quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Teresa de Jesus, descalça e a caminho



Tal como prometido, voltamos para falar sobre os escritos de Teresa de Jesus. É que a escrita de Teresa, tendo tantos anos, continua uma escrita viva, muito viva!
Agora, com o parecer de pessoas a quem estou obrigada obedecer, escreverei alguma coisa das que o Senhor me dá a entender, que se encerram em palavras de que gosta a minha alma para este caminho de oração… (CAD, Prólogo, 3)


Escrito por Pastoral Juvenil. Publicado em Grão de Mostarda

Na sua infância, foi uma boa leitora e na sua adolescência estreou-se como escritora de novelas de cavalaria… Mas foi na sua idade adulta que escreveu páginas que são para nós, hoje, um presente vivo da sua vida, do seu pensamento, da sua atividade, do seu estar com Deus.

Ao que parece, Teresa não queria escrever. Exceção feita a três livros (as Constituições, as Exclamações da alma a Deus e os Conceitos do amor de Deus), Teresa escreveu sempre por indicação ou ordem de alguém. A Vida – livro de intimidade, a autobiografia de Teresa com destaque para a oração e para o que Deus nela operou –, escreve por ordem dos seus confessores. OCaminho – obra com o seu projecto de reforma –, escreve a pedido das suas irmãs do Mosteiro de São José que lhe suplicam que lhes escreva sobre a oração. As Moradas – obra da maturidade de Teresa, compêndio de vida espiritual –, escreve em obediência a duas pessoas muito queridas, o seu confessor e o seu mais admirado superior. As Fundações - livro a que, pouco antes de morrer, acrescenta umas novas linhas com grande frescura e jovialidade (cap.31) –, redige, apesar de tentar resistir, em obediência a um sacerdote jesuíta. As Poesias – composições ocasionais elaboradas sem qualquer pretenção académica – são palavras que emergem da experiência do amor ao seu Senhor, da sua sensibilidade face à beleza e da festa mais interior ou comunitária que sempre desejava celebrar.

Os livros de Teresa superam, no entanto, quer aqueles que lhe pedem que escreva, quer os seus destinatários, que quase sempre coincidem. Podendo ser, inicialmente, as suas irmãs, o seu confessor – não importa quem –, parece haver um destinatário sempre comum que é Deus. A sua escrita é, por isso, simultaneamente relato de vida íntima, transmissão do seu pensamento e oração!

Mas os livros de Teresa também superam o seu objectivo inicial. Escritos com uma determinada finalidade e num determinado contexto, alguns deles são autênticos clássicos da espiritualidade universal, muito para além dos terrenos cristãos. E, além disso, chegam hoje a nós com uma vontade contagiante de leitura. Experimenta começar pela Vida e verás!

Deixa-me terminar estas linhas com uma história viva de há dias: conheci um venezuelano, com trinta e dois anos; filho de pai católico e mãe protestante; educado na fé por ambos; fez a sua escola como qualquer rapaz da sua idade, na Venezuela; aí, fez o liceu e entrou na universidade, em Direito; formou-se e começou a trabalhar como advogado; sempre insatisfeito, muito insatisfeito, percebendo que não era aquilo que queria. Um dia ao fazer zapping na TV viu um programa sobre Teresa de Jesus, parou e fixou-se no programa; era aquilo! era aquilo que procurava! Foi ler um livro de Teresa e era aquilo que queria! Percebeu que ia ser carmelita; assim foi e entrou na Ordem onde hoje é frade; vai ser ordenado sacerdote, dentro de três meses.

Poque será que os escritos de Teresa de Jesus estão tão contagiantemente vivos. Porque Teresa era uma mística-activa? Porque era uma íntima de Deus e amante dos homens e mulheres? Porque era uma lider, empreendedora e negociadora? Porque era uma santa e mestra? Talvez por tudo isso. Mas – sabes? - julgo que o verdadeiro motivo foi porque ela se descalçou daquilo que a atrapalhava caminhar e se pôs a caminho. Deixa-te contagiar!

Eugénia Magalhães
Doutoranda em História e Cultura das Religiões

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