sábado, 30 de abril de 2022

CÁRITAS DIOCESANA ENVIA BENS PARA A UCRÂNIA



A Cáritas Diocesana de Portalegre – Castelo Branco, através dos voluntários que se organizaram para o acolhimento de Refugiados em Mem Soares, têm continuado a acompanhar os seis (6) que permanecem na nossa região, onde estão a viver e a trabalhar.
Do contacto regular que tem sido mantido, os refugiados solicitaram aos Voluntários Cáritas para colaborarem no envio de produtos de higiene e alimentos para o Centro de Acolhimento de Crianças e Jovens órfãos, entre os 3 e 17 anos de idade, sedeado na zona norte da Ucrânia.
De acordo com a solicitação foram recolhidos pelos Voluntários Cáritas os bens necessários e a Cáritas Diocesana, que adquiriu muitos desses bens no momento da chegada a Mem Soares, procedeu à entrega dos mesmos. O objetivo é fazê-los chegar ao Centro de Acolhimento na Ucrânia, tendo já chegado ao destino a primeira carrinha, conforme vídeo anexo.
A Cáritas Diocesana reconhecida aos seus voluntários pelo empenho no desenvolvimento das diversas atividades, agradece a todas as pessoas e entidades das diversas comunidades que se associaram ao apoio que a Cáritas Diocesana presta aos migrantes e refugiados, através dos donativos em espécie e monetários, incluindo às famílias que se prontificaram a receber refugiados ucranianos em suas casas, ou que disponibilizam alojamento. Neste sentido informamos que a Cáritas Diocesana continua a manter disponibilidade para acolher, encaminhar e integrar refugiados, no seio de famílias inscritas, assim como na inserção laboral, através de ofertas de emprego já recolhidas e a recolher.


Elicídio Bilé
Cáritas Diocesana de Portalegre-Castelo Branco


sexta-feira, 29 de abril de 2022

'BOFETADAS' LEAIS OU 'BEIJOS' ADULADORES?...


Nem uma coisa nem outra, faiscará de imediato o sótão do leitor. E, convenhamos, não é para menos. Mas prossigamos a discorrer sobre a frase em título que nos introduz o tema da correção fraterna entre os crentes, cuja fonte é a comunhão da Trindade. Como sabemos, é um bom princípio não fazer nada por desejo de receber elogios. Agir com humildade, considerar os outros superiores a nós mesmos, procurar não o próprio interesse mas o interesse dos outros são desafios permanentes (cf. Fil 2, 1-5). No entanto, não podemos fazer da nossa indignidade pessoal um impedimento para não agir, mesmo junto de quem é ou pensamos que é mais idóneo ou superior. Dizer que não somos capazes de o fazer porque também temos telhados de vidro, que não vale apena, que não nos vai ouvir, que não vai mudar, que até nos vai aceitar mal, que nos vai mandar tirar a tranca do nosso olho e pedir que o deixemos em paz com o seu argueiro, são argumentos recorrentes e que levam a não agir. Pois que sejam, mas por detrás deste modo de pensar está, não raro, o respeito humano, o comodismo, o medo de ficar mal, a fuga ao cumprimento do mandamento do Senhor que nos manda amar uns aos outros como Ele nos amou. Também pode acontecer que, alguém, em vez do gesto saudável da correção fraterna, opte mais depressa pela crítica e fofoquice a esfolar tal pessoa, ou, então, opte por apoiar e elogiar tal comportamento. O Livro dos Provérbios, porém, se percebe as bofetadas dos amigos sinceros, insurge-se contra o beijo destes fofoqueiros e aduladores (cf. Pr 27,6).
Haverá com certeza muita gente que entrou pelos caminhos da sua destruição, estragando a sua vida e a de outros, porque nunca teve a seu lado um amigo que o ajudasse a ser coerente no testemunho que é chamado a dar, quer no ambiente familiar, quer entre vizinhos, amigos, colegas de trabalho, ambientes lúdicos, etc. Não se trata de repreender, de apontar o erro, de causar sofrimento ou dano. Se o resumo de toda a Lei está em amar o próximo, este amor ao próximo implica empenho em conseguir que a pessoa reconheça o erro e se emende. Trata-se de apontar caminhos que façam sentido, de rasgar horizontes de vida, com humildade, delicadeza e carinho, mesmo que o resultado, apesar das diligências, venha a ser nulo. Trata-se de agir como Jesus agiria nessa situação, com muito amor e estima, com sentido de Igreja e a inspiração do Espírito que se deve pedir. A missão que nos cabe não a podemos calar, até porque “pior és tu ao calar do que ele ao pecar”.
A Igreja fala da importância da correção fraterna. E se este apelo já está presente em muitos textos do Antigo Testamento, a correção fraterna também tem fundamento evangélico. Em Ezequiel, por exemplo, Deus lembra aos profetas essa obrigação de ajudar a mudar comportamentos: “Criatura humana, Eu coloquei-te como vigia da casa de Israel. Quando ouvires a Minha mensagem, tens de os avisar. Se ao injusto Eu digo: “Injusto, é certo que vais morrer”, se tu não avisares o injusto para que mude de comportamento, o injusto morrerá por causa da sua própria culpa, mas é a ti que Eu pedirei contas do seu sangue. Mas se avisares o injusto para que mude de comportamento, e ele não mudar, ele morrerá por causa da sua própria culpa, mas tu terás salva a tua vida” (Ez 33, 7-9).
São Tiago insiste no mesmo ponto: “Se algum de vós se afastar da verdade e alguém o converter, fique sabendo que a pessoa que reconduz um pecador do caminho errado salvar-se-á a si mesmo da morte e apagará uma multidão de pecados” (Tg 5, 19- 20). O Catecismo da Igreja Católica afirma que a caridade exige aos cristãos a prática do bem e da correção fraterna (CIgC1829). É uma exigência do amor e da justiça, é uma expressão de amizade verdadeira e de responsabilidade mútua pela santidade de todos. Jesus até nos apresentou os passos a seguir nestas situações. Disse-nos que se algum pecasse, fossemos ter com ele e lhe mostrássemos o erro, em particular, só conversa entre os dois. Se ele nos desse ouvidos, teriamos ganho o nosso irmão. Se ele não aceitasse, seria preciso ajudá-lo a perceber a situação, com duas ou três testemunhas. Se, apesar disso, rejeitasse a correção, deveria dizer-se à comunidade. Se também não aceitasse a comunidade, seria preciso fazê-lo entender que ele mesmo se separou da comunhão da Igreja (cf. Mt 18, 15). São Paulo, por sua vez, aconselha os coríntios a se “encorajaram mutuamente” (2 Cor 13,11). E Santo Ambrósio lembra que “as correções fazem bem e são de maior proveito que uma amizade muda. Se o amigo se sentir ofendido, corrige-o mesmo assim; insiste sem medo, mesmo que o sabor amargo da correção o desgoste”.
No entanto, sabemos que nem sempre é fácil, mesmo quando feita com todos os quês e prudência. Já Séneca, na antiguidade, dava a entender que aceitar a correção fraterna é um sinal de maturidade. Dizia que “o homem bom alegra-se ao ser corrigido; o malvado suporta com impaciência o conselheiro”. E o Livro dos Provérbios afirma que “Quem aceita a disciplina caminha para a vida; quem despreza a correção extravia-se” (Pr 10, 17).
Também se esconde “uma grande comodidade – e às vezes uma grande falta de responsabilidade – naqueles que, constituídos em autoridade, fogem da dor de corrigir com a desculpa de evitar o sofrimento alheio. Talvez poupem desgostos nesta vida, mas põem em jogo a felicidade eterna – a sua e a dos outros – pelas suas omissões que são verdadeiros pecados”, ensinava São José Maria Escrivã. E acrescentava que “a prática da correção fraterna – que tem raiz evangélica – é uma prova sobrenatural de carinho e de confiança” que não se deve deixar de agradecer quando se recebe nem de a praticar com aqueles com quem se convive, devendo ser feita com toda a delicadeza, com caridade, na forma e no fundo, pois, naquele momento quem a faz está a ser um instrumento de Deus.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 29-04-2022.

terça-feira, 26 de abril de 2022

É urgente o amor



É preciso abraçar com a urgência de quem não larga mais.

É preciso dar as mãos com a urgência de quem dá o coração.

É preciso olhar nos olhos com a urgência de quem toca a alma.

É preciso sorrir com a urgência de quem abraça o coração.

É preciso beijar com a urgência de quem tatua ternura.

É preciso ser colo com a urgência de quem respira amor.

É preciso falar com a urgência de quem fala do coração.

É preciso ser silêncio com a urgência de quem é feito de sentir.

É preciso curar lágrimas com a urgência de quem salva (de) tudo.

É preciso rir com a urgência de quem contagia o mundo.

É preciso brilhar no olhar com a urgência de quem se deixa encantar.

É preciso ser das nossas pessoas com a urgência de quem se faz morada. Para sempre.

É preciso amar com a urgência de quem é amor.

É preciso ser amor com a urgência de quem ama.

É preciso o amor com urgência.

É urgente o amor.



Daniela Barreira

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Tudo será aleluia, por Tolentino Mendonça


Depois do grande silêncio quaresmal, as comunidades cristãs voltam a dizer a palavra “aleluia”. Os 40 dias da quaresma serviram para criar fome dessa palavra temporariamente interdita, para sentir o desconforto que significa sermos privados dela. Serviram para reativar em nós o desejo, para nos sentirmos em tensão. Permitiram que crescesse irreprimível ao longo dos dias a vontade de a cantar. Essa palavra é mais do que uma palavra: é uma senha. Ela resume a grande viragem pascal, a novidade que até a Páscoa de Cristo o mundo desconhecia e que agora se manifesta escancarada aos olhos de todos, o acontecimento inédito que opera a reviravolta da história. Sim, aleluia: Jesus ressuscitou e abriu, aos nossos lábios mortais a possibilidade de conjugar esse verbo (o verbo ressuscitar) que nenhum de nós acreditaria possível. É isso mesmo que relatam as narrativas bíblicas que se leem nestes dias. Enganos como as de Madalena que confundiu o Mestre com o jardineiro, são iguais aos que diariamente repetimos. Marcações de incredulidade como as que faz Tomé (“Se não vir o sinal dos pregos nas suas mãos, e não tocar com o meu dedo no lugar dos pregos, e não puser a minha mão no seu lado... não acreditarei”), estamos prontos a repeti-las a todo o momento. Perplexidades como as de Pedro que entra no sepulcro vazio e vê a mortalha abandonada, sem saber o que pensar, habitam-nos ainda agora. O ceticismo pragmático dos discípulos de Emaús que deixam para trás Jerusalém, julgando ter assistido ao ponto final de tudo, cola-se assiduamente à nossa pele. Nenhum deles sabia — como nós não sabíamos — que a morte daquele Justo, a propósito do qual o soldado que o vê a expirar comenta, “verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus!” (Mc 15:39), era afinal não o fim, mas o começo. Era, é e será “o primeiro dia”. O nosso “primeiro dia” e o do mundo. Nós não sabíamos.

Atravessámos o drama de Sexta-Feira Santa e o silêncio do sábado sem nada entender. Sophia de Mello Breyner Andresen empresta palavras para exprimir o retumbante desconcerto que nos assalta: “Ei-lo caído à beira do caminho,/ Ele — o que partira com mais força/ Ele — o que partira para mais longe.// Porque o ergueste assim como um sinal?/ Pusemos tantos sonhos em seu nome!/ Como iremos além da encruzilhada/ Onde os seus olhos de astro se quebraram?” De facto, é aí que nos situamos, perguntando-nos “como iremos além da encruzilhada”.

Os 40 dias da quaresma serviram para criar fome dessa palavra temporariamente interdita, para sentir o desconforto que significa sermos privados dela

“Aleluia” é uma palavra-bússola: dizemo-la porque a Páscoa irrompe decisiva como um norte. “Aleluia” é a palavra-alavanca: dizemo-la porque a Páscoa irrompe como um interminável jato de vida que nos projeta. “Aleluia” é uma espécie de alvoroço, é a vocalização de um sobressalto: entoamo-lo porque a Páscoa de Jesus transporta consigo o poder de reconfigurar o mundo, de redefinir, em chave de esperança, a esquadria do nosso destino. Ousemos neste abril tão precário dizer firmemente “aleluia”.

Santo Agostinho, que assinou uma das mais belas reflexões sobre esta palavra, ensinava que a história do nosso destino tem duas fases: “Uma que decorre agora no meio das tentações e tribulações desta vida, e a outra que será na segurança e na alegria eternas. Por esse motivo foi também instituído para nós a celebração de dois tempos, aquele anterior à Páscoa e aquele que lhe sucede. O tempo que precede a Páscoa representa a tribulação na qual nos encontramos; aquele que se segue à Páscoa representa a felicidade que gozaremos. (...) O aleluia que dizemos por enquanto é como o canto do viandante; todavia, tendemos àquela pátria onde (...) tudo será aleluia.”



[@Expresso]

domingo, 24 de abril de 2022

A Comunidade

 



A liturgia deste domingo põe em relevo o papel da comunidade cristã como espaço privilegiado de encontro com Jesus ressuscitado.
O Evangelho sublinha a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo.
A segunda leitura insiste no motivo da centralidade de Jesus como referência fundamental da comunidade cristã: apresenta-O a caminhar lado a lado com a sua Igreja nos caminhos da história e sugere que é n’Ele que a comunidade encontra a força para caminhar e para vencer as forças que se opõem à vida nova de Deus.
A primeira leitura sugere que a comunidade cristã continua no mundo a missão salvadora e libertadora de Jesus; e quando ela é capaz de o fazer, está a dar testemunho desse Cristo vivo que continua a apresentar uma proposta de redenção para os homens.

https://www.dehonianos.org/

sábado, 23 de abril de 2022

Comunicado da CEP sobre o uso das máscaras

 


1. O Decreto-Lei n.º 30-E/2022 de 21 de abril da Presidência do Conselho de Ministros dá normas quanto ao uso das máscaras: «entende o Governo limitar a obrigatoriedade do uso de máscara aos locais caracterizados pela especial vulnerabilidade das pessoas que os frequentam e aos locais caracterizados pela utilização intensiva sem alternativa, atento o especial dever de guarda e de manutenção do sentimento de segurança da comunidade que ao Estado compete. É, respetivamente, o caso dos estabelecimentos e serviços de saúde, das estruturas residenciais ou de acolhimento ou serviços de apoio domiciliário para populações vulneráveis ou pessoas idosas, bem como unidades de cuidados continuados integrados da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e, ainda, os transportes coletivos de passageiros, incluindo o transporte aéreo, bem como no transporte de passageiros em táxi ou TVDE».

2. Em consequência, deixa de ser obrigatório o uso das máscaras nos espaços das celebrações e outras atividades pastorais da Igreja; esta orientação substitui o n. 2b das orientações de 28 de fevereiro de 2022.

Porém, sabendo que a pandemia ainda não terminou e num sentido de bom senso e responsabilidade comum, recomenda-se que haja cuidados acrescidos nos espaços fechados onde o devido arejamento nem sempre é possível.

3. Mantêm-se em vigor as restantes orientações emitidas a 28 de fevereiro de 2022.

Lisboa, 22 de abril de 2022

Secretariado Geral da CEP


sexta-feira, 22 de abril de 2022

MAIS COMPROMISSO QUE TEORIA DA MISERICÓRDIA




Celebramos o Domingo da Misericórdia. Há festas litúrgicas na Igreja que devem a sua origem e implementação mais rápida a revelações particulares. Mas sempre sem grande pressa da Igreja em assumir tais revelações já que, para ela, o tempo tem sentido de eternidade. Assim como vai distinguindo os carismas das manias, mesmo no meio da impaciência dos mais devotos e voluntariosos, também põe à prova por longo tempo estas novidades que lhe chegam bem como as formas como elas se apresentam e os conteúdos que propõem. Mas procura agir sempre respeitosamente com todos, pois sabe que não tem o monopólio do Espírito Santo e que Este sopra onde quer, quando quer, como quer, em quem quer e ninguém tem nada com isso. Costuma dizer-se que o seguro morreu de velho e a prudência foi-lhe ao enterro!...
É o caso, por exemplo, das Solenidades do Corpo de Deus e do Sagrado Coração de Jesus. Aliás, no seu comentário teológico sobre a mensagem de Fátima, o então cardeal Joseph Ratzinger, futuro Bento XVI, escreveu que “frequentemente as revelações privadas provêm da piedade popular e nela se refletem, dando-lhe novo impulso e suscitando formas novas. Isto não exclui que aquelas tenham influência também na própria liturgia, como o demonstram por exemplo a festa do Corpo de Deus e a do Sagrado Coração de Jesus”.
Foi pelo ano de 1263 que um Padre de Praga, perante as dúvidas que o assaltavam sobre a presença real de Cristo na Eucaristia, se sentiu agraciado com a evidência do facto quando a hóstia começou a gotejar sangue na presença de todos os fiéis presentes. Este fenómeno que teve lugar em Bolsena, na região de Lácio, por onde o sacerdote passeava, foi devidamente estudado. Diz a tradição que, além do Papa Urbano IV, faziam parte dessa comissão de avaliação São Tomás de Aquino e São Boaventura, e que dois!... Também, neste tempo, já era sobejamente conhecido o famoso milagre eucarístico de Lanciano do século VIII, um dos mais célebres do mundo, cientificamente estudado. O Papa Urbano IV, que antes de ser Papa era arcediago de Liége, foi a pessoa a quem, Juliana de Liège, mais conhecida por Santa Juliana de Mont Cornillon, em 1230 confidenciou as visões que tinha, recebendo dos Céus a incumbência de transmitir à Igreja o desejo divino de se incluir no Calendário Litúrgico uma festa em honra da Santíssima Eucaristia. A festa logo começou a ser celebrada em Liège. Só em 11 de agosto de 1264, Urbano IV instituiu a Festa de Corpus Christi, estendendo a toda a Igreja o culto público à Sagrada Eucaristia que apenas era celebrado em algumas dioceses por influência de Santa Juliana. Clemente V, cinquenta anos mais tarde, tornou obrigatória a celebração dessa Festa da Eucaristia. E o Concílio de Trento, em meados do século XVI, oficializou as procissões eucarísticas, como ação de graças pelo dom supremo da Eucaristia e como manifestação pública de fé na presença real de Cristo na Hóstia Sagrada. Como afirmava São João Paulo II, a Eucaristia é o “tesouro mais precioso herdado de Cristo, o Sacramento de sua própria Presença” em que o povo de Deus “O louva, canta e leva em procissão pelas ruas da cidade” (14/6/2001).
Igualmente a Festa ao Sagrado Coração de Jesus. A sua devoção já existe desde tempos imemoriais, mas a sua maior difusão e implementação deve-se sobretudo a Santa Maria de Alacoque (1601-1680), uma monja do mosteiro de Paray-le-Monial, em França. Durante anos teve aparições de Jesus que lhe pedia uma particular devoção ao seu coração. Pedia-lhe que comungasse em cada primeira sexta-feira do mês – foi em sexta-feira que Jesus foi crucificado - e que a sexta-feira a seguir à oitava da Festa do Corpo de Deus fosse dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Foi o papa Pio IX, em 1856, quem estendeu a festa do Sagrado Coração de Jesus a toda a Igreja, celebrando-se o coração como órgão humano unido à divindade de Cristo e o amor de Deus pelos homens.
Vamos celebrar o Domingo da Divina Misericórdia, o segundo Domingo da Páscoa. Também se fundamenta em revelações feitas por Jesus a Santa Faustina Kowalska, em Plock, Polónia. Desde o ano 2000, por vontade do Papa São João Paulo II, faz parte do calendário litúrgico da Igreja. Nesse ano, em 30 de abril, o Papa, na homilia da celebração de canonização de Santa Faustina, afirmava ser importante “que acolhamos inteiramente a mensagem que nos vem da palavra de Deus neste segundo Domingo de Páscoa que de agora em diante na Igreja inteira tomará o nome de ‘Domingo da Divina Misericórdia”.
A imagem divulgada do Senhor da Divina Misericórdia representa Jesus no momento em que aparece aos discípulos no Cenáculo, após a ressurreição (Jo 20,19-31), quando lhes dá o poder de perdoar os pecados. O perdão é o sinal mais visível do amor do Pai que Jesus quis revelar em toda a sua vida até ao alto do Calvário. Nestas revelações privadas, Jesus dá muita importância à sua Segunda Vinda, como referem os capítulos 13 e 25 de São Mateus. E os apelos de Jesus são que se fale ao mundo da sua misericórdia, que toda a humanidade conheça a sua misericórdia (cf. Diário 848), pois “Quem não queira passar pela porta de Minha misericórdia, tem que passar pela porta de Minha justiça” (Diário, 1146). O Senhor deixou-nos o sacramento da sua misericórdia, o sacramento da reconciliação com Deus e com os irmãos, o sacramento que faz experimentar a força libertadora do perdão. É a ação da Divina Misericórdia até o fim dos tempos, não podendo deixar de ter o seu lugar central na vida cristã. E a Igreja convida a celebrar a Divina Misericórdia de várias formas, enriquecendo o Domingo da Misericórdia com a Indulgência Plenária “para que os fiéis possam receber mais amplamente o dom do conforto do Espírito Santo e desta forma alimentar uma caridade crescente para com Deus e o próximo e, obtendo eles mesmos o perdão de Deus, sejam por sua vez induzidos a perdoar imediatamente aos irmãos” (Decreto da P. Apostólica, 2002). A interpretação da própria imagem do Senhor da Divina Misericórdia sugerida a Santa Faustina e explicada por Jesus, é um símbolo da caridade, do perdão e do amor de Deus, fonte da Misericórdia. Fazem ainda parte desta devoção o terço próprio da Divina Misericórdia, sendo rezado, se possível, pelas 15 horas, o momento da morte de Jesus. Inicia-se rezando o Pai Nosso, a Ave Maria e o Credo. Nas contas do ‘Pai Nosso’, diz-se: “Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e do mundo inteiro”. Nas contas das ‘Ave Maria’, reza-se: “Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro”. No final das dezenas, reza-se três vezes: “Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro”.
“A cultura da misericórdia forma-se na oração assídua, na abertura dócil à ação do Espírito, na familiaridade com a vida dos Santos e na solidariedade concreta para com os pobres. É um convite premente para não se equivocar onde é determinante comprometer-se” (MeM20).


D Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 22-04-2022.


Afasta-te das falsidades!




Não deixes que aquilo que acontece fora de ti te deite abaixo. Não é a água que está à volta do teu barco que o afunda, é aquela que deixas entrar.

A melhor resposta à difamação é o silêncio, porque a sua fonte é a ignorância, e ela jamais compreenderá a verdade. Quem lhe dá crédito, ainda que não seja o injuriado, acaba por ser cúmplice da falsidade. Não acredites nunca em quem diz mal, e, menos ainda, não reproduzas o que diz. O que ganha alguém que diz mal?

Ainda que alguém te faça mal, diga mentiras ou até verdades incómodas a teu respeito, pensa que as ações nos ajudam a saber mais sobre quem as faz do que sobre aquele a quem se dirige. Não te preocupes demasiado com as aparências. Quem te julga por elas não é teu amigo, talvez nem o deva conseguir ser de alguém. Segue o teu caminho.

Ninguém está livre da má-língua, porque ela é tão potente que pouco importa quão inocentes as suas vítimas sejam, nem a que distância estejam.

Esforça-te por não julgar ninguém. Na vida, é mais importante uma bússola do que um relógio. Não tenhas pressa, preocupa-te apenas em seguir na direção certa.

Mais do que te afastares dos que ofendem, aproxima-te dos que se esforçam por ser bons. Serão um excelente exemplo para ti, ainda que a sua verdade te possa fazer sentir mal.

A malícia perseguir-te-á, mas isso talvez seja bom sinal, porque pode indicar que estás do lado certo.

Qualquer coração acaba envenenado quando julga que se honra através da desonra que provoca aos outros.



José Luís Nunes Martins



quinta-feira, 21 de abril de 2022

Um dia houve alguém que (se) ergueu



Um dia houve alguém que ergueu. Tomou a sua vida e dividiu-a por inteiro. Rasgou-a e deu-a a tantos e tantas para que muitos, saindo das margens, pudessem encontrar a verdadeira via do amor.

Um dia houve alguém que ergueu. E para erguer dedicou-se ao simples do quotidiano. Juntou. Acolheu. Sentiu. Comoveu-se. Tocou. Curou. Comeu e bebeu. E fez dos banquetes uma vida rezada.

Um dia houve alguém que ergueu. E não descansou enquanto todos não estivessem no centro. No centro da dignidade. Do amor. Não parou enquanto todos não sentissem o Reino de um Deus-Pai com entranhas de Mãe. Não parou de caminhar enquanto não vivênciasse o improvável. Enquanto não colocasse em prática o exagero do amor e do cuidado.

Um dia houve alguém que ergueu. E para isso decidiu servir. Deu-se em serviço. E instaurou em si o serviço do amor. Deu-se por inteiro ao tornar a sua vida um pão partido. Deu-se de tal forma que se tornou alimento para tantos em cálice de vida em abundância. Uma vida regada de misericórdia. Uma vida desenhada fora de todas as medidas, regras ou doutrinas.

Um dia houve alguém que ergueu e daí surgiu a oportunidade de se realizar o improvável. Rompeu a morte. Saiu. Depois de tanto erguer saiu erguido. Ressuscitou.

Um dia houve alguém que se ergueu. E juntando em si tudo e todos criou uma comunidade de erguidos e de "erguedores".


Emanuel António Dias


quarta-feira, 20 de abril de 2022

Com a mesma Cruz!




Nos últimos dois anos caminhámos juntos, com a mesma Cruz. Atravessámos confinamentos e fomos atordoados por uma doença que, ainda que nos vá roubando algumas coisas, já não nos rouba tudo. Perdemos para o COVID até conseguir ganhar terreno e alguma segurança. Perdemos mães. Pais. Tios. Avós. Irmãos. Maridos. Amigos. Mulheres. Companheiros. Velhos e novos. Ricos e pobres. Numa roleta russa que não nos queria dar tréguas.

Nesta semana vamos avançando com o peso dos nossos sofrimentos, das nossas dores e dos lutos que ainda trazemos por fazer. Consola-me que não caminhamos sozinhos. Connosco segue Aquele que também teve que trilhar sofrimento e mágoa com uma Cruz às costas.

Que saibamos, durante esta semana, fazer uma Via-Sacra do coração. A partir de dentro. Olhar para o que ainda temos como ferida aberta, ver (sem medo) aquilo que temos de feio e de cicatriz. Enquanto olharmos para o que não compreendemos, para o que ainda nos magoa e ofusca, desejo que saibamos fazer as pazes com os nossos sofrimentos internos e que saibamos deixá-los pregados na mesma Cruz d'Aquele que, mais uma vez, quer dar a vida por nós.

Numa altura em que a humanidade parece estar a ser posta à prova e em que tantos seres parecem ter pouco de humano ou de sensível, olhamos também para este tempo interminável de guerra. De guerras. Desta que assola a Europa e das outras todas que não saem nos jornais. Que possamos ser testemunho de esperança e de paz, mesmo quando esta não existir ou parecer tardar em chegar e instalar-se.

Atravessamos um tempo de deserto, de espinhos, de provocações dolorosas e aparentemente arbitrárias. No entanto, nada do que é mau pode durar eternamente. Até a Cruz de Jesus se transformou em Céu e em vida.

Também nós, depois destes dias de silêncio e de dor, somos chamados a ser a novidade da alegria e da esperança. É essa que será capaz de rasgar o Céu tenebroso que parece querer cair sobre nós.

No final, vencerá o Bem. Não tenho dúvida alguma.



Marta Arrais

terça-feira, 19 de abril de 2022

Papa reforça apelo à «reconciliação» para superar as guerras


Francisco presidiu à recitação do «Regina Coeli», alertando para a destruição provocada pelo «deus-dinheiro»

Foto: Lusa/EPA


Cidade do Vaticano, 18 abr 2022 (Ecclesia) – O Papa reforçou hoje os seus apelos em favor da paz, afirmando a necessidade de “reconciliação” como forma de superar as guerras.

“Que ninguém seja abandonado, as querelas, as guerras, as discussões, deem lugar à compreensão, à reconciliação. Quero sublinhar esta palavra, sempre, reconciliação, porque o que Jesus fez no calvário e com a sua ressurreição é reconciliar-nos a todos com o Pai, com Deus e entre nós. Reconciliação”, disse, desde a janela do apartamento pontifício, antes da recitação da oração pascal do ‘Regina Coeli’.

Perante centenas de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, na chamada “segunda-feira do Anjo”, Francisco rezou para que “a graça do Senhor Ressuscitado dê conforto e esperança a quantos vivem no sofrimento”.

“Deus venceu a batalha decisiva contra o espírito do mal. Deixemos que ele vença, renunciemos aos nossos planos humanos, convertamo-nos aos seus desígnios de paz e justiça”, declarou, um dia depois da sua mensagem pascal e da bênção ‘Urbi et Orbi’, em que evocou vários conflitos que atingem a humanidade.

A intervenção começou por recordar uma passagem do Evangelho sobre a ressurreição de Jesus, em que este anúncio é desmentido por testemunhos de “falsidade”, alimentados pelo “poder do dinheiro, aquele outro senhor que Jesus diz para nunca servir”.

“Aqui está a falsidade, a lógica da ocultação, que se opõe ao anúncio da verdade. É um lembrete para nós também: as falsidades – nas palavras e na vida – contaminam o anúncio, corrompem por dentro, levam de volta ao túmulo”, advertiu o Papa.

Diante do Senhor Ressuscitado está este outro ‘deus’, o deus-dinheiro, que suja tudo, destrói tudo, fecha as portas à salvação. E isto acontece em todo o lado, na vida diária, a tentação de adorar este deus-dinheiro”


Francisco pediu que todos assumam a “paixão pela verdade” e que, a partir da fé na ressurreição, superem os seus medos, como “testemunhas transparentes e luminosas da alegria do Evangelho, da verdade que liberta”.

“O Senhor sabe que os medos são nossos inimigos diários. Ele também sabe que nossos medos surgem do grande medo, o medo da morte, medo de desaparecer, de perder entes queridos, de ficar doente, de já não aguentar. Mas na Páscoa Jesus venceu a morte”, declarou.


Foto: Vatican Media

O Papa falou da necessidade de “sair dos túmulos” dos próprios medos, no coração de cada um, para ir ao encontro dos outros.

“Este é o segredo: anunciar para vencer o medo”, acrescentou.

No final do encontro, Francisco agradeceu os votos pascais que recebeu nestes dias, pedindo que Deus recompense “cada um”.

“Estou especialmente grato pelas orações”, disse.

O Papa apontou depois para o encontro desta tarde (17h00 em Lisboa), na Praça de São Pedro, com mais de 50 mil adolescentes das dioceses italianas, que considerou como “um belo sinal de esperança”.

“Desejo a todos que vivam estes dias pascais na paz e na alegria que veem de Cristo Ressuscitado”, concluiu.

OC

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Celebrações Pascais



A Igreja celebra todos os anos os grandes mistérios da redenção humana, desde a missa vespertina da Quinta-feira “In Cena Domini” até às vésperas do domingo da ressurreição. Este espaço de tempo é justamente chamado o “tríduo do crucificado, do sepultado e do ressuscitado” e também tríduo pascal, porque com a sua celebração se torna presente e se cumpre o mistério da Páscoa, isto é, a passagem do Senhor deste mundo ao Pai. Com a celebração deste mistério a Igreja, por meio dos sinais litúrgicos e sacramentais, associa-se em íntima comunhão com Cristo seu Esposo.

Na Semana Santa a Igreja celebra os mistérios da salvação, levados a cumprimento por Cristo nos últimos dias da sua vida, a começar pelo seu ingresso messiânico em Jerusalém. O tempo quaresmal continua até à Quinta-feira Santa. A partir da missa vespertina “in Cena Domini” inicia-se o tríduo pascal, que abrange a Sexta-feira Santa “da paixão do Senhor” e o Sábado Santo, e tem o seu centro na vigília pascal, concluindo-se com as vésperas do domingo da ressurreição.

Neste dia, em que “Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado”, a Igreja, com a meditação da paixão do seu Senhor e Esposo e adorando a cruz, comemora o seu nascimento do lado de Cristo que repousa na cruz, e intercede pela salvação do mundo todo.

A Igreja, seguindo uma antiquíssima tradição, neste dia não celebra a Eucaristia; a sagrada Comunhão é distribuída aos fiéis só durante a celebração da paixão do Senhor;

Durante o Sábado Santo a Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando a sua paixão e morte, a sua descida aos infernos[75], e esperando na oração e no jejum a sua ressurreição.

Segundo uma antiquíssima tradição, esta noite é “em honra do Senhor”, e a vigília que nela se celebra, comemorando a noite santa em que o Senhor ressuscitou, deve ser considerada como “mãe de todas as santas vigílias”.[80] Nesta vigília, de fato, a Igreja permanece à espera da ressurreição do Senhor e celebra-a com os sacramentos da iniciação cristã.

Desde o início a Igreja tem celebrado a Páscoa anual, solenidade das solenidades, com uma vigília noturna. Com efeito, a ressurreição de Cristo é o fundamento da nossa fé e da nossa esperança, e por meio do Batismo e da Confirmação fomos inseridos no mistério pascal de Cristo: mortos, sepultados e ressuscitados com Ele, com Ele também havemos de reinar.

Esta vigília é também espera da segunda vinda do Senhor.

A missa do dia da Páscoa deve ser celebrada com grande solenidade. Em lugar do ato penitencial, é muito conveniente fazer a aspersão com a água benzida durante a celebração da vigília.

A celebração da Páscoa continua durante o tempo pascal. Os cinqüenta dias que vão do domingo da Ressurreição ao domingo de Pentecostes são celebrados com alegria como um só dia festivo, antes como “o grande domingo”.

O domingo de Pentecostes conclui este sagrado período de cinqüenta dias, quando se comemora o dom do Espírito Santo derramado sobre os apóstolos, os primórdios da Igreja e o início da sua missão a todos os povos, raças e nações.

“É próprio da festividade pascal que toda a Igreja se alegre pelo perdão dos pecados, concedido não só àqueles que renascem no santo Batismo, mas também aos que há tempo foram admitidos no número dos filhos adotivos”. Mediante uma atividade pastoral mais intensa e maior empenho espiritual da parte de cada um, com a graça do Senhor, será possível a todos os que tenham participado nas festas pascais testemunhar na vida o mistério da Páscoa celebrado na fé.
















Uma oração para a semana

 


domingo, 17 de abril de 2022

SOLENIDADE DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

 


A liturgia deste domingo celebra a ressurreição e garante-nos que a vida em plenitude resulta de uma existência feita dom e serviço em favor dos irmãos. A ressurreição de Cristo é o exemplo concreto que confirma tudo isto.
A primeira leitura apresenta o exemplo de Cristo que “passou pelo mundo fazendo o bem” e que, por amor, Se deu até à morte; por isso, Deus ressuscitou-O. Os discípulos, testemunhas desta dinâmica, devem anunciar este “caminho” a todos os homens.
Aos discípulos pede-se também que sejam as testemunhas da ressurreição. Nós não vimos o sepulcro vazio, mas fazemos todos os dias a experiência do Senhor ressuscitado, vivo e caminhando ao nosso lado nos caminhos da história. Temos de testemunhar essa realidade; no entanto, é preciso que o nosso testemunho seja comprovado por factos concretos: por essa vida de amor e de entrega que é sinal da vida nova de Jesus em nós.
O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes face à ressurreição: a do discípulo obstinado, que se recusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor total e a doação da vida não podem nunca ser geradores de vida nova; e o discípulo ideal, que ama Jesus e que, por isso, entende o seu caminho e a sua proposta – a esse não o escandaliza nem o espanta que da cruz tenha nascido a vida plena, a vida verdadeira.
Pela fé, pela esperança, pelo seguimento de Cristo e pelos sacramentos, a semente da ressurreição (o próprio Jesus) é depositado na realidade do homem/corpo. Revestidos de Cristo, somos nova criatura: estamos, portanto, a ressuscitar, até atingirmos a plenitude, a maturação plena, a vida total (quando ultrapassarmos a barreira da morte física). Aqui começa, pois, a nova humanidade.
A segunda leitura convida os cristãos, revestidos de Cristo pelo Baptismo, a continuarem a sua caminhada de vida nova, até à transformação plena que acontecerá quando, pela morte, tivermos ultrapassado a última fronteira da nossa finitude.
O Baptismo introduz-nos numa dinâmica de comunhão com Cristo ressuscitado. Tenho consciência de que o meu Baptismo significou um compromisso com Cristo? Quando, de alguma forma, tenho um papel activo na preparação ou na celebração do sacramento do Baptismo, estou consciente e procuro deixar claro que não se trata de um acto tradicional ou social, mas num compromisso sério e exigente com Cristo ressuscitado?
A minha vida tem sido, na sequência, uma caminhada coerente com esta dinâmica de vida nova? Esforço-me realmente por me despojar do “homem velho”, egoísta e escravo do pecado, e por me revestir do “homem novo”, que se identifica com Cristo e que vive no amor, no serviço e na doação?


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sábado, 16 de abril de 2022

VIDA NOVA

 

MORTO NO CALVÁRIO – EM AUSCHWITZ – NA UCRÂNIA – EM...


Um preso de Auschwitz escreveu sobre um dos muitos e terríveis enforcamentos a que assistiu nesse campo de concentração, de horror e extermínio. Enforcamentos solenemente sádicos e horrorosos, cruéis e intimidatórios. Naquele dia enforcaram três: dois adultos e um rapazito. Elie Wiesel escreveu assim: “Os três condenados subiram juntos para as três cadeiras. A cabeça, dos três, foi introduzida ao mesmo tempo dentro dos nós corrediços. “Viva a liberdade”, gritaram os dois adultos. O pequeno, porém, ficou calado. “Onde está Deus? Onde é que Ele está?”, perguntou alguém atrás de mim. A um sinal do chefe do campo, as três cadeiras foram deitadas por terra. Silêncio absoluto em todo o campo. O sol ia-se pondo no horizonte. Em seguida, começou o desfile. Os dois adultos já não estavam vivos. Tinham a língua pendente, inchada, azulada. A terceira corda, porém, continuava a mover-se; como era tão leve, o miúdo continuava vivo…Manteve-se assim durante mais de meia hora, debatendo-se entre a vida e a morte, agonizando lentamente sob o nosso olhar. E nós tínhamos de olhá-lo bem no rosto. Ainda estava vivo, quando passei à sua frente. Tinha a língua vermelha e os olhos ainda não se tinham vidrado. Atrás de mim voltei a ouvir o mesmo homem, que perguntava: “Onde é que Deus está, neste momento?” Então ouvi dentro de mim uma voz que lhe respondia: “Onde está Deus? Ei-lo ali, pendurado naquela forca…”. (in “As sete últimas palavras” de Timothy Radcliffe).
Os que se julgam donos e senhores de tudo e de todos continuam a crucificar e a matar Jesus na cruz: “O que fizerdes aos outros é a mim que o fazeis”, disse-nos Ele. E porquê que isso acontece?
Como recordávamos na Missa da Última Ceia, o Senhor disse a Pedro, relutante em que Cristo lhe lavasse os pés: “Se eu não te lavar os pés, não terás parte comigo”. Dois mil anos depois de Cristo acontece mesmo. Ainda há quem, na sua importância, tenha preconceitos de autossuficiência e se recuse a que Jesus lhe lave os pés. Isto é, rejeita deixar-se lavar e purificar por Cristo, com a sua graça, com o seu perdão, com a sua misericórdia, com a sua palavra, com o seu testemunho de amor por todos, incluindo os inimigos.
RECORDEMOS NA FORMA BREVE:
“Naquele tempo, levantaram-se os anciãos do povo, os príncipes dos sacerdotes e os escribas, levaram Jesus a Pilatos e começaram a acusá-lo, dizendo: «Encontrámos este homem a sublevar o nosso povo, a impedir que se pagasse o tributo a César e dizendo ser o Messias-Rei». Pilatos perguntou a Jesus: «Tu és o Rei dos judeus?». Jesus respondeu: «Tu o dizes». Pilatos disse aos príncipes dos sacerdotes e à multidão: «Não encontro nada de culpável neste homem». Mas eles insistiam: «Amotina o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia, onde começou, até aqui». Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu; e, ao saber que era da jurisdição de Herodes, enviou-O a Herodes, que também estava nesses dias em Jerusalém. Ao ver Jesus, Herodes ficou muito satisfeito. Havia bastante tempo que O queria ver, pelo que ouvia dizer d’Ele, e esperava que fizesse algum milagre na sua presença. Fez-Lhe muitas perguntas; mas Ele nada respondeu. Os príncipes dos sacerdotes e os escribas que lá estavam acusavam-no com insistência. Herodes, com os seus oficiais, tratou-O com desprezo e, por troça, mandou-O cobrir com um manto magnífico e remeteu-O a Pilatos. Herodes e Pilatos, que eram inimigos, ficaram amigos nesse dia. Pilatos convocou os príncipes dos sacerdotes, os chefes e o povo, e disse-lhes: «Trouxestes este homem à minha presença como agitador do povo. Interroguei-O diante de vós e não encontrei n’Ele nenhum dos crimes de que O acusais. Herodes também não, uma vez que no-lo mandou de novo. Como vedes, não praticou nada que mereça a morte. Vou, portanto, soltá-lo, depois de O mandar castigar». Pilatos tinha obrigação de lhes soltar um preso por ocasião da festa. E todos se puseram a gritar: «Mata Esse e solta-nos Barrabás». Barrabás tinha sido metido na cadeia por causa de uma insurreição desencadeada na cidade e por assassínio. De novo Pilatos lhes dirigiu a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam: «Crucifica-O! Crucifica-O!». Pilatos falou-lhes pela terceira vez: «Mas que mal fez este homem? Não encontrei n’Ele nenhum motivo de morte. Por isso vou soltá-lo, depois de O mandar castigar». Mas eles continuavam a gritar, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Então Pilatos decidiu fazer o que eles pediam: soltou aquele que tinha sido metido na cadeia por insurreição e assassínio, como eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam.
Quando O conduziam, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para a levar atrás de Jesus. Seguia-O grande multidão de povo e mulheres que batiam no peito e se lamentavam, chorando por Ele. Mas Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos. Pois dias virão em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram’. Começarão a dizer aos montes: ‘Caí sobre nós’; e às colinas: ‘Cobri-nos’. Porque se tratam assim a madeira verde, que acontecerá à seca?». Levavam ainda dois malfeitores para serem executados com Jesus. Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem». Depois deitaram sortes, para repartirem entre si as vestes de Jesus. O povo permanecia ali a observar. Por sua vez, os chefes zombavam e diziam: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus».
Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más ações. Mas Ele nada praticou de condenável». E acrescentou: «Jesus, lembra-Te de mim, quando vieres com a tua realeza». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso». Era já quase meio-dia, quando as trevas cobriram toda a terra, até às três horas da tarde, porque o sol se tinha eclipsado. O véu do templo rasgou-se ao meio. E Jesus exclamou com voz forte: «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito». Dito isto, expirou. Vendo o que sucedera, o centurião deu glória a Deus, dizendo: «Realmente este homem era justo». E toda a multidão que tinha assistido àquele espetáculo, ao ver o que se passava, regressava batendo no peito. Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que O acompanhavam desde a Galileia, mantinham-se à distância, observando estas coisas”.
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D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 15-04-2022.

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Há dias mais escuros





Há dias em que tudo parece perder a cor. Sem porquê, uma tristeza estranha atira-nos para uma monotonia estéril. Não há nada ali. Nem dentro de nós se houve voz alguma. Como se o sentido de tudo se tivesse desfeito. O bem e o mal parecem iguais…

A solidão cai como um nevoeiro e cega-nos. Não se ouve nada e também não se consegue dizer nada…

Mas assim que o coração se liberta do medo e se começa a olhar o desalento com amor, sem lhe dar o poder que deseja, eis que nosso espírito sorri, porque compreende que todas as pessoas têm dias cinzentos e que daí só chega mal ao mundo se alguém lhe sacrificar a sua vida em troca de uma falsa promessa de conforto.

Só há sofrimento profundo num coração grande. O problema de um espírito mais elevado é que se volta e revolta contra si mesmo.

A nossa existência exige que fixemos objetivos e que tenhamos a energia necessária para chegar lá. Sonhar não é senão o primeiro e o mais fácil dos passos rumo à felicidade.

A sabedoria passa por descobrir a verdade de cada coisa, distinguindo-a de todas as demais. Para uma mente cansada, tudo é indiferente.

A grandeza do espírito não está na quantidade de ideias de que é capaz, mas da honra daquelas que assume cumprir.

Aquele que consegue dizer não aos ventos que o tentam demover das suas intenções, aquele que é capaz de assumir os dias tristes como parte do seu caminho, mas que não se detém neles mais do que é natural, vence as trevas dentro e fora de si.

Há quem passe o tempo a tentar encontrar forma de viver confortável no seu desespero. Outros sofrem ainda mais por acreditar na sua esperança, buscando, por todos os meios, uma forma de se evadirem da prisão da angústia. Só estes chegam onde querem.

Só vive os seus dias quem se revolta contra a morte de cada momento.


José Luís Nunes Martins


terça-feira, 12 de abril de 2022

Respira fundo!




Quando puderes, respira fundo. Ousa adiar o que é, supostamente, urgente. Atreve-te a deixar para amanhã. A não fazer. A deixar para trás se isso significa colocares-te, a ti, em primeiro lugar.

Quando puderes, esquece. Deixa essa discussão que já passou e da qual só tu ainda te lembras. Não fiques preso ao que só te acrescenta lixo ao coração.

Quando puderes, se humilde. Não tenhas vergonha de dizer que fizeste asneira. Que arraste. Que não fizeste tudo o que podia (ou devia) ter sido feito. Ter a coragem para admitir os erros é meio caminho para ser capaz de fazer melhor amanhã.

Vivemos no carrossel do que nos acontece. Como vítimas permanentes do nosso próprio descuidado, das vezes em que não somos capazes de nos colocar na linha da frente. Vamos a tempo de deixar esse carrossel. De abrandar o ritmo. De suspender o piloto automático e de acalmar o cavalo que corre no lugar do nosso coração.

Quando puderes, descansa. E se não puderes descansar ainda, assegura-te de que o farás em breve, para que não sacrifiques o que pode não voltar e o que pode não ter retorno.

Quando puderes, fecha os olhos. Protege-te dos que não te ajudam a ser feliz e, ainda que os aceites, não lhes dês demasiado crédito. Faz por lhes sorrir, mas não deixes que te retirem a energia e a paz.

Quando puderes, faz o que gostas. O que te apetece. O que te acrescenta. O que te deixa feliz e em paz. Depois disso, tudo se há de alinhar.


Marta Arrais


segunda-feira, 11 de abril de 2022

A alegria salva-nos





Na alegria surge a possibilidade de nos reerguermos. Há algo de misterioso que sustenta e dá sentido à nossa existência.

A alegria convida-nos sempre à novidade e à possibilidade de podermos caminhar por entre a leveza das nossas vidas. A alegria transporta-nos para o campo da bênção. Sim, porque é na alegria que nos bendizemos. É na alegria que damos bom nome uns aos outros.

A alegria salva-nos. Salva-nos da rigidez das nossas posturas. Salva-nos da certeza sobre tudo e sobre todos. Salva-nos da intolerância. Salva-nos da escuridão do nosso egoísmo.

A alegria une-nos. E fá-lo sem procurar semelhanças. A união que surge da alegria cresce na diversidade. Alimenta-se da diferença.

A alegria ajuda-nos a ver Deus. Ajuda-nos a vê-Lo mais de perto. A senti-Lo mais de perto. Em cada sorriso dado encontramos o rosto da Sua misericórdia. Em cada riso dado encontramos a felicidade do Seu amor.

A alegria dá-nos a vida. Por inteiro. E ajuda-nos a aceitarmo-nos na nossa inteireza. Enfrentando medos, vergonhas e falhas, porque a alegria reveste-nos com a Luz da esperança e com o brilho do recomeçar.

A alegria fala-nos da vida. Da morte. E do que há para lá dela...

Felizes os que se alegram pois verão a Deus.

Felizes os que nos alegram pois dão testemunho da Sua Ressurreição.


Emanuel António Dias


domingo, 10 de abril de 2022

O que é o Domingo de Ramos?




Este domingo 10 de abril teve lugar, pelas 11h30 a Bênção dos Ramos no Claustro da igreja do convento de Nª. Srª da Luz, , seguida de procissão e Celebração da Eucaristia na Igreja Matriz, pelas 12h00, celebrada pelo padre Fernando Farinha







Vídeo / Emílio Moitas´

No Domingo de Ramos, celebra-se a entrada solene de Jesus em Jerusalém, que marca o começo da Semana Santa e prepara os cristãos para reviver a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Os ramos, abençoados nesse dia, são o sinal da vitória da vida sobre a morte e o pecado.

Desde 1984, por iniciativa de João Paulo II, no Domingo de Ramos se comemora também a festa dos jovens, em todas as dioceses do mundo.


O Domingo de Ramos é, simbolicamente, a “porta de entrada” da Semana Santa e, portanto, para chegar à Páscoa. Ainda hoje, como na época de Jesus, a bênção dos ramos atrai muitas pessoas.

Todos os anos, a passagem evangélica da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém dá todo o sentido à bênção dos ramos. Revivem-se os momentos em que a multidão acolhe Jesus na cidade de Davi, “cidade símbolo da humanidade” (João Paulo II), como um rei, como o Messias esperado há séculos. Aclamam Jesus, dizendo: “Bendito é aquele que vem em nome do Senhor” e “Hosana” (em hebraico, este termo significa “Salvai-nos!” e se tornou uma exclamação de triunfo, alegria e confiança).

Jesus é um Rei de paz, humildade e amor.

Símbolo de vida e de ressurreição, os ramos são portadores de bem, mais que de sorte. São colocados nas casas, enfeitam os crucifixos: fazem Jesus ressuscitado entrar nos lares.


 
Vídeo / Emílio Moitas´

Domingo de Ramos

 


A liturgia deste último Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projectos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz revela-se o amor de Deus, esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.

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sábado, 9 de abril de 2022

Não ao «salve-se quem puder!»


O momento que atravessamos é marcado pelo individualismo e por uma alarmante indiferença. Todos nós já o constatamos de perto. Talvez em nós mesmos, na nossa família, no nosso trabalho ou até nas próprias notícias. Se a maior parte das vezes parece ser individual, outras é comunitária, social, e até mesmo política. Mais escandalosa quando é detetada em ambientes eclesiais ou em nós que nos dizemos crentes.

Seja como for, cada um parece atormentado pela preocupação de "salvar a própria pele" ou, no máximo, a da família, ou mesmo a da comunidade. Se isso é compreensível, porque atravessamos uma crise pandémica e também de instabilidade política causada pela guerra na europa, constitui no entanto, um alarme que não deve ser subestimado. Além de expressar o medo quanto ao que o futuro nos reserva, também não é cristão, pois fecha-nos ao que vive ao nosso lado ou procura a nossa ajuda.

Não podemos negar que, dada a realidade, o amanhã é realmente assustador, principalmente quando olhamos para as notícias e vemos tanta miséria em tanto lado. O mesmo se passa quando vemos as nossas despesas a aumentar com os mesmos bens. Se é natural preocupar-nos com o amanhã, deixa de o ser se nos fechamos ao outro. Ouso dizer que, muitas das vezes, nem tão pouco é evangélico! Tudo o que nos impeça de viver como irmãos e irmãs, ajudando-nos nas necessidades, solidários uns com os outros, dispostos a dar uma mão quando a vida fica difícil, está longe do Evangelho.

O "salve-se quem puder!" não faz parte da mensagem de Jesus Cristo!

O exemplo da primeira comunidade cristã é significativo: "Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum; vendiam as suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um". Cf. Atos 2, 44-45

Sabemos que este é um ideal a perseguir. Também sabemos que o nosso coração é capaz de gestos grandiosos de generosidade e, ao mesmo tempo, de egoísmo, mentira e mesquinhez.

Somente uma vida de oração é capaz de nos abrir ao outro. A Quaresma é um tempo propício para este regresso ao essencial, ao Evangelho.


Paulo J. A. Victória

sexta-feira, 8 de abril de 2022

MEU POVO, QUE TE FIZ EU? EM QUE TE CONTRISTEI?



Aproxima-se a celebração do momento central da plenitude dos tempos. É a ‘Hora’ para a qual vinha a convergir tudo quanto estava predito e dito e os próprios gestos salvíficos de Cristo preconizavam e até provocaram. É a hora da cruz, a hora do despojamento total do Filho muito amado do Pai, a hora da vitória da vida sobre a morte, a hora da ressurreição do Senhor. “Não está aqui, ressuscitou!” (Lc 24, 5-6). E Jesus faz-se encontrado, deixa-se ver e tocar pelos seus discípulos que o reconhecem e correm de alegria levando por toda a parte a notícia da maior história de amor que o mundo jamais conheceu. É o mistério da Páscoa, a fonte da vida, a Festa das festas, a Festa da Igreja no coração do mundo a renovar o coração dos homens. É o auge do projeto de Deus em favor da humanidade. A paixão e a ressurreição de Jesus manifestam a coerência da vida de Jesus com a sua mensagem, confirmam Jesus como Filho de Deus, são a expressão máxima do seu amor para com a humanidade, constituem o sacrifício único pelo qual todos os pecados são perdoados, encorajam a fé dos seus discípulos enviados a anunciar o que tinham tocado, visto e ouvido.
Tudo quanto ao longo da História da Salvação, na sua condescendência e pedagogia infinitas, Deus fez acontecer, tudo quanto prometeu que haveria de advir eram apenas sombra das surpresas com que Deus nos haveria, de facto, de presentear na plenitude dos tempos em seu Filho. Uma nova primavera de esperança desponta a fazer florir uma humanidade nova baseada na fraternidade universal, no amor e na paz. Infelizmente, por se querer ignorar esta história de amor incomparável, ainda há quem, dois mil anos depois!, pela dureza do seu coração soberbo e arrogante, teime em se endeusar e prefira viver num inverno existencial triste, tenebroso e destruidor, alimentando ódios impensáveis e interesses mesquinhos a destruir vidas, a promover o terror.
Se desde sempre o homem procurou e procura sentido para a vida e para as perguntas da vida, se nunca faltaram nem faltam na história humana heróis da justiça e do amor aos outros, há uma questão fundamental que sempre permanece e atormenta o homem. O homem não tem solução para a morte, quando muito tenta esquecê-la ou dizer que ela é o fim de tudo! No entanto, Deus fez-se homem, Deus entrou no seio da morte. Não porque fosse mortal, não porque tivesse caído nas ciladas do pecado. Entrou nela por amor, fez-se mortal por graça e por verdade. Bebeu o cálice da nossa morte e convidou-nos a tomar parte, desde já, na sua vida imortal, incorruptível. Se aceitarmos entrar na sua morte por amor, ela é a única que destrói a nossa morte. Jesus venceu a morte com a sua própria morte para nos dar a sua vida e vida em abundância (cf. Jean Corbon, a fonte da liturgia, cap. III). Pela sua cruz e ressurreição tornou-se o único acontecimento da história com repercussões salvadoras para toda humanidade, mesmo que a cruz continue a ser escândalo para uns e loucura para outros. Jesus, livre e soberanamente, entra na morte e enfrenta-a sozinho num combate invulgar em favor de todos. “Ninguém Me tira a vida, sou Eu que a dou espontaneamente (Jo 10,18).
Vamos entrar num tempo sagrado para viver e celebrar estes mistérios da salvação, é a Semana Santa, a Semana Maior. Vai do Domingo de Ramos, dia da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, ao Domingo da Ressurreição do Senhor. Dentro da Semana Santa temos o Tríduo Pascal em que Cristo sofreu, descansou e ressuscitou segundo a palavra que Ele disse: destruí este templo e Eu em três dias o levantarei. Começa na Quinta-Feira Santa, com a celebração da Ceia do Senhor, o dia da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio. Jesus e os seus apóstolos celebraram a Páscoa judaica, na qual Jesus lavou os pés aos seus discípulos, um gesto simbólico que os seus discípulos deveriam traduzir em atitudes de vida quotidiana, amando como Ele amou. Naquela noite, Jesus saiu para o monte das oliveiras, é traído, entregue e preso para ser julgado, flagelado e morto. É a Sexta-Feira da Paixão em que se recordam os momentos mais difíceis dos últimos dias de Cristo dos quais fazem parte o caminho para o Calvário, a Crucificação e Morte, o maior gesto do amor incondicional de Jesus por cada um de nós. É dia de oração, jejum e abstinência, de adoração da Santa Cruz. Desde o pôr-do-sol da sexta-feira ao pôr-do-sol do sábado, não há celebrações. O Sábado Santo é um dia dedicado ao silêncio, à oração e à reflexão, na esperança da Ressurreição do Senhor. É o Sábado de Aleluia, o dia em que Jesus Cristo permanece no túmulo. A Vigília Pascal é a Vigília cristã por excelência. A bênção do lume novo, a procissão da luz, o Precónio Pascal, a Liturgia da Palavra, a celebração do Batismo e a Eucaristia Pascal preenchem o tempo da Vigília. Embora aconteça na noite de sábado, a Vigília pertence ao dia seguinte, é já uma celebração do Domingo de Páscoa, do Domingo da Ressurreição do Senhor, um dia inesquecível e de grande alegria para toda a humanidade. Foi no Domingo, o primeiro dia da semana, que Jesus ressuscitou, se fez encontrado por várias pessoas e grupos de pessoas. A alegria da ressurreição de Cristo é de tal grandeza que tem um oitavário de celebração festiva como se de um só dia se tratasse. Segue-se depois o tempo pascal, um oitavário de Domingos, uma semana de semanas, cinquenta dias, um tempo para anunciar que Cristo ressuscitou e para vivermos como ressuscitados, agora e sempre, anunciando que Ele está vivo em nós, entre nós, caminha connosco.


D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 08-04-2022.


Aprende a perder mantendo a dignidade

 



Se te acontecer que estejas prestes a perder tudo, conserva a dignidade, sem cometeres atos dos quais, depois, só te poderás arrepender.

Muito do que temes perder, tem pouco valor, quando comparado com o que, sendo importante, dás por adquirido.

Na verdade, podes perder tudo, tudo, até mesmo a ti mesmo… Cuidado, é mais fácil do que te parece, bastam duas ou três decisões insensatas e eis que estarás no fundo de um poço. Tudo porque não aceitaste a perda como parte da vida e tenhas decidido fazer o que não devias: perder a dignidade numa teimosia contra a lógica.

Uma adversidade pode ser um trampolim para o melhor de nós, assim saibamos encará-la com a firme certeza de que estamos a ser postos à prova. Alguns perdem-se quando têm tudo e estão bem. De tal forma que só uma desgraça acaba por lhes devolver as suas virtudes mais nobres.

O que temos é finito, o que somos é infinito. Ninguém devia deixar que o que tem ou não lhe arruíne o que é.

Uma excelente indicação sobre aquilo de que somos feitos é a forma como reagimos a algo que nos rasga os sonhos.

Não troques a tua alma por nada deste mundo.


José Luís Nunes Martins

quarta-feira, 6 de abril de 2022

V Quaresma: «Perdão…»

 


Há algo mais maravilhoso do que abrir o mar?
Fazer brotar rios na terra árida?
Saborear a justiça que vem de Deus e se funda na Fé?
Ter um encontro pessoal e total com Cristo?
e… tudo isto num só momento, será possível tal perfeição?!…

Quando a palavra Perdão vem ao nosso pensamento, somos inundados por borboletas no estômago.
Há o perdão que temos de dar e o perdão que ansiamos receber.
Num intenso cuidar do Perdão apercebemo-nos que onde há Amor, nascem gestos.

Hoje, o Evangelho do 5º Domingo da Quaresma, do Ano C,
atira-nos pedras para edificarmos pontes, lares, Igreja Vivas…
O Mestre é colocado na barra do tribunal. Não sabe se acusa ou defende…
Mas o coração divino que O habita plenamente, palpita por um único gesto: Apontar!
Jesus inclina-se e aponta no chão os pecados, para que todo o mal seja calcado e aniquilado.
Ao erguer-se pergunta: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?».
Então, aponta um novo caminho à pecadora arrependida:
«Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar».

Quem és tu para condenares outro Filho de Deus?
Quem sou eu para te condenar a ti?

A maravilha da Boa Nova que Jesus nos vem oferecer cabe na palma da tua mão.
O ressentimento que nasce em ti, quando alguém atira palavras que provacam o desconforto;
a mágoa que se apodera das tuas palavras, quando alguém ignora a tua dor;
a maldade que colocas nos teus gestos, quando te sentes mal amado;
as amarras que te prendem, quando alguém precisa do teu abraço de perdão…
obrigam-te a fechar as mãos e não partilhas com o mundo a tua Alma!
Então, ficas doente… sentes-te mal…

O Perdão é o mais belo sinónimo de Alegria.
É o respirar fundo quando falta o ar…
Não sejas pedra fria e calculista.
Sê mais uma pedrinha forte e segura
que se une ao Reino de Paz e de Amor, que Deus criou para cada um de nós.

Durante esta última semana do Tempo Favorável da Quaresma,
ajoelha-te no teu quarto para sentires o chão frio, que tem sabor a vingança…
apaga a luz para que a noite desperte em ti o desejo de seres luz…
fecha a porta para que o silêncio externo entre no mais íntimo do teu ser…
e reza baixinho, ao compasso do palpitar do teu coração:

Pai nosso, que estás no céu,
santificado seja o Teu nome.
Venha a nós o Teu reino, seja feita a Tua vontade
assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje.
Perdoa-nos as nossas ofensas
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido;
e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.

Pede o Perdão para os teus pecados! Dá o Perdão sem hesitar… Cuida-te!


Liliana Dinis


terça-feira, 5 de abril de 2022

Desconstruir para erguer



Jesus veio revolucionar. Veio dividir, não para reinar, mas para servir. E toda a Sua história é marcada e desenhada em serviço ao outro e pelo outro.

Jesus mais do que construir, veio para desconstruir um reino que apenas servia para alguns. Desconstruiu para que todos/as pudessem ser construídos/as. Para que todos pudessem ser erguidos/as num reino escrito e planeado por Deus.

Jesus virou tudo ao contrário para que ninguém ficasse sem a alegria de se saber amado/a. Um Deus humano e comprometido com a humanidade. Para isso chegou bem perto. Tocou. Comoveu-se. "Compaixonou-se".

Jesus veio para os que se sabiam sedentos. Esteve com quem ninguém queria estar. Comeu e bebeu com quem se sabia frágil. Andou pelas margens da vida para sentir de perto a dor de se ser rejeitado.

O Evangelho de Jesus não é definitivamente para meninos e meninas bonitas. Muito menos para aqueles que se acham donos da verdade e da perfeição. Quererá isto dizer que então não é de todos e para todos?

É claro que O é. No entanto, só seremos verdadeiramente dEle se tivermos a Sua capacidade de chegar aos que hoje permanecem nas margens da nossa sociedade.

Não teremos todos e todas, como Igreja, questionar a nossa postura?

Sou um/a Cristão/ã que ergue ou que condena?

Sou um/a Cristão/ã que se inspira no Pai da parábola do filho pródigo ou que ateima em ser o filho mais velho?

Sou um/a Cristão/ã reconhecido pela alegria e pelo amor ou pela rigidez da doutrina?

Hoje, antes de professares a tua fé, pergunta-te: a quem tens deixado de fora? Quem é que para ti não é digno da Sua presença?


Emanuel António Dias


segunda-feira, 4 de abril de 2022

Papa adverte sobre “agressividade infantil e destrutiva que nos ameaça”

 



"É triste ver como o entusiasmo pela paz, surgido depois da II Guerra Mundial, se debilitou nas últimas décadas"


“É urgente devolver beleza ao rosto do homem, desfigurado pela guerra”, disse o Papa Francisco nesse sábado em seu discurso de chegada a Malta.

O pontífice evocou a imagem de uma bela estátua mediterrânica que remonta a séculos antes de Cristo. A estátua retrata a paz, Irene, como uma mulher segurando Plutão, a riqueza.

Recorda que a paz gera bem-estar, e a guerra só pobreza. E impressiona o fato de, na estátua, a paz e a riqueza aparecerem retratadas como uma mãe que segura um filho nos braços. A ternura das mães, que dão ao mundo a vida, e a presença das mulheres são a verdadeira alternativa à perversa lógica do poder, que leva à guerra. Precisamos de compaixão e cuidados, não de visões ideológicas e populismos, que se alimentam com palavras de ódio e não têm a peito a vida concreta do povo, da gente comum.

Ameaça de destruição

Há mais de sessenta anos, da bacia do Mediterrâneo para um mundo ameaçado pela destruição, onde ditavam lei as contraposições ideológicas e a lógica férrea dos alinhamentos, ergueu-se uma voz contracorrente, que contrapôs, à exaltação da própria parte, um salto profético em nome da fraternidade universal. Era a voz de Jorge La Pira, que disse: «A conjuntura histórica que vivemos, o choque de interesses e ideologias que abalam a humanidade a braços com um infantilismo incrível, devolvem ao Mediterrâneo uma responsabilidade capital: definir de novo as normas duma Medida onde se possa reconhecer o homem abandonado ao delírio e aos excessos» (Discurso no Congresso Mediterrânico de Cultura, 19/II/1960).

De fato, segundo o Papa Francisco, essas “são palavras atuais; podemos repeti-las, porque têm uma grande atualidade!”.

Quanto precisamos duma «medida humana» face à agressividade infantil e destrutiva que nos ameaça, frente ao risco duma «guerra fria alargada» que pode sufocar a vida de gerações e povos inteiros! Infelizmente, aquele «infantilismo» não desapareceu. Ressurge prepotentemente nas seduções da autocracia, nos novos imperialismos, na difusa agressividade, na incapacidade de lançar pontes e começar pelos mais pobres. Hoje é tão difícil pensar com a lógica da paz; habituamo-nos a pensar com a lógica da guerra. Disto começa a soprar o vento gelado da guerra, que esta vez também foi alimentado ao longo dos anos. Sim, desde há tempos que a guerra tem vindo a ser preparando com grandes investimentos e tráficos de armas. E é triste ver como o entusiasmo pela paz, surgido depois da II Guerra Mundial, se debilitou nas últimas décadas, bem como o percurso da comunidade internacional, com alguns poderosos que avançam por conta própria à procura de espaços e zonas de influência. E assim não só a paz, mas também muitas questões importantes, como a luta contra a fome e as desigualdades, foram efetivamente canceladas das principais agendas políticas.

Solução para as crises

Nesse sentido, o Papa disse que “a solução para as crises de cada um é ocupar-se das crises de todos, porque os problemas globais requerem soluções globais”.

Ajudemo-nos a auscultar a sede de paz das pessoas, trabalhemos por colocar as bases dum diálogo cada vez mais alargado, voltemos a reunir-nos em conferências internacionais pela paz, onde seja central o tema do desarmamento, com o olhar fixo nas gerações vindouras! E os enormes fundos que continuam a ser destinados para armamentos sejam aplicados no desenvolvimento, na saúde e na nutrição.

Olhando ainda para leste, gostaria por fim de dirigir um pensamento ao Médio Oriente, cuja proximidade se reflete na língua deste país, que se harmoniza com outras, como se quisesse recordar a capacidade que têm os malteses de gerar benéficas convivências, numa espécie de convívio das diferenças. Disto precisa o Médio Oriente: o Líbano, a Síria, o Iémen e outros contextos dilacerados por problemas e violência. Que Malta, coração do Mediterrâneo, continue a fazer palpitar a esperança, o cuidado pela vida, o acolhimento do outro, o anseio de paz, com a ajuda de Deus, cujo nome é paz.

Deus abençoe Malta e Gozo!

(Íntegra do discurso do Papa Francisco)

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