sábado, 14 de janeiro de 2017

TRÊS VEZES MAIS VULNERÁVEIS …


   

TRÊS VEZES MAIS VULNERÁVEIS …

Eis de novo a jornada mundial do migrante e do refugiado. Francisco, na sua Mensagem para esta jornada e da qual respigarei algumas afirmações, sente “o dever de chamar a atenção para a realidade dos migrantes de menor idade, especialmente os deixados sozinhos, pedindo a todos para cuidarem das crianças que são três vezes mais vulneráveis – porque de menor idade, porque estrangeiras e porque indefesas”. Chamando a atenção para o ensinamento de Jesus: «Quem receber um destes meninos em meu nome é a Mim que recebe; e quem Me receber, não Me recebe a Mim mas Àquele que Me enviou» (Mc 9, 37; cf. Mt 18, 5; Lc 9, 48; Jo 13, 20), afirma que este é o caminho seguro que “na dinâmica do acolhimento”, conduz até Deus e que a fé se manifesta “na proximidade amorosa aos mais pequeninos e mais frágeis”. Sobre a responsabilidade de quem fere a misericórdia em relação às crianças, ele recorda igualmente o que nos disse Jesus: «Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem em Mim, seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar» (Mt 18, 6; cf. Mc 9, 42; Lc 17, 2). E acrescenta: “Como não pensar nesta severa advertência quando consideramos a exploração feita por pessoas sem escrúpulos a dano de tantas meninas e tantos meninos encaminhados para a prostituição ou absorvidos no giro da pornografia, feitos escravos do trabalho infantil ou alistados como soldados, envolvidos em tráficos de drogas e outras formas de delinquência, forçados por conflitos e perseguições a fugir, com o risco de se encontrarem sozinhos e abandonados?”
Se as migrações assumem cada vez mais “as dimensões dum problema mundial dramático”, as crianças “são os primeiros a pagar o preço oneroso da emigração”. Elas “constituem o grupo mais vulnerável, porque, enquanto afloram à vida, são invisíveis e sem voz: a precariedade priva-as de documentos, escondendo-as aos olhos do mundo; a ausência de adultos, que as acompanhem, impede que a sua voz se erga e faça ouvir. Assim, os menores migrantes acabam facilmente nos níveis mais baixos da degradação humana, onde a ilegalidade e a violência queimam numa única chama o futuro de demasiados inocentes, enquanto a rede do abuso de menores é difícil de romper”.
Pela sua delicadeza particular, as crianças têm “necessidades únicas e irrenunciáveis”. Tem “o direito a um ambiente familiar saudável e protegido, onde possam crescer sob a guia e o exemplo dum pai e duma mãe”; o “direito-dever de receber uma educação adequada, principalmente na família e também na escola, onde as crianças possam crescer como pessoas e protagonistas do seu futuro próprio e da respetiva nação”; o “direito de brincar e fazer atividades recreativas; em suma, têm direito a ser criança”.
O Papa recorda que o fenómeno migratório tem feito parte da história da salvação e que relacionado com ele está um mandamento de Deus: «Não usarás de violência contra o estrangeiro residente nem o oprimirás, porque foste estrangeiro residente na terra do Egito» (Ex 22, 20); «amarás o estrangeiro, porque foste estrangeiro na terra do Egito» (Dt 10, 19)”.
Sendo a emigração um sinal dos tempos, um sinal “que fala da obra providencial de Deus na história e na comunidade humana tendo em vista a comunhão universal”, o Papa, sem ignorar as problemáticas inerentes, encoraja a reconhecer o desígnio de Deus “neste fenómeno, com a certeza de que ninguém é estrangeiro na comunidade cristã, que abraça «todas as nações, tribos, povos e língua» (Ap 7, 9); acentua que “as pessoas são mais importantes do que as coisas – e o valor de cada instituição mede-se pelo modo como trata a vida e a dignidade do ser humano, sobretudo em condições de vulnerabilidade, como no caso dos migrantes de menor idade”; pede que se aposte na proteção, na integração e em soluções duradouras e que os imigrantes, “precisamente para o bem dos seus filhos, colaborem sempre mais estreitamente com as comunidades que os recebem”; apela ao esforço de toda a Comunidade Internacional para que sejam enfrentados, nos países de origem, as causas que provocam as migrações; dirige uma palavra a todos aqueles que caminham ao lado destas crianças e adolescentes; pede-lhes que não se cansem “de viver, com coragem, o bom testemunho do Evangelho”, junto dos mais pequenos e vulneráveis e confia “todos os menores migrantes, as suas famílias, as suas comunidades” e aqueles que os seguem de perto “à proteção da Sagrada Família de Nazaré, para que vele por cada um e a todos acompanhe”.


D. Antonino Dias Bispo de Portalegre Castelo Branco - 13-01-2017

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