sábado, 19 de abril de 2014

PÁSCOA FELIZ



Às vezes, quando o ar parece que me foge,
Me falta Deus, ou espanta a nossa condição,
Como os fiéis de outrora, a seus pés, hoje,
Dobro o joelho trémulo no chão.

Nem restos de orações lhe rezo! Nada rezo.
Espero no silêncio e na opressão, curvado,
Que Jesus Cristo ao seu madeiro preso
Tenha dó de mais um crucificado.

Das pálpebras que o tempo enegreceu, o olhar
Que entre elas se não vê, mas se adivinha e sente,
Me banha todo, então, como um luar,
E me diz que há Alguém ali presente.

Não!, já não fico só na minha solidão!
Já me não pesa tanto a minha própria cruz!
Já quase, quase sei (Jesus, perdão!)
Que tenho em ti como um irmão, Jesus.

Meus olhos, que a ruindade interior calcina,
Inundam-se-me então de bruma e de frescura,
E eu choro por nós todos, cuja sina
É sermos a imperfeita criatura...

E a graça que uma vez desceu dos altos céus
As mãos do pobre artista incógnito, as benzeu,
E as fez fazer dum tosco lenho um Deus
Tão próximo de nós como do céu.

A pouco e pouco vem sobre a cabeça
(Com o calor do sol que enxuga os próprios lodos)
De modo que já nada há que me impeça
De ser feliz!, e irmão de tudo e de todos.

José Régio (1901-1969)

Este é o tempo em que silenciamos cada ruela do nosso Ser para aí nos encontrarmos, a sós, com Ele, connosco próprios e com o Irmão! É o tempo em que Deus Pai, libertando o seu Filho do túmulo, nos mostra o caminho para se ser "Feliz!., e irmão de tudo e de todos!"

UMA SANTA PÁSCOA, NA ALEGRIA DO SENHOR RESSUSCITADO!

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