terça-feira, 31 de agosto de 2021

O que devemos rezar quando o padre eleva a hóstia e o cálice?

 

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Antoine Mekary | ALETEIA


Para viver esse momento ainda mais profundamente na fé


É um costume piedoso na Igreja Católica: fazer uma breve oração interior no momento em que o padre eleva a hóstia consagrada e o cálice na Missa.

De fato, é nesse momento que a hóstia, pelo poder de Deus, se torna o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Jesus Cristo.


Aqui estão algumas das orações mais comuns a fazer naquele momento para enfatizar o acontecimento profundo e milagroso que está misteriosamente se realizando diante de nossos olhos. A primeira é a mais comum. Mas você também pode rezar internamente as outras breves preces. Veja:


Meu Senhor e meu Deus;

Senhor, eu creio, mas aumentai a minha fé;

Meu Senhor e meu Deus, eu vos adoro hóstia consagrada, onde está o verdadeiro Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo vivo e realmente como está no Céu;


Meu Senhor e meu Deus, eu vos adoro cálice consagrado, onde está o verdadeiro Sangue, Corpo, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo vivo e realmente como está no Céu.


Vale dizer que a Igreja recomenda que, quando o padre faz o rito de elevação da hóstia e do cálice, a assembleia deve permanecer olhando para o sacerdote. A inclinação da cabeça e a breve prece pessoal devem acontecer quando o padre faz a genuflexão e coloca a hóstia (e depois o cálice) novamente sobre o altar.


https://pt.aleteia.org/

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Passar o tempo culpar os outros é perder tempo» – Papa Francisco


Trabalho do Movimento Laudato Sí foi valorizado, na Praça de São Pedro, no contexto do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, no dia 1 de setembro

Foto EPA/Lusa



Cidade do Vaticano, 29 ago 2021 (Ecclesia) – O Papa Francisco afirmou hoje que “não é cristão” passar o tempo a “contaminar o mundo com reclamações” e disse que culpar os outros é “perder tempo”.

“Passar o tempo culpar os outros é perder tempo. Torna-te aborrecido, azedo e manténs Deus fora do teu coração”, disse o Papa na oração mariana do ângelus, este domingo.

No encontro com os peregrinos presentes na Praça de São Pedro e quantos acompanhavam o Papa pelos meios de comunicação, Francisco disse que cada um tem de se libertar de estar sempre a “culpar os outros”, como as crianças “que sempre dizem ‘não fui eu, foi o outro’”.

O Papa desafiou a “não desperdiçar o tempo a contaminar o mundo com reclamações”, lembrando que “isso não é cristão”, e convidou cada um a “olhar a vida e o mundo” a partir do seu coração.

“Se olharmos dentro de nós, encontraremos quase tudo o que detestamos fora. E se com sinceridade pedirmos a Deus para purificar o coração, aí sim começaremos a tornar o mundo mais limpo”, disse o Papa


“Há um modo infalível para vencer o mal: começar a derrotá-lo dentro de nós”, afirmou.

Francisco sugeriu a cada pessoa para fazer o exercício de “acusar-se a si mesmo”, garantindo que “faz bem”, quando se consegue fazê-lo.

“Com frequência pensamos que o mal vem sobretudo de fora: dos comportamentos dos outros, de quem pensa mal de nós, da sociedade”, acrescentou.

Francisco alertou para o engano de pensar que tudo o que acontece seja culpa dos outros, da sociedade, “de quem governa, do azar e assim por adiante”.

“Parece que os problemas vêm sempre de fora. E passamos o tempo a repartir as culpas”, acrescentou.

O Papa afirmou que “não se pode ser verdadeiramente religioso na lamentação” e que “a ira, o ressentimento, a tristeza fecham as portas a Deus”.

No encontro dominical com peregrinos e turistas, a partir da Janela do Palácio Apostólico, e após ter pedido “oração e jejum” pelo Afeganistão, o Papa referiu-se às populações venezuelanas atingidas por inundações e lembrou “quem sofre por causa desta calamidade”, dirigindo depois uma saudação ao “Movimento Laudato Sí”.

“Obrigado pelo vosso empenho em favor da nossa casa comum, de momo especial por ocasião do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação”, disse o Papa, acrescentando que “o grito da terra e o grito dos pobres estão a tornar-se sempre mais graves e alarmantes e pedem uma decisão urgente para transformar esta crise em oportunidade”.

O Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação assinala-se, em cada ano, no dia 1 de setembro, dando início a iniciativas ecuménicas que, até ao dia 4 de outubro, celebram “o tempo da criação” em espírito ecuménico.

PR

domingo, 29 de agosto de 2021

A LEI

 

  
(3) C2122 A Lei - YouTube

A liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum propõe-nos uma reflexão sobre a "Lei". Deus quer a realização e a vida plena para o homem e, nesse sentido, propõe-lhe a sua "Lei". A "Lei" de Deus indica ao homem o caminho a seguir. Contudo, esse caminho não se esgota num mero cumprimento de ritos ou de práticas vazias de significado, mas num processo de conversão que leve o homem a comprometer-se cada vez mais com o amor a Deus e aos irmãos.
A primeira leitura garante-nos que as "leis" e preceitos de Deus são um caminho seguro para a felicidade e para a vida em plenitude. Por isso, o autor dessa catequese recomenda insistentemente ao seu Povo que acolha a Palavra de Deus e se deixe guiar por ela.
Nós os crentes comprometidos andamos sempre muito ocupados a fazer coisas bonitas no sentido de mudar o mundo, num activismo por vezes exagerado e que, aos poucos, nos vai fazendo perder o sentido da nossa acção e do nosso testemunho. No meio dessa actividade frenética, temos de encontrar tempo para escutar Deus, para meditar as suas propostas, para repensar as suas leis e preceitos, para descobrir o sentido da nossa acção no mundo. Sem a escuta da Palavra, a nossa acção torna-se um "fazer coisas" estéril e vazio que, mais tarde ou mais cedo, nos leva a perder o sentido do nosso testemunho e do nosso compromisso.
No Evangelho, Jesus denuncia a atitude daqueles que fizeram do cumprimento externo e superficial da "lei" um valor absoluto, esquecendo que a "lei" é apenas um caminho para chegar a um compromisso efectivo com o projecto de Deus. Na perspectiva de Jesus, a verdadeira religião não se centra no cumprimento formal das "leis", mas num processo de conversão que leve o homem à comunhão com Deus e a viver numa real partilha de amor com os irmãos.
É preciso mantermo-nos livres e críticos em relação às "leis" que nos são propostas, sejam elas leis civis ou religiosas... Elas servem-nos e devem ser consideradas se nos ajudarem a ser mais humanos, mais fraternos, mais justos, mais comprometidos, mais coerentes, mais "família de Deus"; elas deixam de servir se geram escravidão, dependência, injustiça, opressão, marginalização, divisão, morte. O processo de discernimento das "leis" boas e más não pode, contudo, ser um processo solitário; mas deve ser um processo que fazemos, com o Espírito Santo, na partilha comunitária, no confronto fraterno com os irmãos, numa procura coerente e interessada do melhor caminho para chegarmos à vida plena e verdadeira.
A segunda leitura convida os crentes a escutarem e acolherem a Palavra de Deus; mas avisa que essa Palavra escutada e acolhida no coração tem de tornar-se um compromisso de amor, de partilha, de solidariedade com o mundo e com os homens.
A nossa religião, sem a escuta atenta e comprometida da Palavra de Deus, pode facilmente tornar-se o mero cumprimento de ritos, a fidelidade a certas práticas de piedade, uma tradição que herdámos e na qual nos instalámos, uma prática que torna mais fácil a nossa inserção num determinado meio social, uma alienação que nos faz esquecer certos dramas da nossa vida... É a Palavra de Deus que, propondo-nos uma escuta contínua de Deus e dos seus projectos e um compromisso continuamente renovado com a construção do mundo, dá sentido a toda a nossa experiência religiosa, transformando-a numa verdadeira experiência de vida nova, de vida autêntica.

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sexta-feira, 27 de agosto de 2021

O 1.º DE SETEMBRO E A PEGADA ECOLÓGICA


Vivemos um tempo de grande apreço pelos direitos, e bem. Mas direitos e deveres são correlativos, interdependentes. Assim como ninguém deve negar aos outros os seus direitos, também há deveres que ninguém pode negar a si mesmo, não os pode mandar às malvas, nem adiar ou delegar. São imperativos categóricos para todos e cada um. E hoje refiro-me ao dever da educação ou conversão ambiental. A Pegada Ecológica per capita em Portugal, segundo o Relatório Planeta Vivo, aumentou significativamente entre 2018 e 2020. Depois de ter ocupado o 66.º lugar mundial, o país posiciona-se agora, infelizmente, no 46º lugar do ranking mundial. Isto significa que são necessários 4,1 hectares de terra por pessoa, ou seja, para manterem o seu atual estilo de vida, os portugueses precisam de 2,52 planetas.
Como sabem, o Papa Francisco, em 6 de agosto de 2015, instituiu, na Igreja Católica, o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. E ao estabelecê-lo no 1º dia de setembro, fê-lo num gesto verdadeiramente ecuménico. Já em 1989, o Patriarca ecuménico Bartolomeu I o tinha estabelecido para a Igreja Ortodoxa precisamente nesse dia. A par, Francisco providenciou para que se fizessem os contactos necessários com o Patriarcado Ecuménico e outras realidades ecuménicas, para que esse Dia Mundial se tornasse, de facto, um caminho para todos os que creem em Cristo e se cuidasse também duma possível coordenação com as iniciativas do Conselho Mundial de Igrejas. Será um ‘Tempo da Criação’ que muitas comunidades prolongam até ao dia 4 de outubro, dia da Festa de São Francisco de Assis.
Sendo um dever que não pode ser opcional nem secundário, Francisco reconhece que alguns cristãos, até muito comprometidos e piedosos, frequentemente escarnecem das preocupações pelo meio ambiente, outros não se decidem a mudar os seus hábitos, falta-lhes a conversão ecológica e a consciência de que somos cuidadores da obra de Deus (cf. LSi, 217). Ele pede aos cristãos que, neste dia, “em harmonia com as exigências e as situações locais, a celebração seja devidamente organizada com a participação de todo o Povo de Deus: sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos”. E que se implementem “oportunas iniciativas de promoção e de animação, para que esta celebração anual seja um momento forte de oração, reflexão, conversão e uma oportunidade para assumir estilos de vida coerentes”.
Como cristãos – afirma Francisco – “queremos oferecer a nossa contribuição à superação da crise ecológica que a humanidade está a viver”. Coisa que não existirá verdadeiramente “sem uma moção interior que impele, motiva, encoraja e dá sentido à ação pessoal e comunitária. Temos de reconhecer que nós, cristãos, nem sempre recolhemos e fizemos frutificar as riquezas dadas por Deus à Igreja, nas quais a espiritualidade não está desligada do próprio corpo nem da natureza ou das realidades deste mundo, mas vive com elas e nelas, em comunhão com tudo o que nos rodeia (LSi, 216). A crise ecológica chama-nos, pois, a uma profunda e sincera conversão espiritual. Urge ouvir os gritos da Terra e o clamor dos pobres. A consciência da gravidade da crise cultural e ecológica precisa de traduzir-se em novos hábitos, precisa de uma verdadeira conversão ecológica. Não se trata de ideologizar o debate ambiental por má-fé ou ignorância, trata-se de lutar pela sustentabilidade ou sobrevivência. Não se trata apenas de filosofar ou denunciar o que está mal, trata-se de assumir atitudes diversas e, por exemplo, renunciar àquilo que o mercado oferece e promove compulsivamente como se nada tivesse a ver com isso. As mudanças nos hábitos de consumo são determinantes. De nada serve mostrar grande sensibilidade ecológica e lutar pela defesa do meio ambiente se se vive afogado em compras inúteis, gastos supérfluos e consumo obsessivo. Também não basta a informação científica e a existência de leis para limitar os maus comportamentos se as famílias, as escolas, as academias, as universidades, os meios de comunicação social, a catequese e todas as instâncias não se preocuparem com uma séria educação ambiental. É preciso adquirir convicções, vontade própria e motivações, virtudes sólidas, transformação pessoal, verdadeiro compromisso ecológico. Como afirma Francisco, “é muito nobre assumir o dever de cuidar da criação com pequenas ações diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz de motivar para elas até dar forma a um estilo de vida. A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias… Tudo isto faz parte duma criatividade generosa e dignificante que põe a descoberto o melhor do ser humano” (cf. LSi, 211)
A disciplina e a sobriedade pessoal libertam, educam, constroem. Praticar maus hábitos só porque se olha para o lado e se presume que ninguém está a ver o mal que se faz, é hipocrisia refinada. “Não há criatura que possa esconder-se à presença de Deus. Tudo fica nu e descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas” (cf. Heb 4, 13).
A cidadania ecológica, se vive preocupada e denuncia a crise ambiental, não pode viver de braço dado com o desleixo individual em relação às pequenas ações. Qualquer gesto, por mais insignificante que nos pareça, pode marcar a diferença e contribuir para a melhoria da situação. A grandeza de cada um está em fazer com amor as mais pequeninas coisas de cada dia. O respeito pela natureza nasce e alimenta-se de pequenos gestos e atitudes. E ninguém pode crer, agir e fomentar a ideia de que a natureza sempre se renova ou regenera.
Assim como à política e à economia se pede que reconheçam os seus erros, mudem de direção e cuidem do bem comum, também não faltam conselhos sobre o que cada um pode e deve fazer no seu dia a dia.
Avaliando com seriedade o nosso desempenho nesse campo, vivamos o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, prolongando-o até ao dia 4 de outubro, dia da Festa de São Francisco de Assis.
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 27-08-2021.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Sem amor, o teu coração é um deserto


É no coração que se sente a felicidade e é aí que mais dói a solidão. Uma ferida sempre aberta que sente tudo com grande intensidade, chegando a fazer-nos chorar de alegria, de tristeza e também, muitas vezes, sem porquê. Quando amamos, o espaço e o tempo sentem-se como coisas ainda mais concretas do que as pedras.

É possível amarmos sem que quem amamos saiba do nosso amor. Talvez até seja verdade que só ama quem é amado, mesmo não sabendo quem o ama nem quanto o assim quer feliz.

Sem amor, ninguém é feliz, mas por causa dele, cada coração tem em si o céu e o inferno. Talvez a nossa vida seja uma história de amor do primeiro ao último dia, passando por todo o tipo de paisagens. Os tempos aproximam-nos ou afastam-nos, mas nada podem perante o que nos une aos que amamos.

É o amor que nutrimos por alguém que o faz sempre presente na nossa vida. Assim também, cada um de nós habita no coração de quem nos ama, mesmo quando nos julgamos sós e abandonados.

Há corações doentes, ou por não se julgarem capazes de abraçar a dor de amar, ou por não compreenderem como é possível amar sem se sentir amado… A existência plena implica o sofrimento inevitável que decorre de sermos vida e vida em abundância.

Quem não ama, não vive. Não há maior infelicidade do que a de quem não ama.

Ser só é não ser.

O amor é uma árvore com duas raízes, uma no coração de quem ama e outra no de quem é amado. E assim é, mesmo quando quem é amado se julga sem ninguém que lhe queira o maior bem.

Ama, deixa que a vontade que a vida tem de si mesma faça brotar em ti as mais belas flores e frutos. Vida em ti, vida para os outros através de ti.


José Luís Nunes Martins


terça-feira, 24 de agosto de 2021

Ó DEUS(es) DE TODA A HUMANIDADE



Senhor, as notícias que nos têm chegado

do Afeganistão, de Moçambique

e de outras paragens no planeta, deixam-nos tristes,

apreensivos e com o coração apertadinho.

Como é possível justificar o ódio e a violência

com base em argumentos religiosos?

Como é possível matar e maltratar pessoas inocentes

com razões baseadas em princípios religiosos?

Como é possível humilhar e marginalizar

meninas e mulheres como se fossem coisas

com legitimações baseadas em textos sagrados?

Temos a certeza de que não é este o mundo que sonhaste

nem a humanidade que criaste por Amor.

Nunca quiseste que nos sentíssemos

uma espécie de computadores ou robôs

programados para fazermos apenas o que Tu queres

e sem liberdade de opinião e expressão.

Arriscaste (já que só ama quem deixa o outro livre)

e vê agora os caminhos duvidosos que temos escolhido…

Em todos os tempos e lugares,

as pessoas acreditaram que Tu existias,

estavas na origem e no fim de todas as coisas

e davas sentido a todas as realidades.

De maneiras bem distintas, todos os povos te prestaram culto,

ergueram templos e viveram a sua fé.

De formas bem diversas te adoraram,

oraram, pediram perdão e deram graças.

A consciência do transcendente foi sendo vivida

e expressada de alguma forma

por todos os homens e mulheres do planeta

e talvez não haja verdadeiramente ateus.

Uns acreditaram que eras um só

e outros acreditaram em várias divindades.

No entanto, é triste ver que há quem mate

em teu nome e que há quem pense

que a sua própria religião é a única que aceitas

e que todos os demais crentes estão fora da verdade

e estão irremediavelmente condenados.

É lamentável que haja pessoas que vivam a fé

de uma forma fundamentalista e fanática

e que se preocupem mais em cumprir exteriormente

os preceitos e rituais do que em olhar os demais

com respeito, tolerância e caridade.

Apesar do muito bem que as instituições religiosas fazem,

deves estar muito dececionado ao ver as religiões

na base de muitas discórdias e guerras no mundo.

Ó Deus(es) de toda a humanidade,

ajuda-nos a ser mais humanos, justos e solidários

e renova-nos o coração para que nos sintamos uma só família.

Que consigamos transformar o mundo em que vivemos

e que o Amor, a paz e o diálogo

assegurem o respeito pela dignidade humana

e sejam as bússolas da felicidade em plenitude.

Amém.


Paulo Costa

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Mais do que em «sonhos ou imagens de grandeza», Deus descobre-se nos «caminhos da vida», afirmou o Papa

Francisco encontrou-se com peregrinos na Praça de São Pedro, anotando a presença de «muitos países»



Cidade do Vaticano, 22 ago 2021 (Ecclesia) – O Papa Francisco afirmou hoje no encontro com peregrinos na Praça de São Pedro, em Roma, que Deus não se descobre em “sonhos ou imagens de grandeza e poder”, mas na relação com a humanidade de Jesus e nos “caminhos da vida” da atualidade.

“Para entrar em comunhão com Deus, andes de observar leis ou cumprir os preceitos religiosos, é preciso viver uma relação real e concreta com Ele. Isto significa que não devemos procurar Deus em sonhos ou imagens de grandeza e poder, mas devemos reconhecê-Lo na humanidade de Jesus e consequentemente na dos irmãos e irmãs que encontramos no caminho da vida”, afirmou o Papa na oração mariana do ângelus.

Francisco anotou a presença de peregrinos de “muitos países” e dirigiu-se especialmente aos jovens presentes, propondo que a experiência de um “longo caminho juntos” ajude cada jovem e cada grupo a trilhar a vida “no caminho do Evangelho”.

No comentário ao Evangelho que é lido nas Missas de Domingo, e mostra a reação dos discípulos após milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, o Papa afirmou que Jesus “é o verdadeiro pão descido do céu, o pão da vida” e revelou que “o pão que Ele dará é a sua carne e o seu sangue”.

“Estas palavras soaram duras e incompreensíveis aos ouvidos do povo, ao ponto de, a partir desse momento, muitos discípulos voltarem para trás, ou seja, deixaram de seguir o Mestre”, lembrou o Papa.

Francisco referiu que as palavras de Jesus suscitaram “um grande escândalo”, porque indicaram que “Deus escolheu manifestar-se e realizar a salvação na debilidade da carne humana” e também hoje a encarnação de Deus pode ser “o que causa escândalo”.

“Deus fez-se carte e sangue: fez-se homem como nós, humilhou-se até carregar sobre si os nossos sofrimentos e o nosso pecado e, por isso, pede-nos que o procuremos não fora da vida e da história, mas na relação com Cristo e com os irmãos”, sublinhou.

“Queridos irmãos, não estranhemos se Jesus Cristo nos põe em crise. Pelo contrário, preocupemo-nos se não nos põe em crise, porque talvez tenhamos diluído a Sua mensagem”, concluiu o Papa Francisco no encontro dominical com peregrinos e turistas presentes na Praça de São Pedro e no que acontece através dos meios de comunicação social, ao meio-dia de cada domingo.

PR

domingo, 22 de agosto de 2021

Palavras de vida eterna

 

   C2121 A quem Iremos - YouTube


A liturgia do 21º Domingo do Tempo Comum fala-nos de opções. Recorda-nos que a nossa existência pode ser gasta a perseguir valores efémeros e estéreis, ou a apostar nesses valores eternos que nos conduzem à vida definitiva, à realização plena. Cada homem e cada mulher têm, dia a dia, de fazer a sua escolha.
Na primeira leitura, Josué convida as tribos de Israel reunidas em Siquém a escolherem entre "servir o Senhor" e servir outros deuses. O Povo escolhe claramente "servir o Senhor", pois viu, na história recente da libertação do Egipto e da caminhada pelo deserto, como só Jahwéh pode proporcionar ao seu Povo a vida, a liberdade, o bem estar e a paz.
O Evangelho coloca diante dos nossos olhos dois grupos de discípulos, com opções diversas diante da proposta de Jesus. Um dos grupos, prisioneiro da lógica do mundo, tem como prioridade os bens materiais, o poder, a ambição e a glória; por isso, recusa a proposta de Jesus. Outro grupo, aberto à acção de Deus e do Espírito, está disponível para seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida; os membros deste grupo sabem que só Jesus tem palavras de vida eterna. É este último grupo que é proposto como modelo aos crentes de todos os tempos.
Na segunda leitura, Paulo diz aos cristãos de Éfeso que a opção por Cristo tem consequências também ao nível da relação familiar. Para o seguidor de Jesus, o espaço da relação familiar tem de ser o lugar onde se manifestam os valores de Jesus, os valores do Reino. Com a sua partilha de amor, com a sua união, com a sua comunhão de vida, o casal cristão é chamado a ser sinal e reflexo da união de Cristo com a sua Igreja.~

  Qual é a minha fé? Cada um de nós pode interrogar-se: posso sinceramente dizer a minha fé com as palavras de Pedro? Se sim, terei, nos próximos dias, a força de a testemunhar junto de uma pessoa que duvida, que procura, ou que contesta a fé cristã? Quais são os meios que tenho para alimentar a minha fé?

https://www.dehonianos.org/

sábado, 21 de agosto de 2021

O DIALETO DOS PAIS E AS DITADURAS IDEOLÓGICAS



Ao longo da História sempre houve promotores de ditaduras e de colonizações culturais e ideológicas. Se não é aqui, é acolá ou mais além. Colonizações, ditaduras, autocracias, teocracias, totalitarismos, autoritarismos, despotismos e todos os quejandos, mesmo que entre si carreguem alguma diferença, venha o diabo e escolha, como soe dizer-se. A quem lhes resiste, impõe-se logo a lei da rolha, do desprezo ou da morte. Os seus promotores logo conseguem uma caterva de seguidores, alguns mais radicais do que eles, para engrossarem as hostes e fazerem valer o seu produto tóxico. Se não vencem pelo bom senso e pela força da razão, acham-se no direito de vencer pela razão da força e seus enfeites. Logo se esmeram em concentrar o poder, em subverter a ordem anterior, em suprimir os espaços de debate e decisão, em influenciar a comunicação social, o poder legislativo e judicial. A par, roubam a liberdade e tentam monopolizar o direito de pensar e decidir, anulam o passado e afunilam o ensino para desconstruir a linguagem, as instituições e a história. Usam a mentira floreada com rebuscado imaginário, afastam os profissionais dos empregos e lugares de prestigio, formatam, desenraízam os jovens das origens culturais e religiosas para, como afirma o Papa Francisco, os ‘homogeneizar’, transformando-os “em sujeitos manipuláveis feitos em série”, causando “uma destruição cultural, que é tão grave como a extinção das espécies animais e vegetais” (cf. CV185-186). Tudo, tudo serve de arma para levar a água ao moinho, mesmo que, para enfeitar todo esse processo, seja preciso borrifá-lo com algumas meias-verdades e alguns mecanismos democráticos. A sofreguidão pelo poder e o bullying ideológico e cultural são, muitas vezes, camaleonicamente apresentados como “saltos civilizacionais” ou como se de direitos humanos se tratasse.
A Sagrada Escritura também nos elucida sobre alguns desses artesãos da História. Sabemos quanto o Povo de Deus, e outros povos, ontem e hoje, sofreram e sofrem pelos desmandos colonizadores e totalitários de alguns dos seus líderes! Não só por ambição do poder ou por causas ideológicas e políticas, também por questões religiosas. Com uma diferença: enquanto, por causas ideológicas ou políticas, alguém, para defender a pele, possa, porventura, fraquejar e dizer que não ao que é sim, ou sim ao que é não, em questões religiosas não é bem assim. Com a fé em Deus, se é fé verdadeira e não meros sentimentalismos religiosos ou pieguices proselitistas, não se jogam interesses, a consciência da presença e a força de Deus levam a antes quebrar que torcer.
O rei Antíoco Epifânio, por exemplo, quis forçar os judeus a adotar os costumes, a cultura e mesmo a religião dos gregos. Para ser mais fácil, tentou subornar e convencer os mais influentes dos judeus a aderir às suas ordens, prometendo amizade e recompensa. A resposta, porém, foi imediata e firme: “Não! Nós não vamos obedecer às ordens do rei”. E se uma musculada perseguição caiu sobre eles, também aumentou e se organizou a resistência na firme convicção de que é “melhor morrer na batalha do que ficar a olhar a desgraça do nosso povo”. Ou, como mais tarde haveriam de dizer Pedro e os Apóstolos, “é mais importante obedecer a Deus do que aos homens” (cf. At 5, 29).
O tempo de perseguição religiosa, porém, é sempre palco de testemunhas radicais da verdade, é cenário de testemunhos heroicos até ao sacrifício da própria vida. É verdade que há “mártires” de muitas outras causas nobres, justas e necessárias, tornando-se inspiração para outros e aos quais muitos devem a liberdade e o bem estar social nesta vida. No entanto, a palavra “martírio” situa-se mais no contexto religioso, faz parte da sua gramática e significa testemunho, aponta para o supremo bem que é a vida eterna. Neste contexto, se a família dos Macabeus, no que respeita à fé, é digna de registo, o episódio duma família de sete filhos não o é menos. Num só dia, a mãe vê torturar e matar cada um dos filhos, à vez, até que, por fim, também ela é torturada e morta. Se há fanatismo religioso e odiosamente doentio que persegue e mata quem não acredita de igual forma, se há, até, quem, habilidosamente manipulado, se torne pessoa bomba (kamikaze) para maiores estragos, há, sem dúvida, nestes processos, muitas outras razões associadas como, por exemplo, fatores culturais, sociais, políticos, psicológicos... São atitudes que não se podem analisar de ânimo leve ou superficialmente. No entanto, e simplificando, uma coisa é perseguir e matar os outros, ou suicidar-se, usando até, ilegitimamente, o nome de Deus para o fazer, outra coisa é suportar com fortaleza o dom do martírio em fidelidade a Deus que é Amor e nos ama infinitamente. Mais tarde, perante tanta perseguição aos cristãos, Tertuliano haveria de dizer que “o sangue dos mártires é semente de cristãos”. Ainda mais perto de nós, São Óscar Romero, sentindo-se perseguido por fomentar a liberdade, a justiça e a paz entre o seu povo, havia dito: “o martírio é uma graça de Deus que eu acho que não mereço, mas se Deus aceita o sacrifício da minha vida, que o meu sangue seja uma semente de liberdade e o sinal de que a esperança será em breve realidade”. Foi assassinado pelo exército salvadorenho enquanto celebrava a Eucaristia em 24 de março de 1980. Hoje, se muitos cristãos continuam a dar um testemunho sem igual no quotidiano da sua vida familiar, social e laboral, outros continuam a dar o supremo testemunho do martírio em defesa da fé em Cristo Jesus, morto e ressuscitado, ao qual estão unidos pela caridade. Foi o que aconteceu, por exemplo, no Domingo passado, no Sudão do Sul. Quando regressavam a casa depois duma celebração numa paróquia dedicada a Nossa Senhora da Assunção, duas religiosas foram mortas numa emboscada.
Mas voltando àquela mãe, é extraordinária a sua coragem e o seu sentido de responsabilidade na educação e perseverança da fé dos filhos. Até ao último momento, amparada pela esperança que tinha no Senhor, e tanto quanto naquela circunstância o podia fazer, não se cansou de exortar os seus filhos a serem fiéis ao Senhor e a não obedecerem ao rei, a serem dignos dos seus antepassados e a reconhecerem Deus que a tudo deu origem. A atitude dos filhos, porém, se consola a mãe, enerva o rei até ao limite, que, aquando do momento da tortura ao último filho, pede mesmo à mãe que lhe dê conselhos para o demover e lhe salvar a vida. Inclinando-se para o filho, a mãe, ludibriando o rei, falou-lhe na sua própria língua, a qual o rei não entendia: “Eu te peço, meu filho: Contempla o céu e a terra e observa todas as coisas que neles há, reconhece que não foi de coisas existentes que Deus as fez e que também o gênero humano tem a mesma origem. Não temas este verdugo, mas sê digno de teus irmãos e aceita a morte, para que eu te reencontre com eles no dia da misericórdia”. Enquanto ela ainda falava, o menino reafirma corajosamente a sua fé, é torturado e morto. Depois dos filhos, foi a vez da mãe.
Em tempos, o Papa Francisco, referindo-se a esta tirânica colonização cultural e ideológica do rei Antíoco, destacava a atitude da mãe. A mãe falava “na língua dos pais”: falava em dialeto, e, por isso, o rei não entendia, o intérprete não compreendia». Hoje “estamos diante de muitas colonizações que querem destruir tudo e começar de novo». Apresentam novos «valores» e dizem que «a história começa aqui», o resto «passou». No entanto, “não existe colonização cultural alguma que possa vencer o dialeto», o dialeto “tem raízes históricas”, a memória e o dialeto defendem-nos sempre.
A fé também se transmite em dialeto, afirmou Francisco: “A fé verdadeira aprende-se dos lábios da mãe, o dialeto que só a criança pode conhecer». “Este é um exemplo do modo como as mães, as mulheres, são capazes de defender um povo, a história de um povo, os filhos: transmitir a fé» (cf. L’OR7.12.17).
Quão importante é a transmissão da fé em família, pela palavra e pelo testemunho, pela alegria com que se vive e pela forma de a traduzir em atitudes de vida!


D. Antonino Dias Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 20-08-2021.


sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Estar parado também é caminho?



Estar parado também pode ser caminho. Estar à espera também pode fazer parte do caminho. No entanto, parece-nos difícil não associar a esta palavra uma noção de movimento, de andança e de estrada percorrida. Soa-nos diferente, e até estranha, essa ideia de parar.

Parar.

Parar para ver o que há em redor.

Parar para descansar à beirinha do que já se construiu.

Parar para recuperar forças.

Parar para respirar fundo e para fechar os olhos a tudo o que já não precisa de ser visto.

Parar para deixar cair o que já não faz falta.

Parar para aprender a abrir os braços outra vez.

Parar para encontrar um lugar seguro e para reparar no que nos tinha escapado antes.

Estar parado também pode ser caminho. Para andar para a frente e para soprar força aos remos da vida que vamos levando ao peito, é preciso saber atirar a rapidez para longe. É preciso despedir a rotina e dar casa a um ou outro dia que (nos) faça a diferença. Que nos faça diferentes.

Estar parado não é andar para trás. É segurar as aventuras e as histórias que fizemos nascer e deixá-las pousar, ao de leve, nos ramos de dentro que vão dar ao coração.

Estar parado não é desistir. Não é deixar de querer.

Estar parado é saber abrandar. Colocar o pé no travão de tudo o que nos obriga a avançar só porque sim.

Fazer caminho também é ousar parar. Para descobrir, sem pressas, que dentro dos trilhos que percorremos está mais de metade do que somos.

Marta Arrais

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

«Vacinar-se é um ato de amor» – Papa Francisco

 Campanha mundial «É contigo» apela à participação de todos na vacinação


Cidade do Vaticano, 18 ago 2021 (Ecclesia) – O Papa participa na campanha mundial “É contigo”, que apela à participação de todos na vacinação contra a Covid-19, afirmando que “vacinar-se é um ato de amor”.
Numa mensagem vídeo, o Papa afirma que “vacinar-se com vacinas autorizadas pelas autoridades competentes é um ato de amor” a cada um, aos “parentes e amigos” e “ todos os povos”.
“Com espírito fraterno, uno-me a esta mensagem de esperança por um futuro mais luminoso. Graças a Deus e ao trabalho de muitos, hoje temos vacinas para nos protegermos da Covid-19. Elas trazem esperança para acabar com a pandemia, mas só se estiverem disponíveis para todos e se colaborarmos uns com os outros”, disse o Papa
.Vacinar-se, com vacinas autorizadas pelas autoridades competentes, é um ato de amor. E ajudar a que a maioria da gente o faça, é um ato de amor. Amor a si mesmo, amor aos familiares e amigos, amor a todos os povos”, afirmou.
O Papa referiu que “o amor também é social e político” e faz-se de “de pequenos gestos de caridade pessoal, capazes de transformar e melhorar as sociedades”.
“Peço a Deus que cada um possa colocar o seu pequeno grão de areia, o seu pequeno gesto de amor. Por mais pequeno que seja, o amor é sempre grande! Façamos esses pequenos gestos para um futuro melhor”, apelou o Papa.
Vacinar-se é uma forma simples, mas profunda de promover o bem comum e de cuidarmos uns dos outros, principalmente os mais vulneráveis”, sublinhou o Papa
A campanha “É contigo” conta a participação de mais de mil personalidades políticas, do mundo da medicina e de várias religiões, onde se contam seis cardeais e arcebispos dos Estados Unidos e da América do Sul e Central e líderes das confissões religiosas protestantes, evangélicas, judaicas e inter-religiosas.


O vídeo com o apelo do Papa conta também com depoimentos de D. José Horacio Gómez Velasco, arcebispo de Los Angeles, dos cardeais Carlos Aguiar Retes, arcebispo do México, Óscar Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, e dos bispos José Gregorio Rosa Chávez, auxiliar de São Salvador, Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, arcebispo de Trujillo, no Perú, que defendem a vacinação “de todos e para todos”.
A campanha que conta com a participação do Papa destina-se sobretudo aos povos da América Latina, com o objetivo de promover a confiança na vacinação contra a Covid-19, e é promovida pelo “Ad Council”, agência criadora de campanha de comunicação de serviço público fundada durante a II Guerra Mundial, e a “COVID Collaborative”, que reúne peritos na área social, da saúde e da economia para apoiar os esforços de resposta à pandemia.

PR


quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Queria contemplar o vale





Compreendes como é um dom poder contemplar o vale diante do teu olhar. A imensidão do verde em diferentes tonalidades mistura-se com os raios solares. Mas não vês somente, escutas.

O canto dos pássaros, alguém com uma rebarbadora, e o zumbido das moscas. O humano mistura-se com a natureza de onde emergiu para nos elevar ao pensamento essencial em... Deus. Que bela a criação!

É claro que preferia ouvir apenas o canto dos pássaros. É claro que preferia não ter as moscas a azucrinar os meus ouvidos. Mas o que parece ser a imperfeição relativa ao desejo do perfeito torna-se, precisamente, o relevante a contemplar.

Pela vida há muitos zumbidos que incomodam porque nos distraiem do essencial. Levam-nos a esbracejar, desviando o nosso olhar, de tal modo que o mais pequeno ser irritante (a mosca) faz-nos perder de vista a visão do todo.

Foi um pouco esta a experiência que fiz enquanto deixava as palavras deste texto fluirem. Mas, a um dado momento, dei-me conta de que não é o zumbido das moscas que nos desvia da escolha da contemplação, mas o desejo forçado de perfeição.

Quando acolhemos o imperfeito e desvalorizamos o que não interessa, o voo das moscas começa, gradualmente, a fazer parte da paisagem e o zumbido parte do silêncio natural melódico de um momento de pausa imerso na natureza.

Para dizer a verdade, já devia estar habituado desde que, ultrapassando os 40, como míope, as moscas começaram a fazer parte do meu campo de visão quotidiano. Lembro-me no Verão passado como o primeiro embate com essa realidade me levou a viver a ansiedade de não saber o que se passava. Quando compreendi, aceitei e descobri que o segredo era focar a visão no todo, acolhendo a imperfeição da parte.

Penso que será sempre assim na história da humanidade. Por mais tecnologia que criemos para superar o natural com o artificial com o desejo de perfeição, perderemos a sabedoria proveniente do encontro com a imperfeição natural. Aquela que nos leva a descobrir a vulnerabilidade da nossa espécie na narrativa universal. E, ao mesmo tempo, a grandeza das pequenas coisas.

Queria contemplar o vale, mas acabei por contemplar o universo interior que dá sentido e significado ao olhar.



 Miguel Oliveira Panão


terça-feira, 17 de agosto de 2021

O “segredo de Maria” é revelado pelo papa Francisco na solenidade da Assunção





Papa Francisco durante a oração do Angelus. Foto: Vatican Media



Vaticano, 15 ago. 21 / 12:21 pm (ACI).- “A humildade é o segredo de Maria”, disse o papa Francisco, enfatizando que foi “a humildade que atraiu o olhar de Deus para ela”.

Francisco refletiu, durante a recitação do Angelus deste domingo, 15 de agosto, dia da solenidade da Assunção da bem-aventurada Virgem Maria ao céu, sobre o canto do Magnificat.

Segundo o papa, este cântico mostra a humildade de Maria, que se apresenta como “serva” diante de Deus. O Magnificat é “a fotografia da Mãe de Deus”.

O papa disse que “o olho humano busca a grandeza e se deslumbra pelo que é ostentoso. Deus, ao contrário, não olha para as aparências, mas para o coração e adora a humildade
Ele afirmou que “hoje, olhando para Maria assunta, podemos dizer que a humildade é o caminho que conduz ao céu”.

Recordou que “Jesus ensina: ´quem que se humilha será exaltado`. Deus não nos exalta por nossos dons, riquezas ou habilidades, mas pela humildade. Deus levanta a quem se abaixa, a quem serve. De fato, Maria não se atribui mais que o ´título` de serva: é ´a escrava do Senhor`. Não diz nada mais de si mesma, não procura nada mais para si mesma”.

Deste modo, Francisco convidou os fiéis a se perguntarem: “Como está a minha humildade? Procuro ser reconhecido pelos outros, reafirmar-me e ser louvado, ou penso em servir? Sei escutar, como Maria, ou só quero falar e receber atenção? Sei guardar silêncio, como Maria, ou estou sempre tagarelando? Sei como dar um passo atrás, apaziguar as brigas e as discussões, ou só trato de sobressair?”.

“Maria, na sua pequenez, conquista primeiro os céus”, ensinou o bispo de Roma. “O segredo do seu sucesso reside precisamente em reconhecer-se pequena, necessitada. Com Deus, só quem se reconhece como nada é capaz de receber tudo. Só quem se esvazia é enchido por Ele. E Maria é a graça, precisamente pela sua humildade”.

Nesse sentido, enfatizou que “também para nós, a humildade é o ponto de partida, o início da nossa fé. É essencial ser pobre de espírito, ou seja, necessitado de Deus. Aquele que está cheio de si mesmo não dá espaço a Deus, mas aquele que permanece humilde permite ao Senhor realizar grandes coisas”.

O papa continuou: “É bonito pensar que a criatura mais humilde e elevada da história, a primeira a conquistar os céus com todo seu ser, corpo e alma, passou sua vida principalmente dentro do lar, no ordinário”.

“Os dias da cheia de graça não tiveram muito de impressionantes”, chamou a atenção. “Frequentemente eles passaram sempre da mesma forma, em silêncio: por fora, nada extraordinário. Mas o olhar de Deus permaneceu sempre sobre ela, admirando a sua humildade, a sua disponibilidade, a beleza do seu coração, nunca tocado pelo pecado”.

“Esta é uma grande mensagem de esperança para nós; para ti, que vives as mesmas jornadas, cansativas e muitas vezes difíceis. Maria recorda-te hoje que Deus também te chama a este destino de glória. Não são palavras bonitas. Não é um final feliz artificial, uma ilusão piedosa ou um falso consolo. Não, é a pura realidade, viva e verdadeira como a Virgem Assunta ao céu. Celebremo-la hoje com amor de filhos, animados pela esperança de estar um dia com ela no céu”, concluiu Francisco.


https://www.acidigital.com/

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

O tempo passa e tu não percebes?




O tempo não é paciente nem impaciente. Não acelera nem se atrasa. Não é rápido nem lento. O tempo tem o seu ritmo. Um passo certo. Que não muda em função das nossas disposições e vontades.

É estranha a forma como por vezes nos relacionamos com esta perpétua viagem através dos dias. Esperamos com um sorriso pelos dias mais belos do ano, para quando eles chegam começarmos a ficar tristes porque passarão em breve.

As mesmas oito horas em que dormi hoje terão sido o dia de trabalho de uma outra pessoa. O tempo não acelerou para mim nem se atrasou com ela.

Mas porque parece esgotar-se tão rápido em algumas situações e demorar-se tanto em outras? Talvez porque nos momentos maus o mergulho interior, a queda até ao mais fundo do que sou, demora apenas um instante para um relógio, mas para mim a viagem é até muito longe de onde costumo viver e sentir. Dois minutos de sofrimento bastam para eu colocar toda a minha vida em causa. São pouco tempo, mas muito sentir.

Por vezes, vale mais ser paciente do que valente, porque há momentos em que o gesto de heroísmo é o de resistir à vontade íntima de desistir.

E o que fazer quanto à velocidade com que passam os bons tempos? Basta que os agradeçamos metade das vezes que nos queixaríamos se fossem maus, para que os vivamos com duas vezes mais intensidade.

Não andes a vaguear no tempo. Encontra um rumo, faz o teu caminho e segue por ele, sem nunca quereres senão o que te é possível a cada dia. A existência não é um passatempo.

Não deixes passar o tempo sem fazeres alguma coisa com ele.

Segue para diante com um sorriso, de agradecimento pelos bons e pelos maus momentos. Por teres passado pelos bons e pelos maus terem passado. Mas foca-te sempre no que está ao teu alcance, muitos também se perdem a tentar olhar para o que ainda não é para amanhã.

A tua vida faz parte da eternidade. A felicidade é uma forma de aceder à plenitude, onde tudo cabe num instante.

Se o tempo passa e tu não percebes, não estás a dar valor ao que mais importa: a tua vida


José Luís Nunes Martins

domingo, 15 de agosto de 2021

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM MARIA

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM MARIA

Hoje celebramos a nossa padroeira, na impossibilidade de efectuar a habitual festa, devido às restrições da pandemia, será celebrada a Eucaristia, na Igreja Matriz, pelas 12,00h. 

A Igreja estará aberta das 15,00 h às 18,00h .

https://www.youtube.com/watch?v=VN_KQcitG80

Bendita és tu, Maria! Hoje, Jesus ressuscitado acolhe a sua mãe na glória do céu... Hoje, Jesus vivo, glorificado à direita do Pai, põe sobre a cabeça da sua mãe a coroa de doze estrelas...
Primeira leitura: Maria, imagem da Igreja. Como Maria, a Igreja gera na dor um mudo novo. E como Maria, participa na vitória de Cristo sobre o Mal.
Salmo: Bendita és tu, Virgem Maria! A esposa do rei é Maria. Ela tem os favores de Deus e está associada para sempre à glória do seu Filho.
Segunda leitura: Maria, nova Eva. Novo Adão, Jesus faz da Virgem Maria uma nova Eva, sinal de esperança para todos os homens.
Evangelho: Maria, Mãe dos crentes. Cheia do Espírito Santo, Maria, a primeira, encontra as palavras da fé e da esperança: doravante todas as gerações a chamarão bem-aventurada!

Palavra para o caminho.
Um tríplice segredo... A meio do verão, eis uma festa para nos fazer parar junto de Maria e receber dela um tríplice segredo: o segredo da fé sem falha tão bem ajustada a Deus ("Eis a serva do Senhor"...); o segredo da sua esperança confiante em Deus ("nada é impossível a Deus"...); o segredo da sua caridade missionária ("Maria pôs-se a caminho apressadamente"...). E nós podemos pedir-lhe para nos acompanhar no caminho das nossas vidas...


https://www.dehonianos.org/


Oração

Ó Maria Santíssima, ao celebrarmos a sua Assunção em corpo e alma à glória dos Céus, suplicamos que nos ajude a viver com fé e esperança neste mundo, procurando sempre e em todas as coisas a edificação do Reino de Deus.

Nossa Senhora, assunta aos Céus, ajudai-nos a abrir-nos à presença e à ação do Espírito Santo, Espírito Criador e Renovador, capaz de transformar os nossos corações.

Ó Senhora da Assunção, ilumina as nossas mentes acerca do destino que nos espera – a alegria eterna na Pátria celeste –, da dignidade de cada um de nós e da nobreza dos nossos corpos e das nossas almas, que poderão um dia estar convosco na glória dos Céus.

Virgem Maria, elevada aos Céus, mostra-te a todos nós como Mãe de esperança! “Mostra-te como Rainha da Civilização do amor!” Amém!


sábado, 14 de agosto de 2021

O santo que se ofereceu para morrer a fim de salvar um pai de família em Auschwitz

 



Entre as pilhas diárias de cadáveres de Auschwitz, o corpo de São Maximiliano Kolbe foi cremado no dia seguinte, festa da Assunção de Nossa Senhora aos Céus

Em 14 de agosto de 2017, a conta oficial do Papa Francisco no Twitter publicou: 

“O caminho para entregar-se ao Senhor começa todos os dias, desde a manhã”.

Falar de entrega pessoal é especialmente significativo nessa data, memória litúrgica do santo que voluntariamente entregou a própria vida a fim de salvar um pai de família no campo de concentração de Auschwitz: São Maximiliano Kolbe.


Um ano antes, no final do Ângelus, o Papa já tinha recordado esse extraordinário mártir franciscano:

“Que o nosso caminho seja sustentado pelo exemplo de São Maximiliano Kolbe, mártir da caridade, cuja festa celebramos hoje: que ele nos ensine a viver o fogo do amor por Deus e pelo próximo”.

Mártir no inferno
© Jonathan NODEN-WILKINSON / SHUTTERSTOSCK.com

São Maximiliano Kolbe foi assassinado em uma das mais aterrorizantes filiais do inferno de que se teve notícia em nosso mundo ao longo de todo o interminável século XX: o campo de concentração nazista de Auschwitz. Ele ofereceu a vida em troca da libertação de um pai de família também preso naquele inferno, em 1941. Beatificado pelo Papa Paulo VI em 17 de outubro de 1971, foi canonizado por São João Paulo II em 10 de outubro de 1982.
Cavaleiro da Imaculada

São Maximiliano havia criado uma pequena revista dedicada a Nossa Senhora: “Cavaleiro da Imaculada”, para propagar a devoção filial a Maria em tempos muito sombrios para o mundo e, em particular, para a Europa.
Ele considerava que, para combater a propaganda totalitária que começava a se propagar após a I Guerra Mundial, era necessário o empenho pastoral dos franciscanos, difundindo a mensagem cristã mediante a melhor tecnologia à disposição na época. Isso queria dizer, basicamente, jornal e rádio.


Debilitado desde jovem pela tuberculose, ele tem limitações para pregar e ensinar, mas é apoiado pelos superiores franciscanos a focar na sua “Milícia da Imaculada”, que vai reunindo adeptos entre públicos diversificados: de professores a estudantes, de agricultores semianalfabetos a profissionais com alta formação acadêmica.

© Wikimedia

Com sua tenacidade e a intercessão da própria Imaculada, consegue implantar a sala de impressão e, em 1921, sai o primeiro número do “Cavaleiro”.

Tudo cresce rapidamente. Um conde lhe doa um terreno para fundar a “Niepokalanow”, a “Cidade de Maria”, o que também permite a modernização da tipografia.

O pe. Kolbe fica motivado para levar os “Cavaleiros” da Milícia da Imaculada ao Japão e à Índia, mas a doença o leva à Polônia justo quando o exército de Hitler está para invadir o país. Os nazistas destroem a publicação e perseguem os franciscanos, que acolhem 2.500 refugiados, sendo 1.500 deles judeus.

Em 17 de fevereiro de 1941, o pe. Maximiliano Kolbe é preso. Em 28 de maio, abrem-se para ele os pavorosos portões de Auschwitz.

Príncipe entre os horrores

MODLITWA W AUSCHWITZ

EAST NEWS

Naquela sucursal do inferno, o Cavaleiro da Imaculada vive com heroísmo a última etapa da sua existência neste mundo. Perde o nome e é transformado em um número: 16670. Submetido a muitas violências, recebe a incumbência, forçada, de transportar cadáveres ao forno crematório.

Naquele lugar de horrores inimagináveis, porém, a grande dignidade do sacerdote reluz como um diamante: “Kolbe era um príncipe entre nós”, testemunhará, mais tarde, uma sobrevivente.
O lento martírio

MODLITWA W AUSCHWITZ

RON CARDY / Rex Features/EAST NEWS

O pe. Kolbe é transferido no final de julho para o famigerado Bloco 14. Um dos prisioneiros tinha conseguido escapar e, em represália, dez foram levados para aquele bunker reservado aos condenados a morrerem nada menos que de fome.

Um dos dez “escolhidos” tinha sido o jovem sargento polonês Francisco Gajowniezek, que, desesperado, suplicava ser poupado porque tinha mulher e filhos. Foi quando o pe. Kolbe se ofereceu a ir no lugar dele para o bunker da fome, diante da surpresa dos soldados.

O martírio é lento. Consolados pelo encorajamento e pelas orações do pe. Maximiliano Kolbe, as vozes dos prisioneiros vão definhando uma após outra, até se apagarem. Depois de duas semanas, resistem ainda quatro: um deles é o pe. Kolbe.

Os nazistas decidem injetar nele ácido fênico para acelerar sua morte. Estendendo o braço ao médico prestes a matá-lo, o sacerdote mártir afirma:

“Você não entendeu nada da vida. O ódio não serve para nada. Só o amor cria”.

As últimas palavras do Cavaleiro da Imaculada foram dedicadas a ela:

“Ave, Maria!”

Era 14 de agosto de 1941.

Entre as pilhas diárias de cadáveres de Auschwitz, o corpo de São Maximiliano Kolbe foi cremado no dia seguinte, festa da Assunção de Nossa Senhora aos Céus.
ŚWIĘTY MAKSYMILIAN KOLBE
MONKPRESS/East News

Papa Francisco visita Auschwitz  
Em 29 de julho de 2016, o Papa Francisco visitou o atual museu que preserva a memória histórica dos horrores perpetrados contra a humanidade no antigo campo de concentração nazista. Um dos momentos mais intensos da ocasião foi justamente a passagem pelos porões do Bloco 14, onde São Maximiliano foi morto. Ali, Francisco rezou.
POPE FRANCIS,KOLBEOsservatore Romano | AFP
https://pt.aleteia.org/

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

DGS reduz distanciamento entre pessoas nas celebrações religiosas para 1,5 metros

 Conferência Episcopal mantém orientações em vigor e vai reavaliar situação em setembro


07 ago 2021 (Ecclesia) – A Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizou a Orientação com medidas de prevenção e controlo da Covid-19, em Locais de Culto e Religiosos, reduzindo o distanciamento exigido para 1,5 metros.

Em comunicado enviado hoje à Agência ECCLESIA, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) informa que, para as celebrações católicas, se mantêm as “normas que estão em vigor”, atualizando a questão do distanciamento.

“No essencial, não altera o que continuamos a observar nos nossos lugares de culto”, precisa o secretário da CEP, padre Manuel Barbosa.

Segundo este responsável, em setembro, o Conselho Permanente do organismo episcopal “fará o ponto da situação de acordo com a evolução da pandemia e tendo em conta possíveis novas orientações das autoridades competentes”.

A CEP determinou em março o regresso das celebrações públicas da Missa, mantendo a suspensão de procissões e outras manifestações populares.

Na Orientação atualizada, a DGS destaca que, “perante a pandemia da Covid-19, é importante incentivar e salvaguardar o papel específico das diferentes Instituições de Culto e Religiosas, tanto no apoio às comunidades, como no combate à disseminação do vírus”.

O documento atualiza a necessidade de distanciamento social, determinado que as instituições religiosas devem “providenciar uma sinalização para os lugares que podem ser ocupados, de forma a garantir o distanciamento de, pelo menos, 1,5 metros entre pessoas”.

Este distanciamento, anteriormente fixado nos 2 metros, não se aplica a coabitantes.

O regresso das celebrações públicas na Igreja Católica, que tinham sido suspensas em janeiro deste ano pela segunda vez, têm decorrido de acordo com as orientações da Conferência Episcopal Portuguesa de 8 de maio de 2020 e “em consonância com as normas das autoridades de saúde”.

As mais de 80 indicações incluem normas para a higienização dos espaços, das pessoas e dos objetos de culto, a reserva de quatro metros quadrados para cada participante, o “obrigatório o uso de máscara” para todos e a adaptação de rituais litúrgicos para evitar o contacto físico, no contexto da pandemia.

OC



quarta-feira, 11 de agosto de 2021

SEMANA NACIONAL DO MIGRANTE E REFUGIADO




A Igreja Católica em Portugal está a celebrar, de 8 a 15 de agosto, a 49ª Semana Nacional de Migrações. A Peregrinação Internacional a Fátima, em 12 e 13, será presidida pelo Cardeal Jean-Claude Hollerich, arcebispo do Luxemburgo e presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia. No último dia desta semana especial, em 15 de agosto, realiza-se também uma jornada de solidariedade com a mobilidade humana. O tema da Semana é o da Mensagem do Papa Francisco para o 107º Dia Mundial do Migrante e Refugiado a celebrar em 26 de setembro: «Rumo a um ‘nós’ cada vez maior». Para que todos sintonizemos com a efeméride e o seu tema, faço eco da referida Mensagem que lhe está subjacente. Apoiando-se na Sagrada Escritura, Francisco recorda que “Deus criou-nos homem e mulher, seres diferentes e complementares para formarem, juntos, um 'nós' destinado a tornar-se cada vez maior com a multiplicação das gerações. Deus criou-nos à sua imagem, à imagem do seu Ser Uno e Trino, comunhão na diversidade”. Além disso, diz o Papa, “Deus, na sua misericórdia, quis oferecer um caminho de reconciliação, não a indivíduos isoladamente, mas a um povo, um nós destinado a incluir toda a família humana, todos os povos” (cf. Ap 21, 3). O tempo presente, porém, “mostra-nos que o nós querido por Deus está dilacerado e dividido, ferido e desfigurado ... E o preço mais alto é pago por aqueles que mais facilmente se podem tornar os outros: os estrangeiros, os migrantes, os marginalizados, que habitam as periferias existenciais”. Por isso, o Papa apela ao empenho “para que não existam mais muros que nos separam, nem existam mais os outros, mas só um nós, do tamanho da humanidade inteira”. Se este apelo é para todos, para os católicos “traduz-se num esforço por se configurarem cada vez mais fielmente ao seu ser de católicos, tornando realidade aquilo que São Paulo recomendava à comunidade de Éfeso: “Um só corpo e um só espírito, assim como a vossa vocação vos chama a uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4, 4-5).
Com a presença do Senhor e a força do Espírito, os cristãos devem tornar-se “capazes de abraçar a todos para se fazer comunhão na diversidade, harmonizando as diferenças sem nunca impor uma uniformidade que despersonaliza. No encontro com a diversidade dos estrangeiros, dos migrantes, dos refugiados e no diálogo intercultural que daí pode brotar, é-nos dada a oportunidade de crescer como Igreja, enriquecer-nos mutuamente”. Numa Igreja cada vez mais inclusive, “todo o batizado, onde quer que se encontre, é membro de pleno direito da comunidade eclesial local e membro da única Igreja, habitante na única casa, componente da única família”.
Nesta maneira de ser e estar, “a Igreja é chamada a sair pelas estradas das periferias existenciais para cuidar de quem está ferido e procurar quem anda extraviado, sem preconceitos nem medo, sem proselitismo, mas pronta a ampliar a sua tenda para acolher a todos. Entre os habitantes das periferias existenciais, encontraremos muitos migrantes e refugiados, deslocados e vítimas de tráfico humano, aos quais o Senhor deseja que seja manifestado o seu amor e anunciada a sua salvação”.
Caminhando juntos rumo a um 'nós' cada vez maior, construiremos “em conjunto o nosso futuro de justiça e paz, tendo o cuidado de ninguém ficar excluído. O futuro das nossas sociedades é um futuro «a cores», enriquecido pela diversidade e as relações interculturais. Por isso, hoje, devemos aprender a viver, juntos, em harmonia e paz. Encanta-me duma forma particular aquele quadro que descreve, no dia do «batismo» da Igreja no Pentecostes, as pessoas de Jerusalém que escutam o anúncio da salvação logo após a descida do Espírito Santo: «Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de Roma, judeus e prosélitos, cretenses e árabes ouvimo-los anunciar, nas nossas línguas, as maravilhas de Deus» (At 2, 9-11).
E Francisco acentua que “para alcançar este ideal, devemos todos empenhar-nos por derrubar os muros que nos separam e construir pontes que favoreçam a cultura do encontro, cientes da profunda interconexão que existe entre nós. Nesta perspetiva, as migrações contemporâneas oferecem-nos a oportunidade de superar os nossos medos para nos deixarmos enriquecer pela diversidade do dom de cada um. Então, se quisermos, poderemos transformar as fronteiras em lugares privilegiados de encontro, onde possa florescer o milagre de um nós cada vez maior”.
O Senhor deu-nos dons e talentos e confiou em nós conservar e tornar ainda mais bela a sua criação e, disso, o Senhor pedir-nos-á contas. “Mas, para assegurar o justo cuidado à nossa Casa comum, devemos constituir-nos num nós cada vez maior, cada vez mais corresponsável, na forte convicção de que todo o bem feito ao mundo é feito às gerações presentes e futuras. Trata-se dum compromisso pessoal e coletivo, que se ocupa de todos os irmãos e irmãs que continuarão a sofrer enquanto procuramos realizar um desenvolvimento mais sustentável, equilibrado e inclusivo. Um compromisso que não faz distinção entre autóctones e estrangeiros, entre residentes e hóspedes, porque se trata dum tesouro comum, de cujo cuidado e de cujos benefícios ninguém deve ficar excluído”.

D. Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 11-08-2021.

És o que fazes, não o que dizes



Qualquer pessoa consegue começar qualquer projeto, por mais difícil que seja. Mas não é por colocar a primeira pedra e assumir um conjunto de intenções firmes que alguém deve ser considerado o obreiro daquilo que, afinal, não está feito!

Chegar ao fim é o mais difícil. Ultrapassar todas as dificuldades, as esperadas e as inesperadas, as simples e as que começam por parecer impossíveis de vencer. Concluir um plano é que faz de alguém digno de ser o seu autor.

Sonhar, todos sonham. Mas quantos de nós somos capazes de nos levantar dias e dias para ir lutar contra pedras? Sair do conforto para arriscar fracassos? Afinal, o mundo não se faz com palavras, sonhos e desejos.

É até preocupante a quantidade de pessoas que nem chega a dar o primeiro passo! Ficam-se apenas pelo… anseio.

A nossa identidade resulta das nossas escolhas. Sou o que faço e o que não faço, o que tento mesmo sem conseguir o resultado que queria e o que achei que não valia a pena.

É possível fazer o mal ficando quieto? Claro que sim. Se tens capacidades, tens deveres. O que julgar de alguém que tem na sua posse algo de muito bom e o ignora, agindo como se o não tivesse?

Mas será que tenho o que é preciso para levar até ao fim um projeto? Bem, só o saberás se te puseres a caminho, porque há forças e talentos que só surgem depois de esgotares grande parte das que tens ao início.





José Luís Nunes Martins



Rezar a Vida: Amo-te







Amo-te porque na minha humanidade quiseste habitar.

Amo-te porque no Batismo da tua morte e ressurreição me tornaste filha do mesmo Pai.

Amo-te porque me deste a Igreja para que em comunidade a minha fé possa crescer.

Amo-te porque na Eucaristia te fazes presente para que do pão da vida possa comungar.

Amo-te porque sobre mim sopraste o teu espírito para que entusiasmada te possa servir.

Amo-te porque me perdoaste ainda antes de eu pecar.

Amo-te porque quiseste ser o meu Pastor.

Amo-te porque quando estava perdida deixaste tudo para ir ao meu encontro.

Amo-te porque foi tão grande a tua alegria por me veres como a minha por ser encontrada por ti.

Amo-te porque alivias o meu fardo sempre que se torna pesado demais para suportar.

Amo-te porque és a mão que se estende sempre que caio no chão.

Amo-te porque és o colo que me carrega quando já não consigo andar.

Amo-te porque na tua barca me deixas encostar a cabeça na tua almofada e descansar.

Amo-te porque és o porto seguro que deixa sempre a embarcação da minha vida atracar.

Amo-te porque experimentaste as bonanças e borrascas do mar do meu viver.

Amo-te porque acalmas as tempestades dos meus medos que me querem naufragar.

Amo-te porque és o farol que ilumina com doçura o meu navegar.

Amo-te porque me conduzes aos desertos da alma para me falares ao coração.

Amo-te porque o fazes transbordar de gratidão pelas maravilhas que vais fazendo em mim.

Amo-te porque me ofereces refúgio no teu sagrado coração.

Amo-te porque tu, Palavra feita carne, deixaste as respostas a tudo o que te viria a perguntar.

Amo-te porque com ela me recrias e renovas, me provocas e interpelas, desinstalando-me do conforto das minhas seguranças, certezas e ilusões.

Amo-te porque és o Deus das surpresas, do inesperado e do improvável.

Amo-te porque me desconcertas com o teu sentido de humor.

Amo-te porque és fiel mesmo na minha infidelidade.

Amo-te porque danças ao som das minhas contradições.

Amo-te porque na cruz deste sentido ao meu sofrimento.

Amo-te porque catárticas são as lágrimas que me dás a chorar.

Amo-te porque te serves da minha miséria para te glorificar.

Amo-te porque me amaste com um amor eterno muito antes de eu existir.

Amo-te porque na cruz do escândalo deste a vida por mim.

Amo-te porque me amas na nudez da minha verdade.

Amo-te porque prometeste que estarias comigo até ao fim.

Amo-te porque nunca ninguém me amou assim.

Amo-te porque me amaste primeiro.

Amo-te simplesmente porque sim.


Raquel Dias


terça-feira, 10 de agosto de 2021

Papa Francisco: «Só o pão da vida alimenta nossas almas»




“Eu sou o pão da vida”: este é o tema aprofundado pelo Papa Francisco no Angelus deste domingo, 8 de agosto na Praça São Pedro. Referindo-se ao Evangelho de hoje, o Papa convidou a refletir sobre o “que significa o pão da vida”, observando que “que têm fome não pedem comida refinada e cara, pede pão. Os desempregados não pedem salários enormes, mas sim o ‘pão’ de um emprego. Jesus se revela como o pão, ou seja, o essencial, o necessário para a vida de cada dia”.

O verdadeiro pão da vida, continua o Papa, é o que nos faz viver, ao contrário sobrevivemos porque:

“Só Ele alimenta nossas almas, só Ele nos perdoa daquele mal que não podemos vencer por nós mesmos, só Ele nos faz sentir amados mesmo que todos nos decepcionem, só Ele nos dá a força para amar e perdoar nas dificuldades, só Ele dá ao coração a paz que busca, só Ele dá a vida para sempre quando a vida aqui termina”

Recordando que Jesus fala por parábolas, na expressão “Eu sou o pão da vida” ele resume todo o seu ser e toda a sua missão. Isto será visto plenamente no final, na Última Ceia. Ao dar a própria vida, a própria carne, o próprio coração, para que possamos ter a vida Jesus faz com que desperte em nós a maravilha diante do dom da Eucaristia.

A adoração enche a vida de maravilha

Francisco nos recorda:

“Ninguém neste mundo, não importa o quanto ame outra pessoa, pode fazer-se alimento para ela. Deus o fez, e o faz, por nós. Renovemos esta maravilha. Façamo-lo adorando o Pão da Vida, porque a adoração enche a vida de maravilha”

Porém, as pessoas se escandalizam com suas palavras “Eu sou o pão que desceu do céu”, será que também nós estaríamos mais à vontade com um Deus que está no céu sem se intrometer? E o Pontífice afirma:

“Deus se tornou homem para entrar na concretude do mundo. E a ele interessa tudo de nossas vidas. Jesus deseja esta intimidade conn
osco” 

Ele que é o pão

 

Concluindo:

 

"O que ele não deseja? Ser relegado para segundo plano – Ele que é o pão -, ser negligenciado e posto de lado, ou colocado em questão apenas quando precisamos”.

Por fim Francisco convidou para que pelo menos uma vez por dia “antes de partir o pão, convidar Jesus, o pão da vida, pedir-lhe simplesmente que abençoe o que fizemos e o que não conseguimos fazer”.

“Que a Virgem Maria, na qual o Verbo se fez carne, nos ajude a crescer dia após dia na amizade com Jesus, o pão da vida”.


segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Fé, arte, beleza, inutilidade, por Tolentino Mendonça

 


Ainda somos herdeiros de um cristianismo muito racional, muito organizado de categorias mentais, e deixámos as abstratas. O papa Bento XVI falou muito disto no seu pontificado, e o papa Francisco tem continuado.

Quando o papa Francisco voltou da viagem apostólica ao Japão, perguntaram-lhe, no avião: o que é que o Ocidente tem a aprender com o Oriente? E ele respondeu: temos de aprender a poesia que os orientais têm.

A fé não é apenas abstração. Se a fé não faz arder o coração, se não é uma espécie de febre, se não nos torna brasas, mas é apenas uma cinza mental, então a fé é incompleta. Cada um dos três transcendentais – a verdade, o bem e a beleza – é fundamental.

A beleza é a experiência da verdade, como o amor, a caridade é uma experiência prática da verdade. Mas a beleza é interioridade, é emoção, é perceber que há um olhar que nos excede, é a excedência do sentido, é ver para além do imediato e é ganha ruma sensibilidade ao corpo, àquilo que nos chega através dos sentidos.

O grande teólogo Romano Guardini dizia que a beleza é o contrário do ornamento, não tem nada a ver com ornamentação, com o bonitinho. Beleza é a experiência da verdade

Fazemos uma espiritualidade dos sentidos espirituais, e esquecemos os sentidos naturais, que é aquilo que a arte nos ensina. A arte é uma mistagogia, uma iniciação ao mistério, que acontece a partir dos sentidos naturais – a visão, o olfato, o sabor, a escuta, o tato.

Acredito, e vejo-o em tantos artistas que conheço, que eles, mesmo sem saber, estão a trabalhar com a matéria espiritual. Porque estão a trabalhar com a interioridade humana. Estão a trabalhar com uma visão espiritual da vida. Por isso, é fundamental percorrer a via da beleza.

Durante muito tempo a Igreja viveu um divórcio com as artes. E viveu também, de certa forma, um divórcio com o sensível. Hoje, precisamos de uma mística do sensível, e precisamos de perceber que a beleza é uma via para chegar a Deus.

A beleza é uma forma de revelação. A beleza é a experiência. O grande teólogo Romano Guardini dizia que a beleza é o contrário do ornamento, não tem nada a ver com ornamentação, com o bonitinho. Beleza é a experiência da verdade.

«Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam a Deus./ Senhor, eu tenho orgulho do imprestável!// (O abandono me protege)»

Tive o privilégio de assistir à lição do papa Bento XVI na capela Sistina, quando ele reuniu artistas de muitas proveniências, para relançar o Átrio dos Gentios. Ele disse, citando o papa Paulo VI, que nós [artistas e Igreja] temos tanto em comum, e o principal é a procura da verdade.

Hoje percebemos que a via da beleza, o caminho do sensorial, a estética do sensível são dimensões sobre as quais precisamos de trabalhar, de abordar, porque são caminhos necessários para chegar ao coração do ser humano e à experiência de Deus. (…)

Penso muitas no grande mestre que é Manoel de Barros; num dos seus poemas, diz: «Prefiro as máquinas que servem para não funcionar:/ quando cheias de areia de formiga e musgo – elas/ podem um dia milagrar de flores.// (Os objetos sem função têm muito apego pelo abandono.)// Também as latrinas desprezadas que servem para ter/ grilos dentro - elas podem um dia milagrar violetas.// (Eu sou beato em violetas.)// Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam a Deus./ Senhor, eu tenho orgulho do imprestável!// (O abandono me protege)».

Gosto muito deste poema que, para nós, crentes, é um desafio muito grande: temos de descobrir a alegria, a beleza, a urgência desta inutilidade. Num tempo em que estamos a pensar novos caminhos (…), não esquecer a inutilidade também como caminho.

O que nos protege não são os muros, o que nos protege é o relento e o abandono, isto é, a capacidade abraâmica de partir, a capacidade abraâmica de confiar

S. Francisco de Assis dizia aos seus confrades que deviam plantar na horta todas as plantas úteis que servissem de comida à mesa do convento, mas deviam, num espaço, deixar crescer flores – que eles não iam comer – para o alimento da sua alma.

A inutilidade protege-nos, e é muito importante este apego pelo abandono. Também as latas abandonadas podem um dia milagrar violetas. E nós vemos isso na casa dos pobres, que não têm vasos bonitos, mas agarram numa lata velha, põem um pouco de terra, e é um milagre de flores.

Com este poema o desafio é este: o chamamento a acreditar que o grande nutrimento é o dom, e quando tornamos o dom mais radical, o milagrar violetas acontece. O que nos protege não são os muros, o que nos protege é o relento e o abandono, isto é, a capacidade abraâmica de partir, a capacidade abraâmica de confiar. Estamos sempre a voltar àquilo que o primeiro crente foi chamado a fazer.


[Card. José Tolentino Mendonça | Fonte: Jesuítas Brasil