domingo, 16 de fevereiro de 2025

Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor.

 



A Palavra de Deus que nos é proposta neste sexto domingo comum fala-nos de opções, de escolhas acertadas para construir uma vida com sentido. De um lado está o caminho que Deus propõe; do outro está o caminho que nos é apontado pela lógica dos homens. O caminho que Deus aponta parece um caminho “improvável” e obriga-nos frequentemente a navegar contra a corrente; mas é, garantidamente, o caminho que nos leva à vida verdadeira.

Na primeira leitura o profeta Jeremias garante que, se apostarmos tudo em realidades humanas e efémeras estaremos a desperdiçar a nossa existência; mas se colocarmos a nossa esperança em Deus e aceitarmos viver de acordo com as indicações de Deus, encontraremos vida em abundância e felicidade sem fim.Só vivemos uma vez. Não podemos arriscar-nos a falhar a nossa existência. A nossa vida é um capital demasiado importante para ser esbanjado. Por isso, temos de escolher bem as nossas apostas, os valores em que investimos, as escolhas que fazemos. No entanto, as coisas nem sempre são claras e definidas. Há muita confusão no nosso mundo e muitos interesses cruzados: há coisas que nos são oferecidas como oiro, mas que não passam de um qualquer metal sem valor; há caminhos que nos dizem levar à felicidade e à plena realização, mas que acabam por não nos conduzir a lado nenhum; há investimentos que nos são apresentados como “garantidos”, mas que acabam por nunca nos trazer qualquer retorno. Sobre que bases devemos assentar a nossa vida para que ela valha a pena? O que significa construir a nossa existência sobre rocha firme? Quais os valores a que não podemos renunciar para que a nossa vida não seja um fracasso?

No Evangelho Jesus mostra aos discípulos e à multidão como chegar à felicidade verdadeira. O caminho que Ele aponta – o das “bem-aventuranças” – contradiz absolutamente a lógica humana e inverte completamente a nossa escala de valores; mas apresenta-se com o selo de garantia do próprio Deus. De acordo com Jesus, é o caminho para um mundo mais humano, mais fraterno e mais feliz.Dois mil anos depois de Jesus ter feito o “sermão da planície”, as “bem-aventuranças” continuam a soar aos nossos ouvidos de uma forma estranha e paradoxal. Deixam-nos perplexos e algo desconcertados, pois apontam num sentido que parece ir contra o senso comum. Parecem subverter todas as nossas lógicas e contradizer tudo aquilo que sabemos sobre êxito e fracasso. São um desafio que ameaça todas as nossas certezas e seguranças, a nossa sabedoria convencional e a nossa organização social. Poderão realmente ser um caminho para a felicidade e para a plena realização do ser humano? Jesus tem razão quando garante que a verdadeira felicidade se alcança por caminhos completamente diferentes dos que a sociedade atual propõe? As “bem-aventuranças” serão uma desculpa de fracassados, conversa de gente que não tem coragem para competir, para se impor, para triunfar, ou serão uma forma de construir um mundo diferente, mais justo, mais humano e mais fraterno? O nosso mundo ganharia alguma coisa se abandonássemos a competitividade e a luta feroz pelo êxito humano e optássemos por viver na lógica das “bem-aventuranças”? Seríamos mais livres e mais felizes se renunciássemos a certos valores que a sociedade impõe e passássemos a viver de acordo com os valores propostos por Jesus?
As “bem-aventuranças” dão-nos um retrato bem bonito do coração paternal e maternal de Deus. Garantem-nos que Deus é sensível ao sofrimento dos seus filhos e que sente um carinho especial pelos que sofrem mais. Ele está sempre disponível para confortar os que estão feridos e magoados e para os ajudar a sair da sua triste situação. Como é que vemos e sentimos esta “sensibilidade” de Deus pelos mais frágeis e pequenos? Agrada-nos? É para nós fonte de esperança? O carinho de Deus pelos que precisam mais de amor inspira-nos e leva-nos a cuidar especialmente dos nossos irmãos que a vida maltrata? Somos testemunhas e profetas do amor de Deus no mundo?

Na segunda leitura Paulo, dirigindo-se aos cristãos de Corinto – e aos crentes de todos os lugares e tempos – convida-os a acreditar na ressurreição e a viver de olhos postos no mundo que há de vir. Se esse for o nosso horizonte, saberemos que as coisas deste mundo são passageiras e não devem ser a prioridade da nossa vida.Há questões que, mais tarde ou mais cedo, não podemos deixar de equacionar… Qual o sentido último da nossa vida? Para onde caminhamos? Que nos espera no final do caminho (sempre tão breve!) que percorremos aqui na terra? Estamos condenados ao nada, ao absoluto desaparecimento, ou há uma existência nova, totalmente outra, à nossa espera? Paulo, depois de conhecer a ressurreição de Cristo, a sua vitória sobre a morte, acredita firmemente que estamos destinados à ressurreição, a uma vida nova e definitiva, imersos no amor de Deus. Cristo abriu-nos as portas dessa vida nova que nos espera, ao encontro definitivo com o amor de Deus. Se essa vida futura não existisse, seríamos “os mais miseráveis de todos os homens” e a nossa fé não faria qualquer sentido – diz Paulo. Como vivemos e sentimos tudo isto? No horizonte da nossa existência está a certeza do encontro com o Amor, com a vida nova que Deus oferece aos seus filhos queridos?

À ESCUTA DA PALAVRA.

Há diferenças entre as bem-aventuranças na versão de Mateus e na de Lucas. Indiciam duas tradições. Mateus apresenta nove bem-aventuranças, Lucas somente quatro. Mateus diz que Jesus subiu a montanha… Lucas diz que Ele desceu da montanha… Uma contradição apenas aparente. Dois relatos complementares. Para escutar as bem-aventuranças em Mateus, é preciso subir à montanha, elevar-se, subir para Deus. Isso sugere que, para viver segundo o espírito do Evangelho, não nos podemos fechar nos estreitos limites da terra. É preciso subir, respirar um ar mais puro, mais transparente. Isso exige, certamente, um esforço, pois trata-se de deixar o Espírito soprar em nós o ar de Deus. É preciso esforço, como para subir uma montanha, é preciso treino, paciência e também silêncio, atenção interior. Mas isso não significa que devemos desinteressar-nos desta vida muito concreta, da vida ordinária de todos os dias. O Evangelho não é uma droga que nos faria ver um mundo desencarnado. Jesus quer encontrar-nos na planície das nossas vidas muito reais, como está expresso nas situações das bem-aventuranças. Por seu lado, os ricos são infelizes porque, no fundo, se esquecem de sair de si mesmos, de subir à montanha para respirar o ar de Deus.

www.dehonianos.org

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