quinta-feira, 31 de julho de 2025

AOS JOVENS DIOCESANOS EM PEREGRINAÇÃO A ROMA



Sob a coordenação do Secretariado Diocesano da Juventude e das Vocações da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, partiram para Roma, nos dias 27 e 28 deste mês, para regressarem no dia 4, jovens de Abrantes, Portalegre, Castelo Branco, Constância, Mouriscas, Montalvo e Sertã. Entre eles estão cinco sacerdotes, alguns consagrados e catequistas. Juntaram-se assim aos 11 527 jovens portugueses que se inscreveram pelos canais normais, pois outros lá estarão, com certeza, por sua conta, como sempre acontece. Nesta grande aventura de esperança, os jovens, além de participarem no programa oficial do Jubileu, sendo o primeiro grande encontro do Papa Leão XIV com os seus jovens, todos os peregrinos portugueses terão um encontro com o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, proporcionando-lhes “um momento de comunhão”, a passagem pela Porta Santa e por algumas basílicas, visitando também as igrejas das quais os cardeais portugueses são titulares, em cada uma com momentos de diálogo, música e exposição, oração.
Partilho com todos os diocesanos a mensagem que enviei aos jovens desta nossa Diocese de Portalegre-Castelo Branco:
“Olá, jovem peregrino da esperança. Peregrino e traquina, como são os jovens que amam a vida e gostam de viver com alegria respeitosa, espionando o futuro.
Peregrinar é uma constante na vida, somos peregrinos! Soe dizer-se que não é preciso ir a Coimbra quando se trata de desvendar algo fácil. Também te digo que não é preciso ir a Roma para saber o que é uma peregrinação. No entanto, ir a Roma em Peregrinação, se tem o peso histórico da tradição cristã, foi o sonho de muitos que nunca o conseguiram realizar. É um privilégio de poucos, sabe bem, é diferente, até se vê o Papa...
Aí, o silêncio de cada pedra e cada lugar fala pelos cotovelos e de forma eloquente, é um silêncio monumental. Esse silêncio, porém, aos pés de Pedro e dos Apóstolos, por certo que faz ecoar bem mais alto dentro de ti o amor de Jesus pela humanidade. Foi o amor de Jesus pela humanidade que, ao ser assumido como missão pelos seus amigos ao longo da história, originou tudo quanto aí vês, admiras, sentes e agradeces!
Saíste para ‘rezar com os pés’. Procuraste aligeirar a mochila para que pesasse menos às costas do teu coração e facilitasse a tua peregrinação até à porta santa do interior de ti mesmo.
Por cima das nuvens e na estrada, rezaste e continuas a rezar a vida no teu silêncio, procurando o essencial, o que dá sentido à vida e às coisas da vida. Lutaste e chegaste a Roma, em Peregrinação jubilar. Inconformado com o que já conseguiste, sabes que a meta da vida está muito para além daquela a que já chegaste.
Sem olhar para trás, importa agradecer o passado com orgulho, viver o presente com paixão e abraçar o futuro com esperança pelos caminhos da fé e da comunhão com Deus e com os outros, com entusiasmo e alegria, sendo missionário de Cristo em cada passo da vida.
Foi assim que Jesus nos ensinou na sua peregrinação da Galileia a Jerusalém. Experimentou a dureza e as alegrias do caminho, terminou na paixão e morte, sim. Mas ressuscitou, está vivo e quer que sejas feliz, coisa que também depende de ti.
Não tenhas medo! Anda daí, muita gente aguarda a tua generosidade e talento na alegria de servir com amor. O teu Bispo, em jubilosa esperança, agradece o teu testemunho de vida, bem como agradece a generosa dedicação do Secretariado Diocesano da Juventude e Vocações, na pessoa da Irmã Fernanda, dos sacerdotes e leigos que te acompanham.
Força, ficamos unidos na oração, desejando que te animes a ir mais além, em fidelidade ao lema latino: Plus ultra!”


D. Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 30-07-2025.

Viver a liberdade de Deus



“É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha
do que um rico entrar no Reino dos céus”
(Mt 19, 24).


Nestes últimos dias tens-me convidado a refletir sobre a liberdade. Tu e o teu provocador sentido de humor. Ouço frequentemente aquela frase cliché redutora e egoísta ‘a minha liberdade termina onde começa a tua’. Vivemos numa sociedade assoberbada de egos onde é comum entrarem em conflito uns com os outros, preocupados apenas com quem é o maior (cf. Mc 9, 34). Nas ruas, à mesa, em recreios de escolas, entre outros, andam tantos cabisbaixos por estarem mais interessados nos ecrãs onde mergulham do que nas pessoas à sua volta. A fantasia, as vidas perfeitas nas redes sociais, os avatares nos jogos e até os ‘desafios’ do TikTok, por vezes mortíferos, tornaram-se mais reais do que as suas realidades, por vezes, desinteressantes e rotineiras que passam a ser apenas uma névoa impalpável.

Posso não compreender tudo sobre a liberdade, mas sei que não é isto. Somos chamados a viver a tua liberdade, a que elevou a nossa condição humana para que pudesse tocar o divino. Sendo Deus, fizeste-te homem e o foste na perfeição. Um homem generoso, que foi a lugares improváveis, que partilhou o pão com os impensáveis e que amou os justos e injustos, os doutores e os pecadores, sendo fiel à vontade do Pai até àquele lugar de escândalo e de loucura onde morreste por nós.

Gostaria de pensar que, confrontada com a mesma encruzilhada, seria capaz de dar a vida por alguém. Talvez a escolha seja mais fácil quando são os nossos que estão em perigo, mas menos evidente se fosse um desconhecido. E talvez não porque já muitos entregaram suas vidas ao longo dos séculos por ti.

Sei que tenho ainda muitas amarras que me impedem a ser livre ao teu jeito porque há mágoas muito profundas cujas feridas teimam em não cicatrizar e que voltam a abrir-se quando o pensamento se desvia por lá. Não menos apertadas são as correntes que pus a mim mesma carregando as culpas das ações dos outros e da paralisia das minhas perante determinadas situações. As que não consegui prever e as que não soube compreender e acolher nos momentos em que aconteceram.

Curiosa é a contradição entre o teu olhar sobre as nossas fragilidades e o nosso olhar orgulhoso e carregado de juízos. Olho ao espelho e vejo apenas as minhas falhas enquanto tu vês a minha inteireza amando-me exatamente como sou. Gostava tanto de ver-me através do teu olhar e sei que grande parte das nossas frustrações e desilusões brotam da nossa incapacidade de nos aceitarmos como somos, aprisionando a nossa liberdade.

A tua liberdade convida-nos a viver uma vida de serviço sem ser servil, a amar o pecador mesmo que detestemos o seu pecado, a rejeitar a justiça do mundo quando for contrária à tua e tudo viver com a tua humildade e mansidão, mesmo quando nos perseguem por testemunharmos com a nossa vida tudo que és para nós.

Ouço com alguma tristeza cristãos a dizer ‘Deus tem mais que fazer do que se preocupar com os meus problemas’. Dizer isto é ainda não te conhecer bem porque prometeste estar sempre connosco. Não existem problemas mais ou menos importantes porque conheces tudo o que somos e quando algo nos entristece ou aflige, mesmo que por vezes não nos apercebemos, tu estás sempre presente.

Não há nada que com a tua graça não consigamos suportar. Bem disseste que para seguir-te era necessário aceitar a nossa cruz pois nela está toda a nossa vida, os dons que nos deste e as nossas fragilidades. Ao tomá-la aceitamos as pedras no caminho na certeza que estás em cada passo. Seguir-te é saber que vais à nossa frente para iluminar e guiar-nos nesse caminho que nos conduz ao Pai. Se, no entanto, dele nos desviar-nos ou se cairmos à sua beira, vens ao nosso encontro para nos levantar e pela mão nos levares de volta.

Sim, carregar a nossa cruz é difícil e muitas vezes nos parece demasiado pesada, mas também tu carregaste a tua até à morte. Como então não ver a sua beleza? Dá-me, Senhor, a coragem de desprender-me de tudo que me escraviza e a graça de tomar a minha cruz com verdadeira liberdade, a que me conduz a ver nos outros a missão que nos confias, mesmo nos momentos de dor e cansaço, por nela estás tu.



Raquel Dias

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Não estava à espera disto!



Seria incrível se vida se pudesse fazer prever. Se nos brindasse todos os dias com o mesmo conforto, com o igual de cada momento, com os poucos sobressaltos que gostaríamos. Mas isso não seria real, não nos faria crescer ou reposicionar-nos e, provavelmente, também não nos deixaria espaço para dar valor e agradecer o que temos de bom e de certo.

Só que a verdade é que viver o inesperado ou ser surpreendido com uma notícia que nos desarruma por dentro, custa. Dói-nos a impossibilidade de nada poder fazer para evitar o que acontece. Custa-nos não ter compreendido os sinais prévios que avisavam mais ou menos sonoramente sobre a “tempestade”.

E quando recebemos um diagnóstico ou uma notícia dolorosa que nos faz reavaliar tudo, há qualquer coisa dentro de nós que se suspende. Que trava. Que fica em ponto morto. Que paralisa. E nesse silêncio gritante e audível e, por uma fração de segundos, abrandamos na nossa capacidade de compreender, de esperar, de dar sentido, de aceitar.

As frases:

“Não estava à espera disto” ou “Como é que isto foi acontecer?” trazem-nos o espanto de quem preferia ter ficado refém da normalidade do costume.

Não vamos encontrar explicações para o que nos acontece, na maioria das vezes. A vida tem o seu “quê” de aleatoriedade que tanto nos pode fazer expandir o coração como torná-lo pequeno (de tão amachucado). Mas há algo (mais importante que explicações ou razões) que podemos encontrar: espaço e tempo para sentir e acomodar a dificuldade do novo. Espaço para respirar fundo e perceber os impactos internos do que nos aconteceu. Tempo para digerir, acalmar e sossegar novamente.

Nada disto se faz de um momento para outro.

E nada disto se deve fazer sozinho.

Enquanto a vida teima em surpreender-nos e, às vezes, em tirar-nos o chão debaixo dos pés, que nos sobre sempre a certeza de estarmos acompanhados.

Que não nos faltem mãos para nos suster e braços para nos agarrar. Haja o que houver.



Marta Arrais

terça-feira, 29 de julho de 2025

Como viver a fragilidade?


Vivemos num tempo em que se exalta a eficiência, o desempenho e o sucesso como se fossem virtudes absolutas. No entanto, todos nos deparamos com limitações: cansaço, dúvida, fragilidade, saúde mental e isolamento quando mais precisamos.

Como podemos entender isto à luz do Evangelho?

Para alguns, crentes ou não, falar da fragilidade de Jesus pode ser perturbador, senão mesmo irreverente. Porém, a fragilidade não faz parte da nossa humanidade? Jesus de Nazaré não habitou esta fragilidade sendo verdadeiro homem?

Há fragilidades que surgem dentro de nós, sobre as quais pouco ou nada podemos fazer, assim como há fragilidades que surgem das nossas relações. A única coisa necessária é que aprendamos a reconhecê-las e a aceitá-las, como aquilo que nos faz ser quem somos: imperfeitos, limitados, caminhando para uma dimensão da qual ainda pouco ou nada sabemos...

Na carta aos Gálatas, Paulo diz simplesmente de Jesus que «nasceu de uma mulher». Só isso. Nenhuma referência a Maria ou José. Uma mulher que O colocou na fragilidade. A fragilidade de um recém-nascido, necessitado, como todos os recém-nascidos, de cuidados e atenção.

A sua mãe deu-lhe um corpo: que conhecerá o cansaço, a fadiga, a fome, a sede, a angústia, a desilusão... As limitações que fazem parte da vida de todos nós.

Um homem familiarizado com a raiva e a indignação. Que não tem medo de expressar aquilo que muitos de nós hoje consideraríamos um sinal de fraqueza. Chora pela morte de um amigo. Luta por aqueles que não têm voz, por aqueles rejeitados. Não tem medo das mulheres que o amam e que, por elas, se deixa amar, cuidar e tocar, demonstrando uma abertura considerada inadequada naqueles tempos.

Mas a Sua fragilidade assume uma espantosa intensidade no homem que enfrenta a cruz. No Jardim das Oliveiras, pouco antes da sua prisão, a fragilidade de Jesus explode com força: «Pai, se quiseres, afasta este cálice de mim; porém não a minha, mas a Tua vontade se faça.» (na versão de Frederico Lourenço, que está mais próxima do texto original).

Portanto, Jesus ensina-nos a não rejeitar as limitações e a fragilidade. Rejeitá-las levaria a cair naquela ilusão de omnipotência que se expressa no eu sei e no eu posso. Jesus mostra-nos um Deus que não teme a fragilidade e as limitações. Aceitar as limitações é o primeiro passo para nos reconhecermos como humanos e estarmos ao lado dos irmãos que partilham connosco a fragilidade e as limitações de sermos homens e mulheres em caminho.

A fragilidade não é algo a esconder, mas sim a acolher. Por vezes pensamos que parecer cansado ou vulnerável é um sinal de fraqueza. Na realidade, é precisamente aí, nas nossas limitações, que começamos a ser verdadeiramente humanos. É o ponto em que deixamos de fingir e começamos a viver. É aí que Deus nos salva. É o Emanuel, o Deus connosco.

Claro que não é fácil. Mas é autêntico




:Paulo Victória

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Pedi e dar-se- vos -á




«Se o meu Senhor não levar a mal, falarei»



Pai…

estou tão cansada e sem rumo, que já não sei como falar conTigo.

Quando era criança, o diálogo conTigo era tão mais fácil.

Sentia-me sempre no Teu regaço e tudo era perfeito.

Agora,

a guerra instalou-se neste mundo cinzento…

a fome paira sobre a cabeça de tantas crianças…

o abandono dos anciães, em lares sem amor, aumenta…

o aborto é solução para uma vida que Tu criaste…

a morte é semente que lançamos à terra, regamos e cuidamos!



Hoje…

é o meu ser, confuso e triste, que Te invoca:

Se ainda há Fé, no coração da humanidade,

ressuscita em cada um de nós a capacidade de Te rezar insistentemente,

de Te escutar, de erguer a Tua vontade, de permanecer em Jesus…



Paizinho…

Perdão para aqueles que não Te amam nos outros.

Paz para aqueles que se perderam no mundo.

Esperança para os que caminham errantes.

Pão Vivo para os que não levam Jesus aos outros, nem trazem Jesus no sorriso.



Baixinho

em silêncio

de coração rasgado

com a alma despida

Bom Pai…

aqui nos tens

em oração…



Liliana Dinis


domingo, 27 de julho de 2025

Caminho de Conversão

 



Como nos relacionamos com Deus? Comunicamos com Ele? Sentimos necessidade de falar com Ele sobre a nossa vida, as nossas inquietações, dúvidas, alegrias e tristezas? Estamos interessados em escutar o que Deus tem para nos dizer? Como se processa o nosso diálogo com Deus? É sobre estas questões que a Palavra de Deus deste domingo nos fala.

Na primeira leitura o patriarca Abraão dirige-se ao Deus que veio visitá-lo e dialoga com Ele. Abraão expõe a Deus as suas inquietações, as suas dúvidas, as suas questões, num diálogo respeitoso, mas também frontal, sincero, confiante. Deus responde de forma franca às perguntas de Abraão e partilha com ele os planos que tem para o mundo e para os homens. É um diálogo honesto e verdadeiro de amigos que têm apreço um pelo outro e que se interessam pelo que o outro pensa e sente. Esta “conversa” pode ser modelo da nossa oração, do nosso diálogo com Deus.O diálogo de Abraão com Deus poderia servir de modelo para a oração de qualquer crente: é um diálogo humilde, reverente, respeitoso, mas também confiante, ousado, verdadeiro. Não é uma repetição de palavras ocas ou de fórmulas estereotipadas, gravadas e repetidas por um qualquer aparelho mecânico ou uma mente acrítica, mas um diálogo espontâneo e sincero, no qual o crente se expõe e coloca diante de Deus tudo aquilo que lhe enche o coração. As nossas orações são um diálogo espontâneo, vivo, confiante com Deus, ou são repetições fastidiosas de fórmulas fixas, mastigadas à pressa, sem significado e sem alma?

No Evangelho Jesus conta aos discípulos a sua experiência de Deus e mostra-lhes como devem falar com Deus. Convida-os a verem Deus como um pai bom e cheio de amor, sempre disponível para escutar os seus filhos; pede-lhes que, quando falarem com esse Pai, procurem perceber e acolher os projetos que Ele tem para o mundo e para os homens; sugere-lhes que se entreguem nas mãos desse Pai e que confiem n’Ele incondicionalmente. Assim, cada momento de oração será uma experiência inolvidável de intimidade, de familiaridade e de comunhão.Jesus convida os discípulos a pedir a Deus que compreenda as faltas que são inerentes à condição humana e perdoe os pecados que tiverem cometido. Mas também vincula, de algum modo, o perdão de Deus ao perdão que os seus discípulos devem oferecer uns aos outros. Aquele que se recusa a perdoar as fragilidades do seu irmão, não tem moral para pedir a Deus que lhe perdoe as suas próprias fragilidades. Poderemos rezar o “Pai nosso” e pedir a Deus que nos perdoe quando nos recusamos a abraçar um irmão que nos magoou ou a quem magoamos?

Na segunda leitura Paulo, dirigindo-se aos cristãos da cidade de Colossos, recorda-lhes o papel e o lugar de Cristo no projeto salvador de Deus em favor dos homens; e convida-os a serem coerentes com os compromissos que assumiram no dia em que escolheram caminhar com Cristo.O nosso batismo foi, para cada um de nós, o momento do compromisso com Cristo. Nesse dia, renunciámos ao pecado e comprometemo-nos a caminhar sempre atrás de Cristo no caminho da doação, do serviço simples e humilde, da entrega da vida por amor; fomos ungidos com o óleo do crisma e enviados ao mundo como testemunhas da salvação de Deus; recebemos a luz de Cristo e fomos desafiados a iluminar o mundo com a verdade de Cristo. É este “caminho” que temos vindo a percorrer? A nossa vida, as nossas opções, as nossas palavras, os nossos gestos e o nosso testemunho têm sido coerentes com os compromissos que assumimos no dia em que fomos batizados e começamos a caminhar com Cristo?

https://www.dehonianos.org/

sábado, 26 de julho de 2025

Na medida certa da vida...



Na medida certa da vida...


Na medida certa da vida, fazer de mim o próprio cais. A âncora, eu sei qual é.
O simples.

Procuro o reconhecimento do equilíbrio.
A busca pela harmonia. Os limites onde encontro a minha paz.

Com o tempo, torno-me abrigo de mim mesma. Sou o lugar seguro , que no silêncio posso repousar e recomeçar.

É no simples que me encontro e ganho consciência da essência que existe em mim. Os pés na terra, mostram-me a firmeza que me sustenta.

Quando tudo se dispersa, sei onde termina o ruído e começa o que sou.
É na conexão com a vida, que sereno o meu coração.


A âncora eu sei qual é. E na quietude do teu ser, quem te habita?

Boa semana!



Carla Correia

sexta-feira, 25 de julho de 2025

OS AVÓS DESPERTAM CONFORTO E ENERGIA



Celebramos o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos no IV Domingo de julho, na proximidade do dia 26, dia da festa de Santa Ana e São Joaquim, avós de Jesus, os pais de Maria, sua Mãe. Juntar a família, homenagear e reconhecer a importância dos avós na família e na sociedade, combater a solidão e o descarte, valorizar a sua experiência, conhecimentos e sabedoria, incentivar o diálogo entre as gerações, são alguns dos objetivos deste Dia Mundial.
Todos estamos chamados a ser protagonistas duma sincera revolução de gratidão e cuidado para com os mais velhos. O termo revolução, aqui, exprime aquela revolução que é levada a cabo pela força da ternura. Aquela que é capaz de fazer surgir uma nova cultura, a civilização do amor. Foi o amor a causa pela qual Deus, que é amor, entrou em relação com o homem. Por amor, e porque nos amou primeiro, de tal forma o fez que nos enviou o seu Filho único, para nos revelar esse amor e nos convidar a viver, amando. Por sua vez, o seu Filho que nos foi enviado, amando os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim, dando a vida por eles.
O amor é a forma mais alta e mais sublime de relação entre os seres humanos, sendo essa a resposta que Deus espera de cada um de nós e de todas as instituições e sociedades, valorizando a dignidade de cada ser humano. Ao .mesmo tempo, a civilização do amor, implica a gratidão, a capacidade de valorizar as pessoas e de reconhecer essa espécie de dívida que temos para com elas que nos ajudaram a viver na alegria e bem estar, no amor, na fidelidade, na amizade. Que nos ajudaram a ser felizes, mesmo que, por vezes, por entre experiências menos agradáveis. Esta revolução de amor e de gratidão leva a um compromisso global pelos avós, pelos mais idosos. Leva ao cuidado por eles, a ouvir, interagir, proteger, assistir, socorrer, preservar, curar, a tudo fazer pelo seu bem-estar. ‘As pessoas idosas são as primeiras testemunhas da esperança’, assim nos diz Leão XIV, na sua mensagem para o Dia dos Avós. E “a esperança é, em todas as idades, perene fonte de alegria. Além disso, quando é provada pelo fogo de uma longa existência, torna-se fonte de uma bem-aventurança plena”.
Na História da Salvação, Deus serve-se muitas vezes de pessoas idosas, ensinando-nos que, “aos seus olhos, a velhice é um tempo de bênção e graça e que, para Ele, os idosos são as primeiras testemunhas da esperança”. Leão XIV lembra que “a constatação de que hoje o número daqueles que estão avançados em idade aumenta cada vez mais torna-se, para nós, um sinal dos tempos que somos chamados a discernir, para ler bem a história que vivemos”.
Como a vida da Igreja e do mundo só se compreende na sucessão das gerações, “abraçar um idoso ajuda-nos a entender que a história não se esgota no presente, nem em encontros rápidos e relações fragmentárias, mas se desenrola rumo ao futuro”. Assim, “se é verdade que a fragilidade dos idosos precisa do vigor dos jovens, é igualmente verdade que a inexperiência dos jovens precisa do testemunho dos idosos para projetar o futuro com sabedoria”. Os avós são, regra geral, “um exemplo de fé e devoção, de virtudes cívicas e compromisso social, de memória e perseverança nas provações! A nossa gratidão e coerência nunca serão suficientes para agradecer este bonito legado que nos foi deixado com tanta esperança e amor”.
O Jubileu, desde as suas origens, representa um tempo de libertação. É bom olhar para os idosos nesta perspetiva jubilar, libertando-os sobretudo da solidão e do abandono, derrubando “os muros da indiferença na qual os idosos estão frequentemente encerrados. Em todas as partes do mundo, as nossas sociedades estão a habituar-se, com demasiada frequência, a deixar que uma parte tão importante e rica do seu tecido social seja marginalizada e esquecida”, diz o Papa.
Se a sociedade precisa duma mudança de atitude, também “cada paróquia, associação ou grupo eclesial é chamado a tornar-se protagonista da “revolução” da gratidão e do cuidado, a realizar-se através de visitas frequentes aos idosos, criando para eles e com eles redes de apoio e oração, tecendo relações que possam dar esperança e dignidade àqueles que se sentem esquecidos. A esperança cristã impele-nos continuamente a ousar mais, a pensar em grande”. Francisco, quando hospitalizado, afirmou: “o nosso físico é débil, mas, mesmo assim, nada nos pode impedir de amar, de rezar, de nos doarmos, de sermos uns pelos outros, na fé, sinais luminosos de esperança”.
E o Papa Leão XIV diz-nos que: “O bem que desejamos às pessoas que nos são caras - ao cônjuge com quem compartilhamos grande parte da vida, aos filhos, aos netos que alegram os nossos dias - não desaparece quando as forças se esvaem. Pelo contrário, muitas vezes é justamente o carinho deles que desperta as nossas energias, trazendo-nos esperança e conforto”.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 25-07-2025.

As coisas mais simples



Às vezes, o que nos salva são as coisas mais simples.

Um abraço que é abrigo.

Uma mão dada que nos ampara.

Um olhar que nos encontra e que nos toca.

Um sorriso que nos abraça o coração.

Um beijo que nos cura.

Um colo onde repousamos, onde serenamos

Uma palavra que nos conforta.

Um silêncio que é (e que nos faz) tanto sentido.

Uma companhia que nos faz sentir melhor só porque está connosco.

Um gesto que nos faz sorrir e que nos dá esperança.

Um céu estrelado que nos faz brilhar o olhar.

Um momento que nos tatua, para sempre, o coração.

Um instante de amor.

Às vezes, o que nos salva não são as coisas grandes.

Ou, talvez, até sejam…

Talvez as coisas maiores (e as melhores) sejam aquelas que nos acontecem, todos os dias, disfarçadas das coisas mais simples, mas cheias de amor.

Como quem diz: cheias de tudo.



Daniela Barreira

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Feliz o resto que salvaste



“Ainda que o teu povo, ó Israel, fosse tão numeroso como a areia do mar, só um resto dele voltará” (Is 10, 22-23).



Hoje dei por mim a pensar na beleza do resto. Atualmente é um vocábulo com uma certa conotação depreciativa, mas que, na verdade, é portador de tão grande esperança. No quotidiano falamos, por exemplo, em restos de comida, como se fosse comida de segunda categoria. Contudo, vejo nos restos que guardamos nos nossos frigoríficos oportunidades de tornar novo o que já saboreámos com apenas alguns retoques. Curiosamente, no Natal, a refeição tradicional da Consoada em muitas casas portuguesas é o ‘bacalhau com todos’ que me faz lembrar da universalidade da tua Igreja e dasalvação que nos ofereceste na cruz.

Na tua infinita sabedoria mostraste que os ‘restos’ são os primeiros a encontrar-te pelo caminho. A fragilidade e vulnerabilidade dos que são tratados pela sociedade como impuros e indignos, tal como os pobres, enfermos epecadores, faz deste resto excluído aqueles a quem deste a primazia do teu olhar. Foi a estes vieste escutar, saciar, curar e libertar com o teu toque de misericórdia e compaixão. Foi a eles que disseste, como à pecadora que te lavou os pés com as suas lágrimas de arrependimento: “A tua fé te salvou.” (Lc 7, 50) porque foram, na verdade os pescadores, doentes, pecadores e até estrangeiros os primeiros a acreditar que eras o cumprimento das promessas de Deus.

És o Bom Pastor, aquele que conhece cada um de nós pelo nome (cf. Jo 10, 14), aquele que proclama que há “mais alegria no céu por um só pecador que se converte do que por 99 justos que não necessitam de conversão’ (Lc 15, 7), aquele que se enche de compaixão pelo filho que “estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado” (Lc 15, 32). Corresao seu encontro, lançando-te ao seu pescoço e cobrindo-o de beijos (cf. Lc 15, 20). Vens sempre, como o Bom Samaritano, ao encontro daquele que, deixado meio morto na estrada eignorado pelos seus, é socorrido pelo mais improvável, um estrangeiro samaritano, povo odiado pelos judeus (cf. Lc 15, 30-31).

Felizes somos porque somos o resto que acreditou, ser ter visto, no testemunho daqueles que, como Tomé, puderam ver-te (cf. Jo 20, 29), como Estêvão, Pedro, André, Tiago, Filipe, Bartolomeu e tantos outros que, desde então, deram as suas vidas por ti e como Paulo, que após encontrar-te a caminho de Damasco, passou de perseguidor a evangelizador escolhendo os gentios, os que não pertenciam ao povo de Israel, o resto do mundo.

Graças te dou, Senhor, por todos os que vieram antes de mim e trouxeram a tua palavra aos confins da terra”. Graças te dou ainda por teres vindo ao meu encontro, quando estava perdida e por me teres reconduzido, no teu regaço, ao caminho que me convidas a percorrer, sem nunca desistires de mim, acolhendo-me com todas as minhas fragilidades e infidelidades e levantando-me sempre que caio e que quero desistir.

Obrigada por seres essa surpresa que a muitos choca porque os teus gestos nem sempre são os expectáveis. Os teus gestos falam uma linguagem que a maioria tantas vezes acomodada e adormecida desaprende a usar, a que se conjuga com verbos como ‘ver’, ‘compadecer-se’, ‘aproximar-se’, ‘carregar’, ‘hospedar’, ‘alimentar’ ‘cuidar’ ‘curar’ e ‘gastar-se’. Essalinguagem com entranhas de misericórdia, de entrega, de serviço, de fidelidade e de amor que, com a tua vida, nos vieste ensinar (cf. Lc 10, 29-37). “Dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também” (Jo 13, 15).



Raquel Dias

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Os "sem noção"

   

Hoje dedico estas palavras a todos os "sem noção" ( e já agora me penitencio caso alguma vez o tenha sido), e isto porque acho que estão a crescer exponencialmente e não é algo de que precisemos mais, sem dúvida!!


E estas palavras vão particularmente para quem critica nos outros aquilo que faz continuamente e não se coíbe de disfarçar. Para aqueles que estão sempre certos e para os quais o mundo está sempre errado.
Para aqueles que vivem com os princípios e valores do avesso e acham que estão às direitas.

Para aqueles que se acham mais que comuns mortais, sabem tudo e fazem tudo melhor!

Que se faça luz e consigam enxergar a realidade. Que não vivam em destilarias de falta de sensibilidade, falta de empatia, rancor!
O mundo podia ser bem mais bonito e leve se não insistíssemos em colocar na balança pesos que não equilibram!


Lucília Miranda

terça-feira, 22 de julho de 2025

És a Marta ou a Maria?



És a Marta ou a Maria?

Querida amiga, conheces a passagem bíblica da Marta e da Maria? Hoje é sobre ela que pende a minha reflexão.

No evangelho Jesus exalta a atitude de Maria que perante a Sua presença opta por Estar, para sentir e saborear a presença e a inspiração de Jesus. Ao invés Marta opta por Fazer, e está atarefada a garantir que nada falte nem a Jesus nem aos seus discípulos.

Imagino que Marta também gostasse de parar e ouvir Jesus como se mais nada houvesse de importante, mas ao mesmo tempo sente a responsabilidade de quem convida.

Imagino Marta a olhar para Maria e a perguntar: “porque não me ajudas?".

Diz-se que Maria escolheu a melhor parte, mas sabem, para mim, ela escolheu essa parte porque havia uma Marta a garantir o resto.

Acredito que para haver Marias disponíveis para ouvir, há muitas Martas a garantir que nada falte a quem precisa.

É importante alimentar a alma, mas se não tratarmos do essencial, das necessidades básicas de quem acolhemos duvido que tenhamos a capacidade para verdadeiramente Estar e escutar o que é importante.

Às vezes sou a Maria- contemplativa.

Às vezes a Marta - focada em concretizar.

Às vezes tento ser as duas e

Às vezes não me apetece ser nenhuma delas .

Talvez o segredo seja estar atenta ao que realmente é importante, pedir ajuda e discernir que atitude é a que mais faz falta no momento. Com a certeza, porém, que não somos perfeitos e às vezes devíamos ser mais Maria e outras vezes mais Marta, e às vezes basta SER e assim ficarmos com “a melhor parte.”

E tu amiga, como te sentes hoje: Marta ou Maria?

Lucas 10:38,42

Jesus e os discípulos seguiam o seu caminho. Ao entrarem numa aldeia, uma mulher chamada Marta recebeu Jesus em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria que se sentou aos pés do Senhor para o ouvir. Ora Marta andava muito atarefada, por ter muito que fazer. Aproximou-se e disse: «Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe só com todo o trabalho? Diz-lhe então que me venha ajudar.» Mas o Senhor respondeu: «Marta, Marta, andas preocupada e agitada com tantas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada.»


Raquel Rodrigues

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Uma só coisa necessária




Hoje e sempre quero escutar-Te


A Tua Voz é brisa suave que comanda.

É água que refresca.

É sal que dá sabor à vida.

É fogo que ilumina.

É terra fértil que dá Pão.


Quero acolher a Tua Palavra, Senhor!


A Tua Voz não tem tom, nem cadência.

Não é melodia simples, nem acorde sem sentido.

Não se faz sobressair, nem quer ser altiva.

Não é melosa, nem morna.

Não é tempestuosa, nem barulhenta.


Encontro os Teus desígnios nos meus sonhos!


A Tua Voz faz-se presença no silêncio.

Faz de mim uma serva boa e fiel.

Faz os meus olhos escutarem.

Faz os meus ouvidos ficarem saciados.

Faz da minha boca sorriso aberto de Paz.

Faz do meu coração Porto de abrigo.


Só amo quem conheço e reconheço!


A Tua Voz leva Jesus a todos e todos a Jesus,

num só gesto, num passo firme, num abraço que acolhe.

Sou Peregrina de Esperança!

Sou Abraão… Sou Paulo… Sou Marta… Sou Maria…

Sou a Tua voz no mundo…

Eu acolho a Tua Palavra, Senhor.



Liliana Dinis

domingo, 20 de julho de 2025

Acolher, Amar e Cuidar

 




As exigências da vida moderna obrigam-nos a correr a um ritmo estonteante e fazem-nos deixar para trás coisas fundamentais. A Palavra de Deus que a liturgia do décimo sexto domingo comum nos propõe convida-nos a redescobrir as prioridades e valores que tornam a nossa vida mais humana e mais cheia de sentido.

A primeira leitura propõe-nos o exemplo de Abraão, o homem que não se importa de gastar tempo com o “outro”. Quando aparecem junto da sua tenda três visitantes inesperados, Abraão acolhe-os, prepara-lhes um banquete, oferece-lhes o que tem de melhor. Em cada pessoa que nos “visita”, é Deus que vem ao nosso encontro. O tempo que gastamos a acolher e a cuidar dos nossos irmãos é um tempo que enche de significado a nossa vida.Através daquela velha lenda que narra a “visita” de Deus a Abraão, a catequese de Israel apresenta um Deus que vem ao encontro do homem, que aceita o convite do homem e entra na sua casa, que se senta à mesa com o homem e que estabelece com ele laços familiares, que conhece perfeitamente os sonhos do homem e os realiza. É esse Deus, o Deus da comunhão e do encontro, em quem acreditamos? É esse o Deus com quem caminhamos? Estamos disponíveis para o acolher na nossa vida, para lhe abrir as portas do nosso coração e para mergulharmos no seu amor?

No Evangelho duas irmãs – Marta e Maria – acolhem Jesus na sua casa. Marta prepara para o hóspede uma boa refeição; Maria senta-se aos pés de Jesus, a escutar o que Jesus diz. São duas atitudes válidas, próprias do discípulo. Mas Lucas, o narrador deste episódio, aproveita para sugerir que a escuta da Palavra de Jesus deve preceder a ação. A ação sem a escuta de Jesus torna-se mero ativismo que, mais tarde ou mais cedo, se esvazia de sentido.Qual é a nossa perspetiva da hospitalidade e do acolhimento? Como é que acolhemos as pessoas que entram na nossa vida e na nossa casa? Ao narrar-nos uma “visita” de Jesus a casa de uma família amiga, Lucas sugere-nos delicadamente que o verdadeiro acolhimento não se limita a abrir a porta, a instalar a pessoa no sofá mais cómodo, a ligar a televisão para que ela se entretenha sozinha enquanto corremos para a cozinha para lhe preparar uma refeição memorável; mas o verdadeiro acolhimento passa por dar atenção àquele que veio ao nosso encontro, por escutá-lo, por partilhar com ele a nossa vida, por fazê-lo sentir o quanto nos preocupamos com aquilo que ele sente… Temos consciência de que, muitas vezes, o “estar com” a pessoa é muito mais expressivo do que o “fazer coisas” para ela?
Jesus, contra os costumes da época, aceita hospitalidade na casa de duas mulheres; Jesus, contra o costume da época aceita que uma das mulheres – Maria – assuma o lugar de sua discípula. Nas mais diversas situações Jesus mostrou, com gestos bem concretos, que no projeto de Deus não há lugar para a discriminação de seja quem for. Estamos conscientes disso? Não será já altura de eliminarmos da sociedade e da Igreja atitudes discriminatórias que não vêm de Deus ou do Evangelho, mas sim do nosso egoísmo, da nossa prepotência, dos nossos preconceitos?

Na segunda leitura Paulo fala aos cristãos de Colossos da sua experiência: ele tem-se esforçado por testemunhar em todo o lado o projeto salvador de Deus revelado em Cristo. Espera que também os cristãos de Colossos se disponham a construir as suas vidas à volta de Cristo. Nesse sentido, exorta-os a viverem numa comunhão cada vez mais perfeita com Cristo, pois é em Cristo que os crentes encontrarão a salvação e a vida em plenitude.Paulo de Tarso, o “apóstolo dos gentios”, é uma figura ímpar da história do cristianismo. Devemos-lhe o ter levado o Evangelho ao encontro do mundo greco-romano, fazendo com que a proposta de salvação quer Jesus veio trazer saltasse todas as fronteiras e chegasse a todos os homens. Mas devemos-lhe, especialmente, o exemplo de compromisso pleno, de doação total, de entrega completa a Jesus e ao Evangelho (“já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” – Gl 2,20). Temos consciência – como Paulo tinha – que a Igreja nascida de Jesus é, fundamentalmente, uma comunidade missionária? É com o mesmo empenho e decisão de Paulo que nós “agarramos” a missão que Cristo nos confiou e que damos testemunho de Cristo em todos os lugares onde a vida nos leva? Como é que a nossa comunidade cristã considera e valoriza os homens e as mulheres que dedicam toda a sua vida à causa do Evangelho?


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sábado, 19 de julho de 2025

Carta a um jovem presbítero





Faço parte de um conjunto de padres que já olham o entardecer da vida, tendo já passaram “o peso do dia e o seu calor”. Posso dizer, em nome da maioria, que muito folgamos com a tua chegada ao serviço presbiteral. Quando vemos que o fenómeno da vocação sacerdotal ainda vai dando frutos, no tempo incerto em que vivemos, muito felizes nos sentimos. Um dia, também nós fomos tocados pela centelha de divino que constitui a vocação e, no meio de dificuldades e dúvidas, aceitámos avançar. Por isso, sê bem-vindo. Esperamos que algum exemplo que deixamos possa ser-te útil para o caminho que agora começas e esperamos que seja longo e feliz.

Não quero dar-te conselhos. Mas hás-de consentir-me que te dê um breve testemunho, assente nas mais de quatro décadas de experiência de vida presbiteral. A nossa formação não foi melhor do que a tua. Tivemos talvez uma vantagem: como a nossa sociedade e a nossa Igreja viviam uma prodigiosa explosão de esperança, no último terço do século passado, foi-nos talvez mais fácil partir de baterias carregadas para a longa estiagem que se seguiu. Era o tempo que se seguiu ao Concílio Vaticano II e à revolução do 25 de Abril. Interiorizámos intensamente o gosto da vida sacerdotal, num tempo em que gostávamos mais de ser sacerdotes do que de parecê-lo. Mas não fiques a lamentar o tempo que te é dado viver. Os desafios de hoje são talvez maiores do que os do meu tempo. Na nossa juventude ficávamos extenuados para atender o povo de Deus que comparecia massivamente às nossas celebrações. Hoje tudo é diferente.

Tal como nós, terás de alimentar o teu sacerdócio numa empatia sem tréguas com o mistério pascal de Jesus. Sem essa experiência mística e orante, não é possível a perseverança. Repara que isso não se consegue num dia, nem num ano, nem em todo o tempo da formação que te foi proporcionado. É um longo exercício de escuta do rumor da vida, em ti e naqueles que contigo se cruzam. Espero que tenhas bons encontros, aqueles encontros que, se estiveres atento, te são proporcionados pela Providência que age misteriosamente pelos interstícios da espuma dos dias. Tens de ser um orante sem ser um rezador. Nunca me esqueço o que um antigo professor de teologia, que nem era grande coisa, mas me ensinou a diferente entre a oração e o psitacismo. Esta última palavra, pouco frequente, exprime uma disfunção psicológica que consiste na separação entre a mente e a linguagem. A oração começa tarde na vida, como testemunham os místicos. Mas é necessário não descuidar a manhã da vida, mesmo na secura da espera. Não esqueças que o afecto é a porta de entrada na condição de sujeito da vida divina e da vida humana que são a mesma vida. Por isso, não te deixes desligar da fonte que não deixa de correr.

Se um conselho te posso dar é que ligues o teu sacerdócio ao grupo dos 72 discípulos, de preferência ao grupo dos 12. Os 12 Apóstolos são evidentemente importantes como estrutura da missão da Igreja. Mas os 72, de que fala Lucas, são os missionários invisíveis e informais que assinalam a conquista da realidade, com o destino do sal. Mas é deles que o Cristo diz que são eficazes na precipitação de Satanás como um raio em céu sereno. Isso quer dizer que participam invisivelmente na criação e redenção. São esses que fundam um espírito sacerdotal como ele deve ser: uma causalidade só manifesta no efeito, um poder que só vem do coração e não do bastão.

Enfim, se ainda tens paciência, ainda te digo uma coisa mais. Espero que a tua segurança como sacerdote te venha de seres sentinela e não de seres cortesão. Sei que hoje vives um pouco inquieto quando ao modo de fundar o teu sacerdócio e a tua perseverança. Espero que não confies na placagem psicológica que tanto te pode vir da ala progressista como da conservadora. Não cedas ao impulso de apoucar a tua dignidade pela vulgaridade com que serves o povo de Deus nem de a tentar acrescentar pelos adereços, um pouco ridículos, de um passado que não foi nada do que parece. Com os olhos postos Naquele que é a cabeça da Igreja, nunca culpes o teu povo pela falta de fé e pela ausência na prática religiosa. Quanto mais sozinho estiveres na tua celebração mais te concentra na acção que realizas. Chora os teus pecados em vez de chorar os que julgas que são do povo que te é dado servir.

Aceita um abraço dos mais velhos que te saúdam fraternalmente.



“Carta a um jovem presbítero” do P. Jorge Teixeira da Cunha in Jornal Voz Portucalense (9 julho 2025)



Pe Jorge Teixeira da Cunha


sexta-feira, 18 de julho de 2025

LEÃO XIV RELANÇA A SINODALIDADE OFERECENDO PISTAS...



A Secretaria-Geral do Sínodo acaba de publicar "Pistas para a Fase de Implementação do Sínodo", apelando a trilhar o caminho iniciado por Francisco e confirmado por Leão XIV. Aos Grupos de Estudo canónico, teológico e pastoral, Leão XIV acrescentou mais dois grupos: um para refletir sobre "A liturgia em perspetiva sinodal" e outro sobre "O estatuto das Conferências Episcopais, das Assembleias Eclesiais e dos Concílios Particulares". A Secretaria-Geral garantirá "que as decisões do Papa, amadurecidas também a partir dos resultados desses Grupos, sejam harmoniosamente integradas ao caminho sinodal em andamento". Permanecerá à disposição de todos para ouvir, acompanhar, “animar o diálogo e a troca de dons entre as Igrejas”. Oferecerá, com base nas contribuições e perguntas recebidas, “mais estímulos e instrumentos” e compromete-se a ter sempre "a porta aberta" para ouvir as necessidades, intuições e propostas das Igrejas locais, para "facilitar" o seu trabalho e responder às solicitações de conteúdo e metodologias. Tudo fará para promover a escuta e o diálogo que levará toda a Igreja à Assembleia Eclesial de outubro de 2028, a essa importante ocasião "para compartilhar experiências de renovação de práticas e estruturas em sentido sinodal" e possam ser submetidas ao Papa para uma possível "validação definitiva".
O Documento enfatiza que, neste mundo, “preso numa espiral de violência e guerra sem fim, que luta cada vez mais para criar oportunidades de encontro e diálogo”, há mais do que nunca a necessidade de uma Igreja “sinal e instrumento” da “unidade de todo o gênero humano”. Recorda que muitas Igrejas locais estão a seguir “com entusiasmo” o caminho sinodal; outras, “ainda se perguntam como empreender a fase de implementação ou estão a dar os primeiros passos”. Importante é “avançar com coragem”, enfrentando resistências e dificuldades.
O Jubileu das Equipes Sinodais e dos Organismos de Participação, a realizar de 24 a 26 de outubro de 2025, será uma “oportunidade para construir laços, trocar experiências e nos sintonizar melhor”, procurando que “a ocasião de caminhar juntos fisicamente em direção à Porta Santa se torne uma oportunidade para trocar dons e celebrar aquela esperança que não desilude”. É sempre bom "experimentar práticas e estruturas renovadas" para tornar a vida da Igreja "cada vez mais sinodal". Assim, esta fase não é "uma espécie de exercício", "uma tarefa adicional solicitada por Roma", nem um momento para formular "hipóteses abstratas". Tampouco é um "retorno" ou "uma pura repetição do que já foi experimentado". Esta fase de implementação "faz parte da vida ordinária das Igrejas", devendo-se identificar "caminhos formativos para alcançar uma conversão sinodal tangível nas diversas realidades eclesiais". Nela devem participar homens e mulheres, na variedade de seus carismas, vocações e ministérios; pequenas comunidades cristãs ou comunidades eclesiais de base; paróquias, associações, movimentos; pessoas consagradas. Todos, pois "não pode ser um caminho limitado a um núcleo de adeptos". Importa "ampliar as possibilidades de participação e o exercício da corresponsabilidade diferenciada de todos os batizados". Deve envolver-se aqueles que até agora permaneceram “à margem” deste caminho, “pessoas e grupos de diferentes identidades culturais e condições sociais”, em particular os pobres e excluídos. De igual forma, deve haver um “cuidado especial” para “escutar aqueles que expressaram dúvidas e resistências”. O desejo é que se busquem “instrumentos de escuta” em diversos contextos e não apenas nas paróquias, mas, por exemplo, nas universidades, nos centros de escuta e acolhimento, nos hospitais e prisões, nos ambientes digitais.
O “primeiro responsável” pela fase de implementação em cada Igreja local é o bispo diocesano que deve recorrer a outras figuras e organismos, como os Conselhos presbiteral, pastoral, económico, e, sobretudo, às equipes sinodais diocesanas, cujo trabalho, na fase de consulta, foi “precioso”. Se não fizer parte, será “regularmente informado” sobre os trabalhos, reunindo-se com a equipa “quando for oportuno”. As equipas sinodais devem ser valorizadas, renovadas, reativadas ou criadas onde não existirem, devendo incluir “leigos, leigas, sacerdotes e diáconos, consagrados e consagradas de diferentes idades e portadores de diferentes culturas e modelos de formação”. Também deve ser avaliada a oportunidade de convidar representantes de outras comunidades cristãs ou religiões como “observadores”.
O Documento Final do Sínodo é um texto “rico e orgânico” cujo “conhecimento é essencial promover”, sendo “oportuno” proporcionar “momentos e/ou instrumentos de formação, acompanhamento e orientação na leitura”. Há nele “alguns pontos fortes”, como a “perspetiva eclesiológica”; o impulso ecuménico; a visão de um “diálogo” com outras tradições religiosas e a sociedade. Caminhando juntos como Igreja, as Igrejas locais devem “compartilhar os passos dados em algumas áreas específicas”, como, por exemplo, “o acesso efetivo a funções de responsabilidade e papéis de liderança que não exigem o Sacramento da Ordem por parte de mulheres e homens não ordenados, leigos e leigas, e consagrados e consagradas”. Recomenda-se que o método sinodal não se reduza "a uma série de técnicas de gestão de encontros", mas seja vivido, com esperança, como uma "experiência espiritual e eclesial que implica o crescimento num novo modo de ser Igreja".

D. Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 18-07-2025.

Sabedoria Popular: «DIZ-SE QUE DORMIR…»



Não é possível viver sem descansar e sem dormir. Já diz o povo que quem não pode repousar não pode muito durar, melhor sabe o descansar depois de muito trabalhar, quem suou na luta descansará na abundância e serviço feito descansa o peito. Diz-se, ainda, que bom sono e boa comida acrescentam a vida, o dormir é meio sustento, bom conselheiro e bom alimento e o sono é meia vida e outra meia a comida.

No entanto, deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer, à sombra da figueira não é bom dormir, arranja boa fama e deita-te a dormir, a abundância não deixa dormir o rico e na cama que farás nela te deitarás.

Na verdade, diz-se que não dorme bem quem tem inimigos, quem se deita a dormir acaba a pedir, quem tem demandas não dorme quando quer, quem dorme descansa e deixa descansar e dorme bem quem tem a consciência tranquila.

Por outro lado, a sabedoria popular afirma que bom comer traz mau dormir, depois do almoço deitar e depois da ceia passear, quem ceia e se vai deitar má noite há de passar, antes deitar sem ceia que acordar com dívidas e se queres enfermar, ceia e vai-te deitar.

Diz-se, também, que a quem dorme descansado dorme-lhe o cuidado, uma noite sem dormir são oito para a substituir, camarão que dorme, a onda o leva, dormir de janela aberta constipação quase certa, para muito sono toda a cama é boa, boca aberta ou sono ou fome certa, livro adquirido sono perdido e o sono é parente da morte.

Reconheçamos que quem dorme não peca, a dormir não se alcançam vitórias, quem mais dorme menos vive, quem muito dorme pouco aprende, quem muito dorme muito perde e muito dormir enfraquece, não dorme em paz quem tem culpa e quem quer dormir, paga a guarda.

De qualquer forma, quem não pode dormir acha a cama malfeita, quem dorme em pé ou dorme no chão não cai da cama, quem dorme com gato acorda arranhado, a quem dorme ou preguiça nunca lhe acode a justiça e dormirei e boas novas acharei.



Paulo Costa

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Os heróis, sem capa...



Não precisamos de ser heróis, de salvar o mundo. O valor de cada um, depende apenas do que é. As luzes não brilham pelo que fazem. As luzes brilham pelo que são.

Num mundo de grandes feitos, de marcas inigualáveis, esperam-se os heróis; aqueles que estão sempre em ação, a provarem o seu lugar.

Talvez, estejamos a olhar para o lado errado da luz.

Não precisamos de ser heróis, de salvar o mundo. O nosso valor não está apenas no que realizamos, está no que somos. Na empatia com que olhamos o outro. No silêncio e na presença que oferecemos para escutar.

Brilhamos, quando permitimos que a nossa essência se mostre. O brilho vem pela autenticidade, daquilo que cada um é.

Talvez, o mundo precise menos de heróis de capa, e mais de pessoas que simplesmente sejam. Pois ser, já é por si só, um ato de luz.

Boa semana!



Carla Correia

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Lavar o dia






“Basta a cada dia o seu problema”

(Mt 6, 34).



Tanto pode acontecer num dia e cada dia traz os seus desafios e bênçãos. Tomamos, mesmo sem dar conta, muitas e variadas decisões. Tudo acontece a uma velocidade estonteante que não temos tempo, na azáfama das nossas tarefas diárias, de processar tudo o que aconteceu. Os dias vão passando e nós nem nos apercebemos das maravilhas que continuamente fazes em nós. É pena, mas assim somos.

Hoje, por exemplo, imersa em arrumações, cada vez que pegava em mais do que uma coisa, as minhas mãos pareciam furadas porque caía sempre qualquer coisa. Ao fim de repetir esta proeza 2 ou 3 vezes comecei a perguntar a cada agachamento para apanhar o que caiu ao chão o que estavas a tentar dizer-me.

- Senhor, não percebo o que me estás a pedir. Explica de maneira que compreenda, por favor. Em parábolas, se quiseres. Aprecio a tua maneira astuta de nos contares estórias recorrendo a imagens e metáforas de coisas que nos são familiares. Gosto igualmente do modo como as tuas perguntas nos interpelam e desinstalam, como enigmas que precisamos de resolver para poder seguir em frente.

Dou-me conta, porém, que são demasiadas as vezes em que ouvimos sem escutar. Como é difícil calar os ruídos do nosso cérebro inquieto e apressado. Estamos desabituados, pelo menos por mim falo, a dedicar tempo ao silêncio, como se calar fosse o mesmo que morrer.

Em contrapartida, dá-me um grande prazer chegar a casa. Aquele momento em que suspiramos com a doce sensação de dever cumprido. Mais do que a alegria de entrar, deleita-me poder seguidamente lavar o dia.

- 'Lavar o dia?' Como é que se lava um dia?’

Lavar o dia é poder despir-me do dia que passou, lavando o corpo e, sobretudo, a alma. Tempo de rever e refletir, aceitar contritos as nossas falhas nos momentos em que não soubemos amar como tu. Mas é também oportunidade de agradecer os momentos em que humildemente servimos e amámos sem dizer à mão esquerda o que fez a direita (cf. Mt6, 3).

A água que vai caindo sobre mim faz-me lembrar a água do batismo que, ao mesmo tempo que lava os nossos pecados, torna-nos em ti filhos muito amados do Pai. A pensar na beleza da liturgia deste sacramento, dos seus símbolos e gestos, começo finalmente a silenciar os ruídos do quotidiano para escutar a tua voz.

- “Senhor é bom estarmos aqui” (Mt 17, 4). Como é bom lavar o dia contigo.

Por sua vez, a água que pelo ralo desaparece leva toda a sujidade em mim e liberta-me das preocupações do dia que passou para que, limpa e transfigurada, possa adormecer na tua paz e acordar na manhã seguinte entusiasmada com as possibilidades do dia que amanhece porque “basta a cada dia o seu problema” (Mt 6, 34).

- Bendito sejas, Senhor, pela paciência de lavares o dia comigo!



Raquel Dias

Cronista "Lavar o Dia"


terça-feira, 15 de julho de 2025

O que a vida não nos ensina



A vida não nos ensina a perder.

Não nos diz como nos despedimos. Não nos explica como fazemos o luto de um filho. De dois filhos.

Não nos explica nem nos deixa instruções sobre como continuar quando tudo se apaga. Quando as cortinas se fecham. As possibilidades se tornam estéreis e quando já não sabemos quem (ou o que) somos.

Não nos diz como continuamos quando tudo é difícil ou como se acendem velas quando, à nossa volta, desceu a maior escuridão.

Temos pouca literacia sobre a vida. Não nos foram dados manuais prévios ou preparatórios que nos munissem de ferramentas para navegar os dias.

Mas foi-nos dado o amor. Sem grandes explicações nem textos muito desenvolvidos. Foi-nos dado o amor. A capacidade de ver que o pequeno e o ténue pode tornar-se essencial quando não temos nada. A certeza de que a bondade supera o escárnio, a intolerância e a violência, se nos dispusermos a ver bem.

Foi-nos dado o amor e é essa a única coisa que nos salva e nos resgata. É o amor que nos dá lenha ao fogo que mora no coração. Que nos dá combustível para sobreviver. É por amor que vamos quando não sabemos por onde ir. É por amor que aguentamos quando não temos força para acreditar no Céu que desliza por cima das nossas cabeças.

É por amor que vale a pena viver. O amor de quem nos dá sem esperar receber. O amor de quem se entrega ao que vier. De quem nos vem salvar mesmo quando nem sabemos que precisamos. O amor de quem nos vê quando nem sabíamos que precisávamos de ser vistos.

É por amor que ficamos. Que partimos. Que nos gastamos sem saber que ainda tínhamos tanto para dar. É a única esperança que podemos ter quando tudo o resto parece distópico, estranho e sem rumo.

Só o amor permanece, quando tudo falha.

E se formos amor, que hipótese teremos de falhar?



Marta Arrais

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Vivemos com e para o Próximo…




«Esta palavra está perto de ti, para que a possas pôr em prática»


Hoje, Senhor Bom Pai,

Criador de todas as coisas e de cada um de nós,

recebemos da Tua Palavra a receita para o mais saboroso alimento:

a alegria plena para a nossa Vida!


Respiramos para Te louvar e anunciar

com uma Fé que se consegue tocar.

Caminhamos para Te encontrar

como Peregrinos de Esperança

que Te querem infinitamente amar.

Partilhamos Sorrisos, Pão e Luz

para levar Jesus a Todos e Todos a Jesus.


Trazemos no pensamento a compaixão do Samaritano

que não permite que a lei mate a Tua Caridade.

Sentimos a Tua Palavra latejar no peito como fogo que não se consome,

mas restaura e edifica uma humanidade nova.

Vivemos com e para o Próximo…


E tudo só nos é permitido construir,

quando a Tua Palavra e os Teus desígnios ganham forma humana…

quando o nosso coração se abre inteiramente a Ti!


Liliana Dinis

domingo, 13 de julho de 2025

O bom samaritano

 




Na palavra de Deus que nos é proposta neste décimo quinto domingo do tempo comum, ecoa uma questão fundamental para todos os homens e mulheres que se preocupam com o sentido da existência: o que devemos fazer para encontrar a vida eterna? As respostas que nos são oferecidas ajudam-nos a definir os caminhos que devemos percorrer ao longo da nossa peregrinação pela terra.

No Evangelho, Jesus ajuda um “mestre da Lei” a perceber que a vida deve ser construída à volta de dois eixos fundamentais: o amor a Deus e a compaixão pelo “próximo”. Para que as coisas fiquem perfeitamente claras, Jesus conta uma parábola que define claramente quem é esse “próximo”: é qualquer pessoa com quem nos cruzamos e que necessita do nosso cuidado, da nossa solicitude, do nosso amor. Quem vive guiado pelo amor caminha em direção à vida eterna.

Nas atitudes daquele “bom samaritano” a Igreja de todos os tempos (a comunidade dos que caminham ao encontro da salvação, da vida plena) reconhece o programa que Jesus lhe pediu que concretizasse: cuidar, tratar, curar todos os homens e mulheres que a vida maltrata ou que a sociedade rejeita e que se encontram caídos nas bermas da estrada que a humanidade percorre. A nossa comunidade cristã revê-se nesta missão? A Igreja de Jesus esforça-se realmente por ser um “hospital de campanha” onde são acolhidos e tratados os “feridos” que a marcha inexorável da história vai deixando para trás? Os homens e mulheres que a vida magoou encontram lugar à mesa da nossa comunidade paroquial ou religiosa, mesmo que tenham histórias de vida que não estão exatamente de acordo com as leis canónicas?

Na primeira leitura, Moisés lembra aos hebreus prestes a entrar na Terra Prometida que devem, em cada passo da sua vida e da sua história, escutar a voz de Deus, cumprir os preceitos e mandamentos que Deus lhes propôs, converterem-se a Deus com todo o coração e com toda a alma. Se o povo perseverar nesse caminho, encontrará vida e felicidade.A nossa vida de todos os dias decorre no meio de muito ruído, de muita confusão, de uma infinidade de “vozes” divergentes que nos apontam caminhos contraditórios. Por vezes temos dificuldade em distinguir a voz de Deus de outras “vozes” que procuram captar a nossa atenção e tomar conta da nossa vida. Convém estarmos atentos: nem todas as “vozes” que soam à nossa volta, às vezes numa gritaria estridente e manipuladora, estão interessadas em apontar-nos caminhos com sentido; nem todas as indicações que nos são dadas têm como objetivo a nossa plena realização. Quais são as “vozes” que escutamos e que seguimos? Em que medida elas contribuem para definir o sentido essencial da nossa existência?

Na segunda leitura, Paulo apresenta-nos um hino que celebra a grandeza universal de Cristo, aquele que tem soberania sobre toda a criação e que é a cabeça da Igreja. O hino exorta os crentes a fazerem de Cristo a sua referência e a viverem em comunhão com Ele. Por Cristo passa, indubitavelmente, o caminho que conduz à vida eterna.Paulo lembra aos cristãos de Colossos (e aos cristãos de todos os tempos e lugares) que só Cristo é capaz de lhes fornecer as pistas certas para que possam construir vidas repletas de sentido. Rosto visível de Deus no mundo, Palavra eterna do Pai, “primogénito” de todos os homens, “cabeça” da Igreja, “Caminho, Verdade e Vida”, Cristo é o eixo à volta do qual podemos construir e articular toda a nossa existência. Cristo está bem vivo nas nossas comunidades cristãs? Ele é o centro à volta do qual se organiza e estrutura toda a vida da Igreja? Cristo é a referência fundamental à volta da qual construímos as nossas vidas? As palavras e os gestos de Jesus são “verdades” que dão forma às nossas opções e que procuramos concretizar no nosso dia a dia?

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sábado, 12 de julho de 2025

Obrigada, Agradecia, Grata



Sabemos que as coisas más têm a tendência para se sobressair muito mais do que as coisas boas. Essas parece que se esvanecem com o sol, enquanto as coisas que não gostamos nos sobrecarregam as conversas. Dá-mos muita importância ao que nos pesa e incomoda e somos muito pouco gratos ao simples facto de aqui estarmos a usufruir do que dispomos.

Parece que caiu em desuso agradecer.

Agradecer mensagens.

Agradecer conversas.

Agradecer gestos.

Isso parece que foi substituído por meros emojis ou acenos.

Somos muito prontos a reparar no menos bom do que temos e até do que somos, e esquecemo-nos de agradecer quem nos atende, quem prepara a refeição, quem ensina os nossos filhos e todos os que contribuem para o dia a dia. Não falo apenas em ser grata apenas ao que tenho, possuo ou construí a pulso. Falo em agradecer às pessoas o contributo delas na nossa vida. Falo em agradecer o comentário, o gesto, a memória e os pequenos atos que juntos transformam-se em algo enorme.

Falo em agradecer aos que nos ensinam, orientam, aos que trabalham connosco, os que nos deram ser.

Falo em ser grata àqueles que nos estimulam e alimentam a nossa criatividade.

Falo em reconhecer o amor que temos ao nosso dispor e que recebemos gratuitamente.

Se calhar caiu em desuso, mas temos de o recuperar.

Temos de realçar o bom que temos, mesmo que isso nos exige um grande esforço mental. Aos poucos, conseguiremos reconhecer, sem grande esforço, que somos gratos a muitas mais coisas do que aquelas que nos perturbam.

Com humildade mas sem subserviência.

Com amor mas sem dependência.

Com o teu corpo e alma mesmo que às vezes não estejam em sintonia.

Por isso, hoje começa o teu desafio permanente: agradecer mais.

OBRIGADA.

E tu, amiga, a quem queres agradecer?



Raquel Rodrigues

sexta-feira, 11 de julho de 2025

SANTA TOSCANA E A ORDEM DE MALTA




Falar desta Santa é tornar presente a Soberana e Militar Ordem Hospitalar dos Cavaleiros de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta. Com a Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, são as únicas Ordens militares reconhecidas, histórica e juridicamente, pela Santa Sé. A História tem os seus caprichos, os seus tempos são o seu tempo que não se pode ler com os olhos de hoje. Não raro, é fruto amargo do eu é que sou e sei, quero, posso e mando. Filipe IV, o Belo, para suprir o fracasso da sua governança, falhou à beleza. Forjou e levou a cabo uma estratégia de descredibilização total dos Templários, cujos bens e poder lhe faziam sombra e invejava! Assim, após o Concílio de Vienne, em França, a Ordem dos Templários foi extinta pelo Papa Clemente V, em 1312. Impotente na sua posição e a viver em Avinhão, o Papa, embora contra a sua vontade, não teve outro remédio senão extingui-la.

Mas voltemos à Ordem de Malta, a essa organização internacional católica, leigo-religiosa. Como ordem religiosa, está ligada à Santa Sé, mas ao mesmo tempo é independente como sujeito soberano do direito internacional. Tem como Padroeiro São João Batista e invoca, com muita ternura e devoção, Nossa Senhora de Filermo. Após alguns anos de diligências, nasceu num pequeno hospício-enfermaria, fundado em Jerusalém, em 1099, junto à igreja do Santo Sepulcro, por iniciativa do Beato Gerardo, que veio a dar-lhe regras inspiradas em Santo Agostinho. Receber e cuidar os peregrinos da Terra Santa era o objetivo. Devido às vicissitudes da história, a Ordem mudou de nome e de lugar por diversas vezes. Tendo como carisma a defesa da fé e o serviço aos pobres, tornou-se em Ordem militar para defender os seus diversos centros de assistência. Ainda hoje socorre zonas de guerra e de desastres ambientais, procura estabelecer novos acordos de cooperação no campo da saúde e humanitário, presta serviços a idosos, deficientes, refugiados, crianças, a doentes terminais e a peregrinos, dirige hospitais, clínicas e centros de reabilitação espalhados pelo mundo, enfim, continua a construir a sua rica e bela história.
De Jerusalém e São João de Acre, a Ordem passa a ter a sua sede, sucessivamente, em Chipre, Rodes e Creta, até que, em 1530, se fixa em Malta, onde permaneceu até 1798, data em que, pela invasão de Napoleão, e fiéis aos seus princípios, abandonam a ilha e o seu carácter militar. Durante sete anos, sediou-se em vários lugares de Itália, até que se fixou em Roma, onde mantém a sua sede e governo central. O seu estandarte, com uma cruz branca sobre um fundo vermelho, ainda em vigor, é, provavelmente, assim o li, a mais antiga bandeira territorial do mundo. E o hábito negro com a cruz branca oitavada, ainda hoje usado pelos Cavaleiros da Ordem nos atos litúrgicos, remonta a 1248. A cruz de oito pontas, que simboliza a Ordem, representa também as oito bem-aventuranças, é o sinal concreto e exterior da sua espiritualidade. Reconhecida como Estado Soberano de Direito Internacional, mantém relações diplomáticas com 115 países, além de ser reconhecida por grande número de organizações internacionais, como as Nações Unidas e a União Europeia. Está presente na Europa, África, Ásia, América e Oceania. Tem uma estrutura similar à dos governos estaduais, mas inclui características específicas associadas à sua natureza como Ordem religiosa leiga, bem como conserva uma terminologia desenvolvida ao longo dos seus nove séculos de história.
Preside à Ordem de Malta, com sede no Palácio Magistral, em Roma, o Grão-Mestre, eleito entre os Cavaleiros Professos com votos perpétuos. Atualmente, Fra' John Dunlap, canadiano, é o Grão-Mestre da Ordem, o primeiro Cavaleiro Professo das Américas a ser eleito para a liderar. Como tal, é chefe de uma entidade soberana, com reconhecimento das prerrogativas, imunidades e honras reservadas aos Chefes de Estado por aqueles países com os quais a Ordem mantém relações diplomáticas. É também chefe da Ordem religiosa, gozando, no protocolo oficial, do grau de cardeal. É auxiliado pelo Soberano Conselho eleito por um período determinado, cabendo-lhes o poder legislativo para assuntos não-constitucionais e o poder executivo. O judicial cabe aos Tribunais da Ordem e o que diz respeito às regras constitucionais, ao Capítulo Geral. Já conta 81 Grão-Mestres, 8 Lugar-Tenentes do Grão-Magistério, 5 Lugar-Tenentes do Grão-Mestre e 5 Lugar-Tenentes Ad Interim. A sua Carta Constitucional e o Código Melitense, contêm o essencial da sua organização jurídica e funcional. Sendo considerada um Estado sem fronteiras, segue a legislação dos países em que está instalada. Em Portugal, começou por estar presente em Leça do Balio, possivelmente desde 1122, tendo prestado importantes serviços à fundação da nacionalidade. Depois da sua sede em Leça do Balio, teve grande importância o Priorado do Crato. O Superior da Ordem dos Hospitalários, denominado Prior do Hospital, a partir de D. Afonso IV passou a ser denominado ‘Prior do Crato’, com dignidade quase episcopal e com jurisdição civil e criminal.
Da extinção e arresto dos bens das Ordens religiosas em Portugal, em 1834, renasceu, mais tarde, em 1899, a Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem Soberana e Militar de Malta, a única herdeira das tradições hospitalárias e assistenciais dos Hospitalários em Portugal. É presidida por Dr. António Luís Calheiros de Noronha de Almeida Ferraz e o seu Conselho. Tem membros em todos os seus graus ou classes, sendo leigos a maioria dos cavaleiros e damas. No plano nacional, esta ‘Associação’, é uma pessoa coletiva de Direito Privado Português. No plano internacional faz parte da Ordem Soberana e Militar de Malta, pessoa jurídica que goza de qualidade de sujeito de Direito Internacional e da condição de Ente Soberano, com a qual Portugal mantém relações diplomáticas, sendo o Dr. Giuseppe Maria Nigra o atual Embaixador. Associa ainda um dedicado Corpo de Voluntários em trabalho humanitário, assistencial e caritativo, sendo bem conhecido, sobretudo pelo apoio dado, na estrada, aos peregrinos de Fátima e de Santiago de Compostela. Desde a sua fundação, a Associação tem desenvolvido permanentes esforços no sentido de desenvolver iniciativas assistenciais em território português, bem como nos países africanos de língua oficial portuguesa. Há um Acordo bilateral de Cooperação entre Portugal e a Ordem Soberana e Militar de Malta, em que se estabelecem as bases de cooperação entre os dois sujeitos de Direito Internacional. Existem ainda os Estatutos da Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem, reconhecidos e confirmados pelo Soberano Conselho, em Roma, e redigidos também segundo a lei portuguesa, enquanto Instituição Particular de Solidariedade Social. Estão publicados no Diário da República. Tem a sua sede na igreja, e anexos, de Santa Luzia e São Brás, em Lisboa. A Revista Filermo é o seu órgão cultural e informativo.
Quatro portugueses foram importantes Grão-Mestres: Fernando Afonso de Portugal, de Coimbra, 1203-1206; Luís Mendes de Vasconcelos, de Évora, 1622-1623; António Manuel de Vilhena, de Lisboa, 1722-1736; e Manuel Pinto da Fonseca, de Lamego, 1741-1773. Por duas vezes (2020 e 2022), Fra’ Ruy Gonçalo do Valle Peixoto de Villas Boas, de formação em Engenharia Química-Industrial, exerceu, em Roma, o cargo de Lugar-Tenente Ad Interim. Devido ao apreço que a Ordem por ele nutre, pela sua dedicação e serviço, tem sido eleito pelo Soberano Conselho para o exercício de vários cargos, tendo recebido a Ordem pro-Mérito Melitense nos graus de Comendador, de Grande-Oficial e de Grã-Cruz. Em novembro de 2021, foi elevado à categoria de Bailio Grã-Cruz de Justiça. De sua autoria, a Ordem acaba de publicar uma apreciável obra, em que, para além de outros dados importantes, nos apresenta o Rol dos Cavaleiros ou Membros Inscritos na Língua Portuguesa da Ordem, do século XII ao XIX; o Rol das Maltesas inscritas na Língua Portuguesa, desde 1519 a 1878; o Rol dos Governadores do Hospital do Priorado de Portugal, que foram 73, terminando por um decreto logo após a convenção de Évora Monte, em maio de 1834; o Rol dos Grão-Mestres Portugueses da Ordem, que foram quatro; o Rol das várias Comendas da Ordem em Portugal e uma numerosa bibliografia.
Voltando ao título deste texto, Santa Toscana nasceu em Zevio, Verona, em finais do século XIII. Contraiu matrimónio e ficou viúva muito jovem. Dedicou-se, com todas as suas forças e bens, a cuidar dos doentes, a prestar assistência aos pobres e aos abandonados. Conhecedora da Ordem de São João de Jerusalém, é nela aceite. Extenuada, mas de consciência tranquila e feliz, faleceu em Verona a 14 de julho de 1343, dia em que é celebrada. Foi sepultada na igreja do Santo Sepulcro de Verona, ao lado do hospital onde trabalhou com grande dedicação e ternura. Faz parte do vasto número de Beatos e Santos da Ordem de Malta, que tem como propósito, em comunhão com o Santo Padre, a promoção da glória de Deus através da santificação dos seus membros, do serviço à fé e ao próximo.


D. Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 11-07-2025.

O sentido no parar...



O sentido no parar...

É no parar que a vida ganha sentido, que a vida ganha um novo movimento.
O parar abre espaço. Dá-nos tempo e novas perspectivas. Permite-nos ver com mais clareza e redescobrimos a direção.

Nos dias de hoje, a sociedade valoriza as respostas imediatas, o sucesso, a produção... quer tudo no menor tempo possível. E assim andamos, "piloto automático".

Mas na verdade, o tudo que vibra dentro de cada um é vida. Não nos podemos afastar da essência da nossa alegria. A única que importa. O dom de viver.


Parar não é desistir. É escutar, é olhar para dentro. Perceber o que realmente importa. Silenciar o mundo é ouvir o nosso coração. A direção que ele nos indica. A vida que se expressa.

A pausa não interrompe o caminho. Orienta.

Permite(te) parar.

Boa semana!


Carla Correia

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Um grito de raiva a um Deus “distante”?



Nos últimos dias, vivemos a experiência forte da morte de alguém famoso. Tenho recordado com frequência em orações e reflexões pessoais a morte de tanta gente que me é querida. Recordo com frequência as mães que perderam os seus filhos, a começar pelas minhas avós...

São as circunstâncias naturais da vida que simplesmente acontecem, mas que deixam uma marca profunda em mim e me ensinam algo mais sobre a vida, a sua beleza, a sua preciosidade.

Recordo uma mãe que perdeu o seu filho, exatamente há 50 anos. As décadas passam, mas o amor permanece. Uma mãe cujo filho morre não se resigna e ainda hoje sente a dor como no dia em que o fruto do seu ventre partiu. Talvez tenha conseguido reinterpretar a tragédia que a atingiu de outra forma, mas o seu coração tem uma ferida que não cicatriza.

Conheço várias pessoas a quem a vida exigiu forças para enfrentar esta dor. Não tenho respostas fáceis para lhes oferecer e, mesmo que tivesse, teria muito cuidado para não o fazer!

Portanto, não ensinei nada a estas pessoas, mas aprendi, e como aprendi. Ensinam-me a beleza do amor, de um amor que continua em forma de memória e de oração, da Doçura Divina que consola, da fé que não tira o sofrimento, mas mostra o caminho para o ultrapassar.

Quando a morte envolve a nossa vida, privando-nos dos nossos afetos mais queridos, vivemos todo o seu drama. Em certas situações, até a fé parece já não ser suficiente e o tão desejado consolo corre o risco de parecer uma miragem. Quase incrédulos e perdidos, apercebemo-nos de que a morte é verdadeiramente a maior inimiga do homem! Assim, questões profundas surgem na nossa mente: Estamos realmente destinados a perder-nos no nada? Porquê amarmo-nos, se depois temos de nos separar de forma tão dolorosa?

A Palavra de Deus, porém, não nos abandona nestas passagens dolorosas da existência. São Paulo, por exemplo, é-nos de grande ajuda quando escreve:

«Ó morte, onde está agora a tua vitória? Onde está o aguilhão? O poder da morte é o pecado e o que dá poder ao pecado é a lei. Graças a Deus que nos deu a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo!» (1 Coríntios 15, 55-57).

Rezo por estas mães e pais que me ensinam a transformar a dor em amor. Sim, voltarão a ver os frutos do seu amor, lá onde Deus os guarda, lá onde ninguém os pode separar para sempre.


p.s.: Por Itália, sábado dia 5, a notícia do suicídio do padre Matteo Balzano de 35 anos. Nada se sabe sobre os motivos que levaram um jovem sacerdote descrito como entusiasmado e dedicado ao ministério a este gesto extremo.

«Rezemos por padre Matteo, jovem sacerdote que deixou esta vida. Que o Senhor lhe dê a paz, a misericórdia e a luz eterna. E que acompanhe com amor todos os sacerdotes que carregam fardos invisíveis no seu coração.»


Paulo Victória


quarta-feira, 9 de julho de 2025

Quem espera pela inspiração, nunca começa!




Criar exige esforço. Cuidar exige dedicação. Não se chega a nenhum fim sem que se comece e se tenha de fazer um caminho com mais ou menos obstáculos.

Começar e acabar tudo num só gesto é impossível. Quem o procura frustra-se e chega a julgar-se sem dom. No entanto, importa que quem se dedica a algo tenha a humildade de se dispor a aprender, se faça capaz de abrir o coração e a razão ao que é necessário. E quase sempre é necessário errar… e desgastar-se com coisas que parecem mesmo desnecessárias. Não são.

O processo de criação envolve várias fases, sendo que lançar-se no vazio, arriscando uma queda, é a base essencial. Tudo tem um começo, quem não começa, nunca fará coisa alguma.

Mas como se chega a uma obra-prima? Dizem os génios que é preciso aprender e errar muito, que é preciso pôr-se em causa quase tudo… e que, apesar de tudo isso, é preciso insistir. Acreditar que, apesar de todos os fracassos, havemos de chegar a algum bom resultado. E é assim que, relatam os mestres, muitas vezes até com alguma surpresa – talvez devida ao cansaço – se constata que já se chegou a algo bom.

O resultado pode ser tão bom que se chega a pensar que todos os sacrifícios foram um preço baixo, mais, que cada uma das adversidades foi necessária para que o resultado fosse aquele. A obra-prima é, afinal, uma espécie de via-sacra que alguém se dispôs a fazer, sem saber que estações e fim o esperam.

É um entusiasmo estranho este de quem não só quer cumprir-se, mas sabe como o fazer.

Muitos são os que querem, mas não sabem. E o caminho para ficar a saber é longo, sempre muito longo… demasiado longo para muitos.

Quantos não se apercebem disso mesmo antes de dar o primeiro passo e desistem nesse instante… mesmo antes de começar!

Faz o que tens a fazer. Começa. Deus ajudar-te-á enquanto trabalhas, mas sem que te consigas aperceber d’Ele. Só depois, quando por fim admirares o resultado, vais identificar o que é da tua responsabilidade e o que não o é — sendo que Ele nunca reclama direitos de autor!




José Luís Nunes Martins

terça-feira, 8 de julho de 2025

Há uma delicadeza silenciosa na simplicidade da vida...




Há uma delicadeza silenciosa na simplicidade da vida...


Uma beleza subtil que escapa ao olhar apressado, ao coração ansioso por grandes feitos ou conquistas ruidosas. Buscar a simplicidade é, muitas vezes, um ato de coragem — porque exige renúncia, escuta e uma entrega profunda ao essencial. Trata-se de sermos mais... mais presentes, mais inteiros, mais verdadeiros.

Mas há dias, vários, em que sabemos que isso não basta. Que aquilo que dizemos aos outros cheios de boas intenções, nem sempre conseguimos aplicar na nossa vida. Sabemos que o caminho certo é o do amor, da paciência, da compaixão, da verdade. Sentimos o que a alma nos sussurra em silêncio, a indicar o caminho e mesmo assim... resistimos.

Talvez crescer seja também compreeder que nem sempre conseguimos viver o que é certo, mas sim o que é humano. E que é nesse humanidade, entre o que é real e o que é possível, que existe o espaço sagrado de crescimento e amor por nós mesmos.

A forma como acolhemos cada instante, como escolhemos o que vive e ganha espaço, como aceitamos continuar a percorrer o caminho mais bonito e mais inteiro, talvez seja a vida simples e humilde que procuramos viver dentro de nós.

Boa semana!



Carla Correia

segunda-feira, 7 de julho de 2025

«Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos.»




«Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos.»



Vou!

Vou, porque vou conTigo.

Sei e sinto que estás em mim,

em cada gesto de amor que semeio no coração de quem sofre.


Vou!

Em Paz e sem receio ao encontro de uma nova Jerusalém,

onde a Terra inteira aclama o Senhor,

com cânticos, com oração sincera, com silêncio profundo, com Temor a Deus que me faz crescer.


Vou!

Trago comigo a alegria da Cruz.

a certeza de que a Tua Ressurreição faz de mim Peregrino de Esperança,

com uma Fé inabalável nos desígnios Daquele que tudo sabe e tudo provém.


Vou!

Livre…

Levar Jesus a Todos e Todos a Jesus.

Vou…



Liliana Dinis



domingo, 6 de julho de 2025

O Envio

 



Nas leituras litúrgicas do décimo quarto domingo do tempo comum prevalece a temática do “envio”: Deus escolhe pessoas, confia-lhes uma missão e envia-as ao mundo e aos homens. Esses “enviados” atuam em nome de Deus e são chamados a testemunhar, no meio dos seus irmãos, o projeto que Deus tem para os homens e para o mundo.

O Evangelho conta que Jesus, quando se dirigia para Jerusalém, enviou setenta e dois discípulos à sua frente, “a todas as cidades e lugares aonde Ele devia de ir”. A missão desses discípulos é a mesma de Jesus: propor a Boa Nova do Reino de Deus e “curar” todos os que estão feridos pela dureza da vida ou pela maldade dos homens. Pela ação dos “enviados” de Jesus, concretiza-se a vitória do Reino de Deus sobre tudo aquilo que oprime e escraviza os seres humanos.O anúncio do “Reino” não se esgota em palavras, mas deve ser acompanhado de gestos concretos. “Quando entrardes nalguma cidade, curai os doentes que nela houver” – pede Jesus aos discípulos. “Curar” é libertar os homens e mulheres que são prisioneiros da injustiça, da prepotência dos grandes, da exploração dos poderosos; “curar” é limpar, através do amor, as feridas que deixaram marcas no corpo e no espírito dos sofredores; “curar” é acolher aqueles que são desprezados, ignorados e abandonados pela sociedade e pelas igrejas; “curar” é tratar como irmãos os “diferentes”, os desadaptados, os que assumem atitudes ou comportamentos pouco ortodoxos; “curar” é cuidar de cada homem ou cada mulher que encontrarmos caído na berma da estrada da vida. Sentimo-nos enviados de Jesus a “curar” as feridas dos irmãos e das irmãs com quem nos cruzamos todos os dias?

Na primeira leitura um profeta anónimo, enviado aos desanimados habitantes de Jerusalém, proclama o amor de pai e de mãe que Deus tem pelo seu Povo. O profeta é sempre um “enviado” de Deus, através do qual Deus consola os seus filhos, liberta-os do medo e acena-lhes com a esperança do mundo novo que está para chegar.Deus, pela boca do profeta, convida os “filhos de Jerusalém” à alegria. Quem é amado como eles, não pode deixar-se abater pela tristeza, pela angústia e pelo medo. O amor de Deus pelos seus filhos é infinitamente mais forte do que a maldade, a mentira, o sofrimento, as desgraças que nos atingem em alguns passos mais escuros do caminho que percorremos. Nós, filhos queridos e amados de Deus, vivemos iluminados pela alegria, ou acabrunhados sob o peso da angústia? Testemunhamos alegria e esperança no meio dos nossos irmãos?

Na segunda leitura o apóstolo Paulo indica, a partir da sua própria experiência, qual deve ser a primeira preocupação do “enviado” de Jesus. No centro do testemunho de qualquer “enviado” deve estar a cruz de Jesus: a maneira como Ele amou, até ao extremo de dar a vida por todos. Paulo, no que lhe diz respeito, tem procurado concretizar essa missão. Provam-no as feridas que recebeu por causa do seu serviço ao Evangelho.A propósito da reflexão feita por Paulo sobre os “títulos de glória” que devem interessar a um discípulo de Jesus, podemos questionar-nos sobre os valores sobre os quais construímos o nosso projeto de vida. Os influenciadores e os líderes da opinião pública dizem-nos todos os dias a que valores devemos agarrar-nos para ter êxito, para ser socialmente considerado, para triunfar… Sabemos, no entanto, que em muitos casos esses valores estão em flagrante contradição com o Evangelho de Jesus. Quais são os “títulos de glória” a que damos apreço? Quais os valores sobre os quais alicerçamos a construção da nossa vida?



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