A liturgia deste domingo fala-nos de “vocação”. Lembra-nos que Deus conta connosco para concretizar o seu projeto de salvação para o mundo e para os homens. Desafia-nos a responder com generosidade ao chamamento de Deus.
A primeira leitura traz-nos a descrição plástica do chamamento de um profeta – Isaías. Enquanto dialoga com Deus, Isaías apercebe-se de que Deus tem planos para ele. Apesar de se sentir frágil e indigno, Isaías abraça o convite de Deus e responde, com toda a convicção: “eis-me aqui: podeis enviar-me”. A resposta de Isaías poderia muito bem ser o modelo da nossa resposta ao Deus que chama.Deus, para concretizar o seu plano de salvação, conta com todos os seus filhos e filhas. Cada um de nós tem o seu lugar e o seu papel no projeto que Ele tem para o mundo e para os homens. É Deus que, de acordo com critérios que só Ele conhece e define, escolhe quem quer, chama quem quer e envia quem quer. A nossa “história de vocação” é a história de como Deus vem ao nosso encontro, entra na nossa vida, desafia-nos para a missão, pede uma resposta à proposta que nos faz. Temos consciência de que Deus nos chama, às vezes de formas bem banais, para o seu serviço? Estamos atentos aos sinais que Ele semeia na nossa vida e através dos quais nos diz, a cada momento, o que quer de nós? Estamos disponíveis para responder com generosidade aos desafios que Deus nos lança, mesmo quando eles vão contra os nossos projetos pessoais ou contra os nossos interesses particulares?
No Evangelho, Lucas oferece-nos uma imagem do “barco de Simão Pedro”, metáfora da comunidade cristã. Jesus está lá, sentado a ensinar todos aqueles que se dispõem a escutá-l’O. Os que viajam nesse barco devem orientar-se pela Palavra e pelas indicações de Jesus. O Mestre quer entregar-lhes uma missão: serem “pescadores de homens”. Eles são chamados a trabalhar com Jesus na libertação de todos os homens e mulheres afogados no sofrimento sem sentido.O “barco de Simão Pedro”, de onde Jesus proclama a Boa Notícia do Reino de Deus, é uma bela e sugestiva imagem da comunidade cristã. Muitos homens e mulheres que estão “na margem” da vida e da história, olham para o “barco de Simão Pedro” e aguardam ansiosamente as palavras de Jesus. Não veem outra saída, não vislumbram outra esperança. A comunidade cristã é, neste agitado séc. XXI, o espaço privilegiado onde a voz de Jesus ecoa no mundo para consolar, para animar, para curar, para apontar caminhos, para dar vida? No meio do rugido das tempestades que o mundo enfrenta, fazemos tudo o que podemos para tornar percetível, para os nossos irmãos e irmãs que esperam “nas margens”, a voz de Jesus? As palavras que dizemos aos homens e mulheres que anseiam por uma vida mais humana, são as palavras de Jesus? O “barco de Simão Pedro” em que viajamos com Jesus está pintado com as cores da misericórdia, da solicitude, da compreensão, do acolhimento, do perdão, da bondade, da ternura de Deus? O “barco de Simão Pedro” cumpre o seu papel de levar a todos os homens e mulheres o testemunho de Jesus?
Na segunda leitura, São Paulo fala-nos da ressurreição de Cristo, uma realidade que nos abre perspetivas novas e que nos permite encarar a vida com esperança. Recorda-nos que somos chamados – como o próprio Paulo foi – a acreditarmos e a sermos testemunhas da vida nova que brota de Jesus e da sua proposta.Para nós, cristãos, a ressurreição de Jesus não é apenas uma verdade que professamos quando dizemos o credo, mas é uma certeza que ilumina a nossa vida e imprime um sentido novo à história dos nossos dias. Nós, discípulos de Jesus, não vivemos da memória de um “morto” que a história conheceu, digeriu e arrumou na galeria das figuras notáveis cobertas pelo pó dos tempos, mas caminhamos atrás de alguém que está vivo, que continua a encontrar-se connosco, a caminhar ao nosso lado, a alimentar-nos com a sua Palavra e com o seu Pão, a apontar-nos o caminho que conduz à vida. Como é que sentimos a ressurreição de Jesus? Experimentamos a presença de Jesus, sentimos que o seu Espírito nos anima e conduz enquanto viajamos pela vida? O facto de Jesus ter vencido a morte muda a nossa perspetiva da vida?
A vitória de Jesus sobre a morte, a injustiça, a mentira, a maldade, traz à nossa vida um suplemento de coragem e de esperança. Garante-nos que não há morte para quem aceita fazer da sua vida uma luta pela justiça, pela verdade, pelo projeto de Deus. Fornece-nos as armas de que precisamos para vencer o medo e fortalece-nos na decisão de lutar pela instauração do Reino de Deus. Foi isso que os apóstolos perceberam quando se encontraram com Jesus ressuscitado. A certeza da ressurreição encoraja-nos a lutar, sem a paralisia que vem do medo, por um mundo mais justo, mais fraterno, mais humano?
PALAVRA PARA O CAMINHO…
As últimas palavras do sacerdote na missa são palavras de paz: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe!” Eis-nos enviados entre os homens, nossos irmãos, como Isaías, como Simão, como Paulo… E, como eles, não nos sentimos dignos de cumprir a missão que Deus nos confia em cada Eucaristia. Mas, como a Isaías, a Simão, a Paulo, uma palavra forte é dita a cada um de nós: “Não tenhas medo…” Partamos, como Paulo… com a certeza de que não sou eu que trabalho sozinho, “é a graça de Deus, que está comigo!”
www.dehonianos.org
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