terça-feira, 9 de maio de 2023

A saudade relembra-nos o amor



A saudade relembra-nos o amor. Faz-nos viver, interiormente, o que já não pode ser vivido. É uma repetição sem momento. No entanto, permite-nos voltar ao que fomos, ao que fizemos. É a saudade que nos recorda a importância do olhar. Aquele que, em tantos momentos, nos deu a conhecer, um pouco mais de perto, o divino.

A saudade relembra-nos o amor. O amor que fomos, mas também o amor que recebemos. É a saudade que inscreve na nossa existência a certeza de nos sabermos amados, porque nos recorda os que nos ampararam e abraçaram. É a saudade que nos recorda o quão sedentos estamos do toque. O quão necessitados somos do toque.

A saudade relembra-nos o amor. Aquele amor feito em palavras que foi capaz de conjugar toda a nossa vida. Sem preocupações com o nosso pretérito-perfeito ou imperfeito, mas sempre esperançoso com o nosso presente, com o nosso futuro. É a saudade que nos relembra as palavras daqueles que foram amor. Amor que ergue. Amor que acolhe. Amor que abraça até os que já nem se encontram em casa. Amor que orienta e liberta os que não quiseram sair da sua casa, mas que, por algum motivo, perderam o brilho e a sabedoria de serem casa para os outros.

A saudade relembra-nos o amor, porque nos recorda, através do vazio, o muito que nos foi dado. O tanto que foi possibilitado viver e fazer. A saudade, vivida através do nada, não nos permite esquecer quem nos deu tudo. Quem nos foi tudo. A saudade relembra-nos o amor dos que um dia quiseram morar em nós.

Hoje, deixa que a saudade te abrace, e pergunta-te: de quem tenho saudades? De quem é que a saudade me fala? Do que é que a saudade me recorda?

Emanuel António Dias


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