terça-feira, 31 de janeiro de 2023

ESTA SEMANA

 DIA 2 de FEVEREIRO

Festa da Apresentação de Jesus, Dia de Nossa Senhora da Luz

Em colaboração com a Escola Nossa Senhora da Luz:


20h30 - Benção das velas e início da Procissão da Luz, na Igreja de Nossa senhora da Luz ( e não na escola, como era costume).

Itinerário: Igreja Nª Srª da Luz, Largo Serpa Pinto, Rua 5 de Outubro, Praça da República, Rua Almirante Cândido dos Reis, Largo Serpa Pinto, Igreja Nª Srª da Luz.

De seguida será celebrada a Eucaristia.


DIA 5 de FEVEREIRO ( próximo Domingo)

12h00- Eucaristia Dominical- Apresentação e benção das crianças nascidas nos últimos 3 anos.


domingo, 29 de janeiro de 2023

O Reino

 



As leituras deste domingo propõem-nos uma reflexão sobre o "Reino" e a sua lógica. Mostram que o projecto de Deus - o projecto do "Reino" - roda em sentido contrário à lógica do mundo... Nos esquemas de Deus - ao contrário dos esquemas do mundo - são os pobres, os humildes, os que aceitaram despir-se do egoísmo, do orgulho, dos próprios interesses que são verdadeiramente felizes. O "Reino" é para eles.
Na primeira leitura, o profeta Sofonias denuncia o orgulho e a auto-suficiência dos ricos e dos poderosos e convida o Povo de Deus a converter-se à pobreza. Os "pobres" são aqueles que se entregam nas mãos de Deus com humildade e confiança, que acolhem com amor as suas propostas e que são justos e solidários com os irmãos.
Estamos dispostos, pessoalmente, a este caminho de conversão? Estamos dispostos a renunciar a uma lógica de imposição, de prepotência, de orgulho, de autoritarismo, de auto-suficiência, quer na nossa relação com Deus, quer na nossa relação com os outros homens?
Na segunda leitura, Paulo denuncia a atitude daqueles que colocam a sua esperança e a sua segurança em pessoas ou em esquemas humanos e que assumem atitudes de orgulho e de auto-suficiência; e convida os crentes a encontrar em Cristo crucificado a verdadeira sabedoria que conduz à salvação e à vida plena.
Uma percentagem significativa dos homens do nosso tempo está convencida de que o segredo da realização plena do homem está em factores humanos (preparação intelectual, êxito profissional, reconhecimento social, bem-estar económico, poder político, etc.); mas Paulo avisa que apostar tudo nesses elementos é jogar no "cavalo errado": o homem só encontra a realização plena, quando descobre Cristo crucificado e aprende com Ele o amor total e o dom da vida. Para mim, qual destas duas propostas faz mais sentido?
O Evangelho apresenta a magna carta do "Reino". Proclama "bem-aventurados" os pobres, os mansos, os que choram, os que procuram cumprir fielmente a vontade de Deus, porque já vivem na lógica do "Reino"; e recomenda aos crentes a misericórdia, a sinceridade de coração, a luta pela paz, a perseverança diante das perseguições: essas são as atitudes que correspondem ao compromisso pelo "Reino".
BILHETE DE EVANGELHO.
O "ofertório", um acto litúrgico... Quando vimos à missa, os nossos corações estão cheios da nossa vida e da vida dos nossos irmãos, com as alegrias, os sofrimentos, os projectos, as questões, as inquietudes, a esperança. Com o pão e o vinho, no momento do ofertório, é um pouco desta vida que oferecemos concretamente. O dinheiro é o que nós ganhamos; ele é feito para ser partilhado. O "ofertório" é, pois, um acto litúrgico. Querer que a comunidade cristã à qual pertencemos possa viver é uma obra de justiça. Quando beneficiamos dos serviços de uma associação, a ela aderimos financeiramente. Temos muitas ocasiões para aderir financeiramente à comunidade cristã - e os cristãos são generosos. Procuremos valorizar ou revalorizar o nosso "ofertório"...

https://www.dehonianos.org/

sábado, 28 de janeiro de 2023

Domingo da Palavra




O Domingo passado foi o Domingo da Palavra


O dia 22 de janeiro de 2023, foi o 4° Domingo da Palavra de Deus, e foi instituído pelo Papa Francisco em 30 de setembro de 2019. O lema desta edição é inspirado em 1 Jo 1,3: "Nós vos anunciamos o que vimos".


O Papa disse, no domingo,no Vaticano que a missão da Igreja Católica passa por estar junto da “carne de quem sofre”, anunciando a “misericórdia” de Deus.

“Esta é a nossa missão: sair à procura de quem está perdido, de quem está oprimido e desanimado, para lhes levar, não nós mesmos, mas a consolação da Palavra, o anúncio desinquietador de Deus que transforma a vida, a alegria de saber que Ele é Pai e fala a cada um”, declarou, na homilia da Missa do IV Domingo da Palavra, a que presidiu na Basílica de São Pedro.

Francisco sublinhou que a salvação anunciada por Jesus “é destinada a todos, incluindo os mais distantes e os extraviados”, alertando para o perigo de uma “uma Igreja de coração estreito”.

“A misericórdia de Deus é para todos. Não nos esqueçamos disto: a misericórdia de Deus é para todos, é para mim”, acrescentou.
“A Palavra é para todos, a Palavra chama à conversão, a Palavra torna-nos anunciadores”, destacou Francisco.

"
Jesus alarga as fronteiras: a Palavra de Deus, que sara e levanta, não se destina apenas aos justos de Israel, mas a todos, a todos; quer alcançar os que estão longe, curar os doentes, salvar os pecadores, reunir as ovelhas perdidas e encorajar a quantos têm o coração cansado e oprimido”.

O Papa advertiu para o risco de ver as comunidades católicas ocupadas com “atividades secundárias”, em vez de fazerem do anúncio da Palavra a sua “principal urgência”.

“A Palavra, quando penetra em nós, transforma o coração e a mente; muda-nos, levando a orientar a vida para o Senhor”, apontou.

Francisco sublinhou que esta Palavra é a máxima “autoridade” na Igreja, a que todos estão sujeitos, antes de agradecer a quem a estuda e anuncia.

“Obrigado aos agentes pastorais e a todos os cristãos empenhados na escuta e difusão da Palavra, especialmente os leitores e catequistas"

https://agencia.ecclesia.pt/

Na nossa paróquia os catequisandos do 4ºano animaram a celebração da Eucaristia com as leituras e no final receberam a Biblia.
























sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

O DIREITO AO BOM NOME É TAMBÉM UM DEVER


Não sei bem como aquecer os motores para escrever este texto, mas vamos lá tentar, tudo vai do começar! Ainda por cima, muita gente não consegue enxergar o meu nome. Não porque seja difícil, mas porque escorregam na leitura como atleta experiente em cima da neve. E, catrapus, nome atropelado! Mas, a rir que o digamos, não faltam por aí avós a decepar o nome dos seus netos, solfejam-nos como lhes soa. Exercício mais difícil ainda é escrevê-los, só olhando e copiando. Aos cristãos, a Igreja aconselha a que deem nomes de inspiração cristã. Há quem tenha o nome dum santo, conhece o seu testemunho de vida, sente-se estimulado por ele e pede a sua intercessão, é bonito e proveitoso!
Serviu-me de pretexto para escrever este artigo o facto de uma congregação religiosa celebrar, no fim deste mês, a festa do Santíssimo nome de Jesus, uma festa que, ao longo dos tempos, se foi estendendo a toda a Igreja. Por isso, primeiramente vou falar do que realmente está primeiro. E o primeiro nome que nos merece toda a atenção é, de facto, o nome de Jesus, o qual também significa que o próprio nome de Deus – “Eu sou Aquele que sou” – “Eu sou enviou-me a vós” (Ex 3, 14) -, está presente na Pessoa de seu Filho.
O segundo Mandamento manda respeitar o nome do Senhor, manda não invocar o nome de Deus em vão (cf. Ex 20, 7). O nome de Deus é santo, não se deve invocar inutilmente, sem verdade, levianamente. Em tom de confidência e intimidade, Deus confia o seu nome aos que n’Ele creem, os quais devem pronunciá-lo e invocá-lo com respeito, com veneração e fé, não de forma inconveniente ou menos digna.
O profeta Joel, do Antigo Testamento, escreveu que “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Jl 3,5). É pelo nome de Deus, guardado no silêncio da memória e do coração, que entramos na sua intimidade, experimentamos o seu amor e a sua misericórdia, sentimos a alegria de o bendizer, louvar, glorificar, contemplar e lhe agradecer.
Era ao pai, segundo a tradição judaica, que competia dar o nome aos filhos. O nome de Jesus, foi-lhe dado do Alto, como uma graça, um dom do Pai. Aquando da Anunciação, o Anjo disse a Maria: “Eis que conceberás e darás à luz um Filho, e Lhe porás o nome de Jesus” (Lc 1, 30-31). E a José foi dito que Maria dará à luz um filho, “a quem porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1, 20-21). Oito dias depois de ter nascido, José e Maria levaram o Menino ao Templo onde lhe foi “posto o nome de Jesus”, como o Anjo lhes tinha dito (Lc 2,21).
São Paulo diz que Deus deu a Jesus “o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e sob a terra. E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fil 2,9-11).
Às birras dos chefes do povo, doutores da lei e anciãos reunidos em Jerusalém por causa da cura dum paralítico, São Pedro afirma-lhes categoricamente que, de facto, “debaixo do céu não existe outro nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos” (At 4,12). Isto fazia muita mossa aos fariseus e doutores da lei que, perante as evidências do acontecido, não queriam que a boa notícia se divulgasse. Por isso, acordaram: “para que esta notícia não se espalhe ainda mais entre o povo, vamos ameaçá-los, para que não falem a mais ninguém a respeito do nome de Jesus” (At 4,17). Os Apóstolos, porém, não acataram, antes pelo contrário, ripostaram: “não podemos calar-nos sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,19-20).
Sendo o “nome que está acima de todos os nomes”, é pelo nome de Jesus que tudo acontece na sua Igreja e no mundo e que “todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo” (At 2,21).
Em nome do Senhor, os Apóstolos fizeram maravilhas, expulsaram demónios, falaram novas línguas, curaram doentes, divulgaram a Boa Nova (Mc 16, 17-18).
O Catecismo da Igreja Católica lembra-nos que o Batismo é conferido “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Que o nome do Senhor é quem santifica o homem. Que o cristão recebe o seu nome na Igreja e começa o seu dia, as suas orações, as suas atividades, pelo sinal da cruz “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
O nome de Jesus está no centro da liturgia e de toda a oração cristã. Ele dá vigor aos mártires e a todos os fiéis que lutam pela fé, nele pomos a nossa confiança. A quem o invocar, ele ajuda a triunfar diante das dificuldades, a viver segundo o Espírito, como filhos de Deus.
O nome de Jesus, em muitas partes do mundo, continua a ser proibido, perseguido, ultrajado. Há quem deite mão da blasfémia, do perjúrio e jure falso, invocando Deus como testemunha da mentira, não respeitam o nome do Senhor que é santo.
Cada um de nós tem o seu nome, um nome sagrado. É a imagem da pessoa, o sinal da dignidade de quem por ele se identifica, tem relevo jurídico. Não sendo exclusivo, individualiza a pessoa, mesmo quando ausente, protege a sua esfera privada e a sua identidade, é um sinal distintivo, identifica-a socialmente. Toda a gente tem direito ao bom nome e o dever de fazer por isso.
Ninguém mais do que Deus nos respeita, Ele chama a cada um de nós pelo seu nome, e disse-nos: “O que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará” (Jo 16,23). Um dos que foram crucificados a seu lado, logo lhe pediu: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino!”, “Em verdade te digo: hoje mesmo estarás comigo no paraíso.”
Invoquemos o Santíssimo nome de Jesus. “Tudo quanto fizerdes, por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus Pai por meio d’Ele” (Cl 3,17). Pai, “santificado seja o vosso nome”. “Senhor, nosso Deus, como é admirável o vosso nome em toda a terra! (Sl 8, 2). “Senhor, eu amo-Te”, foram as últimas palavras de Bento XVI.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 27-01-2023.


O sentido do coração, por Tolentino Mendonça


Falta-nos, talvez, descobrir ainda quanto a escuta é um sentido adequado para acolher a complexidade daquilo que a vida é. A verdade é que escutamos tão pouco e, dentre as competências que desenvolvemos vida fora, raramente está a arte de escutar. Na Regra monástica de São Bento há uma expressão essencial, se quisermos perceber como se ativa uma escuta autêntica: “Abre o ouvido do teu coração.” Quer dizer: a escuta não se faz apenas com o ouvido exterior, mas com o sentido do coração. A escuta não é apenas a recolha da malha sonora do discurso. Antes de tudo, é uma atitude que se pode descrever como um inclinar-se para o outro, uma disponibilidade para acolher o dito e o não dito, uma abertura tanto ao entusiasmo do visível como ao seu avesso, à sua dor. O conhecimento de que mais precisamos provém dessa forma de hospitalidade que a escuta representa.

Sabemos que uma árvore que tomba faz mais barulho que uma floresta a crescer. E se um camião se desloca vazio ou com meia carga faz mais rumor do que se for realmente cheio. O vazio pode ser muito ruidoso e a plenitude completamente silenciosa. Um Padre do Deserto contava que a capacidade de escuta de um discípulo era tão grande que conseguia distinguir, à distância de muitos metros, uma agulha a cair. Ora, muitas vezes, nós nem a poucos centímetros somos capazes de ouvir a vida a tombar. A escuta pede, por isso, exercitação e treino. Numa cultura de avalancha como a nossa, ela configura-se como um recuo crítico perante o frenesim das palavras e das mensagens que a todo o minuto nos submergem. Os modelos de vida hoje em vigor são atordoantes, e a única compensação para as nossas existências extenuadas parece ser o entretenimento. Porém, a própria palavra ‘entreter’ fala por si mesma: entreter significa ter ou manter entre, numa espécie de suspensão que nos captura. E a dada altura, nessa terra de ninguém, não vivemos já em lado algum, nem em nós próprios.

Muitas vezes, nós nem a poucos centímetros somos capazes de ouvir a vida a tombar. A escuta pede, por isso, exercitação e treino

Há uma outra história dos ditos e feitos dos Padres do Deserto (Edição Assírio & Alvim, 2004), que dá que pensar. Um mestre tinha doze discípulos e o seu preferido era o que se ocupava da caligrafia. Isso naturalmente gerava problemas aos restantes, que não percebiam aquela predileção. Então o mestre decidiu colocá-los à prova em conjunto. E, um dia, em que estavam todos ocupados a trabalhar, cada um em sua cela, o mestre clama: “Eia, meus discípulos, vinde a mim.” O primeiro que apareceu foi o discípulo calígrafo e só depois, pouco a pouco, chegaram os outros. O mestre levou-os então à cela do calígrafo e disse-lhes: “Vede, ele estava aqui a desenhar a letra ómega e interrompeu o desenho de uma pequena letra para acorrer ao mestre.” Então os discípulos responderam: “Percebemos agora. Amas aquele que verdadeiramente te escuta.”

Mas há, porém, um paradoxo com o qual temos de contar: é que a verdadeira escuta pede que nos tornemos surdos. Diz Evagro Pôntico, um antigo mestre espiritual: “Esforça-te por conservar o teu espírito surdo e só assim poderás rezar.” Que surdez é esta? É aquela que brota do abandono. A nossa escuta é permanentemente interrompida por urgências que se impõem, sobretudo falsas urgências, ficções que nos povoam e barram a experiência essencial. Sempre que a nossa escuta desiste de ir até ao fim, ela desiste de si. Por isso Evagro recomenda: “Torna-te surdo.” A verdade é que se não formos capazes disso, não mergulharemos no silencioso oceano da escuta. Convite paradoxal a se perder para encontrar-se. Teremos de aprender a trocar a potência do ruído pelo murmúrio do silêncio. E a ser como os rebanhos que nos campos seguem o sopro trémulo da flauta do pastor em vez do vento.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

2 de Fevereiro - Apresentação do Senhor

      Festa de Nossa Senhora da Luz em Arronches. 


Após dois anos de interregno, vamos voltar a celebrar este dia tão acarinhado pelos fiéis , este ano de molde diferente. Assim, será feita a Bênção das Velas e a Procissão às 20:30H em honra e louvor de Nossa Senhora com o seguinte itinerário:

Igreja de Nª Srª da Luz, Largo Serpa Pinto, R. 5 de Outubro, Praça da República, R. Almirante Cândido dos Reis, Largo Serpa Pinto e Igreja de Nª Srª da Luz. E aí, de seguida, será celebrada a Eucaristia.

Preparemos a nossa vida para podermos estar presentes neste ato tão solene.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

MCC- Portalegre Castelo Branco

 Amigos cursilhistas da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, após tempo de paragem é, agora, tempo de (re)encontro, de dinamizar a  missão a que o Senhor nos quis chamar.

Vamos encontrar-nos com os cursilhistas das outras dioceses pertencentes ao núcleo centro: Guarda, Coimbra, Leiria-Fátima, Portalegre-Castelo Branco e Santarém, rever-nos, trocar experiências e partilhar a nossa Fé...   

Vai realizar-se no dia 18 de março de 2023, um Encontro de Dirigentes do M.C.C, em Leiria, no Seminário diocesano, entre as 9h 30 e as 17h30m.

Faz a tua inscrição junto do teu Centro de Ultreia ou de Escola dentro da data indicada. Pede-se aos responsáveis de cada centro que as façam chegar, posteriormente, ao secretariado a fim de poderem ser todas reunidas e encaminhadas. 

A - Inscrição – 5€

B - Inscrição c/ Almoço – 15 €

Data limite para inscrição: 3 de março de 2023

Cristo conta connosco... Nós, sempre com a Sua Graça

🌈 DE COLORES

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

MCC- Portalegre - Castelo Branco

 No próximo dia 25 de janeiro - festa litúrgica da Conversão de S. Paulo - o Secretariado Nacional do Movimento dos Cursilhos de Cristandade tem a seu cargo a Hora Apostólica a ir para o ar, em direto, pelas 10 horas, através da TV Canção Nova.

S. Paulo, patrono dos Cursilhos de Cristandade, rogai por nós.

Saudações em Cristo.

DECOLORES

Eu, Abaixo Assinado, Afirmo Solenemente

 EU, ABAIXO-ASSINADO, AFIRMO SOLENEMENTE ... 


No ato de posse que investe alguém em cargos de responsabilidade, o empossado ou empossada costuma prestar um compromisso de honra: “Eu, abaixo-assinado, afirmo solenemente pela minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas”. Empenha-se a honra, solene e publicamente, sob uma assinatura que até parece tanto mais digna do ato quanto mais difícil de decifrar ela for. A honra fica assim encriptada na assinatura à espera de novos desenvolvimentos para maior clarividência, logo se verá! 

Nunca viram? Eu já, no momento fica-se feliz, a adrenalina da esperança sobe ao alto. E sobe tanto mais alto quanto mais os discursos elevam à suprema potência a capacidade dos empossados e a sua vontade de bem servir. E bem, é bonito de se ver e ouvir! E ninguém é tão maluco que queira exigir aos empossados a máxima perfeição das suas artes futuras em prol do bem comum. Todos se deixam acreditar no brio da sua coerência à palavra dada. Naquela hora, é quanto basta para inspirar e fortalecer a confiança de todos. É o primeiro garante de credibilidade e a certeza de que o bem e o bom irão acontecer. E, diga-se a verdade, a grandíssima maioria, apesar das fragilidades e dificuldades, esmirra-se a cumprir. Procura realizar com humildade e eficiência a sua missão, tantas vezes com prejuízo da sua própria vida pessoal, familiar, profissional e social. E tanta e tanta dessa gente fá-lo em regime de voluntariado, gratuitamente. Para eles, um abraço apertadinho, um abraço de coração eternamente grato.

Não raro, porém, também surge o inesperado, as exceções a confirmar a regra. Emergem consciências viçosamente verdes, como a erva, como a erva mais viçosa que se possa ver ou imaginar. Um pitéu apetecível a fazer nascer água na boca de qualquer transeunte herbívoro, e pronto, ponto, a erva deixa-se comer. E lá se vai a consciência com grande pena, prejuízo e até escândalo. E lá se foi a solenidade daqueles airosos atos em salões tão nobres, sempre aflorados com gente perfilada em expectante e grave silêncio! Seja por falta de bom discernimento sobre a responsabilidade que se assume; seja porque não há preparação e capacidade para desenvolver tal missão; seja porque só se tenta, para inglês ver, mas, de facto, não há determinação e envolvimento quanto baste para o conseguir; seja porque aquilo não era o que se pensava e logo se desiste, se entra em letargia ou em rédea solta; seja lá pelo que for, a coisa fica feia. Comprometer-se é mais do que prometer, implica saber, determinação da vontade, verdade, coerência, honestidade, capacidade de ultrapassar dificuldades, alegria e esperança.

Macacos me mordam se eu não gostasse de ser poeta para versejar epicamente alguns destes casos, aqueles casos em que os protagonistas foram belíssimos atores no teatro daquele solene momento e agora dão continuidade ao espetáculo enquanto se descodifica a tão snob assinatura. E eis que, já sem as pancadas de Molière, surge um senão a surpreender os espectadores e a fazer mossa ao próprio. E quer o leitor saber qual é esse senão? Ei-lo: por entre as contestadas suspeitas de quem investiga; por entre a declarada tranquilidade de consciência de quem, sonegadamente, se vai pisgando do palco; por entre a estranheza de quem se vê perante alguém que afirmou, solenemente, pela sua honra, servir com lealdade; por entre a não dignificação da palavra dada; perante tudo isso e mais o que for, surge, de facto, um enorme senão: de quando em vez, alguém vai preso em nome da liberdade de uns e da tranquilidade de outros. Que chatice tão chata! Isto da liberdade ter os seus caprichos é mesmo uma maçada, sobretudo quando se pensa que a liberdade consiste em fazer o que dá na gana e esquecer o que se deve fazer. 

Mas será mesmo que o mundo vai de mal a pior? Talvez não, acho que não foi o mundo que piorou, embora nem tudo nele seja boa rês ou flor que se cheire. Acho que foi a democracia que se encheu de brios e melhorou o seu adn e a sua tarefa. E isto apesar de a justiça ser boa para ir buscar a morte: ou não chega ou chega tardíssimo. Acho também que a generalidade das pessoas está mais atenta a Frei Tomaz, que diz mas não faz ou faz o que não diz.

Diz-se em gíria popular que de boas intenções está o inferno cheio. Não só o inferno, digo eu. Também este vale de lágrimas conta nos seus arsenais toneladas e toneladas desses epifenómenos. E digo-o sem estar a revelar qualquer segredo de justiça ou a meter a foice em seara alheia. E, podemos crer, nem todos esses epifenómenos são objeto dos detetives da ciência forense, estes são poucos para tão gigantesca tarefa!

Não menos sério é que, em muitas circunstâncias da vida, também se fazem promessas a Deus: o Batismo, a Confirmação, o Matrimónio e a Ordenação comportam sempre promessas. Por devoção pessoal também se promete a Deus este ou aquele ato, uma oração, um donativo para uma causa, uma peregrinação, uma visita, uma mudança de atitudes, e também se fazem votos. Sejam votos, sejam promessas feitas a Deus, à Virgem, aos Santos e aos outros em nome de Deus, também se compromete a honra, a fidelidade, a veracidade e a autoridade divinas. E todos constatamos que, muitas vezes, a palavra dada não é respeitada, também tem os seus pecadilhos, e que pecadilhos! Sobretudo quando fazemos por as esquecer para as não cumprir ou as cumprimos a meias ou simplesmente as rasgamos ou decidimos que ficam ‘pagas’ em conclusões meramente subjetivas, fazendo passar a mensagem, para nós e para os outros, de que Deus - que é fiel à palavra dada e fidelíssimo às suas promessas -, de que Deus e nós somos sócios e comparsas nestas aventuras, modos e jeitos: “eu cá e Deus me entendo”! 

Ninguém é juiz seja de quem for, como é evidente. Até porque se pode correr o risco de apontar o argueiro no olho do outro e esquecer a trave que está no nosso. Tal como se julgar os outros, assim se será julgado, está dito e escrito. Cá na terra, porém, há sistemas de justiça para manter a lei, sistemas que julgam, absolvem ou condenam quem é acusado de transgredir a lei. Para além deste mundo, mesmo sem querermos separar a justiça da misericórdia, há sobretudo misericórdia, a infinita misericórdia de Deus justo e bom. O que seria se não houvesse, sim, o que seria! Neste mundo, porém, sem julgamentos, sem absolvições ou condenações, todos nos vamos sentindo no dever de distinguir o que está certo e o que está errado, mesmo que o certo e o errado também possam depender de leituras diferentes. 


D. Antonino Dias- Bispo Diocesano

Portalegre-Castelo Branco, 20-01-2023.

sábado, 21 de janeiro de 2023

O amor em forma de gente



Pessoas que nos abraçam e nos deixam (de)morar.

Pessoas que nos abrigam dentro da sua mão dada.

Pessoas que nos sorriem do coração e que nos fazem sorrir o coração.

Pessoas que nos olham nos olhos e nos vêem por dentro.

Pessoas que nos curam com beijos de ternura.

Pessoas que nos são colo sempre seguro.

Pessoas que nos falam com palavras, com gestos e com silêncios.

Pessoas que nos escutam as palavras, os gestos e os silêncios.

Pessoas que, longe ou perto, nos estão sempre perto.

Pessoas que nos abraçam a alma e que nos sentem o coração.

Pessoas que nos querem bem de verdade.

Pessoas que nos tatuam amor no coração.

Pessoas que nos inspiram a ser do bem.

Pessoas que nos fazem acreditar.

Pessoas que nos são tanto. Que nos fazem ser tanto.

Pessoas que nos salvam, mesmo sem saberem. Só por serem, por estarem, por existirem.

O lado bonito da vida. O lado bonito de tudo.

O amor em forma de gente.

Que as saibamos agradecer sempre.

E ser também.



Daniela Barreira




sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Falta de tempo


Será que nos falta tempo ou o nosso tempo estará mal gerido? Muitas vezes recusamos convites, dizendo que não temos tempo. Se nos convidam para fazer parte de algum grupo paroquial, facilmente dizemos não termos tempo. Mas será que estamos a gerir bem o nosso tempo? Provavelmente usamos esta “desculpa” pois não nos predispomos a assumir um compromisso. É bem mais fácil recusar, pois não nos compromete nem nos obriga a nada.

Dou-vos o exemplo de um catequista: tem tempo para preparar e fazer catequese, ainda tem tempo para participar na Eucaristia, ir ao cinema, passar tempo com a família, ir ao futebol, ler, ver televisão e relaxar. Pois quando a entrega é verdadeira, percebemos que o tempo chega e sobra. Quando nos entregamos à missão e fazemos dela parte da nossa vida, não nos falta tempo. Quando nos deixamos de desculpas, percebemos que o nosso tempo não está a ser gerido da melhor maneira possível e descobrimos a melhor forma de o usar, entregando-nos.

Quantas vezes dizemos não termos tempo para rezar? Para participar na Eucaristia? Não será apenas porque achamos, à prior, que será tempo desperdiçado?

Pois bem, asseguro-vos, que se deixarem Jesus ser a vossa prioridade, nenhum tempo é desperdiçado, mas ganho. Jesus é a melhor maneira de passarmos o nosso tempo, seja na igreja, seja numa ida ao cinema. Sempre com Jesus no pensamento e junto a nós, a vida torna-se mais rica e o tempo parece alongar-se. Com Jesus, nada tem data ou hora marcada, tudo flui de forma natural.

Hoje tiveram tempo de falar com Jesus? Agradeceram por toda a criação? Olharam o céu, o horizonte, o mar, as paisagens? Ou “perderam” tempo a olhar o ecrã do telemóvel, ou da televisão?

Entreguem a Jesus o vosso tempo e vão perceber que têm tempo para tudo e mais alguma coisa!

E tu tens tempo?

Ana Marujo

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Papa pede «coração pastoral», capaz de correr riscos por quem saiu da Igreja

Francisco destaca importância de comunidades «abertas e em saída»

Foto: Lusa/EPA


 Vaticano, 18 jan 2023 (Ecclesia) – O Papa desafiou hoje os responsáveis católicos a ter um “coração pastoral”, como Jesus, que “sofre e arrisca” por quem saiu da Igreja.

“O Senhor sofre quando nos distanciamos do seu coração. Sofre por quem não conhece a beleza do seu amor, nem o calor do seu abraço. Mas, em resposta a este sofrimento, não se fecha, mas arrisca: deixa as 99 ovelhas que estão a salvo e aventura-se em busca da única que se perdeu, fazendo algo arriscado e até irracional, mas em sintonia com o seu coração pastoral”, disse, na audiência pública semanal, que decorreu no Vaticano.

Falando aos milhares de peregrinos reunidos no Auditório Paulo VI, Francisco questionou os presentes sobre o que fazem quando sabem que alguém “deixou a Igreja”, criticando quem pensa que a pessoas se deve “desenrascar”.

“Às vezes podemos ver aqueles que deixaram o rebanho como adversários ou inimigos. ‘E aquele? Foi para outro lugar, perdeu a fé, o inferno espera por ele…’, e ficamos tranquilos. Encontrando-os na escola, no trabalho, nas ruas da cidade, porque não pensar que temos uma boa oportunidade para testemunhar-lhes a alegria de um Pai que os ama e que nunca os esqueceu?”, apelou.

Num ciclo de catequeses dedicado ao tema da evangelização, o Papa apelou a uma “uma Igreja aberta e em saída para com aqueles que já não participam na vida paroquial”.

Apresentando Jesus e o seu cuidado com os mais pobres e frágeis, como um exemplo para a “pastoral” católica, Francisco destacou que Cristo “vai ao encontro de todos, de todos os marginalizados, dos pecadores”.

“Talvez sigamos e amemos Jesus há muito tempo, sem nunca nos perguntarmos se compartilhamos os seus sentimentos, se sofremos e arriscamos, em sintonia com o seu coração pastoral”, advertiu.

OC



quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

18-25 janeiro |RezemosJuntos pela unidade dos cristãos

 

18-25 janeiro | RezemosJuntos pela unidade dos cristãos

Ao longo dos séculos, o óbito da Igreja foi declarado inúmeras vezes. Declarado, anunciado e proclamado. Contudo, e com uma teimosia a roçar a impertinência, a Igreja persiste. E isto por uma simples razão: não se pode declarar a morte de um ressuscitado. Um ressuscitado já derrotou a morte. É-lhe imune!
A Igreja nunca foi uma associação meramente humana, e ainda menos uma organização. A Igreja, Povo de Deus, é o Corpo Místico de Cristo. A Igreja é um corpo vivo, animado por uma força que não vem dela mesma, mas que é recebida como dom: o Espírito Santo. E contra o Espírito, a morte nada pode.
Hoje, dia em que começa a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que culminará na festa da Conversão de São Paulo, dia 25 de janeiro, comecemos a rezar com os irmãos de outras denominações cristãs pela unidade da Igreja.
Cristo, ao fundar a Igreja, fê-lo com o desejo de que fôssemos um só corpo. Rezemos pela unidade entre os cristãos, com abertura de coração
.

18-25 janeiro | #RezemosJuntos pela unidade dos cristãos

De 18 a 25 de janeiro, decorre a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. A Rede Mundial de Oração do Papa-Portugal associa-se a esta iniciativa promovida pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas e apresenta-lhe nas redes sociais Facebook, Instagram e Twitter uma reflexão e proposta de oração para cada dia desta Semana de Oração. Como diz o Papa Francisco, "a unidade só pode vir como fruto da oração". #RezemosJuntos!

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

A minha casa é este caminho



Não sou de um só lugar. Sou de cada pedaço de caminho que me permite ir de onde estava para onde quero ou tenho de ir. Tenho tantas casas que sou mais do caminho que as liga do que de alguma delas.

Sou tanto do lugar onde comecei esta minha vida como daquele onde estou ou daquele em que me despedirei desta existência.

Não sou desta casa onde vivo agora, outras pessoas viveram aqui antes de mim e outros diferentes o farão depois.

Não sou alguém feito que apenas pode ser o que já é. Sou alguém que é chamado a escolher-se, a fazer-se e a avançar com os resultados de tudo isso.

Onde sou mais eu? Em todos e cada um dos momentos que me foram, são e serão dados a viver, mas em nenhum mais do que em qualquer outro.

A minha meta não é deste mundo, a casa onde espero descansar não virá ao meu encontro, sou eu que devo encontrá-la por caminhos nos quais poucas vezes há só flores. Os bons trilhos são duros e cheios de adversidades, sem atalhos, sem desculpas nem escapatórias.

Os caminhos dos infernos são fáceis e com belas paisagens ao longe. É claro que o caminho que uns sobem é o mesmo que outros descem…

… é o que buscamos que dá valor aos nossos passos.

Sobe, sobe sempre. É sempre melhor subir!

Segue em direção à luz, deixando sempre as sobras atrás de ti.

E os outros, o que encontram eles em ti?

Faz caminho e faz-te caminho. Que os outros encontrem em ti pedaços e instantes do amor que os leva à felicidade.


José Luís Nunes Martins


segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

E se o silêncio falasse tudo?



E se o silêncio falasse tudo? Sentimos, muitas vezes, a necessidade de encontrar as palavras. De conseguir responder de imediato ao que nos é pedido ou questionado. Agimos como se a nossa comunicação se resumisse unicamente ao verbal.

E se o silêncio falasse tudo? Aceitar que não sabemos tudo ou que não sabemos expressar algo num certo momento, não significa que não comunicamos e, muito menos, significará que não nos importamos com aquele que está à nossa frente. O silêncio dá a possibilidade de deixar que o outro habite em nós. Dá tempo e espaço para que na falta de palavras seja prevalecida a presença.

E se o silêncio falasse tudo? Se, em muitos momentos da nossa vida, tivéssemos optado pelo silêncio, talvez as nossas relações fossem caracterizadas por autenticidade. Se perante a dor tivéssemos dado o nosso silêncio, talvez o outro tivesse sentido que a sua dor tinha sido abraçada. Se perante a perda tivéssemos dado o nosso silêncio, talvez o outro tivesse sentido que era acolhido. Se perante a morte tivéssemos dado o nosso silêncio, talvez o outro tivesse saboreado a beleza da eternidade. Se perante a angústia tivéssemos dado o nosso silêncio, talvez o outro soubesse o quão é amado.

Acredito que o silêncio, mais do que constrangedor, pode ser caminho de descoberta, de presença e de amor. O silêncio pode unir e construir a partir do nada. No silêncio surge o mistério de nos sabermos profundamente necessitados do outro.

O silêncio fala tudo, nós é que temos medo. De viver sem ter que disfarçar. De viver sem ter que confrontar com o indizível.

O silêncio fala tudo: o que somos, o que sentimos e o que queremos.


Emanuel António Dias

domingo, 15 de janeiro de 2023

EIS O CORDEIRO DE DEUS

       
              C2302 Cordeiro de Deus - YouTube


A liturgia deste domingo coloca a questão da vocação; e convida-nos a situá-la no contexto do projecto de Deus para os homens e para o mundo. Deus tem um projecto de vida plena para oferecer aos homens; e elege pessoas para serem testemunhas desse projecto na história e no tempo.
A primeira leitura apresenta-nos uma personagem misteriosa - Servo de Jahwéh - a quem Deus elegeu desde o seio materno, para que fosse um sinal no mundo e levasse aos povos de toda a terra a Boa Nova do projecto libertador de Deus. A figura do Servo de Jahwéh convida-nos, em primeiro lugar, a tomar consciência de que na origem da vocação está Deus: é Ele que elege, que chama e que confia a cada um uma missão. A nossa vocação é sempre algo que tem origem em Deus e que só se entende à luz de Deus. Temos consciência de que somos escolhidos por Deus desde o seio materno, isto é, desde o primeiro instante da nossa existência? Temos consciência de que é Deus que alimenta a nossa vocação e o nosso compromisso no mundo? Temos consciência de que só a partir de Deus a nossa vocação faz sentido e o nosso empenhamento se entende? Temos consciência de que a vocação implica uma relação de comunhão, de intimidade, de proximidade com Deus?
A segunda leitura apresenta-nos um "chamado" (Paulo) a recordar aos cristãos da cidade grega de Corinto que todos eles são "chamados à santidade" - isto é, são chamados por Deus a viver realmente comprometidos com os valores do Reino. Realizar a vocação à santidade não implica seguir caminhos impossíveis de ascese, de privação, de sacrifício; mas significa, sobretudo, acolher a proposta libertadora que Deus oferece em Jesus e viver d
e acordo com os valores do Reino. É dessa forma que concretizo a minha vocação à santidade? Tenho a coragem de viver e de testemunhar, com radicalidade, os valores do Evangelho, mesmo quando a moda, o orgulho, a preguiça, os interesses financeiros, o "politicamente correcto", a opinião dominante me impõem outras perspectivas?
O Evangelho apresenta-nos Jesus, "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo". Ele é o Deus que veio ao nosso encontro, investido de uma missão pelo Pai; e essa missão consiste em libertar os homens do "pecado" que oprime e não deixa ter acesso à vida plena.
A palavra "Servidor" regressa hoje em força, em Isaías, enquanto João nos convida a contemplar o Cordeiro de Deus investido da Força do Espírito, ao qual dá testemunho. E nós? O nosso testemunho ficará limitado a estas palavras do Credo proclamado ao domingo? Ou leva-nos a empenharmo-nos em acções concretas no seguimento do Servidor?

https://www.dehonianos.org/


sábado, 14 de janeiro de 2023

UNIDADE E COLABORAÇÃO SEM SUBSERVIÊNCIA



“Lavai-vos, purificai-vos” porque “as vossas mãos estão cheias de sangue”. Este é o apelo de Isaías ao povo de Judá no século oitavo antes de Cristo (Is 1, 15.16). Este continua a ser o apelo a matraquilhar na empedernida caixa timpânica dos nossos tempos. Infelizmente, e apesar do desenvolvimento da ciência e do progresso civilizacional, os ouvidos humanos estão cada vez mais duros e surdos: o martelo, a bigorna, o estribo, a trompa de Eustáquio e companhia foram-se às malvas, moucaram, entupidos que estão com a infindável cera das tropelias! Tantos gritos dolorosos de gente espezinhada, perseguida, refugiada, maltratada e morta por mãos cuidadas por especializadas manicures e ensanguentadas com o sangue dos frágeis e inocentes que não lhes merecem atenção. O preconceito racial, as ideologias tóxicas, a mania das superioridades, os fundamentalismos fanáticos que matam em nome de Deus, a indiferença perante o sofrimento de uns e a prepotência de outros, os imperialismos doentios, a ilusão das linhagens e das grandezas, tudo isso e o que mais for reclama capacidade para desmontar sistemas de opressão, defender a justiça, promover a fraternidade.
No tempo de Isaías, o reino de Judá vive uma época de grande prosperidade económica e independência política, tem uma atividade religiosa intensa, realiza festas grandiosas, tem culto pomposo nos santuários. Tudo parece correr às mil maravilhas e de vento em popa, mas tudo mascara uma situação bem diferente na ordem social e espiritual. Reinavam as injustiças, a arbitrariedade dos juízes, a corrupção das autoridades, a cobiça dos grandes proprietários, a opressão dos governantes, a segurança dos ricos que ofereciam sacrifícios no templo e rejeitavam os pobres como se a riqueza fosse uma bênção e a pobreza um castigo. Eivada por este ambiente, a religião torna-se formal e ritual, entrelaçada entre o poder civil e religioso sem que alguém se levante a denunciar o mal-estar e a iniquidade existentes. Esta triste situação agrava-se com o reaparecimento de uma grande potência, a Assíria, que pressiona Israel e Judá para serem seus vassalos. O profeta Isaías enche-se de brios, tira as mãos dos bolsos, pega no ‘megafone’ e sai-lhes a caminho. Denuncia a hipocrisia reinante, denuncia a oferta de sacrifícios faustosos no templo enquanto se oprime o pobre, denuncia as más estruturas políticas, sociais e religiosas, insurge-se contra os líderes corruptos, defende os desfavorecidos, condena a aliança com as grande potências, combate os ídolos presentes na sociedade, enraíza o direito e a justiça exclusivamente em Deus, mostra que a nação só será salva se permanecer fiel a Deus e ao seu projeto que tem a justiça como valor supremo.
Hoje, a coragem profética é agulha no palheiro, é coisa da qual estamos muito pobres. Apesar do bem que têm feito, as Igrejas cristãs “em muitas partes do mundo, percebem como se acomodaram diante de normas sociais e como se calaram e foram cúmplices no que diz respeito à injustiça social”. Criaram divisões entre si, divisões que, embora em processo de aproximação à unidade, ainda têm dificuldade em descer das suas razões e se abrirem a Cristo que deu a vida e reza para que todos sejam um, como Ele e o Pai são um (Jo 17, 20-24). Apesar deste dinamismo das Igrejas cristãs, apesar desta mudança, embora lenta, de mentalidades e vontades, ainda há quem corra e se canse optando pelo direção oposta àquela que conduz à meta. Por aí é que ninguém vencerá! Se as Igrejas têm o dever de cumprir as leis justas e colaborar na construção do bem comum, não podem viver subservientes ao poder reinante seja ele qual for. Cada um no seu lugar e na sua missão. Por estes dias, fomos espectadores de um presidente mui religioso, numa sozinha e aparente serenidade de meter dó, com direito a um pontifical só para si, com um líder religioso conivente na pomposidade desse culto, mas ambos de mãos orgulhosamente sujas de sangue apostados que estão na destruição de um povo, de irmãos! Conforme a entrevista ao jornal Corriere della Sera, o Papa Francisco terá dito ao líder religioso de Moscovo: “Irmão, não somos clérigos do Estado, não podemos usar a linguagem da política, mas sim a de Jesus”. A linguagem e o caminho de Jesus outros não são senão os de fazer o bem sem olhar a quem, lutando pela justiça e pelo bem comum: “Felizes os perseguidos por causa da justiça: deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,10).
A unidade e o bem-estar social reclamam verdade, justiça e liberdade. Esta tarefa é um desafio para todos, também para as Igrejas cristãs chamadas a ouvir os gritos dos que sofrem e a denunciar as estruturas que criam e alimentam a injustiça. “Se as Igrejas unirem as suas vozes à dos oprimidos, o seu grito de justiça e de libertação será ampliado”.
Nesse sentido, o tema proposto para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos deste ano de 2023, que decorre de 18 a 25 de janeiro, baseia-se em Isaías 1, 27: “Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça, chamai à razão o espoliador, fazei justiça ao órfão, tomai a defesa da viúva”. Os responsáveis pela iniciativa já nos fizeram chegar o Guião do qual me estou a servir, como também me sirvo do Livro de Isaías e seu comentário bíblico. O Guião traz uma reflexão sobre o tema e material de apoio para viver essa semana como um “tempo perfeito para os cristãos reconhecerem que as nossas Igrejas e confissões não podem ficar separadas por conta das divisões que existem dentro da mais ampla família humana. Orar juntos pela unidade dos cristãos permite uma reflexão sobre aquilo que nos une e nos compromete para enfrentar a opressão e a divisão vivida na humanidade”. A justiça exige “um tratamento verdadeiramente igualitário para corrigir a desvantagem histórica baseada na ‘raça’, no género, na religião ou no ‘status’ socioeconómico”.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 13-01-2023.

O que nos salva?



O que nos salva no meio do caos em que o mundo parece estar imerso?

O que nos salva dos temores de um amanhã que não melhore? Que não nos dê o que precisamos e o que merecemos?

Vamos caminhando num mundo profundamente doente. Doente na forma e na estrutura. Um planeta que vai tossindo cada vez mais, até cuspir sangue. Um planeta verde-negro que ninguém parece querer resgatar. Doente na alma e na raiz. Doentes, nós, de saudade dos tempos melhores e prósperos que eram nossos antes de nascermos… ou que nunca existiram, realmente. Doentes num sentir manipulado e transferido para coisas que pouco importam e interessam. A saúde que nos falta é, principalmente, a saúde da alma. Essa que não sabe bem para onde vai ou navega. Se deve surfar a onda azul ou verde; ou se deve deixar-se ficar debaixo da maré.

Vamos caminhando sem sair do sítio. Perdidos do que somos e do que queremos ser.

Mas há algo que me parece comum, também, a todos os que desanimamos.

Continuamos, sempre. Avançamos, sempre. Pegamos fogo ao mundo com a nossa chamazinha já só meio acesa. Incendiamos outros com a nossa luz fraca e ténue. Mas que permanece, ainda.

Seguimos, sempre. Damos as mãos aos que estão ao lado e, até, aos que não conhecemos bem, se for preciso. Porque é dessa fibra que somos feitos. Dos que são rumo e trilho. Dos que podem cair cem vezes, mas que se levantam outras tantas. Dos que se assustam e vacilam. Mas dos que se deixam renascer e renovar, também.

O mundo grita lá fora. Mas a (nossa) luz grita mais alto.

Podem tirar-nos tudo.

Mas há três coisas que nos mantêm vivos. Juntos. E a andar.

A fé.

A esperança.

E o amor.


Marta Arrais

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Dar sem querer nada em troca




Não há ano em que consiga passar pela Solenidade da Epifania, sem escrever alguma coisa. A verdade é que sempre encontro algo de novo nesta festa.

A Belém, chegam três presentes para a concretização de uma antiga promessa. Eles não vão para os governantes locais, mas para um recém nascido cuja presença é revelada por um fenómeno celestial: uma criança sem nobreza e sem bens de luxo, sem poder, pelo menos que o aparente. No entanto, os Magos, os antigos sábios do Oriente, vão até lá para homenagear a manifestação divina. Eles vêm do Oriente, diz o texto. Do oriente vem o sol e do oriente vem tudo o que nasce, o que surge, o que é novo.

Os Magos não pedem nada, a não ser a visão do que aconteceu naquela casa, segundo o evangelho de Mateus. Depois de uma longa viagem, adoram-no e entregam-lhe os presentes. De seguida, regressam à sua terra por outro caminho. Aquela aparição, aquela Epifania mudou as suas vidas para sempre.

Os Magos, figuras históricas que conheciam a antiga sabedoria passada de sábio em sábio, em parte astrónomos, em parte astrólogos, porque antigamente os dois sobrepunham-se, trazem presentes para uma criança, gesto simbólico, ainda hoje maravilhoso: dar sem querer nada em troca! Querem apenas o olhar de um recém nascido perdido numa terra que não é a sua e o sorriso de um pai e de uma mãe que nada têm senão aquela antiga Promessa da qual se tornaram humildes protagonistas.

Num mundo cada vez mais consumista, onde tudo se negoceia, os Magos, na sua sabedoria, mostram-nos o que é essencial. Só Jesus pode dar o verdadeiro rumo à vida da cada ser humano. Não peçamos mais nada.

Paulo J. A. Victória


quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Mcc - Diocese de Portalegre-Castelo Branco

 



Depois de dois anos marcados pela pandemia que obrigou à não realização de Cursilhos, este ano pastoral estamos a pensar realizar. Algumas dioceses já o fizeram! Assim, vimos comunicar que estão marcados na nossa diocese de Portalegre-Castelo Branco, os seguintes Cursilhos:

- Homens: de 23 a 26 de fevereiro.

- Senhoras: de 20 a 23 de abril.

Ambos têm o seu início na quinta feira, pelas 18,30h na Casa Diocesana de Mem Soares. O encerramento será ao final da tarde de domingo.
A vivência de um Cursilho é sem dúvida um encontro forte com Cristo Ressuscitado; uma ajuda na descoberta do que é ser cristão batizado e do que é ser Igreja.
Se sentes que esta pode ser uma boa oportunidade para te encontrares contigo próprio/a, com Deus e com os outros, fala nisto com o teu pároco, que certamente te indicará o caminho.
Votos de um bom Ano 2023; que seja vivido com muita juventude de espírito.
Na ternura do Deus Menino, saudações amigas.
Pelo Sec. diocesano do M.C.C.:
Pe. Adelino Cardoso (diretor espiritual)
Lucília Miguéns ( presidente)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Amanhecer, por Tolentino Mendonça




A melhor herança que deixaremos uns aos outros é o amanhecer. Não são os feitos concretizados, mas o espaço em aberto que, porventura, o nosso contributo tornará, para alguém, mais nítido. Não é o chão com os traços confusos de todos os passos que demos, mas um chão varrido, um pano sem demasiados vincos o dom mais precioso a restituir. Não é apenas a vida como resumo de uma história, por extraordinária que ela seja ou tenha sido, mas a ousadia de repropor a vida, a vida como intacta possibilidade que nada é capaz de exaurir. Porque a natureza da vida, a sua real dimensão, o seu deflagrar espantoso depende não só do que pudemos objetivar, mas sobretudo daquilo que outros farão com o que nos atravessou. As nossas trajetórias são apenas uma parte: não são a viagem. Todos os navegadores solitários de que ouvimos falar não fizeram outra coisa que habitar um sonho de viagem, que mesmo quando vivido apaixonadamente nunca o detiveram como exclusivo seu: receberam de outros e a outros o passaram. E quando cumpriram tal transmissão nem sabiam exatamente a quem se destinava. Mas a chuva não conhece tudo aquilo que molha. Nem o sol escolhe áreas delimitadas a iluminar. A melhor metáfora da existência não são as mãos que se fecham, mas as que se escancaram e, por fim, se reconhecem no brilho da própria nudez.

A melhor metáfora da existência não são as mãos que se fecham, mas as que se escancaram e, por fim, se reconhecem no brilho da própria nudez

A palavra que suporta a vida não pode ser, por isso, a palavra “medo” e, se pensarmos bem, aceitámos por demasiado tempo transportá-la dentro de nós. Talvez, quem sabe, a tenhamos carregado até este momento e essa constitua ainda agora a nossa carga mais inútil. Pelo contrário, a pedra angular da construção, o motivo auroral, peregrino e de futuro é, sim, a palavra “confiança”. A adesão a ela não se faz, contudo, sem um processo, paciente, complexo, esforçado. Equivale dentro de nós a um parto. Coisa mais do que justa, pois a confiança supõe que percamos o medo aos sucessivos nascimentos que se abrem para nós. A palavra “confiança” não se move apenas entre garantias, pois nunca as teremos todas. É interessante perceber que outras palavras lhe podem estar associadas. Recordo que o filósofo Blaise Pascal associava à confiança a palavra “aposta”. E que Kierkegaard, por sua vez, desafiava a que se lhe associasse a palavra “salto”. São avisos úteis e que explicam como se chega lá. A confiança é uma máquina de construir hipóteses de amanhecer.

Tem tanto a ensinar-nos o amanhecer, essa forma indómita e serena em que a terra plasma, a cada 24 horas, o seu (e o nosso) desejo de reviver. A luz tem, nessa ocasião, uma respiração leve, desarmada, discretamente bruxuleante. Uma réstia de laranja ou de rosa é sugestão suficiente para tornar aceso o horizonte. E quando vemos caminhar a luz a nosso lado com os seus passos pequenos, os seus passos de algodão, os seus trapos infantis ornados de joias tão incríveis compreendemos que também para nós alguma coisa começa. Deveríamos parar mais vezes a contemplar a manhã como um poste de luz que reforça a nossa, como uma robustez que nos sonha, como uma mão estendida que nos defende. Deus está na manhã. Ela é misteriosa e ampla por isso. Exibe a sua bondade. Destapa o seu sorriso. Não admira que as coisas verdadeiramente importantes que recebemos dos outros sejam um amanhecer. E que as que podemos deixar também.


[SEMANÁRIO#2619 - 6/1/23]

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

E os que não têm nome?



E os que não têm nome? Sim, esses de quem a sociedade não sabe decor os seus passos e as suas conquistas. Esses homens e mulheres a quem não é feito tributo algum e que, no seu quotidiano, fazem mais do que tantos que são nomeados e reconhecidos.

E os que não têm nome? Quem é que se lembra deles? Quem se aventura a procurá-los e a dar-lhes espaço? São os que não têm nome que vão sustentando o mundo. São esses anónimos e anónimas que no silêncio das suas vidas vão dando vida a tantos e tantas. São esses de que ninguém faz notícia que vão cobrindo e dando protagonismo a todos os que se cruzam consigo.

E os que não têm nome? Sim, esses de que ninguém tem coragem de nomear, nem de aproximar. Esses que são colocados na margem e que esperam que alguém os possa um dia tratar com dignidade.

São estes. Os que não são conhecidos por ninguém, os que não têm os seus nomes fixados nas telas publicitárias nem que vêm os seus nomes escritos nos telejornais, com quem a Igreja se deve preocupar. É esta a novidade do Evangelho apresentado por Jesus: dar nome e chamar pelo nome a quem, um dia, já nem se recordava da sua existência.

E tu, quantas vezes podias ter dado nome a alguém?


Emanuel António Dias

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Ano novo, vida velha?



Iludidos com a folha caída do calendário, fazemos as promessas do costume. Mais exercício físico. Mais tempo para nós e para os nossos. Uma alimentação mais saudável. Mais tempo para o autocuidado. Menos negatividade e menos queixumes. Mais gratidão pelo que temos e nos foi dado.

Tudo bonito, na teoria. Muito pouco verdadeiro, na prática. 2022 caiu, finalmente, e cansou-nos de todas as formas possíveis e imagináveis. Trouxe-nos a guerra e choros não tão distantes assim. Trouxe-nos os restos tristes de uma pandemia que está mais viva do que, agora, parece. Quebrou-nos o poder de compra e a vontade de acreditar em tempos melhores. Trouxe-nos a confirmação da desconfiança naqueles que nos deviam governar.

2023 aparece quase como uma continuação pouco feliz do que já cá estava. E nós só queríamos uma folha em branco para escrever coisas bonitas. Queríamos um ano que nos estreasse por dentro. Que nos desse a coragem que nunca tivemos para dizer o que nunca dissesses. Que nos desse aquele pontapé a alma capaz de nos fazer avançar com a vida que podia ser nossa, se soubéssemos recebê-la de peito aberto.

Queríamos um ano de concretizações. De apagar o que não presta. De rasgar os cadernos de memórias trágicas ou bolorentas. De começar tudo outra vez. De não ter vergonha do que somos e do que temos.

Queríamos tanto uma vida nova. E mais dinheiro no bolso, por favor. E mais alegria aos pés do coração. E mais juventude em todas as nossas partes velhas. Aquelas que quase nunca condizem com a nossa idade, mas que nos fazem viver de bengala. Apoiados nas raízes que não nos dão tréguas. Que bom que era se nos pudéssemos plantar de novo. Regar os dias com água fresca e com sonhos que cheiram a relva acabada de cortar.

O ano é novo. Mas nós… não. E não podemos esquecer-nos disso. Precisamente para que possamos fazer diferente. Para compreendermos que as oportunidades que nos são dadas nada têm que ver com o virar do calendário.

O carrossel é o mesmo. Mas as voltas são as que o teu coração quiser dar.

2023 de tudo o que mais precisares de compreender.


Marta Arrais

domingo, 8 de janeiro de 2023

Solenidade da Epifania do Senhor

 


A liturgia deste domingo celebra a manifestação de Jesus a todos os homens... Ele é uma "luz" que se acende na noite do mundo e atrai a si todos os povos da terra. Cumprindo o projecto libertador que o Pai nos queria oferecer, essa "luz" incarnou na nossa história, iluminou os caminhos dos homens, conduziu-os ao encontro da salvação, da vida definitiva.
A primeira leitura anuncia a chegada da luz salvadora de Jahwéh, que transfigurará Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de todo o mundo. Será que na nossa Igreja há espaço para todos os que buscam a luz libertadora de Deus? Os irmãos que têm a vida destroçada, ou que não se comportam de acordo com as regras da Igreja, são acolhidos, respeitado
s e amados? As diferenças próprias da diversidade de culturas são vistas como uma riqueza que importa preservar, ou são rejeitadas porque ameaçam a uniformidade?
No Evangelho, vemos a concretização dessa promessa: ao encontro de Jesus vêm os "magos" do oriente, representantes de todos os povos da terra... Atentos aos sinais da chegada do Messias, procuram-n'O com esperança até O encontrar, reconhecem n'Ele a "salvação de Deus" e aceitam-n'O como "o Senhor". A salvação rejeitada pelos habitantes de Jerusalém torna-se agora um dom que Deus oferece a todos os homens, sem excepção.
A segunda leitura apresenta o projecto salvador de Deus como uma realidade que vai atingir toda a humanidade, juntando judeus e pagãos numa mesma comunidade de irmãos - a comunidade de Jesus. Destinatários, todos, do mistério, somos "filhos de Deus" e irmãos uns dos outros. Essa fraternidade implica o amor sem limites, a partilha, a solidariedade... Sentimo-nos solidários com todos os irmãos que partilham connosco esta vasta casa que é o mundo? Sentimo-nos responsáveis pela sorte de todos os nossos irmãos, mesmo aqueles que estão separados de nós pela geografia, pela diversidade de culturas e de raças?


Nos passos dos Magos... Como os Magos, ponhamo-nos a caminho. Não sabemos exactamente o que será a aventura. Tenhamos confiança. Como eles, ergamos os olhos. A luz vem de Deus, deixemo-nos iluminar. Como eles, procuremos, não tenhamos demasiadas certezas. Tenhamos somente convicções, descubramos os sinais de uma presença. Como eles, ofereçamos presentes: o da oração, o do respeito de todo o homem. Procuremos agradar a Deus e aos irmãos. Como eles, aceitemos começar um novo caminho. Deixemo-nos interpelar por Deus e pelo seu Evangelho, pelos homens e mulheres deste tempo.

https://www.dehonianos.org/

sábado, 7 de janeiro de 2023

O que é que aprendemos, por Tolentino Mendonça

 


Os balanços são necessários. Esses recordam-nos que talvez exista no mecanismo da história (tanto aquela só nossa como a história do mundo) uma margem para aquilo que um pensamento aprofundado sobre a vida colhe sob a forma de ensinamento. Apesar de tantas vezes a história nos parecer blindada, predefinida e indiferente ao que possamos fazer, é decisivo pensar que não é assim. Vale a pena interrogarmo-nos sobre os caminhos percorridos. Vale a pena avaliar o tempo, o que fazemos dele e o que ele faz de nós. Não é o mesmo atravessar a vida sem realizarmos um verdadeiro confronto com a sua realidade ou, ao contrário, termos a audácia de manter os olhos abertos, disponíveis para interpretar a história não já como automatismo mas como construção.

 

Na mensagem para a jornada mundial da paz de 2023, o Papa Francisco propõe um balanço da crise da pandemia e recomenda que paremos para interrogarmo-nos. O Papa é muito claro: “Dos momentos de crise, nunca saímos iguais: sai-se melhor ou pior.” Por isso, são inexcusáveis as perguntas que nos guiam numa análise deste momento da história: que aprendemos nós com a emergência pandémica? Que caminhos novos sentimo-nos chamados a percorrer para ultrapassar a situação que nos conduziu até aqui? Sentimo-nos ou não capazes de ousar uma cultura capaz de pôr a pessoa humana no centro e de suscitar modelos de desenvolvimento mais respeitosos em relação ao planeta e às outras criaturas? Como podemos tornar melhor o nosso mundo?

 

As expectativas que colocámos no progresso, na tecnologia e nas possibilidades da globalização revelaram-se desadequadas. O futuro pede-nos um artesanato humilde para refazermos a esperança num mundo melhor

 

Uma série de coisas tornaram-se mais claras. A primeira de todas é a compreensão reforçada de que as variadas crises que estamos a viver (sanitária, ecológica, económica, social...) estão no fundo interligadas e que somos chamados a um exercício de corresponsabilidade. A segunda é a consciência de que precisamos todos uns dos outros, que ninguém se pode salvar sozinho e que o nosso mais precioso recurso é a fraternidade. Nesse sentido, a medida mais urgente seria colocar no centro da arquitetura da existência a palavra “juntos”. A terceira é que precisamos de reaprender uma humildade fundamental no que respeita ao futuro. As expectativas que colocámos no progresso, na tecnologia e nas possibilidades da globalização revelaram-se desadequadas. O futuro pede-nos um artesanato humilde para refazermos a esperança num mundo melhor.

 

No seu discurso de aceitação do Prémio Nobel da Literatura, no ano de 2015, a jornalista e escritora bielorrussa Svjatlana Aleksievič contou várias histórias. De facto, quem já contactou com as suas obras não as esquece devido ao impacto que as histórias que relata têm em nós. Ela própria explica a sua missão como a de recoletora das histórias aparentemente minúsculas da gente comum. “Que faço eu? Recolho a vida do meu tempo. O quotidiano da alma. Aquilo que a grande história normalmente descura, aquilo a que não dá atenção suficiente. Eu ocupo-me da história descurada.” Ora uma das histórias acontece num hospital de Cabul, durante a guerra no Afeganistão. Uma comitiva de jornalistas visitava os civis feridos e levava presentes para as crianças. O hospital era uma enorme tenda. Os doentes estavam deitados por terra, cobertos apenas por uma manta. A escritora passou por uma mãe com um filho pequeno ao lado. Deixou ao miúdo um pequeno urso de peluche, mas achou estranho que ele tivesse recebido o presente agarrando-o com os dentes. Interrogou, por isso, a mãe: “Porque se comporta ele assim?” A jovem afegã baixou a coberta que tapava o corpo do seu filho. E então alguém teve de amparar nesse momento Svjatlana Aleksievič, porque ela desmaiou: não estava preparada para o que acabava de ver. Uma bomba roubara àquele menino os seus braços.

 

[SEMANÁRIO#2618 - 30/12/22]