sexta-feira, 20 de março de 2020

A JOVENZINHA ERA FIXE E FELIX

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A JOVENZINHA ERA FIXE E FELIZ!...

Sem esquecer o vírus que nos atormenta, vou mudar de registo e falar de Chiara Badano, cujo nascimento foi considerado uma graça de Nossa Senhora das Pedras, devoção dos pais, pois há 11 anos que tentavam ter um filho e não o conseguiam ter. Chiara cedo entrou no Movimento dos Focolares, onde começou a viver a espiritualidade própria do Movimento e era extremamente ativa no setor juvenil. Aí aprendeu a colocar Deus em primeiro lugar e a oferecer a Jesus todas as suas dificuldades e sofrimentos. Gostava do desporto, da patinagem, da montanha e do mar, de cantar e dançar, uma jovem feliz!
Aos 17 anos, durante uma partida de ténis, teve uma forte dor num ombro. As consultas e os exames clínicos multiplicaram-se. O diagnóstico, porém, não tardou, acusava um osteossarcoma, um tumor ósseo, que, apesar dos muitos cireneus, não deixou de ser uma verdadeira quaresma a carregar Chiara com a sua cruz, por ladeira íngreme, até ao cimo do seu calvário e sua páscoa, dois anos depois. Ao tomar conhecimento do que se tratava, Chiara ficou imóvel e em silêncio. Alguns minutos depois, já interiormente refeita, afirmou: «Se é o que queres, Jesus, é o que eu também quero".
Os jovens que partilhavam o mesmo ideal, e outras pessoas do Movimento, alternavam-se em visitas ao hospital, manifestando comunhão com a doente e a sua família. Chiara, porém, nunca perdia o sorriso. O seu quarto, no hospital ou em casa, foi sempre um lugar de encontro, de apostolado, era a sua igreja, a todos cativava pelo seu testemunho. Embora na cama, permaneceu sempre muito ativa. Pelo telefone acompanhava grupos de Jovens, mandava mensagens, cartões e cartazes, fazia sentir a sua presença nos Congressos e atividades, procurava todos os meios para fazer com que os seus amigos e colegas conhecessem os gen e as gen e convidou muitos para o Encontro internacional de Jovens por um Mundo Unido, realizado em Roma, em maio de 1990. Gen significa “geração nova”, são os jovens e adolescentes que fazem parte do Movimento dos Focolares e vivem agregados em todo o mundo por faixas etárias e com dinâmicas próprias, apostados que estão em fomentar a revolução do amor tendo como finalidade a realização do testamento de Jesus: “Que todos sejam um”.
Ela já não podia correr, mas queria que os jovens o fizessem: "Eu já não posso correr. Porém, gostaria de vos passar a tocha, como nas Olimpíadas. Os jovens têm uma vida só e vale a pena empregá-la bem!" Pessoas não crentes e até os próprios médicos, ficavam sensibilizados com a paz que experimentavam ao seu redor. Sentiam-se tocados e alguns até se reaproximaram de Deus, recordam-na, falam sobre ela, invocam-na. O médico que a acompanhava, bastante crítico em relação à Igreja, ficava cada vez mais impressionado com o seu testemunho e o dos pais: “Desde quando conheci Chiara alguma coisa mudou dentro de mim. Aqui existe coerência, aqui, na minha opinião, todo o cristianismo se encaixa”. E alguns dos adjetivos usados por esses médicos para descrever a serenidade e a fortaleza com que Chiara enfrentava essa doença mortal, foram de “fora do comum”, “extraordinário”, “incrível”... "É verdade. A sua atitude não era normal, porque completamente sobrenatural, fruto da graça divina, da fé infinita e do heroísmo cheio de virtude. Ela falava do vestido de noiva para o seu funeral, como se fosse uma jovem que se prepara para o matrimónio". Sim, ela preparou-se para o encontro com o Esposo, escolhe o vestido de noiva, o penteado, os cânticos e as orações para a sua “festa de núpcias”, para a “sua” Missa, o seu funeral. Queria que fosse uma festa, que ninguém chorasse. Apesar do sofrimento, ela sentia-se amada por Deus e manifestava isso de forma bela, como, por exemplo, quando assim se expressou depois de uma noite dolorosa: "Sofria muito, mas a minha alma cantava...".
Quando percebia que a sua mãe estava preocupada pela situação, ia-a confortando: "Confie em Deus, pois você fez tudo"; "Quando eu tiver morrido, siga Deus e encontrará a força para ir em frente"; “Quando me quiser encontrar, olhe para o céu, e me encontrará numa estrelinha”. Nos últimos encontros com o seu Bispo, manifestou sempre um grande amor à Igreja. Sempre serena e forte, diante de cada nova “surpresa”, o seu estado de espírito era sempre o mesmo: "Com você, Jesus, por você, Jesus!"; “Por ti, Jesus, se tu queres eu também quero!”. E tudo oferecia pela Igreja, pelos jovens, pelos ateus, pelo Movimento dos Focolares, pelas missões... e repetia: "Não tenho mais nada, contudo tenho o meu coração e com ele posso sempre amar".
Pouco antes de partir, ela revelou aos amigos que a foram visitar: "Vós não podeis imaginar como é agora o meu relacionamento com Jesus... Sinto que Deus me pede algo mais, algo maior. Talvez seja ficar neste leito por anos, não sei. Interessa-me unicamente a vontade de Deus, fazê-la bem no momento presente: aceitar os desafios de Deus”. Por insistência de muitas pessoas, Chiara, escreveu um bilhetinho a Nossa Senhora a pedir-lhe a cura, e ela escreveu: "Mãezinha Celeste, eu te peço o milagre da minha cura; se isso não for vontade de Deus, peço-te a força para nunca ceder!"
Quando perceberam que o tratamento já era inútil, os médicos decidiram interromper as terapias. A doente referiu: “A medicina depôs as suas armas. Interrompendo os tratamentos, as dores nas costas aumentaram e quase não consigo mexer-me. Sinto-me tão pequena e o caminho a percorrer é tão árduo... muitas vezes sinto-me sufocada pela dor. Mas é o Esposo que vem ao meu encontrar, não é? Sim, eu também repito: ‘Se tu queres, eu também quero’... Tenho a certeza que, com Ele, venceremos o mundo!”.
O relacionamento entre Chiara Badano e Chiara Lubich, a Fundadora do Movimentos dos Focolares, era muito próximo. Como os membros do Movimento dos Focolares, que o desejassem, podiam receber um outro nome, e Chiara Badano ainda o não tinha recebido, no dia 30 de setembro de 1989, Lubich respondeu-lhe assim, animando-a à perseverança até ao fim: "Chiara, não tenhas medo de Lhe dizer o teu sim, momento a momento. Ele te dará força, fica certa disso! Eu também rezo e estou sempre aí contigo. Deus ama-te imensamente e quer penetrar no íntimo da tua alma e fazer com que experimentes gotas de céu. 'Chiara Luce' - Clara Luz - é o nome que escolhi para ti. Tu gostas? É a luz do Ideal que vence o mundo. Eu o mando junto com todo o meu afeto...".
Chiara ‘Luce’ Badano veio a falecer aos 19 anos, em 7 de outubro de 1990. Segundo relata a sua mãe, se o seu último ato de amor foi a doação das suas córneas a dois jovens, as suas últimas palavras, foram: “Tchau mamãe! Esteja feliz, porque eu estou feliz”.
Em 25 de setembro de 2010, a Igreja proclamou a sua Beatificação, a primeira pessoa do Movimento dos Focolares a alcançar esse reconhecimento. Participaram milhares de pessoas, de mais de 40 países dos cinco continentes.
Os santos são as mais belas flores da Humanidade!

D.Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 20-03-2020.



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