sábado, 18 de junho de 2022

Como se aceita o que não se compreende?



Nem sempre conseguimos aceitar o que não podemos compreender. A vida falha-nos como se o gerador implacável que a sustenta não prestasse para nada. Brinda-nos com a sua intermitência estranha, arbitrária e, demasiadas vezes, breve.

Detestamos falar da morte. Preferimos ir vivendo como se estivéssemos colados à eternidade que este mundo não nos dá.

Detesto falar da morte e do escuro que se dilui no coração quando a palavra faz eco debaixo da pele e dos dias. No entanto, a verdade é que a morte existe. Também é verdade que nos leva os nossos amigos sem nos deixar tempo para despedidas. Também é verdade que nos faz tremer o chão da alma e nos faz compreender que somos, simplesmente, uma faísca que passa e que não fica.

Perdemos uma das nossas. Uma alma-luz que dava o seu sorriso como quem nos serve uma fatia de bolo deliciosa e inesquecível. Uma pessoa-coração que distribuía o que era por todos quantos se cruzaram consigo. Uma pessoa que cuidava dos que toda a gente esqueceu (e continua a esquecer) porque continua a ser mais fácil não falar de deficiência grave, de doença mental e de solidão crónica. É sempre mais fácil não ver.

A Cristiana via as pessoas que conhecia. Tocou todos quantos se cruzaram com ela e amou-os como quem vem a este mundo para isso. (e não será para isso que aqui estamos?)

A Cris deixou os seus amigos, a sua família, os seus doentes, as pessoas que a conhecem e conheceram demasiado cedo. Em Fátima, onde não vivia, foi encontrar a escada que a levou para o Céu. Os que ficamos debatemo-nos entre a zanga, o sorriso da Cris e o sorriso de Nossa Senhora. Que raio foi acontecer? Mas, como assim?

Fica-nos uma esperança bonita, regada de (tantas!) lágrimas:

Que Nossa Senhora tenha vindo ajudá-la a subir as escadas que a levaram ao Alto e que nos possa ajudar a nós a ser tão santos como era a Cris.

Até ao Céu, Cris.

Dá-nos notícias, por favor. Vê se usas uma borboleta, um passarinho ou aquela brisa fresca do fim do dia para nos lembrar que estaremos sempre juntos.


Marta Arrais

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