terça-feira, 28 de junho de 2022

De Igrejas Vazias



«Nós continuamos a viver as nossas vidas como se os valores de referência fossem os mesmos da societas christiana das gerações passadas. Continuamos a celebrar-nos, a fazer das nossas liturgias espetáculos. Continuamos a deleitar-nos com multidões que, embora evidentes, são estatisticamente irrelevantes.

Continuamos a pensar em improváveis ​​mudanças de tendência apenas porque em algum lugar há um aumento muito pequeno de vocações para o ministério ou para a vida consagrada. Continuamos a pensar nisso em termos de ambientes tranquilizadores como as paróquias, associações, movimentos, talvez investindo nestes últimos, dada à sua dimensão presencial eficiente e visível.

Estamos satisfeitos com nossas igrejas na aparência, com a nossa boa gente cujo nível de informação religiosa não ultrapassa o jardim de infância. Não percebemos que corremos o risco de ficar de fora do curso da história.»

Cettina Militello




Lembrei-me desta teóloga siciliana ao ler um entrevista que D. Carlos Azevedo deu a um meio de comunicação social.

O bispo português trabalha para a Santa Sé, no Conselho Pontifício para a Cultura, desde 2011. No departamento dos bens culturais, ocupa-se de arquivos, biblioteca, museus e toda a parte de património imaterial, onde entra a música. Mas um dos seus trabalhos mais complexos que tem que lidar é o das igrejas sem fiéis. O que se pode fazer? Na Holanda, por exemplo, 80% das igrejas não tem culto. E como não há recursos financeiros, não se podem cuidar.

Tantas igrejas vazias… O mesmo começa a acontecer em Portugal. Tenhamos a coragem de o admitir. Somos cada vez mais uma minoria.

Depois de séculos em que a fé cristã foi professada e vivida por grande parte da população das nossas comunidades, percebemos que nossa realidade é plural. Os indiferentes à religião cresceram imenso. Mas não é só isso, também os diferentes apareceram nas nossas aldeias, vilas e cidades, homens e mulheres que acreditam num Deus diferente do Deus de Jesus Cristo. Os cristãos hoje, são apenas uma parte de um todo. Perceber isso realmente, e agir pastoralmente, é algo que exige muito esforço. A secularização é galopante e a pandemia acabou por afastar ainda mais pessoas. Citando o Papa Francisco: "É preciso ir ao encontro das pessoas". Não há mal em sermos poucos.

O mistério cristão permanece como pano de fundo genérico para as ações de quem crê. Mas na maioria das vezes, a crença funciona como um 112. Recorremos à fé quando já não temos respostas na esperança humana…

Mas a Esperança Cristã é muito mais que um cenário do teatro que parece ser a nossa vida. Ela nasce do encontro pessoal com Jesus Cristo.

«É a pequenez e a insignificância de Jesus que, uma vez aceite como manifestação do Deus vivo, abala e renova todas as nossas categorias». (Cardeal Carlo Maria Martini)


Paulo J. A. Victória


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