sábado, 31 de outubro de 2020

MCC- Intendência nacional


                 



Aos membros do sec. diocesano, responsáveis pelos núcleos de Escola e reitores de Ultreia do M.C.C. da Diocese de Portalegre-Castelo Branco:



Queridos amigos e irmãos em Cristo,

votos de paz e bem para todos. Que tudo esteja bem convosco e vossas famílias.

Nos tempos difíceis e incertos que todos estamos a viver, mais que nunca a oração e intendência são necessárias.

Assim, venho recordar as datas da intendência nacional para a nossa diocese, tal como foi informado em 25-09, no mail que vos foi enviado.

Chamamos a atenção, especialmente para os núcleos de escola de Castelo Branco e Portalegre que deverão ter o seu tempo de oração já na próxima semana. Solicitamos aos responsáveis que a organizem localmente e façam a respectiva divulgação.



Intendência Nacional, que habitualmente é marcada e distribuída pelo S. N. pelas diversas dioceses do País, teve para a nossa Diocese o seguinte calendário:

· 2 a 8 de Novembro de 2020

· 15 a 21 de Março de 2021


Seguindo a habitual distribuição pelos quatro núcleos dentro da nossa diocese, propomos o seguinte:

· 2-3-4-5 Novembro 2020 – Portalegre

· 5-6-7-8 Novembro 2020 – Castelo Branco

O dia 5 será simultâneo aos dois centros

· 15-16-17-18 Março 2021 – Abrantes

· 18-19-20-21 Março 2021 – Pinhal

O dia 18 será simultâneo aos dois centros

Aproveitamos para lembrar que o prazo limite para as encomendas das máscaras com o logotipo do M.C.C., propostas e elaboradas a partir de um casal da nossa Diocese, foi indicado até fim do Outubro. É necessário que quem as pretenda adquirir, faça a sua encomenda com urgência, para os contactos, então indicados:

Sandra Sofia Farinha Silva Ribeiro, 965375429 - ssofia.ribeiro@sapo.pt

Maria de Fátima Ribeiro Neves Jacinto, 919103164 fatita.jacinto@gmail.com

Cristo continua a querer contar conosco. E nós, sempre com a Sua Graça.







sexta-feira, 30 de outubro de 2020

DAR AZO ÀS MEMÓRIAS DO CORAÇÃO



A Igreja celebra o Dia de Todos os Santos e o Dia de Todos os Fiéis Defuntos. Como criaturas que somos, se estamos marcados pela finitude e pelo limite, estamos destinados à eternidade, à Vida em plenitude. Sabemos que o homem tem atitudes contraditórias frente ao mistério da vida.
Tanto se esfola a defender a sua dignidade, como se encapricha a criar instrumentos que a destroem, como se dela fosse dono. Ninguém, nem sequer a morte tem a última palavra sobre a vida. Deus é a fonte e a plenitude da vida, “quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor”, “n’Ele vivemos, nos movemos e existimos”. Este dom da vida atinge a sua maior expressão em Jesus Cristo: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem acredita em Mim, mesmo que morra, viverá. E todo Aquele que vive a credita em Mim nunca morrerá”.
Nesta fé, a Igreja celebra o Dia de Todos os Santos e o Dia de Todos os Fiéis Defuntos. São dias de saudade na esperança do reencontro. São dias de apelo à responsabilidade pessoal neste peregrinar em direção à pátria definitiva.
Em Dia de Todos os Santos, recordamos todos aqueles que, embora não estejam nos altares, foram verdadeiras testemunhas da verdade do Evangelho. Com muitos deles nos cruzamos, convivemos, nos divertimos e crescemos. Mesmo no meio das suas imperfeições e fracassos, não desistiram de agradar a Deus. Lutaram, venceram, chegaram à meta, mantêm connosco laços de amor e de comunhão, protegem-nos. Por intercessão deles, muita coisa boa nos acontece e acontecerá enquanto caminhamos por este mundo.
A história da Igreja foi sempre enriquecida por homens e mulheres que viveram, com alegria e esperança, a sua fidelidade a Cristo e à Sua Igreja. Vivendo a sua vida no cumprimento do seu dever, fosse ele qual fosse, transformaram-se em imagem de Cristo que passou pelo mundo fazendo o bem. Fizeram o bem, defenderam valores, amaram e serviram Cristo nos irmãos. Santos entre os santos, acompanham-nos, intercedem por nós junto de Deus, estimulam-nos à santidade. Cada um pelo seu caminho, e sem ser cópia de ninguém, é chamado à santidade, quer no matrimónio ou na vida celibatária ou consagrada, quer nas alturas da cultura ou dos serviços ao bem comum, quer na lhaneza da vida ou dos trabalhos mais humildes. A santidade é um dever, uma vocação universal: “Sede santos, porque Eu sou santo” (Lv 11,45).
A melhor forma de amar e de comunicar com os que já morreram é, de facto, rezar por eles. É o que fazemos em Dia dos Fiéis Defuntos. Rezar pelos mortos é um santo e piedoso dever, como refere a Sagrada Escritura. A união entre nós que caminhamos sobre a terra e aqueles que já adormeceram na paz de Cristo, não se interrompe, antes pelo contrário, “é reforçada pela comunicação dos bens espirituais». Este acreditar que a vida humana não termina com a morte, torna presente que o nosso amor para com os que já partiram ultrapassa as fronteiras deste mundo e traduz-se em dever de caridade e de justiça. De forma bela, assim rezamos no prefácio da Missa dos Defuntos: «Se a certeza da morte nos entristece, conforta-nos a promessa da imortalidade. Para os que creem em Vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma». O Catecismo da Igreja Católica ensina que “os que morreram na graça e amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do Céu” (nº 1030). A isso, a Igreja chama Purgatório. E desde os primeiros tempos do cristianismo cultivou, com muita piedade, a memória dos defuntos, oferecendo sufrágios em seu favor, particularmente o sacrifício eucarístico, recomendando também a esmola e as obras de penitência, para que sejam absolvidos de seus pecados, e, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus.
O mesmo Catecismo nos diz que “Não podemos estar em união com Deus se não O amarmos livremente. Mas não podemos amar a Deus se pecarmos gravemente contra Ele, contra o nosso próximo ou contra nós mesmos: ‘Quem não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia o seu irmão é um homicida; ora vós sabeis que nenhum homicida tem em si a vida eterna’ (1Jo 3,15). Nosso Senhor adverte-nos de que seremos separados d’Ele se descurarmos as necessidades graves dos pobres e dos pequeninos seus irmãos. Morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem dar acolhimento ao amor misericordioso de Deus é a mesma coisa que morrer separado d’Ele para sempre, por livre escolha própria. E é este estado de autoexclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa pela palavra “Inferno” (nº1033). E continua: “As afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja a respeito do Inferno são um apelo ao sentido de responsabilidade com que o homem deve usar da sua liberdade, tendo em vista o destino eterno. Constituem um apelo urgente à conversão”.
No fim dos tempos, o Reino de Deus chegará à sua plenitude. O próprio universo será renovado. A esta misteriosa renovação que há de transformar a humanidade e o mundo, a Sagrada Escritura chama “os Novos Céus e a Nova Terra”.
Na expectativa dessa nova e eterna Vida, vivemos como peregrinos, fazendo com que este mundo seja cada vez melhor. Dotados por Deus com uma inteligência hábil para criar, investigar e programar, com uma vontade capaz de fazer e construir, com um coração apto para amar e servir, construiremos a nossa santidade ao desenvolver esta terra, ao contribuir para o bem comum da sociedade, ao promover os valores da dignidade humana, a comunhão fraterna, a liberdade, a justiça, o amor, o bem estar para que Deus seja, desde já, “tudo em todos”.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 30-10-2020.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Ama muito mais.



Ama muito mais. É o que Ele mais sabe fazer. Amar mais do que nós muitas vezes nos amamos. Muito mais do que alguma vez poderemos vir a entender. Vai para além de qualquer doutrina. De qualquer definição. De qualquer perfeição alguma vez imaginada.

Ama muito mais. É só o que Ele sabe fazer. Amar infinitamente. O Seu amor supera todas as palavras. Jamais elas conseguirão descrever o quanto Ele se dá, porque Ele é o único capaz de o conjugar. Ele vem quando nós não vimos. Ele vem quando não o vemos. Ele simplesmente fica. Onde estamos e com o que somos.

Ama muito mais. É no que Ele aposta todas as Suas fichas. Olha-nos por dentro. E é aí que Se deixa estar. Não permanece num eterno esconde-esconde. Prefere sair à descarada para que todos tenham conhecimento do quanto Ele ama.

Ama muito mais. Esta é a Sua especialidade. Amar em silêncio. Permitindo que tudo seja mais amplo. Deixando-nos ser mais inteiros e verdadeiros. E, assim, podermos contemplar tudo aquilo que Ele é. No silêncio, vê-se melhor. No silêncio, escuta-se melhor. No silêncio, Ele resolve-Se e resolve-nos.

Ama muito mais. E amará até ao encontro face a face. Onde nos pedirá provas desse mesmo amor. Imperfeito. Cheio de dúvidas. Repleto de falhas. Mas sem desculpas de não (nos) termos amado mais.

Ama muito mais. É o que Ele mais sabe fazer. E não se cansará enquanto não encontrarmos, no silêncio das nossas vidas, o aconchego dos Seus (a)braços!

Emanuel António Dias



quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Não tens tempo para viver?






O mundo exige pressa e nós, sem pensar nem sentir, corremos atrás de urgências que não são nossas, mas sim de quem faz de nós escravos. Mártires do sucesso alheio.

A velocidade é tanta que são poucas as vezes que nem nos damos conta dos erros que cometemos, tão-pouco dos acidentes que a nossa pressa causa em outros. As nossas desculpas são sempre as mesmas: não houve maldade e andamos afogados em exigências de coisas para fazer.

Tiramos conclusões imediatas a respeito de qualquer pessoa, acontecimento ou objeto. Como se, com um olhar apenas, fossemos capazes de julgar tudo e todos.

Vivemos ansiosos para que tudo se cumpra. Quando alguém demora um pouco mais a realizar algo de que dependemos, sentimos que tudo se começa a desmoronar numa espécie de efeito dominó. E pressionamos como se o mundo inteiro estivesse à espera. Na verdade, quase ninguém quer saber. E nós também devíamos aprender a relativizar as nossas aflições.

Com que importância ficam todas essas exigências quando aparece um verdadeiro problema?

Talvez os prazos com que nos flagelam a cada dia sejam uma forma de tentar assegurar um resultado a horas, mas será o melhor e aquele de que somos capazes, houvesse mais tempo?

E eu, quantas vezes exijo o que implica sacrifício, só porque não sei esperar?

O sistema está corrompido e hoje julga-se que o ponto antes do esgotamento é o limite da perfeição.

É importante pararmos. Afastarmo-nos destas correntes que nos arrastam. Seria bom que fossemos capazes de escapar da prisão da rotina a cada semana, não para fazer nada de novo, mas sim para algo ainda melhor: estarmos um pouco connosco mesmos, em paz e sossego, longe de exigências e prazos. E ficar ali até nos sentirmos recarregados e capazes de voltar às agendas dos outros.

Mais importante do que as notícias é a reflexão. Mais importante do que a nossa sociedade é a nossa família, mas muitos parecem não ter tempo para se dedicarem ao que importa… muitos arrependem-se, alguns… demasiado tarde.

A vida é tempo. Tempo livre. As pressas dos outros não são vida.

Quem não é senhor do seu tempo, não sabe viver e… morrerá sem ter vivido.


José Luís Nunes Martins

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Informação Paroquial

 Com a alteração para a hora de Inverno, também as Eucaristia mudam o horário.

Na Igreja Matriz celebra -se nas terças e quintas feiras pelas 17h 30m 

Domingos às 12H

Na Igreja de Nossa Senhora da Luz, sábados também às 17h 30m.

Este ano fruto da situação que vivemos, não se celebrará a oração comunitária habitual no cemitério.

As visitas e orações junto das sepulturas serão feitas individualmente, pelo mesmo motivo.

 A Eucaristia de Dia de Fiéis Defuntos será, dia 2, pelas 17h30m na Igreja Matriz.




segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Não estás cansado?



Não sei se são estes novos tempos. Se é a pandemia. Se é o vírus. Se é a nossa falta de paciência. Se é o desalinho dos astros.

Não sei se é esta nova vida que somos obrigados a carregar dentro do peito. Se é a nossa falta de tempo. Se é a nossa falta de fé e de amor.

Não sei se é o Céu a querer ensinar-nos qualquer coisa que precisamos de aprender. Ou se somos nós que temos a responsabilidade de ser exemplo para quem vier depois de nós.

O que sei é que estamos cansados. Que transpiramos falta de vontade e de calma. Que as mãos vão em piloto automático à cara umas trezentas vezes por dia, ainda que não possam. Ainda que não possamos.

Estamos fartos. A transbordar e a ultrapassar (quase) todos os limites. Já não nos chega o lema do “um dia de cada vez”, do “vai passar”, do “amanhã será melhor”. Queremos que seja hoje. Queremos que tudo passe, agora. Neste preciso momento.

Sentimos que não temos grandes forças para mais desafios, mas, ao mesmo tempo, vamos de braços abertos e prontos a receber o que há de vir. E enquanto desfilamos no corrupio das máscaras mais ou menos bem-postas e aconchegadas ao nariz, rezamos para que acabe este castigo que não julgamos ter merecido. Fechamos os olhos para não ser confrontados com o que existe agora. Com o que o universo reservou para nós.

Respiramos fundo e depois lembramo-nos que é melhor não respirar. A espiral do desconhecido abriu portas e fez morada em todos nós. Todos debaixo da mesma tempestade. E os guarda-chuvas tão pequenos. E partidos. E insuficientes.

Estamos cansados. E é compreensível que assim seja. Não nos deram tempo para aprender nada. Não nos deram coragem. Não nos apetrecharam de instruções capazes de fintar este caos imenso que parece ter a profundidade do fundo do oceano.

Mesmo assim. Repara e lê com atenção. Ainda estamos aqui. Ainda vamos de remos em riste, ainda que o mar seja picado. Ainda vamos de mochila às costas, capazes de transformar as (muitas) lágrimas em esperança.

Ainda estás aqui. Dizem que a esperança é como uma árvore. Onde quer que a plantes, ela nasce.

De que tamanho é a tua árvore?

Marta Arrais

domingo, 25 de outubro de 2020

O Maior Mandamento

 


A liturgia do 30º domingo Comum diz-nos, de forma clara e inquestionável, que o amor está no centro da experiência cristã. O que Deus pede - ou antes, o que Deus exige - a cada crente é que deixe o seu coração ser submergido pelo amor.
O Evangelho diz-nos, de forma clara e inquestionável, que toda a revelação de Deus se resume no amor - amor a Deus e amor aos irmãos. Os dois mandamentos não podem separar-se: "amar a Deus" é cumprir a sua vontade e estabelecer com os irmãos relações de amor, de solidariedade, de partilha, de serviço, até ao dom total da vida. Tudo o resto é explicação, desenvolvimento, aplicação à vida prática dessas duas coordenadas fundamentais da vida cristã.
A primeira leitura garante-nos que Deus não aceita a perpetuação de situações intoleráveis de injustiça, de arbitrariedade, de opressão, de desrespeito pelos direitos e pela dignidade dos mais pobres e dos mais débeis. A título de exemplo, a leitura fala da situação dos estrangeiros, dos órfãos, das viúvas e dos pobres vítimas da especulação dos usurários: qualquer injustiça ou arbitrariedade praticada contra um irmão mais pobre ou mais débil é um crime grave contra Deus, que nos afasta da comunhão com Deus e nos coloca fora da órbita da Aliança.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de uma comunidade cristã (da cidade grega de Tessalónica) que, apesar da hostilidade e da perseguição, aprendeu a percorrer, com Cristo e com Paulo, o caminho do amor e do dom da vida; e esse percurso - cumprido na alegria e na dor - tornou-se semente de fé e de amor, que deu frutos em outras comunidades cristãs do mundo grego. Dessa experiência comum, nasceu uma imensa família de irmãos, unida à volta do Evangelho e espalhada por todo o mundo grego.

https://www.dehonianos.org/portal/liturgia/?mc_id=2987

sábado, 24 de outubro de 2020

Jornadas Nacionais de Catequistas 2020

 

A tua vida é uma lufada de ar fresco ou um castigo?



A vida nem sempre (nos) corre bem. Há momentos absurdamente difíceis. Exigentes. Acontecimentos que nos rasgam todas as forças e nos golpeiam até já não sentirmos a pele. Os ossos. O coração a bater do lado de dentro.

Para nos compensar, a vida também nos dá momentos totalmente opostos aos que descrevi acima. Somos abalroados com a alegria e a felicidade dos acontecimentos bons, maravilhosos, cheios de tudo o que há de melhor. Nesses, somos quase capazes de nos esquecer do que foi mau. Do que doeu. Do que quase não fomos capazes de ultrapassar.

Nos momentos bons, somos capazes de tudo. Temos capa de super-herói e voamos mesmo sem ter capacidades físicas para isso. Somos tudo. Temos o mundo nas mãos e sentimos que não é a vida que nos leva, mas, sim, que somos nós que a levamos atrás de nós.

O problema é, no fundo, quando não estamos entre nenhum destes dois extremos. Quando não sabemos bem onde estamos. Quando a vida não tem nada de mau, mas, ao mesmo tempo, parece não ter bom suficiente para nos satisfazer ou preencher.

Como é que queremos viver quando não estamos nem no topo do mundo nem no mais fundo dos poços? Como é que queremos ser quando a vida é morna e quando parece que não se passa nada?

Temos duas hipóteses: escolher viver como se estivéssemos a ser castigados a todo o momento. Como se a vida nos devesse tudo. Como se só estivéssemos de mãos estendidas à espera de receber. Como se nada bastasse para subir o próximo degrau. Como se não valesse a pena insistir, dedicar esforço ou lutar com mais afinco.

Ou, por outro lado, escolher viver como se a vida fosse uma lufada de ar fresco constante. Como se ainda nos pudéssemos surpreender. Como se fosse nosso dever continuar a dar tudo ainda que a recompensa teime em não chegar.

Não podemos viver à espera de ser recompensados uma vez que a própria vida é, já, a maior de todas as recompensas. O maior de todos os prémios.

Claro que nem sempre conseguiremos ver os cenários com esta clareza. Não há preto e branco. Há cinzento. Há amarelo. Há vermelho. Há azul. Há tudo o que quisermos considerar como cor.

Agora, é contigo. Vais sempre a tempo de decidir se queres que os teus dias sejam como um castigo ou como uma lufada de ar fresco (daquelas que se sentem na cara, ao final do dia, depois de se tirar a máscara).

Marta Arrais

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O JOVEM FRASSATI E O FUTURO PAPA

D. 
Termino hoje a divulgação dos jovens citados pelo Papa Francisco na Exortação Apostólica Cristo Vive. Embora haja por lá outros nomes de gente boa e santa, estes são treze, contei pelos dedos. Porque foram jovens que marcaram a diferença, ao apresentá-los tive duas intenções: rasgar horizontes no coração daqueles que andam à procura de vida com sentido e reiterar que, de facto, a santidade, sendo tarefa que não se pode delegar, é possível a todos, crianças, jovens e menos jovens, cada um pelo seu caminho e nas suas circunstâncias existenciais.
Pier Giorgio Frassati (Pedro Jorge) nasceu em Turim, em 6 de abril de 1901. Aí viveu e cresceu, a maior parte da vida, no seio de uma família abastada e da alta burguesia. Seu pai, Alfredo Frassati, era jornalista, fundador e dono do jornal "La Stampa". Foi embaixador em Berlim, demitiu-se quando Mussolini assumiu o poder. Sua mãe, Adelaide Ametis, era uma pintora famosa. Embora fosse educado cristãmente, a vivência da fé em família ficava muito aquém do que ele desejava. Sua mãe animava-o a comprometer-se nas dinâmicas da paróquia. Aí foi fazendo o seu caminho, em vida feliz e socialmente comprometida. Embora o pertencer às estruturas eclesiais não seja sinónimo de santidade e a maior parte dos batizados se santifique sem qualquer ligação a elas, Pedro Jorge, porém, espevitou nelas o seu crescimento espiritual e a sua ação apostólica. Conheceu a Ordem Terceira dos Dominicanos, a Ação Católica, o Apostolado da Oração, a Liga Eucarística, a Associação dos jovens adoradores universitários, os centros da Juventude Mariana Vicentina e a Conferência de São Vicente de Paulo. Tinha como passatempo favorito visitar os doentes e os casebres das periferias de Turim. Por isso, o ruído menos saudável dos seus amigos e familiares era música que ouvia mas não lhe desafinava os acordes da sua vida. E dizia: “Ao redor dos pobres e dos enfermos eu vejo uma luz particular que nós não temos”, ou: “Jesus faz-me visita cada manhã na Comunhão, eu restituo-a no mísero modo que posso, ou seja, visitando os pobres”. Porque levava às casas dos mais necessitados as mais variadas coisas, desde lenha e roupas a alimentos e móveis, porque gastava a mesada que a família lhe dava nestas atividades caritativas, os seus colegas chegaram a denominá-lo como a “Empresa de Transportes Frassati”.
A sua determinação neste compromisso social da caridade brotava da Eucaristia diária, da frequente adoração ao Santíssimo Sacramento, da palavra evangélica e da devoção a Nossa Senhora, cujos rosários ele oferecia a seus amigos e outros. O Papa Francisco comentou assim: “Pedro Jorge era um jovem que compreendera o que significa ter um coração misericordioso, sensível aos mais necessitados. Dava-lhes muito mais do que meras coisas materiais; dava-se a si mesmo, disponibilizava tempo, palavras, capacidade de escuta. Servia os pobres com grande descrição, não se pondo jamais em evidência (...) Imaginai vós que, no dia anterior ao da sua morte, gravemente doente, ainda se pôs a dar orientações sobre o modo como ajudar os seus amigos necessitados”.
Pedro Jorge, porém, tinha uma máxima: “A Caridade não é suficiente: precisamos de reformas sociais”. E para explanar os ensinamentos sociais do Papa Leão XIII, foi um dos fundadores do jornal “Momento”. Chegou a ter polémicas acesas com adeptos do Partido Fascista e esteve inscrito no Partido Popular Italiano. Na escolha do seu curso académico pesaram os objetivos que ele tinha para a sua vida. Como desejava trabalhar perto dos operários pobres, decidiu estudar Engenharia Industrial Mecânica, em Turim, com especialização em mineração, pelo facto de os mineiros serem os operários mais pobres de entre os explorados. Quando esteve em Berlim, em tempos que seu pai era Embaixador, conheceu, pessoalmente, o Padre Karl Sonnenschein, o "São Francisco alemão", e pôs a questão de vir a ser sacerdote. Logo deixou a ideia, achava que não tinha vocação.
A sua irmã Luciana era com quem ele partilhava a sua vida, sobretudo quando seus pais queriam exigir dele mais alguma coisa do que ele aparentava querer. Seu pai chegou a classificá-lo de “homem inútil” e à deriva, acompanhando pessoas que não estavam à sua altura. Pedro Jorge sorria, aceitava as repreensões de modo sereno, sabia lidar com os seus familiares, com os necessitados e com os da sua classe social. A todos amava e ajudava por igual. Gostava do teatro, da poesia, da arte, da música, da ópera, de visitar museus, recitava versos de Dante Alighieri de cor, escrevia com beleza e profundidade, amava o desporto, sobretudo o esqui e o montanhismo, escalou os Alpes e o Vale de Aosta, adorava as montanhas, extasiando-se a contemplar o ar puro e a beleza do Criação. Entre os escaladores, conheceu uma jovem pela qual mantinha uma paixão que não chegou a anunciar publicamente, quer para não embaraçar a jovem quer para não afrontar a sua família que não aceitaria bem este namoro por ela ser de classe social inferior. A brevidade da sua vida, porém, não lhe deu tempo para nos mostrar quais seriam os passos seguintes. Nesta sua maneira séria e divertida de estar na vida, chegou a fundar a “Sociedade de Tipos Estranhos” ou dos “arruaceiros”, cujos membros, “desonestos e vigaristas”, recebiam apelidos engraçados. O dele era “Robespierre”. Faziam excursões, contavam piadas, mas, sobretudo, aspiravam à amizade mais profunda fundada na oração e na fé.
São João Paulo II, junto do seu túmulo, testemunhou: “Também eu, na minha juventude, senti o benéfico influxo do seu exemplo e, como estudante, fiquei impressionado pela força do seu testemunho cristão”. Como Arcebispo de Cracóvia, e a propósito duma exposição que sobre Pedro Jorge ali havia sido levada a cabo, ele desafiou os jovens a ir ver e observar como aquele jovem das oito bem-aventuranças carregava consigo a graça do Evangelho, a alegria da salvação em Cristo. Aliás, na homilia da sua beatificação, voltou a destacá-lo como o “homem das bem-aventuranças” capaz de comunicar amor e paz e de testemunhar que “a santidade é possível a todos”. De facto, “a revolução da caridade pode acender no coração dos homens a esperança de um futuro melhor”.
No dia do enterro da sua avó, Pedro Jorge, com uma forte dor de cabeça, nem conseguia levantar-se da cama. Foi atingido por uma meningite fulminante. Faleceu cerca de quinze dias depois, em 4 de julho de 1925, com apenas 24 anos de idade. Milhares de pessoas participaram nas exéquias. Familiares e amigos ficaram estupefactos com a presença de tantos pobres de Turim que ele havia ajudado, material, social e espiritualmente. Seu pai ficou inconsolável e arrasado pelo vazio que a morte de Pedro lhe causara, ficou impressionado com a multidão presente, reconheceu que só compreendeu bem quem era o seu filho no momento em que o perdeu para sempre: "Não reconheço meu filho!", murmurou. Aos poucos, foi-se aproximando da fé numa conversão maravilhosa que muitos consideraram ser o "primeiro" milagre de Pedro Jorge. Seu pai veio a falecer em 1961.
Os restos mortais de Pier Giorgio Frassati, foram transladados do túmulo de família para a Catedral de Turim. As suas relíquias estiveram presentes na Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia, em 2016, como já tinham estado na de Sidney, em 2008. É amado e venerado em todo o mundo, desde a Patagónia à Polónia, das Filipinas à França, dos Estados Unidos à Austrália. Os testemunhos sobre ele são extraordinários, os sites a divulgar a sua vida são inumeráveis e dos quais também me servi par divulgar mais um pouco a sua vida. 

D. Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 23-10-2020.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Não se pode ter tudo



Não se pode ganhar sem, antes, ter perdido alguma coisa.

Não se pode receber sem, antes, ter dado.

Não se pode arriscar e querer ter o conforto do que antes era hábito e rotina.

Não é possível mergulhar e continuar com os pés em chão seguro.

Não é possível investir e, ao mesmo tempo, continuar com as mesmas poupanças.

Não é possível desdizer uma palavra amarga ou em forma de espada. Pedir desculpa não é o mesmo que não fazer.

Não se pode ter tudo.

Escolher leva-nos sempre à inevitabilidade de lidar com as consequências da nossa decisão.

Quando eu quero ter tudo, acabo por me perder dentro de mim. Acabo por não saber bem para onde vou porque, na verdade, não quero ir a lugar algum.

Quando queremos ter tudo, perdemos muito. Perdemos o que não vemos por estarmos cegos com as nossas vontades. Perdemos o que não damos a quem está connosco naquele momento. Perdemos a oportunidade de tornar o dia de hoje num dia melhor.

Queremos tudo. Amar sem perder. Sentir a chuva sem ficar encharcado. Sentir o sol na pele sem ficar com uma queimadura. Caminhar sem ficar com bolhas nos pés. Ser perdoado sem nunca conseguir perdoar. Correr sem ficar cansado. Descansar sem ficar entediado. Dormir sem perder pitada do que acontece quando não estamos a ver.

Ficamos cansados de querer tudo. Queremos por querer. Sem pensar no que os nossos desejos significam ou representam. Queremos sem ponderar o que seria (ou não) melhor para nós. Sem refletir sobre as tempestades que podemos criar à nossa volta. Sem medir o tamanho do impacto que vamos deixar à nossa volta enquanto erguemos a bandeira do egoísmo e do umbigo.

Não. Nós não queremos tudo. Não é nada disso.


Marta Arrais

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Igreja feminina

 



Acentuar o feminino e o materno não é apenas buscar um equilíbrio de poderes ou de influências na organização funcional da Igreja. Trata-se é de mudar de paradigma, de mudar o modo de pensar: o mundo não é de quem mais manda, é de quem mais constrói a vida. A liderança eclesial não está fundada sobre a ideia de poder, mas na vida, no cuidado e no serviço”.

D. José Ornelas,

Bispo de Setúbal e

Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa


Uma Igreja feminina. É para onde deve caminhar a nossa. Deixar-se tocar por tudo e por todos. Comovendo-se, incessantemente, por aqueles que estão consigo e por aqueles que vão esperando na berma da estrada à procura de alguém que lhes acolha, que lhes abrace, que lhes chame pelo nome.

 

Uma Igreja feminina. Aquela que sabe guardar todas as coisas no seu coração. Uma Igreja pronta a cuidar e não a condenar. Uma casa capaz de nos fazer descansar depois de tantos caminhos perdidos e tortuosos. Um hospital de campanha capaz de sair de si mesmo e ir até às periferias para estar próximo. Para chegar a gente que quer ser gente com a gente.

 

Uma Igreja feminina. Um lar que faz das suas entranhas as suas forças. Uma comunidade que não é capaz de deixar ninguém. Uma Igreja que faz do seu maior poder o serviço aos outros e com os outros. Despojada. Simples. Alegre por sentir que no seu ventre todos têm vida. Todos se sentem corpo integrante.

 

Uma Igreja feminina. De portas bem abertas. Sem olhares que condenam, mas com abraços que nos libertam. Capaz de arriscar na radicalidade, mas não permitindo que se denegrida no radicalismo. Uma Igreja capaz de abraçar a radicalidade do amor. Do amor que sempre está e que não descansa enquanto não nos sentirmos todos amados.

 

Uma Igreja feminina. Uma mãe que nos embala depois de tantas quedas e que nos endireita com o seu acolhimento. Um regaço que nos permite deleitar com a certeza de que jamais caminharemos a sós.

 

Uma Igreja feminina que, olhando para cada um de nós, consiga iluminar as nossas sombras e dar-nos assim a possibilidade de construirmos mais vida sobre as nossas vidas!


Emanuel António Dias

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Passo a passo, ponto por ponto, sem pressa.


Segue pelo teu próprio caminho. Por mais longo e cheio que tenha sido até agora, isso nada diz sobre o que ainda está para chegar. Fixa o teu olhar nos horizontes distantes diante ti. É para um deles que te diriges, mesmo que não queiras. Mais vale escolheres qual e lutares por ele.

Passo a passo, segue por entre a confusão. Não te deixes perturbar nem pelos melhores nem pelos piores. És único, tal como eles. A verdade é autenticidade, não diferença ou semelhança. As comparações são sempre más, porque nos deixam ou vaidosos ou amargurados. Num caso ou no outro, perde-se vontade de querer mais e melhor.

Dia a dia, olha em teu redor como se fosse sempre a primeira vez, escuta com atenção, até mesmo o barulho. É possível que descubras tesouros onde menos se espera. Mais, quando encontrares um, não comeces logo a festejar desistindo de procurar por mais. Pode ser que um tesouro seja um sinal de proximidade de outro mais valioso ainda.

Descansa. O repouso faz parte de qualquer caminho longo. Quem trabalha sem parar até pode estar sempre a produzir, mas não o fará com a mesma qualidade se cuidasse mais de si e respeitasse o ritmo do seu corpo.

Ponto a ponto, vai cosendo as áreas da tua vida: tu és a unidade que está por detrás de todos os papéis que desempenhas, no trabalho, em com a família, com amigos e com desconhecidos. É bom seres sempre parecido contigo mesmo.

Ponto a ponto, emenda a tua vida. Onde se rasgou, onde se descoseu, onde se estragou… não remendes, não tapes os teus erros com pedaços de vida que não são teus. E não vale a pena fazeres listas dos teus erros, nem dos teus fracassos. Todos erramos. Aprende sem desanimares. Erro a erro, fracasso a fracasso. O que importa é não perder o entusiasmo!

Procura unir, mesmo que tenhas de repetir os mesmos passos mais vezes do que pensavas ser necessário. Há histórias e verdades que precisam de ser repetidas muitas vezes até que aquilo que nos ensinam se fixe no nosso coração.

Ama, mais ainda quem tem a vida esfarrapada. É essencial que haja alguém que lhe ceda um pouco da sua vida, um pedaço do seu tempo. Um só sorriso pode fazer um milagre.

Nunca deixes que alguém que passe diante de ti se sinta invisível aos teus olhos.

Que o amor seja a linha com que te coses e aquela que te liga aos outros.



José Luís Nunes Martins


domingo, 18 de outubro de 2020

Francisco: "Cristãos chamados a ser presença viva na sociedade"

 




“Cada um, em virtude do Batismo, é chamado a ser uma presença viva na sociedade, animando-a com o Evangelho e com a força vital do Espírito Santo”. Palavras do Papa Francisco na reflexão do Angelus deste domingo 18 de outubro


A passagem do Evangelho de São Mateus, na qual Jesus luta contra a hipocrisia de seus adversários que o elogiam, inspirou a reflexão do Papa no Angelus deste XXIX Domingo do Tempo Comum, quando recordou que Jesus sabia que queriam “colocá-lo em apuros ao fazer-lhe a pergunta insidiosa: ‘É lícito, ou não, pagar imposto a César?’”. “Porém Jesus, conhece a malícia e sai da armadilha. Pede a eles que lhe mostrem a moeda do imposto, ele a toma em suas mãos e pergunta: de quem é esta imagem impressa. Eles respondem que é de César, ou seja, do Imperador. Então Jesus responde: "Devolvei o que é de César a César e a Deus o que é de Deus".

Então o Papa explica:

“Com esta resposta, Jesus coloca-se acima da polêmica. Por um lado, ele reconhece que o imposto a César deve ser pago, porque a imagem na moeda é sua; mas, acima de tudo, ele lembra que cada pessoa traz dentro de si uma outra imagem, a de Deus, e por isso é a Ele, e somente a Ele, que todos estão endividados com sua própria existência”

Francisco pondera que nesta sentença “encontramos não apenas o critério da distinção entre as esferas política e religiosa, mas também diretrizes claras para a missão dos crentes de todos os tempos, até mesmo para nós hoje". Assim como o pagamento de impostos é um dever do cidadão, continua o Pontífice, o mesmo acontece com a afirmação da “primazia de Deus na vida e na história humana, respeitando o direito de Deus ao que lhe pertence”.

Presença viva na sociedade

Francisco pondera: “Disso deriva a missão da Igreja e dos cristãos: falar de Deus e dar testemunho dele aos homens e mulheres de seu tempo


Afirmando em seguida: 


“Cada um, em virtude do Batismo, é chamado a ser uma presença viva na sociedade, animando-a com o Evangelho e com a força vital do Espírito Santo"


Fazendo um caloroso apelo aos cristãos: “Trata-se de comprometer-se com humildade e, ao mesmo tempo, com coragem, dar sua própria contribuição para a construção da civilização do amor, onde reina a justiça e a fraternidade”.


"Que Maria Santíssima ajude a todos a fugir de toda hipocrisia e a serem cidadãos honestos e construtivos. E sustente a nós, discípulos de Cristo na missão de testemunhar que Deus é o centro e o sentido da vida”.


Jane Nogara – Vatican News


Dar Graças

 

https://www.youtube.com/watch?v=k9pZ_90JU6c

A liturgia do 29º Domingo do Tempo Comum convida-nos a reflectir acerca da forma como devemos equacionar a relação entre as realidades de Deus e as realidades do mundo. Diz-nos que Deus é a nossa prioridade e que é a Ele que devemos subordinar toda a nossa existência; mas avisa-nos também que Deus nos convoca a um compromisso efectivo com a construção do mundo.
O Evangelho ensina que o homem, sem deixar de cumprir as suas obrigações com a comunidade em que está inserido, pertence a Deus e deve entregar toda a sua existência nas mãos de Deus. Tudo o resto deve ser relativizado, inclusive a submissão ao poder político.
A primeira leitura sugere que Deus é o verdadeiro Senhor da história e que é Ele quem conduz a caminhada do seu Povo rumo à felicidade e à realização plena. Os homens que actuam e intervêm na história são apenas os instrumentos de que Deus se serve para concretizar os seus projectos de salvação.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de uma comunidade cristã que colocou Deus no centro do seu caminho e que, apesar das dificuldades, se comprometeu de forma corajosa com os valores e os esquemas de Deus. Eleita por Deus para ser sua testemunha no meio do mundo, vive ancorada numa fé activa, numa caridade esforçada e numa esperança inabalável.

https://www.dehonianos.org/

sábado, 17 de outubro de 2020

Um dia houve alguém que nos resgatou do medo.





Um dia houve alguém que nos resgatou do medo. E rezando o Evangelho com a toda a Sua vida escreveu para cada um de nós: 

"Não tenhas medo. Não venho para te assustar, mas para te dar a conhecer o amor. Venho para que te sintas tremendamente amado. Venho para que sintas este meu amor no final de cada dia. No final de cada vitória e derrota que aconteça na tua história. Estarei contigo mesmo nos momentos em que te revoltes comigo e não saibas onde me encontrar.

Não tenhas medo. Não venho para te assustar. Quero apenas ficar mais próximo de ti. Acolhendo-te assim. Tal como és. Com essas tuas imperfeições que são para mim as mais belas obras de arte. Venho para caminhar contigo. Lado a lado. Deixando que me encontres em tudo e em todos. Sem pressas. Sem rituais predefinidos. Quero apenas que me deixes fazer parte da tua vida e que me leves a todos os teus recantos.

Não tenhas medo. Não venho para te assustar. Deixa-me apenas mostrar-te o quão grandiosa pode ser a tua vida. Vem descobrir o que te espera para além daquilo que vês e sentes. Entra comigo neste mistério da vida e da fé e dar-te-ei a conhecer um reino costurado pelas maravilhas do bem, do bom e do belo. Vem comigo e serás perito a andar sobre as águas de tantas e tantas vidas.

Não tenhas medo. Não venho para te assustar. Deixa-me apenas revelar-te este Deus-Pai com entranhas de Mãe. Não me interessa por onde andaste, nem o que foste. Quero-te à mesma com a certeza de que tudo será melhor. Venho para que através de mim te encontres autenticamente.

Não tenhas medo. Não venho para te assustar. Vem. Vê!

Não tenhas medo. Não venho para te assustar. Deixa-me amar-te!

Assino-te com toda a minha vida. Daquele que sempre te ama,
                                                                                                                       JC.”

Um dia houve alguém que nos resgatou do medo. Não descansou enquanto toda a Sua vida não ficasse marcada nas linhas da nossa vida. E com os Seus gestos e palavras deixou-nos, assim, a maior carta de amor alguma vez escrita!


Emanuel António Dias

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

DO “EU” MEDROSO AO “EU” RENOVADO


Mais um Dia Mundial que nos interpela e desafia! O Papa Francisco exorta-nos a passar do “eu” medroso e fechado ao “eu” resoluto e renovado. Na sua Mensagem para este Dia Mundial das Missões, da qual faço eco, o Papa refere que fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, na tempestade do mar da Galileia, falando a uma só voz, dizem angustiados “vamos perecer”, assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar a estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos. E se o sofrimento e a morte nos fazem experimentar a nossa fragilidade humana, todos temos um forte desejo de vida e de libertação do mal.
Sabemos que os governantes se atarefam em dar as respostas possíveis às preocupações e dores dos povos, que são muitas e de variada complexidade. Por sua vez, Francisco refere que a compreensão daquilo que Deus nos está a dizer nestes tempos de pandemia torna-se um desafio também para a missão da Igreja. Desafia-nos a doença, a tribulação, o medo, o isolamento. Interpela-nos a pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida. Obrigados à distância física e a permanecer em casa, somos convidados a redescobrir que precisamos das relações sociais e também da relação comunitária com Deus. Longe de aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria tornar-nos mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E a oração, na qual Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às carências de amor, dignidade e liberdade dos nossos irmãos, bem como ao cuidado por toda a criação. A impossibilidade de nos reunirmos como Igreja para celebrar a Eucaristia fez-nos partilhar a condição de muitas comunidades cristãs que não podem celebrar a Missa todos os domingos.
Atormentados com a pandemia do covid-19, o Papa diz-nos que o caminho missionário de toda a Igreja, de cada um de nós, podê-lo-emos encontrar na narração da vocação de Isaías: «Eis-me aqui, envia-me». É a resposta, sempre nova, à pergunta do Senhor: «Quem enviarei?» (Is 6, 8). Esta interpelação brota do coração de Deus, da sua misericórdia, interpela quer a Igreja quer a humanidade. É um chamamento à missão, um convite a sairmos de nós mesmos por amor a Deus e ao próximo, é uma oportunidade de partilha, de serviço, de intercessão, passando do “eu” medroso e fechado ao “eu” resoluto e renovado pelo dom de si.
Deus que nos criou, amou-nos primeiro e veio ao nosso encontro. Jesus, em obediência à vontade do Pai, manifestou a sua disponibilidade diante do Pai: “Eis-Me aqui, envia-Me”. É o Missionário do Pai, foi enviado por Ele por amor aos homens, a quem criou, amou e se fez próximo. A pessoa e a missão de Jesus, desde a Encarnação e vida empenhada até à sua Morte e Ressurreição, manifestam esse amor e misericórdia de Deus por todos e cada um de nós, um amor sempre em saída de Si próprio para nos dar a vida. Nesse movimento de amor, Jesus atrai-nos com o seu próprio Espírito que nos torna seus discípulos, anima toda a Igreja e pede a nossa disponibilidade pessoal para, saindo também de nós mesmos, nos enviar em missão por toda a parte. É assim que a Igreja se torna Igreja em saída, prolongando na história a missão de Jesus qual missionário do amor do Pai a transformar os corações e as mentes, as sociedades e as culturas, em todo o tempo e lugar.
Por isso, a disponibilidade de cada um, o «Eis-me aqui, envia-me», é a resposta, sempre nova, à pergunta do Senhor: «Quem enviarei?». Esta resposta livre e consciente ao chamamento de Deus, porém, só a podemos sentir e dar, sem fugas ou desculpas, se vivermos numa relação pessoal de amor com Jesus vivo na sua Igreja. Só assim se conseguirá responder a Deus no hoje da Igreja e da história. Por isso, Francisco pede que nos perguntemos se estamos prontos a acolher a presença do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir o chamamento à missão, quer no caminho do matrimónio, quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado, quer na vida comum de todos os dias. Se estamos dispostos a ser enviados para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso, a proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, a partilhar a vida divina do Espírito Santo, edificando a Igreja. Se, como Maria, a Mãe de Jesus, estamos prontos a permanecer sem reservas ao serviço da vontade de Deus, umas vezes junto daquele que está próximo, seja familiar, vizinho, ou o bem comum, outras vezes a partir por esse mundo adentro ao encontro de quem precisa. A resposta não se pode dissociar da oração, da reflexão e da partilha, ajudando o trabalho missionário de quem acode às necessidades espirituais e materiais dos povos e das Igrejas de todo o mundo (cf. Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões 2020, que decorre em 10 de outubro e se intitula “Eis-me aqui, envia-me”, Is 6,8).
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco
P. S:
Na nossa Diocese, faremos uma vigília de oração a partir das paróquias do Rossio ao Sul do Tejo, Abrantes, às 21,30 horas de sábado, dia 17, véspera do Dia Mundial das Missões, associando-nos a uma iniciativa do Movimento dos Cursilhos de Cristandade. Que todos os Secretariados Diocesanos, os Movimentos e Serviços da Pastoral procurem divulgar e participar.


quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Empatia


Saber colocar-se na pele do outro. Caminhar um km com os seus sapatos. Viver o que vive, e sentir o que/como sente. Mas somos mais empáticos hoje?

Num parque de estacionamento onde deixo os miúdos quando vão para a escola, há um carro onde mora um casal. Há dias ele estava cá fora, ligeiramente encurvado. Ao passar por ele enquanto me ia embora percebi que vomitava. Sofria. Mas fiquei triste comigo mesmo porque não consegui sentir dentro de mim o seu sofrimento.

Esta experiência levou-me a pensar na globalização da indiferença que o Papa Francisco refere na Fratelli Tutti (30). Desconheço os motivos para aquela indisposição pela manhã. Não o conheço, mas não parei para perguntar o que poderia fazer por ele. Não tinha tempo. Nunca temos tempo para a misericórdia.

Desde 1950 que se assiste, geologicamente, a uma Grande Aceleração, origem do Antropoceno, com o ser humano a mudar a face do planeta. Literalmente. Somos tantos, e ainda que fisicamente distanciados por necessidade, parece que o olhar atento ao outro diminui. Não faz parte da minha bolha. São estas insensibilidades que me fazem sentir não ser imune ao risco que corremos de subdesenvolvermos a capacidade para a empatia. Curioso como o Papa Francisco não usa esta palavra na sua nova Encíclica.

A empatia é reconhecida como a maior qualidade de um líder. A liderança que tenho em mente não se restringe às empresas, mas amplia-se às comunidades, e até a um grupo de pessoas juntas por uma circunstância qualquer. Cada um pode tornar-se um líder do espaço físico e social que o rodeia se testemunhar a empatia. É um bem que faz à sociedade através do seu próximo (conheça-o ou não).

Disse o Papa Francisco em Abril de 2016,

«É, fundamentalmente, importante que promovamos uma maior empatia na sociedade. (...) Sabemos que nem sempre encontramos, rapidamente, cura para doenças complexas e raras, mas podemos estar prontos a acarinhar estas pessoas, que se sentem muitas vezes abandonadas e ignoradas. Deveríamos ser sensíveis a todos, independentemente da crença religiosa, e estatuto sócio-cultural.»

Não é somente a doença complexa e rara que leva uma pessoa a sentir-se abandonada e ignorada. Pode ser uma vida difícil, pautada por escolhas erradas, que a levaram para uma espiral de desequilíbrios interior da qual não consegue sair.

Talvez a pessoa comum, imersa no mar de informação emotiva que os media proporcionam, gradualmente, fique imune ao sofrimentos dos outros. É o que alguns designam por “esgotamento empático”. É o resultado da nossa vulnerabilidade às dores dos outros que, se recebermos em doses sistemáticas, acabam por nos tornar mais zangados, infelizes e, em alguns casos, mais doentes.

O equilíbrio, como em quase tudo na vida, é o que dá sentido e significado às experiências profundas que fazemos. Quando não nos envolvemos tanto com o sofrimento dos outros, significa que estamos a criar o espaço para o equilíbrio e continuar a fazer uma experiência positiva de empatia.

Contudo questiono: qual diferença entre empatia, altruísmo e compaixão? Intuitivamente não me parecem ser a mesma coisa, mas talvez a dificuldade provenha de não sabermos ainda bem o que é a empatia. Isso leva-me a crer termos aqui um espaço de experimentação aberto e onde deveríamos investir mais... tempo. Aquele que parece haver pouco, mas que, na verdade, até existe. Pois, existem gestos pequenos como um breve sorriso, ou uma pequena pergunta que podem fazer a diferença na vida de uma pessoa.

No dia em que podia fazer a diferença, não o fiz. Pessoalmente tomo como motivação para continuar a aprender e rezar. Não somente por aquele que vi sofrer, mas para que Deus nos faça descobrir, cada vez mais e melhor, o valor da empatia.

Uma vez estava num retiro completamente estoirado. Se alguém notava, ninguém me fez notar. Até que alguém, que pouco conhecia, ofereceu a sua cama nos quartos que havia no edifício deste retiro para poder descansar. Podia ser qualquer um, mas ele foi, naquele momento — mesmo que não tivesse pensado nisso — Jesus para mim. Mas, talvez, também eu era Jesus para ele. Jesus que sofria e se sentia abandonado.

A empatia pode ser uma experiência profundamente humana, e profundamente divina. Basta ver Jesus no outro e deixar que o outro O veja em nós. Depois, não será o outro, nem nós, a ser empático, mas Jesus entre nós. É o caminho para sermos todos irmãos, fratelli tutti, em que a empatia nos revela o mistério de amor que um desconhecido ou estrangeiro pode ser.

Podemos começar um dia, ou escolher o dia-um para começar. Mas quanto mais cedo, melhor.


Miguel Oliveira Panão

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Rosário com cursilhistas


Cursilhistas é já no próximo sábado, dia 17, às 21h30m, através do facebook “paróquias do P. Adelino”, que nos uniremos num momento de oração orientado pelo nosso diretor espiritual, sr. P. Adelino.


Os amigos não partem quando a desgraça chega


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Um amigo ajuda-nos a descobrir o que temos de bom em nós e a pô-lo em ação, e mesmo quando julgamos que não aguentamos mais, um amigo revela-nos onde podemos encontrar as forças para enfrentar o que nos quer derrotar.

Há quem julgue que tem muitos amigos, mas, na verdade, são poucos os que têm dois ou três. Quantas pessoas tens que celebram as tuas vitórias como se fossem deles mesmos? Quantos ficam contigo quando tudo te corre mal por tua culpa?

Cada amigo é único, porque o seu olhar vê e ilumina partes diferentes do que somos. Ajuda-nos a sermos quem podemos ser. Um amigo é alguém que entrelaça a sua vida na nossa.

Uma grande parte dos que se dizem amigos afastar-se-ão assim que as coisas começarem a correr mal. Nenhuma lágrima nossa lhe cairá nos ombros. Alguns dos outros ainda ficam para esse momento, mas partirão pouco depois, assim que perceberem que o poço é fundo e que a tempestade vai ser longa.

Seria melhor que não fingíssemos amizades, para não termos de revelar às pessoas que nos julgam próximos e amigos que, afinal, não o somos, ou porque não queremos ou porque não conseguimos.

Um amigo é o contraveneno da solidão.

O amor exige que entreguemos o nosso tempo e ser a quem precisa, mesmo que nos possa parecer que não nos merece.

Quantas pessoas és capaz de perdoar do fundo do coração e esquecer?

Quantas pessoas pões à frente de ti na fila para a felicidade?

Um amigo ama.


José Luís Nunes Martins

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Silêncio, por Tolentino Mendonça



Excertos das intervenções do Card. José Tolentino Mendonça durante o diálogo com o compositor e cantor Pedro Abrunhosa, no âmbito da iniciativa “Encontros Fora da Caixa”, que decorreu a 24 de julho, em Mangualde, cidade do interior de Portugal. “No princípio… Era o silêncio” foi o tema da sessão.

A interioridade territorial lembra-nos que cada um de nós, cada ser humano, transporta também uma interioridade; e, muitas vezes, o problema da interioridade do território, é igual à interioridade humana: fica esquecido, abandonado, relegado para um segundo plano, tem projetos de desenvolvimento verdadeiro, sustentável, remetido para uma espécie de lugar secundário, enquanto a exterioridade acaba por ter todo o espaço.»

Ora, quando um ser humano deixa a sua interioridade por integrar e desenvolver, o que é que acontece? A vida perde a sua coesão, desagregamo-nos. E por isso, falar do silêncio, não é apenas uma conversa um pouco esotérica para falar com um cardeal, mas é uma conversa política sobre os seres humanos, e sobre a forma como as nossas sociedades são chamadas a organizar-se. Porque se não damos espaço para o crescimento interior, para que cada um possa escutar até ao fim a pergunta que traz, o enigma que é vivermos sobre a Terra, se cada um de nós não escutar o lugar onde vive, o lugar onde fala, se não se der condições para praticar uma hospitalidade genuína em relação ao real, há um empobrecimento muito grande da vida.

Por isso, o silêncio é indispensável. É uma condição da nossa existência. Sem o silêncio, as realidades sobrepõem-se – palavra acima de palavra –, e não damos espaço a uma audição efetiva da realidade, seja a externa, seja a nossa interior.

O silêncio costura-nos. É uma espécie de linha que atravessa todas as coisas da nossa vida, mesmo quando não nos apercebemos dele.

Eu comparo muito o silêncio àquilo que é o espaço entre as palavras num texto. Se as palavras não tivessem um espaço, não se leriam. Sem o silêncio, a nossa vida não se lê. É apenas um atropelar de vivências, de situações, mas nunca damos espaço a uma digestão, que é necessária para poder haver encontro, para poder haver revelação, para poder haver conhecimento. (…)

    O silêncio que experimentámos nesta pandemia foi uma espécie de silêncio purificador. (…) Temos de fazer deste momento um momento de proferição de uma palavra, e de uma palavra com uma qualidade humana que reflita o melhor do nosso silêncio

Uma experiência que todos já fizemos, ou fazemos, é a de que o silêncio é difícil. Ou temos medo desse encontro mais profundo connosco próprios, com as perguntas, as dores, o desejo, as coisas resolvidas ou não do nosso coração, e há medo desse silêncio

O que acontece dentro de cada um, acontece também na vida comum. Um certo atordoamento que hoje se vive na malha das nossas cidades, por exemplo, ou em tantas situações sociais, é exatamente porque, se nos calarmos, o que é que ouvimos? Há a tentação de fugir à voz mais profunda que nos chega da vida. Mas se não formos capazes de ouvir a vida como ela é, a verdade, a espantosa verdade das coisas, como dizia Fernando Pessoa, nunca celebraremos o verdadeiro encontro connosco próprios, e não podemos adiar continuamente a nossa vida. Por isso, o silêncio é um parceiro na construção das pessoas, na construção da vida social.

Hoje vemos uma grande sedução pelo silêncio. E não é por acaso que num encontro improvável como este o tema escolhido foi o silêncio. Não é apenas uma intuição do Pedro nem uma intuição minha; é alguma coisa que nos chega do desejo coletivo, que é vivermos não apenas pela rama, mas sermos capazes de colher em profundidade a vida.

Lembro-me de um poema de um poeta japonês, Matsuo Bashô, um “haikai”, em que ele diz: silêncio/ uma rã mergulha/ dentro de si. E este mergulho para o interior de nós é absolutamente indispensável. Sem isso, nós não somos. (…)

A dimensão do silêncio, e do silêncio de Deus, é uma categoria para dizer a dificuldade de acreditar e do caminho crente, é também um chamamento a perceber que, acima de tudo, temos de colocar a confiança

Para um poeta, a sua vocação primária é o silêncio, porque a poesia obriga a esse ato de escuta, de hospitalidade. Como para todo o artista – o Pedro sentirá isso, com certeza. A música é como a invenção do fogo, que aconteceu quando se bateram duas pedras; a música também nasce quando o silêncio se toca, se exaspera, se surpreende, e a música surge. Isto é fundamental para sabermos como é importante uma visão integral. (…)

O silêncio que experimentámos nesta pandemia foi uma espécie de silêncio purificador. (…)

Temos de fazer deste momento um momento de proferição de uma palavra, e de uma palavra com uma qualidade humana que reflita o melhor do nosso silêncio.

Por exemplo, o Pedro começou por falar dos abraços, dos afetos não expressos, das presenças que não pudemos manter; ora, todo esse capital de vida adiada, de silêncio, tem de nos levar a um compromisso maior.

Penso que este tempo de pandemia tem de ser um tempo de envolvimento de todos. A palavra «pandemia», «pan»-«demos», em grego quer dizer «todo o povo»; é uma coisa que diz respeito a toda a gente. Então, precisamos de nos sentir todos envolvidos, protagonistas deste momento da história, em que vamos precisar de muitas forças para manter a coesão, ou para reinventar uma coesão social, política, económica, afetiva, cultural, espiritual, que possa dar-nos o sentido de uma comunidade que não deixa ninguém para trás.

Isto é muito importante, e é uma palavra que vem deste silêncio que experimentamos com dor, com incómodo, mas que agora nos tem de motivar a repensar e projetar com confiança este difícil presente que estamos a viver. (…)

A sede é o nosso grande capital. É verdade que estamos num banco, e os euros, os dólares e as moedas são muito importantes, porque ajudam a viver; mas o grande capital humano, aquele que faz a diferença em nós, é a nossa sede, o nosso desejo, e o que estamos disponíveis para fazer com isso

O Evangelho de S. João diz que «no princípio era a palavra», que nós podemos traduzir como “no princípio era o desejo de comunicar”. Porque se acreditamos que Deus é amor, Ele é desejo de manifestar-se, de estabelecer um encontro.

Mas a revelação de Deus, e esse encontro, acontece também no silêncio. E, muitas vezes, num austero, difícil, noturno silêncio. Deus está ligado à questão do horizonte da vida, do significado da vida, das verdades fundamentais, e a essas verdades nós não acedemos de uma forma imediata, linear, fácil, mas acedemos a elas muitas vezes por um caminho que somente a confiança pode justificar.

A fé não absolve a dimensão trágica da vida, mas integra-a. Deus não deixa de ser nunca um mistério, seja para os não-crentes, seja também para os crentes. Por isso, a dimensão do silêncio, e do silêncio de Deus, é uma categoria para dizer a dificuldade de acreditar e do caminho crente, é também um chamamento a perceber que, acima de tudo, temos de colocar a confiança. E é na confiança que, pouco a pouco, de uma forma que muitas vezes, para nós, é uma surpresa, vamos percebendo o modo como Deus se revelou na história pessoal e na história do mundo.

Por isso, para a teologia, para a religião, o silêncio é muito importante, porque é através dele que ouvimos o falar escondido, misterioso, luminoso de Deus. (…)

Dante dizia que o amor move o sol e os outros astros. O amor é essa sede do outro, sede de infinito, sede de sentido, sede de felicidade, que mora, irremediavelmente, no coração insólito de um ser humano

Tudo é silêncio. E quando olhamos para a vida numa determinada dimensão, percebemos o silêncio mesmo numa pessoa que grita; porque há uma parte dela que grita, e há, talvez, a maior parte dela que permanece em silêncio. E se formos capazes de fixar o silêncio, vamos perceber que o silêncio está em toda a parte.

Eu, por exemplo, nesta casa, rodeado de livros, sei que há um silêncio em cada livro que é diferente de cada autor, sei que o mundo em meu redor é costurado desse silêncio, e sei que a palavra não interrompe o silêncio, que a palavra verdadeira é aquela capaz de prolongar e iluminar o nosso silêncio. (…)

O silêncio dá-nos uma grande capacidade de abraçar a vida, de a escutar até ao fim, de a viver apaixonadamente, que é a coisa mais importante. A ideia não é fazermos tudo para proteger a vida, isolando-a; não, a vida é para ser vivida, para ser dada, para encontrar um sentido, que esta mistura de sangue e de sonho que é a nossa vida possa ser lugar de uma combustão, de uma plenitude; a vida é para ser gasta.

Lembro-me de um poema do Carlos de Oliveira, «cantar/ é empurrar o tempo ao encontro das cidades futuras/ fique embora mais breve a nossa vida». A vida é breve, este é um caminho, mas temos de sentir que nesta brevidade, neste acender de fósforo, vivemos inteiramente, integralmente, aquilo que a vida é chamada a ser. O sentido está todo aí. (…)

A sede é o nosso grande capital. É verdade que estamos num banco, e os euros, os dólares e as moedas são muito importantes, porque ajudam a viver; mas o grande capital humano, aquele que faz a diferença em nós, é a nossa sede, o nosso desejo, e o que estamos disponíveis para fazer com isso.

Por isso, uma conversa como esta, em torno a valores como o silêncio, a comunidade, a sede, o desejo, é alguma coisa muito fundamental para todas as dimensões, porque é aquilo que move o mundo. Dante dizia que o amor move o sol e os outros astros. O amor é essa sede do outro, sede de infinito, sede de sentido, sede de felicidade, que mora, irremediavelmente, no coração insólito de um ser humano.


domingo, 11 de outubro de 2020

BODAS DE OURO DE VIDA SACERDOTAL DO PADRE FERNANDO FARINHA

 

BODAS DE OURO DE VIDA SACERDOTAL DO PADRE FERNANDO FARINHA





Hoje, dia 11 de outubro, as comunidades paroquiais de Arronches, Alegrete, Degolados, Esperança,  Mosteiros e Vale de Cavalos, reuniram-se para celebrar com alegria as bodas de ouro sacerdotais do P. Fernando Farinha.



As celebrações por motivo da crise que vivemos, foram restritas à celebração da Eucaristia em ação de graças pelos 50 anos do seu sacerdócio, celebrada na Igreja paroquial de Arronches, a que assistiram as entidades representativas das instituições e fiéis, limitados pelas regras de distanciamento social.

No inicio, a D. Júlia Adega, fez a introdução à celebração referindo os elementos fundamentais no seu percurso vocacional.

Além de algumas lembranças que diversos elementos e instituições daquelas comunidades paroquiais lhe quiserem ofertar, em gesto de gratidão, foi ainda lida, no momento de ação de graças, uma mensagem das Irmãs de S. José de Cluny, associando-se a esta festa dos 50 anos da sua ordenação sacerdotal, “festa de alegria e ação de graças” felicitando o homenageado “pelo dom da fidelidade sacerdotal” 

No final da celebração da eucaristia o Pe. Fernando recebeu os cumprimentos de todos os participantes a quem foi distribuída uma pagela comemorativa da data.

Agradecemos ao Senhor o dom da vida, da vocação e
imploramos “as suas bênçãos para si e para o seu ministério sacerdotal”.

Maria Helena Reis


Hoje é um dia de festa para as nossas paróquias.

Quem é o senhor Padre Fernando?

A 27 de setembro de 1946 nasceu, na pequena localidade de Cimadas Fundeiras, do concelho de Proença-a-Nova, um menino a quem foi dado o nome de Fernando Manuel de Jesus Farinha. Era uma família de quatro filhos, três raparigas e um rapaz, uma alegria para qualquer pai...Um rapaz!
Um companheiro para a vida.
Cedo começou a servir o altar na igreja da sua terra natal, ao lado do seu tio Padre, a quem se refere carinhosamete “o meu tio Padre”.
Um dia Jesus precisou dele, escolheu-o, chamou-o pelo próprio nome e a Ele respondeu: Aqui estou! Quero servir-Te, quero servir os irmãos. E nesse dia iniciou-se uma grande caminhada.
Entrou no Seminário de Portalegre onde estudou. Fez o percurso normal de um seminarista que muito gostava de jogar futebol. Foi escuteiro e sempre um excelente aluno.
E, a 11 de Outubro de 1970, na Sé de Castelo Branco, foi ordenado presbítero, pelas mãos do nosso Bispo da altura, D. Agostinho de Moura.
Desde esse dia até ao dia de hoje, grande tem sido a sua missão, muitas foram as paróquias da nossa Diocese por onde passou desde Monfortinho a Degolados, os serviços que lhe foram entregues, os desafios que teve que abraçar, inclusivamente, uma missão com os nossos emigrantes na Suiça, nos anos 90.
Foi professor no Seminário do Gavião e no de Alcains, deu aulas de Religião e Moral Católica na Escola Secundária de Ponte de Sor e na Mouzinho da Silveira em Portalegre. Foi o primeiro diretor da Rádio Portalegre e escreveu no jornal “Ecos do Sor” e foi peregrino de Santiago e de Taizé.
Nem sempre a sua saúde o beneficiou, mas nunca deitou a toalha ao chão como se costuma dizer.
Está nas nossas paróquias, há 11 anos em Arronches, Degolados, Esperança e Mosteiros, há 6 em Alegrete, Vale de Cavalos e na comunidade cristã de Besteiros e há 3 anos em Reguengo.
Após todos estes anos de currículo hoje celebra 50 anos de vida sacerdotal e desde o primeiro dia, deixando família e amigos entregou toda a sua vida aos paroquianos que tem servido. A sua vida tem sido um ministério ao serviço de Deus e dos outros e por onde passou deixou sempre a sua marca que é lembrada ainda hoje por todos, como nesta altura pude testemunhar.
E tal como o Evangelho de hoje que vamos ouvir, nos convida a um banquete aqui estamos também nós a fazer festa juntos, no banquete da Eucaristia, para dar graças a Deus pelos 50 anos da sua vida sacerdotal. Nesta hora quiseram estar presentes colegas, instituições, amigos e paroquianos de todas as paróquias que serve. Não tantos como os que também gostariam de estar, mas pelo motivo que todos sabemos, as restrições a que o Covid-19 nos obriga não foi possível. Podemos dizer que todos nós, somos ao fim e ao cabo, a sua família, que com ele tem trabalhado como uma equipa.
Neste momento queremos agradecer a Deus todos os benefícios que por ELE recebemos e, ao sr Padre Fernando, agradecer tudo o que tem feito por nós, não esquecendo os momentos em que rezámos, professámos, celebrámos e vivemos a nossa fé e juntos queremos, manifestar-lhe a nossa sincera comunhão, estima e gratidão.
Com a nossa presença e amizade pedimos ao sr. da Messe que o cumule com as maiores bênçãos do Céu e deixamos aqui expressos os nossos sinceros Parabéns.

Agradecemos de uma forma especial às autoridades presentes, a todo o Executivo da Câmara Municipal, às três Juntas de Freguesia do concelho, ao Agrupamento de Escolas Nª Srª da Luz, ao C.B.E.S, à S.C.M.A. aos Bombeiros e aos Forcados, que se quiseram juntar a nós nesta homenagem ao sr. Padre Fernando.

Arronches, 11 de Outubro de 2020

Júlia Adega













































Fotos( MHR)