sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

OVELHA TRESMALHADA…ESTÁS FERIDA? VEM…VEM…



Não resisto a trazer para aqui a reflexão do Papa Francisco, em 6 de dezembro último, na Casa de Santa Marta, no Vaticano. Li o seu resumo no jornal L’OR de 8/12/2016. Já em caminhada para o Natal, Francisco falou que “o Senhor vem com o seu poder” e que esse seu poder são sobretudo “as suas carícias”, a “sua ternura”. Apoiando-se no Evangelho do dia, (Mt 18,12-14), acentuou que este Senhor que “acaricia” e que vem “para salvar” tem “uma atitude de pastor: “Que vos parece? Um homem possui cem ovelhas; uma delas se perde. Não deixa ele as noventa e nove na montanha, para ir buscar aquela que se perdeu?”. Assim também o Senhor fará, quando vier. “De facto, o pastor não possui simplesmente 99 ovelhas, mas possui “uma, uma, uma, uma, uma …”: isto é, cada uma é diversa”. E ele “ama cada uma pessoalmente. Não ama a massa indistinta. Não! Ama-nos pelo nome, ama-nos como somos”.
Seguindo o seu raciocínio, Francisco explicou que o pastor “conhecia bem” a ovelha tresmalhada, ela não se tinha perdido, ela “sabia bem o caminho”. Perdeu-se “porque tinha o coração perdido”, o seu “coração estava doente”. Ela “estava cega por algo interior e, confusa por aquela dissociação interior”. Por isso, “fugiu na escuridão para se desabafar”. Mas, “o que ela fez não foi uma travessura… Ela escapou”. O que ela fez foi “uma fuga precisamente para se afastar do Senhor, para saciar aquela escuridão interior que a levava a ter uma vida dupla”. Que a levava a “estar no rebanho e fugir da escuridão, na escuridão”. Mas o Senhor “sabe tudo isto e vai busca-la”. E comenta Francisco: “Para mim, a figura que mais me faz compreender a atitude do Senhor com a ovelha tresmalhada é o seu comportamento com Judas. A ovelha mais perfeita do Evangelho é Judas”. Com efeito, recordou o Pontífice, ele é “um homem que sempre teve uma amargura no coração, algo para criticar nos outros, sempre à parte”. Era “um homem que não conhecia “a doçura da gratuidade de viver com todos os outros”. E dado que “esta ovelha” não estava satisfeita, então fugia”. Judas “fugia porque era ladrão”, outros “são luxuriosos” e igualmente “fogem porque têm a escuridão no coração que os afasta do rebanho”. Estamos diante daquela vida dupla”. Uma vida comum “a tantos cristãos” e também – acrescentou “com dor” – a “sacerdotes” e “bispos”. De resto, também “Judas era bispo, foi um dos primeiros bispos…”. Por conseguinte, também Judas é uma “ovelha tresmalhada” concluiu Francisco acrescentando: “Pobrezinho! Pobre este irmão Judas como o chamava padre Mazzolari, num sermão tão bonito: “Irmão Judas, o que aconteceu no teu coração?”.
Trata-se de uma realidade à qual também os cristãos de hoje não estão alheios. Portanto, “também nós devemos compreender as ovelhas tresmalhadas”. De facto, evidenciou o Papa, “temos sempre algo, pequenino ou não tão pequenino, das ovelhas tresmalhadas”. Por conseguinte, devemos entender que “não é um erro o que fez a ovelha tresmalhada: é uma doença, uma doença que tinha no coração” e da qual o diabo se aproveita. Retomando a comparação usada anteriormente, o Pontífice repercorreu os últimos momentos da vida de Judas para dizer que ele já estava na escuridão “quando foi ao templo fazer a vida dupla”, quando deu “o beijo ao Senhor no horto” e depois “as moedas que recebeu dos sacerdotes…”, comentando: “não é um erro. Fez… Estava na escuridão! Tinha o coração dividido, dissociado. Judas, Judas…”. Portanto, podemos dizer que ele “é o ícone da ovelha tresmalhada”.
Jesus, “o pastor, vai procura-lo: ´faz o que deves fazer, amigo` e beija-o”. Mas Judas “não entende”. E, no final, ao dar-se conta “do que a sua vida dupla provocou na comunidade, o mal que semeou com a sua escuridão interior, que o levava a fugir sempre, procurando luzes que não eram as luzes do Senhor” mas “luzes artificiais”, como a “dos enfeites do Natal”, quando compreende tudo isto, no final “desespera-se”. E é isto que acontece “se as ovelhas tresmalhadas não aceitarem as carícias do Senhor”.
Mas, diz o Papa, “o Senhor é bom, inclusive para estas ovelhas” e “nunca deixa de ir procura-las”. Na Bíblia encontramos “uma palavra que diz que Judas se enforcou, enforcado e ‘arrependido’”. E comentou: “creio que o Senhor pegará aquela palavra e levá-la-á consigo, não sei, pode ser, mas aquela palavra faz-nos duvidar”. Sobretudo frisou: “Mas que significa aquela palavra?” Significa, com certeza, que “até ao fim o amor de Deus agirá naquela alma, até ao momento do desespero”. E é precisamente este, disse concluindo a sua reflexão, “o comportamento do bom pastor com as ovelhas tresmalhadas”.
E continuou: “O Senhor vem com o seu poder. E qual é o poder do Senhor? As carícias do Senhor”. É como o bom pastor que “quando encontrou a ovelha tresmalhada não a insultou”, aliás, ter-lhe-á dito: “Estás ferida? Vem, vem…” E do mesmo modo, “no horto das oliveiras”, o que o Senhor disse a Judas, a “ovelha tresmalhada”? Chamou-lhe “amigo”. Sempre com “carícia”. E terminou afirmando que “quem não conhece as carícias do Senhor não conhece a doutrina cristã”. E é precisamente “este o anúncio jubiloso, esta é a exultação sincera que queremos hoje. Esta é a alegria, é a consolação que procuramos: que o Senhor venha com o seu poder, que são as carícias, para nos encontrar, nos salvar, como a ovelha tresmalhada e para nos levar ao rebanho da sua Igreja”.

Antonino Dias- Bispo de Portalegre Castelo Branco
27-01-2017

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