mas seguramente aquelas palavras corresponderam dentro dele a emoções, a um esforço concreto de aproximação a uma realidade complexa, a um apaziguamento que encontrou quando foi capaz de justificar a estranheza com uma missão que unia — e unirá depois ainda — toda a sua família, pois as memórias são, como se sabe, moedas para ser usadas no país do futuro.

Nós adultos esquecemo-nos depressa de como as vidas são fragilmente construídas sobre certezas cuja evidência depende da confiança, e que esta é um tão longo e feliz e sofrido caminho

Muitas vezes, quem os vê armados de tecnologia, estirados pela casa, aparentemente fechados nos seus interesses, com a cabeça noutro lado, a responder com monossílabos a frases inteiras não imagina que esse é o modo possível de se protegerem de um mundo que sentem em derrapagem. Que quando vagueiam numa passividade onde só vemos desnorte e indolência eles estejam engolidos, com uma dolorosa reverberação que não captamos, pelo indizível espavento de se terem olhado ao espelho, e de se interrogarem como serão ao acordar no dia seguinte, e no mês seguinte. E que quando parecem implicativos e agressivos estão, a bem dizer, apenas assustados. Nós adultos esquecemo-nos depressa de como as vidas são fragilmente construídas sobre certezas cuja evidência depende da confiança, e que esta é um tão longo e feliz e sofrido caminho.

Ganharíamos tanto se em vez da pressa dos juízos nos déssemos ao trabalho de sintonizar com a solidão dos outros, aprendendo assim a reconciliar-nos com a nossa. A solidão é uma das primeiríssimas experiências de humanidade que fizemos. Lembro aquilo que escreveu a pedopsiquiatra Françoise Dolto: “A solidão dos bebés existe. Eles têm necessidade de que lhes falem, de que lhes cantem, mesmo se ao longe. Ouvem uma voz, não estão completamente sozinhos. O ser humano precisa de companhia. O espaço de um ser humano, desde o nascimento, precisa de ser povoado pela presença psíquica de outro ser para o qual ele existe.”

Tolentino Mendonça


segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Quando puderes, respira fundo!





Tenho pena que não tenhamos mudado nada. Ou melhor, tenho pena de me aperceber que não queremos, realmente, alterar o que se passa à nossa volta ou dentro de nós.

Na verdade, julgo que apreciamos (mesmo) o conforto de ser sempre da mesma maneira.

De não sair dos trilhos.

De não arriscar um mergulho mais acima da nossa distância de segurança.

De não ir para fora de pé.

De não escolher o que está fora da nossa mão.

De não remar contra a corrente.

Tenho pena que sejamos sempre tão previsíveis. Que usemos as dores, a morte e as tragédias para dar oxigénio às nossas causas. Que não saibamos chorar o que está mal e que consigamos sempre transformar um assunto sensível numa bandeira de raiva ou de ódio.

Tenho pena do que somos. Do que escolhemos. Do que não queremos ver. Do que ignoramos. Da nossa arrogância. Do nosso nariz empinado. Das nossas faltas de empatia. De usarmos argumentos não válidos para justificar o que não queremos (nem sabemos) fazer.

Tenho pena daquilo em que estamos a transformar-nos.

Tenho pena da ausência que somos uns para os outros.

Tenho pena pelo facto de nos termos tornado pessoas que não têm pena de nada.

O tempo não é de sossego. Não é de paz. O mundo não está apaziguado. E as feridas de todos parecem mais abertas do que nunca.

Ainda assim, valerá a pena escolher um ou outro momento do nosso dia para fechar os olhos e para respirar fundo.

Há coisas que ganham sentido quando respiramos fundo.

O tempo (ainda) não é de sossego.

(Ainda) não é de paz.

O mundo (ainda) não está apaziguado.

Já pensaste o que vais fazer para mudar isso?

Respira fundo.

Levanta-t
e.

E voa.


Marta Arrais

domingo, 23 de agosto de 2020

«E vós, quem dizeis que Eu sou?»



https://www.youtube.com/watch?v=vFD06qQm3ww

No centro da reflexão que a liturgia do 21º Domingo do Tempo Comum nos propõe, estão dois temas à volta dos quais se constrói e se estrutura toda a existência cristã: Cristo e a Igreja.
O Evangelho convida os discípulos a aderirem a Jesus e a acolherem-n’O como “o Messias, Filho de Deus”. Dessa adesão, nasce a Igreja – a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro. A missão da Igreja é dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Igreja e a Pedro é confiado o poder das chaves – isto é, de interpretar as palavras de Jesus, de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos aqueles que aderem à proposta de salvação que Jesus oferece.
“E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para o seguir… Quem é Cristo para mim?
A primeira leitura mostra como se deve concretizar o poder “das chaves”. Aquele que detém “as chaves” não pode usar a sua autoridade para concretizar interesses pessoais e para impedir aos seus irmãos o acesso aos bens eternos; mas deve exercer o seu serviço como um pai que procura o bem dos seus filhos, com solicitude, com amor e com justiça.
A segunda leitura é um convite a contemplar a riqueza, a sabedoria e a ciência de Deus que, de forma misteriosa e às vezes desconcertante, realiza os seus projectos de salvação do homem. Ao homem resta entregar-se confiadamente nas mãos de Deus e deixar que o seu espanto, reconhecimento e adoração se transformem num hino de amor e de louvor ao Deus salvador e libertador.
O verdadeiro crente não é aquele que “sabe” tudo sobre Deus, que tem respostas feitas sobre Ele, que pretende conhecê-l’O perfeitamente e dominá-l’O; mas é aquele que, com honestidade e verdade, mergulha na infinita grandeza de Deus, abisma-se na contemplação do seu mistério, entrega-se confiadamente nas suas mãos… e deixa que o seu espanto e admiração se transformem num cântico de adoração e de louvor.

https://www.dehonianos.org/

sábado, 22 de agosto de 2020

A Virgem Santa Maria ( 22 de Agosto)


A festa litúrgica de "A Virgem Santa Maria, Rainha", ou da realeza de Maria, foi auspiciada por alguns congressos marianos a partir do ano de 1900. Em 1925, Pio XI instituiu a festa de Cristo Rei. Em 1954, na conclusão do centenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, Pio XII anunciou esta festa para o dia 31 de Maio. Na reforma do calendário, promovida pelo Vaticano II, a festa foi fixada na oitava da Assunção de Nossa Senhora, a 22 de Agosto, para manifestar a conexão que existe entre a realeza de Maria e a sua Assunção ao céu.
https://www.youtube.com/watch?v=rzSOObvRtNI

Hoje, somos chamados a contemplar Aquela que, sentada à direita do rei dos séculos, resplandece como rainha e intercede por nós como mãe. A figura da rainha-mãe permanece em muitas culturas populares como protótipo de solenidade, de senhoria, de cordialidade, de benevolência. O culto e a própria iconografia representam espontaneamente Maria na postura de uma rainha, revestida de beleza e de glória, muitas vezes sentada e coroada de estrelas, feita, ela mesma, trono do filho que tem nos braços, o Menino Jesus. A liturgia contempla esse ícone de Maria, mãe e rainha. Contempla a ligação de Maria serva a Senhor Deus como participação na realeza de Cristo. Trata-se de uma realeza que é serviço, colaboração com Cristo na salvação da humanidade. A obra de Cristo exigiu a sua morte no Calvário. Junto dele estava a sua mãe. A realeza de Cristo custou-lhe a Paixão e a Morte. A de Maria custou-lhe as dores que a Paixão e a Morte de Jesus lhe causaram.
O povo cristão costuma invocar Maria como Rainha da Paz. Trata-se de uma conotação com o oráculo de Isaías que fala do "príncipe da paz". Jesus Cristo é a nossa paz, afirma Paulo (cf. Ef 2, 14). Maria é mãe do príncipe da paz. O Menino que nasceu para nós é o fruto bendito do ventre de Maria, é o Senhor, fonte da paz. A paz é sonho e utopia, que convidam ao acolhimento do Senhor da Paz, Jesus Cristo, filho de Maria. Ela é a Virgem pacificada e operadora de paz. O sonho e a utopia convidam-nos a acreditar em Jesus e a realizar obras de paz, que são testamento seu e dom do Espírito.
O privilégio da maternidade divina de Maria, fonte e a causa das suas grandezas, das suas graças, do seu poder e da sua glória, faz dela a Rainha de todas as criaturas. Veneremo-la, tenhamos confiança nela, amemo-la.

Oração

Salve, Virgem Santa Maria, mãe generosa do Senhor do universo, rei de paz e de justiça. Mulher humilde, acolhida já no céu pelo amor do Pai, inspira o nosso serviço na edificação do reino de Cristo. Mãe feliz, que acreditaste, fica connosco para nos ajudar a guardar e a alimentar a lâmpada da nossa fé. Esposa do Espírito Santo, ensina-nos a perseverar nas obras de misericórdia, de justiça, de paz. Ámen.



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sexta-feira, 21 de agosto de 2020

UMA JOVEM HEROÍNA - SANTA INJUSTIÇADA


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Desde que o duque da Normandia, descendente dos vikings, à falta de descendentes diretos ao trono, se apoderou da Inglaterra em 1066, os monarcas ingleses passaram a controlar vastos domínios em território francês. Com o rolar dos tempos, as rivalidades foram-se atiçando. Quando a França quis recuperar esses territórios, choveram mosquitos por cordas. Nem a França nem a Inglaterra morriam de amores uma pela outra, o que levou a uma das mais longas e sangrentas guerras da Idade Média. Durou 116 anos, de 1337 a 1453, ficou conhecida pela Guerra dos Cem Anos. A falta de descendentes reais, o querer ou o não querer unificar as coroas, o facto de ser negada às mulheres a sucessão ao trono, os interesses senhoriais e outros nobres quiproquós deram água pela barba a muita gente. Quando alguém se apresentava como solução, se era um sinal de esperança para muitos, outros muitos ficavam pior que baratas tontas. Se os tratados assinados alegravam uma grande parte, outra parte, não menos grande, sentia-se humilhada e ofendida. Com tais ventanias era difícil fechar as portas à guerra.
E eis que surge Joana d’Arc, qual França renascida das cinzas!, uma garota nascida em Domrémy, região de Borrois, em 6 de janeiro de 1412, a mais nova de cinco irmãos. Foi esta menina, educada numa catequese centrada em Cristo e em Maria, de frequência diária no culto e com prática sacramental, com forte personalidade e determinação, que cortava o cabelo à rapaz e vestia roupas masculinas, que não sabia ler nem escrever, que trabalhava com os seus pais na agricultura, que viu familiares seus serem mortos aquando da destruição da sua aldeia, foi esta menina que se apresentou resolvida a libertar a França. Afirmava que aos 12 anos teve uma revelação divina a dizer-lhe que deveria integrar o exército francês e ajudar o rei na luta contra os ingleses. Esta voz e apelo interior não desapareciam, repetiam-se, voltavam a repetir-se, de novo se repetiam a martelar que "É preciso expulsar os ingleses da França". Nessa revelação, diz ela, viu, ouviu e identificou, no meio de uma grande luz, o arcanjo São Miguel, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia.
Movida por essa voz e com apenas 16 anos, abalou da sua aldeia para ir falar com o rei Carlos VII, a Chinon, estávamos em 1429. Como, para lá chegar, teria de atravessar um território longo e adverso, foi pedir uma escolta à guarnição instalada numa cidade vizinha da sua, em Vaucouleurs. O comandante não foi fácil de assoar, mas acabou por ficar convencido. Fê-la portadora de uma carta de recomendação, cedeu-lhe um cavalo e mandou que seis homens a acompanhassem ao longo da viagem que durou onze dias. O rei, porém, mesmo assim, quis prová-la, não viesse ela com a intenção de o matar. Então, armadilharam a coisa. Diz-se que o rei Carlos vestiu roupas comuns e misturou-se na sala com os outros nobres, enquanto outra pessoa ficou sentada no seu trono. Joana, sem nunca ter visto o rei, entrou, atravessou o salão e, sem qualquer hesitação, foi ter com o verdadeiro rei, reconhecendo-o disfarçado entre os nobres. Curvou-se diante dele e disse-lhe que estava decidida a comandar os seus exércitos até à vitória: “Em nome de Deus, vós sois o rei! Se fizerdes como eu ordenar, os ingleses serão expulsos e todos vos reconhecerão como rei de França”. O rei, e lá os da sua alta comandita, ainda submeteram Joana a um pormenorizado interrogatório sobre quem é que ela era e ao que vinha. Com tantos a quererem tirar nabos da púcara, da púcara nada saía de inquietante, apenas transparência, honestidade, amor a Deus, à Igreja, vontade de ajudar o rei e a França, boa fé. No entanto, o que realmente se teria passado nesse encontro com o rei, ainda hoje se discute. A própria Joana não quis explicar, apenas disse que o rei teria recebido um sinal para que acreditasse nela.
Com um exército desmoralizado, cansado da guerra, com uma França dividida em dois reinos e ela com a soberania sobre o mais pequeno, constantemente derrotada e humilhada, o rei não olhou para trás. Confiou nesta jovem mulher que lhe pareceu de garra, iluminada, “de pelo na venta”. Se o palco da guerra era para homens de barba rija, neste momento histórico em que só um milagre poderia salvar a França, Joana, porque incorporava essa esperança, obteve o benefício da dúvida. O rei entrega-lhe a espada, tralha de proteção, um estandarte e o comando de um pequeno exército, cerca de cinco mil homens. Ela organizou-o a seu jeito, não para lutar por interesses senhoriais, mas para lutar pela França e pelo seu rei, reforçando a ideia de nação, convencendo os inseguros e desanimados, gerando brio no coração dos franceses. Numa carta que havia ditado para o rei de Inglaterra e seus aliados, ela propunha a paz, mas não teve acolhimento. Então, com o seu exército moralizado, Joana avança para Orleães. Ao chegar, intimou o inimigo a render-se: “Voltai para o vosso país. É Deus que assim o quer! O reino da França não é vosso, é de Carlos! Eu sou uma enviada de Deus, a minha tarefa é expulsar-vos daqui! Deus dar-me-á força necessária para vencer os vossos ataques!”. Com certeza que os soldados ingleses olharam para a cachopa, armada em chefona, como Golias olhou para David! Mas Joana, ciente de que em tempo de guerra não se limpam armas, não esteve com meias medidas, ela tinha uma missão a cumprir. Ao seu exército, que se sentia mais corajoso do que nunca e acatava as suas ordens e liderança como divinas, Joana ordena que atacasse os invasores. O êxito não se fez esperar. Ao fim de três dias, os ingleses deram às de vila-diogo, Orleães ficou livre. O mesmo aconteceu, logo em seguida, com Reims. Eis que se dá o esperado milagre: as palavras de Joana concretizam-se, os ingleses sofrem avultados danos, as vitórias foram evidentes, o rei Carlos VII é reconhecido e coroado como legítimo rei da França, segundo as antigas tradições, na catedral de Reims. E Joana lá estava, presente e feliz. Acompanhada do seu estandarte, assistiu à cerimónia, abraçou o rei recém-coroado e dirigiu-lhe a palavra como rei de França, foi em 17 de julho de 1429.
Próxima dos soldados com testemunho humano e evangelizador, em maio do ano seguinte, Joana tenta libertar a cidade de Compiègne. A coisa, porém, não correu bem. Joana ficou prisioneira dos seus inimigos.
Obscuros interesses de políticos e de religiosos, aliados aos da Universidade de Paris e do Estado, arquitetaram um julgamento político de conveniência, “em matéria de fé”, no tribunal da Inquisição da França inglesa. Ainda apelou ao Papa, tal apelo foi rejeitado pelo tribunal. Sozinha, num julgamento baseado na presunção de culpabilidade, sem advogados de defesa, com testemunhas de acusação à la carte, sem qualquer investigação sobre a sua vida, privada de qualquer apoio humano e espiritual e com claras intenções do tribunal, não havia hipótese de absolvição, era o poder e o orgulho dos grandes perante a humildade dos pequeninos indefesos e da sua missão: «Entrego-me a Deus meu Criador, amo-O com todo o meu coração». Aos juízes ela exprime a sua convicção: “De Jesus Cristo e da Igreja eu penso que são um só, e não há que levantar dificuldades a esse respeito” (cf. CatecismoIC795). Interrogada sobre se tem a certeza de estar na graça de Deus, ela responde: ‘Se não estou, Deus nela me ponha; se estou, Deus nela me guarde” (cf. id. 2005). Aqueles doutores da lei que, com as suas curiosidades mórbidas e farisaicas a torturaram durante meses, apresentaram setenta artigos de acusação, posteriormente reduzidos a doze. Acusaram-na de herege, bruxa, blasfema, mentirosa, prostituta...
Vestida de branco e após ter recebido a Sagrada Comunhão, em 30 de maio de 1431 foi levada à Praça do Mercado Vermelho, em Rouen, ao local da execução, tendo pedido a um dos sacerdotes que conservasse diante da fogueira a cruz processional. Após terem lido a sentença de condenação, foi queimada viva perante a multidão, contemplando Jesus Crucificado e repetindo várias vezes o nome de Jesus em voz alta (cf. id. 435). As cinzas foram lançadas ao rio Sena para que não se tornassem objeto de veneração pública. Tinha 19 anos de idade, “mais ou menos”, como ela dizia, pois há algumas dúvidas quanto ao dia do seu nascimento. Para os franceses, o tom estava dado, a morte de Joana fez aumentar o seu patriotismo, o imaginário popular quase a transformou em lenda. Incentivados pela sua coragem e martírio, continuaram a lutar pela total libertação da pátria. Napoleão Bonaparte declarou-a como símbolo nacional da França.
A condenação de Joana, porém, não foi pacífica. O Papa Calisto III mandou examinar o processo da sua condenação. Cerca de 25 anos depois, foi reconhecida a sua nulidade por vício de forma e de conteúdo. Foram ouvidas cerca de 120 testemunhas que a tinham conhecido. Joana foi reabilitada de todas as acusações, foi proclamada a sua inocência e formalmente declarada como mártir da Pátria e da Fé. Foi reconhecida pelas suas virtudes heroicas, provenientes duma missão divina, tornando-se em heroína da nação francesa. Beatificada por Pio X em 1909, foi canonizada por Bento XV em maio de 1920. É Padroeira e figura popular no país e no mundo, é referida várias vezes no Catecismo da Igreja Católica e pelo Papa Francisco aos jovens, influenciou muita gente, incluindo Santa Teresa do Menino Jesus, é personagem central de muitas expressões culturais, artísticas, literárias, cinematográficas... Foi uma mística comprometida no meio dos dramas da Igreja e do mundo do seu tempo.

Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 21-08-2020.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Muda-te, para que não percas quem és!





Evoluir a cada dia garante que a nossa existência tem um sentido, um significado e um valor. Somos únicos, também pela forma como fazemos da nossa vida um caminho.

Quem se julga perfeito e sem necessidade de mudar algo em si, perde a sua identidade e desperdiça vida.

Tempos diferentes exigem respostas novas. Nenhuma solução é boa quando serve para vários problemas. A inteligência é a capacidade de encontrar a forma adequada de enfrentar cada desafio. Do mais vulgar ao mais extraordinário.

Ser humano é ser capaz de ir fabricando chaves sem fim para todas as portas que encontramos no nosso caminho.

Quem julga que a mesma chave serve para muitas portas, acaba por deixar de estar atento à beleza única de cada coisa, acaba por desistir de se admirar, de se deixar maravilhar. Parece que vive, mas não é uma vida plena.

Nós precisamos do mundo e o mundo precisa de nós, é preciso que estejamos em diálogo contante, numa espécie de respiração onde se sucedem o dar e o receber. Mas sem monotonia, porque a vida é sempre nova, a que brota do fundo de nós e a de tudo o que nos rodeia.

E é nestes encontros sempre únicos que vamos decidindo ser quem somos, escolhendo-nos através das nossas decisões. O que sentir, o que pensar, o que dizer, o que calar, o que fazer, como o fazer… tudo nos faz.

Julgar que está tudo bem como está e que, por isso, já não há nada a fazer, é desistir de viver. Porque ainda que esteja tudo bem, há que cuidar de que assim se conserve por mais tempo. Que dure. A vida é uma eternidade viva.

A vida quer viver… e vive. Mesmo quando nós não estamos atentos.

Cabe-nos escolher entre bater as asas e voar ou… cair.

José Luís Nunes Martins

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Quando é que arriscaremos com o coração?



Quando é que arriscaremos com o coração? Quando é decidiremos partir em direção àquilo que realmente nos move? Não adianta arriscar somente na vida. Não adianta chegar mais longe se não nos levarmos por inteiro nesta caminhada. Não adianta construirmos tudo e mais alguma coisa se não nos deixarmos ficar pelas nossas obras.

Quando é que arriscaremos com o coração? Quando é que lhe daremos ouvidos? O adiamento não o silenciará. O adiamento levará a uma mera ilusão de que tudo está feito, de que estamos finalizados. Deixarmos que o coração nos dê as coordenadas da nossa viagem, não nos trará todas as certezas, mas confirmar-nos-á na vida. Dar-nos-á a saída para a nossa verdadeira plenitude.

Quando é que arriscaremos com o coração? Quando é que nos desprenderemos do medo? Talvez esteja na hora de o enfrentarmos e de o levarmos como um indicador de viagem capaz de nos alertar, mas não de nos paralisar. É possível caminhar com medo. É possível encontrarmo-nos com medo, porque ele nos faz sentir vivos e cientes do que já percorremos, mas não somos convidados a ficar nele. Somos, isso sim, incitados a superarmo-nos.

Quando é que arriscaremos com o coração? Quando é que nos deixaremos encontrar pelo amor? O amor que permanece. O amor que ensina a amar e a ser amado. O amor que fala de como tudo pode recomeçar. O amor que faz rebolar as pedras da nossa vida. O amor que nos faz ser luz terna e suave e que nos faz chegar cada vez mais longe.

Quando é que arriscaremos com o coração? Quando é que deixaremos que toda a nossa história seja contada por um simples olhar?


Emanuel António Dias

terça-feira, 18 de agosto de 2020

O mal seduz com as aparências





A felicidade depende muito das nossas escolhas interiores. Escolher bem é escolher o bem, mesmo quando isso implica deixar outras boas hipóteses de fora. Tão importante quanto escolher entre o bem e o mal é aprender a optar entre vários bens.

Quem faz o seu caminho com verdade e o percorre com paz é feliz. Apesar de todos os sofrimentos, dores e tristezas que o envolvem. É feliz porque a felicidade não é uma alegria aparente, mas sim algo que se semeia, floresce e frutifica no mais fundo do nosso coração. A felicidade mora aí, onde os olhos de pouco nos servem. A verdade murmura, por isso é quase sempre uma excelente opção fechar os olhos para a escutar melhor!

Há quem prefira viver a fingir. Com medo de ser frágil e pequeno, como se fosse o único a sê-lo! Somos todos bem mais fracos do que parecemos. E a nossa coragem para sermos melhores e mais fortes alimenta-se da humildade de aceitarmos as nossas cobardias e fraquezas.

Em teoria, é simples: primeiro, distinguir a verdade das aparências e, depois, escolher a verdade.

As infelicidades mais profundas são as de quem, tendo escolhido mal, não se arrepende e/ou não se perdoa. Como se não houvesse espaço nem tempo para se redimir. Ora, a existência humana é vivida neste tempo passageiro, mas também o é na eternidade, de onde este período faz parte. Assim, o plano da verdade é muitíssimo maior do que o das aparências. Nada do que importa se esgota aqui e agora.

Para muitos, haver mais vida é quase uma má notícia, na medida em que os obriga a repensar as suas escolhas e critérios. A assumir e a corrigir erros do passado, que se arrastam e os perseguem, porque, afinal, nunca deixaram de ser importantes. A verdade da vida também nos obriga a refletir sobre o que devemos querer e fazer hoje mesmo, não em ordem ao imediato, mas ao longo prazo…

Tal como hoje colhemos o que semeámos há muito, importa que sejamos capazes de escolher os caminhos que nos levam mais longe e mais alto. Uma certeza há: não são os mais fáceis.

Os males habitam nas aparências, com promessas de paixão a curto prazo. A verdade é a casa do bem, de onde se pode sentir a brisa de um amor sem fim.


José Luís Nunes Martins



segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Dia do Religioso/a Consagrado/a



Neste dia da Assunção de Nossa Senhora, dia do Religioso/a Consagrado/a, queremos convidá-lo/la a rezar conosco, durante um ano pela canonização da Bem-aventurada Ana Maria Javouhey. Supliquemos, também, as graças de Deus por intercessão de Nossa Senhora da Assunção pelo fim da Pandemia.

O que é que sentimos?



O que é que sentimos? O que é que sentimos quando bem longe de nós o mundo parece estar a desabar? Catástrofes destroem a vida de tantos e tantas. Explosões e guerras retiram o lar de quem grita por uma liberdade plena. Interesses mundanos roubam a possibilidade de muitos virem a ter uma refeição durante o seu dia.

O que é que sentimos? O que é que sentimos quando a miséria e o desastre não é connosco? É que as partilhas e os likes ainda não instauram a paz, nem mudam as mentalidades tantas vezes embebidas no ódio e na vingança. É que a nossa falta de interesse não atenua, nem elimina os problemas daqueles que são obrigados a fugir para pelo menos sobreviverem.

O que é que sentimos? O que é que sentimos quando nos chegam imagens de crianças esquecidas por todos nós? Continua a ser roubada a infância a muitas delas. Continua a ser eliminada a possibilidade de poderem vir a sonhar com o seu futuro. De poderem rir e brincar sem se preocuparem com as suas vidas e com as vidas daqueles que amam.

O que é que sentimos? O que é que sentimos quando um sem abrigo nos aborda? Saímos de peito cheio a reclamar pelas suas opções de vida ou entramos verdadeiramente nas suas vidas? É sempre muito mais fácil ficar do lado de fora. Ficar do lado em que não se tem de sentir o cheiro. Ficar do lado em que as nossas entranhas não têm de se contorcer por tantas histórias de vida desalinhadas por tantos acontecimentos.

O que é que sentimos? O que é que sentimos quando Lhe levamos tudo isto em oração? Como é que Lhe falamos dos outros? Como é que Lhe pedimos pelos outros? É verdade que muitos de nós têm os seus problemas, as suas dificuldades e as suas dores que também merecem ser escutadas e olhadas, mas encontremos nas nossas feridas a capacidade de sabermos pedir pelo outro.

O que é que sentimos quando as palavras não nos chegam e a nossa humanidade nos confronta com tamanha fragilidade? Espero que sintamos tudo isto com empatia e compaixão e lhes deixemos falar ao nosso coração!


Emanuel António Dias

domingo, 16 de agosto de 2020

Misericórdia de Deus




A liturgia do 20º Domingo do Tempo Comum reflecte sobre a universalidade da salvação. Deus ama cada um dos seus filhos e a todos convida para o banquete do Reino.
Na primeira leitura, Jahwéh garante ao seu Povo a chegada de uma nova era, na qual se vai revelar plenamente a salvação de Deus. No entanto, essa salvação não se destina apenas a Israel: destina-se a todos os homens e mulheres que aceitarem o convite para integrar a comunidade do Povo de Deus.
A Igreja é a comunidade do Povo de Deus. Todos os seus membros são filhos do mesmo Deus e irmãos em Jesus, embora pertençam a raças diferentes, a culturas diferentes e a extractos sociais diferentes. No entanto: todos são lá acolhidos da mesma forma? O rico e o pobre são sempre tratados da mesma forma nas recepções das nossas igrejas? Aqueles que têm comportamentos considerados social ou religiosamente incorrectos são sempre tratados com amor e acolhidos com respeito nas nossas comunidades cristãs, ou são tratados como cristãos de segunda?
O Evangelho apresenta a realização da profecia do Trito-Isaías, apresentada na primeira leitura deste domingo. Jesus, depois de constatar como os fariseus e os doutores da Lei recusam a sua proposta do Reino, entra numa região pagã e demonstra como os pagãos são dignos de acolher o dom de Deus. Face à grandeza da fé da mulher cananeia, Jesus oferece-lhe essa salvação que Deus prometeu derramar sobre todos os homens e mulheres, sem excepção.
Se Deus não discrimina ninguém, mas aceita acolher à sua mesa todos os homens e mulheres, sem distinção, porque não havemos de proceder da mesma forma? Particular cuidado e atenção devem merecer-nos os imigrantes que não falam a nossa língua, que não têm casa, que não têm trabalho, que sentem a ausência da família e dos amigos, que são perseguidos pelas redes que exploram o trabalho escravo... O convite que Deus nos faz é que vejamos em cada pessoa um irmão, independentemente das diferenças de cor da pele, de nacionalidade, de língua ou de valores.
A segunda leitura sugere que a misericórdia de Deus se derrama sobre todos os seus filhos, mesmo sobre aqueles que, como Israel, rejeitam as suas propostas. Deus respeita sempre as opções dos homens; mas não desiste de propor, em todos os momentos e a todos os seus filhos, oportunidades novas de acolher essa salvação que Ele quer oferecer.
Este texto convida-nos - implicitamente - a não nos arvorarmos em juízes dos nossos irmãos. Por um lado, porque o comportamento tolerante de Deus nos convida a uma tolerância semelhante; por outro, porque aquilo que nos parece estranho e reprovável pode fazer parte, em última análise, dos projectos de Deus.


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sábado, 15 de agosto de 2020

Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria

https://www.youtube.com/watch?v=nHubN0VoGl0


Bendita és tu, Maria! Hoje, Jesus ressuscitado acolhe a sua mãe na glória do céu… Hoje, Jesus vivo, glorificado à direita do Pai, põe sobre a cabeça da sua mãe a coroa de doze estrelas

Primeira leitura: Maria, imagem da Igreja. Como Maria, a Igreja gera na dor um mudo novo. E como Maria, participa na vitória de Cristo sobre o Mal.

Salmo: Bendita és tu, Virgem Maria! A esposa do rei é Maria. Ela tem os favores de Deus e está associada para sempre à glória do seu Filho.

Segunda leitura: Maria, nova Eva. Novo Adão, Jesus faz da Virgem Maria uma nova Eva, sinal de esperança para todos os homens.

Evangelho: Maria, Mãe dos crentes. Cheia do Espírito Santo, Maria, a primeira, encontra as palavras da fé e da esperança: doravante todas as gerações a chamarão bem-aventurada!

Rezar com Maria.
Ela está ao nosso lado para nos levar na oração, como uma mãe sustenta a palavra balbuciante do seu filho. Na glória de Deus, na qual nós a honramos hoje, ela prossegue a missão que Jesus lhe confiou sobre a Cruz: “Eis o teu Filho!” Rezar com Maria, mais que nos ajoelharmos diante dela, é ajoelhar-se ao seu lado para nos juntarmos à sua oração. Ela acompanha-nos e guia-nos na nossa caminhada junto de Deus.

Rezar como Maria.
Aprendemos junto de Maria os caminhos da oração. Na escola daquela que “guardava e meditava no seu coração” os acontecimentos do nascimento e da infância de Jesus, nós meditamos o Evangelho e, à luz do Espírito Santo, avançamos nos caminhos da verdade. A nossa oração torna-se acção de graças no eco ao Magnificat. Pomos os nossos passos nos passos de Maria para dizer com ela na confiança: “que tudo seja feito segundo a tua Palavra, Senhor!


“Nós Te bendizemos, Deus do universo, porque pelo teu Filho ainda pequeno e pela sua mãe, Maria, visitaste o teu povo, vieste até nós. Felizes aqueles que acreditam no cumprimento da tua Palavra.
Nós Te pedimos pelas nossas comunidades cristãs, encarregadas, como Maria, de levar Cristo ao mundo. Como fizeste por ela, guia-nos pelo teu Espírito Santo”.

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Assunção de Nossa Senhora | 15 de agosto

Embora com diferentes denominações a festa da Assunção/Ascensão de Maria é normalmente comemorada no dia 15 de Agosto pelo mundo cristão.


Arronches homenageia  Padroeira, Nossa Senhora da Assunção, este sábado, dia 15, às 12:00h, com uma missa solene.

Este ano, em vez da tradicional procissão e programa festivo , que não se realizará devido à pandemia, a Igreja Matriz permanecerá aberta durante a tarde para que os fiéis possam vir homenagear Nossa Senhora e apresentar Lhe as suas orações .

Esta foi a forma encontrada pela Paróquia, que não quis deixar de efetuar as celebrações em honra de Nossa Senhora da Assunção, embora em moldes especiais, de forma a garantir as condições de segurança, mesmo com as necessárias restrições.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

UM JOVEM DA JOC - O PRIMEIRO SANTO ESCOTEIRO


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Marcel Callo é mais um dos jovens citados no documento conclusivo do Sínodo que o Papa Francisco dirigiu aos jovens. Marcel foi alguém que se deu generosamente para deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrou. Nasceu em Rennes, França, a 6 de Dezembro de 1921, numa família católica de nove filhos. Foi acólito, ingressou no Escotismo. Este marcou para sempre a sua formação cristã. Por conselho do seu Assistente religioso, entrou na Juventude Operária Católica, na JOC. Aos 12 anos, tornou-se aprendiz numa gráfica, ficou a trabalhar como tipógrafo. Ajudado pelo grupo e fortalecido pela oração, pela dinâmica sacramental e por uma ação apostólica concebida segundo a metodologia daqueles Movimentos, testemunhou a sua fé no mundo do trabalho, permaneceu fiel à promessa de escoteiro, sabia orientar os azimutes do percurso existencial, a bússola dos ideais jamais o deixou perder o norte. Tinha a consciência de que é na Igreja que nos tornamos cristãos, é com a Igreja que poderemos ajudar a construir uma sociedade intelectualmente mais habitável. Amando a vida e gostando de viver, lutava contra as solicitações menos saudáveis, contra tudo quanto o pudesse tornar menos livre, tendo em Jesus o seu primeiro e grande Amigo a cuja amizade procurava corresponder. Por isso, apesar do sofrimento e das contrariedades que teve de suportar, viveu feliz, de bem com a vida, sabia em quem confiava, tudo fazia para que os outros pudessem fazer a experiência dessa amizade com Jesus. Até, na Quaresma, ia de porta em porta, com outros elementos da JOC, a convidar as pessoas para que celebrassem convenientemente a Páscoa de Jesus, a festa por excelência dos cristãos. Certo dia, a mãe perguntou-lhe se ele não teria vocação para o sacerdócio, como seu irmão mais velho. Ele respondeu: "Não me sinto chamado ao sacerdócio. Eu acho que faço mais coisas boas ao permanecer no mundo". Aos vinte anos apaixonou-se por uma jovem, fazendo do seu namoro um verdadeiro itinerário de fé. Rezavam juntos, participavam juntos na Eucaristia, respeitavam-se mutuamente, tencionavam casar-se no mesmo dia em que o seu irmão seria ordenado sacerdote.
Com o armistício de 1940, com a ocupação da França pela Alemanha nazi, Marcel foi inscrito no serviço de trabalho obrigatório. Se havia quem não estivesse de acordo e escolhesse a resistência, Marcel foi para a Alemanha: “Eu vou como missionário, para ajudar os outros a resistir”. Não esqueceu a sua cruz da promessa de escoteiro e o seu emblema da JOC. Associou-se a alguns amigos e ofereceram-se como 'missionários de estação de comboios', onde ajudaram muita gente a escapar para os territórios não ocupados. Não demorou em procurar uma comunidade cristã, onde pudesse participar na Eucaristia - a sua maior alegria!, ele mesmo se fez eucaristia!. Aí, traduzia em francês para os seus compatriotas, participava e organizava grupos de ação diversa em prol da comunidade, desde o futebol ao teatro, da liturgia aos doentes e necessitados.
Numa fábrica de armamento, na Alemanha, onde eram forçados a trabalhar onze horas por dia, com fome, frio e desconforto de toda a espécie, mesmo aí, Marcel encontrou espaço para agir. Sem se deixar abater, meteu mãos à obra, descobriu outros elementos da JOC e dos escoteiros, organizou grupos de ação. Procurou e encontrou, entre os deportados, um padre para celebrar a Eucaristia e confessar quem o desejasse. Sem receio, convida outros a participar nos atos religiosos, levando muitos à conversão, pela palavra e pelo testemunho. Em qualquer lugar que se encontrasse e fossem quais fossem as circunstâncias, Marcel mantinha sempre vivo o entusiasmo, a fé, a esperança e o amor a todos. A todos procura apaixonar por Jesus Cristo à boa maneira dos cristãos da primeira hora, sem nada que o fizesse desanimar. Todos os dias procurava novas formas de testemunhar Jesus e ajudar os outros. Assobiando a divisa dos escoteiros ou da JOC, esse era o sinal para que todos fizessem, cada um para si, uma pequena oração. Esta intensa atividade de Marcel caiu sob suspeita, até a correspondência com a sua noiva lhe era intercetada. Em 19 de Abril de 1944, com os seus amigos de luta, acabou por ser preso pela Gestapo, por ser "muito católico" e ativo. Da prisão, escreveu a seu irmão, recentemente ordenado sacerdote, dizendo-lhe: “Felizmente, há um amigo que não me deixa um momento e que sabe como me apoiar e me consolar. Com ele, os momentos mais dolorosos e perturbadores são superados. Nunca vou agradecer a Cristo o suficiente por me indicar o caminho que eu agora sigo”.
A 7 de outubro, um grupo de pessoas foi enviado para o campo de extermínio de Mauthausen, Marcel, passando pelo campo de Flossenbuerg, também. Esteve no subcampo de Gusen II, onde se construíam partes de aviões de combate em instalações subterrâneas. As péssimas condições destes lugares aliadas à brutalidade, à subnutrição e aos forçados trabalhos, trabalhos dificílimos pelo frio e a humidade, tornavam os prisioneiros presa fácil de gangrenas, diarreias, úlceras, tuberculose... Marcel adoeceu com tuberculose, em Janeiro de 1945. Na enfermaria, amontoavam-se aos cinco por cama. No último dia, Marcel caiu nas latrinas, regressou à enfermaria. Quem o levou nos braços testemunhou a expressão de felicidade do seu olhar moribundo. Tinha a aparência de um santo, um olhar de amigo sereno, um suave sorriso que a todos impressionava. Faleceu a 19 de março de 1945, com vinte e três anos de idade. Assumindo heroicamente a pesada cruz de cada dia, o seu testemunho de vida e a sua dedicação aos outros foram reconhecidas não só pelos cristãos da Alemanha, mas também pelos Bispos da Alemanha e Áustria.
Foi beatificado por São João Paulo II a 4 de Outubro de 1987. Foi o primeiro escoteiro no mundo a ser beatificado. Celebra-se a 19 de Abril. No processo de beatificação de Marcel, um prisioneiro que se converteu depois da guerra, declarou: "Se eu, não-crente, vi milhares de prisioneiros morrerem, e era atingido pelo olhar de Marcel, é porque havia algo extraordinário sobre ele: para mim era uma revelação: o seu olhar expressava uma profunda convicção que levava à felicidade. Era um ato de fé e esperança para uma vida melhor. Eu nunca vi em nenhum moribundo, e já vi milhares deles, um olhar como o dele: pela primeira vez diante de um deportado, vi uma marca que não era apenas o desespero".
Marcel, se nos lembra o horror dos campos de extermínio, faz-nos ter saudades daqueles Movimentos Apostólicos que apostavam fortemente na formação humana e cristã dos seus membros, que os preparavam para o compromisso eclesial e social, vivendo habitados por Cristo. Preparados e estimulados a meterem mãos à obra na transformação da sociedade, a todos ajudavam, a todos incentivavam ao bem, sem medo, com a valentia do Espírito.
Quanto bem podem fazer os Movimentos eclesiais se forem levados a sério!...
A determinação deste jovem leigo, se nasceu no seio duma família cristã, fortaleceu-se naqueles Movimentos que escolheu para se integrar e crescer, onde a formação era, de facto, uma prioridade para depois se atuar nos ambientes sociais e laborais. O seu testemunho interpela-nos, faz-nos pequeninos, envergonha-nos. Como refere o Papa Francisco, “muitos santos jovens têm feito brilhar os traços de idade juvenil em toda a sua beleza e, na sua época, foram verdadeiros profetas da mudança; o seu exemplo mostra de que são capazes os jovens quando se abrem ao encontro com Cristo” (CV49).

D. Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 14-08-2020.