sexta-feira, 18 de setembro de 2015

«Não pode deixar de nos preocupar a todos a debandada da juventude...»

«Não pode deixar de nos preocupar a todos a debandada da juventude...»



Esta frase demonstra bem o conhecimento que o Papa Francisco tem, da realidade portuguesa e, também, Europeia. Mostrou esta sua preocupação aos Bispos Portugueses aquando da visita Ad limina apostolorum, e voltou a salientar na entrevista à Aura Miguel da Rádio Renascença.


Nestes dias, que são de inicio de um novo ano letivo, dei por mim a pensar se os meus alunos de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), seriam em igual valor aos do ano passado? Se algum dos que foram, teriam abandonado a disciplina? Só terei uma resposta cabal, no final desta semana. Mas a preocupação bem denota no Santo Padre, deixou-me preocupado... Que tipo de abordagem da fé, tenho eu nas minhas aulas? Sou testemunha daquilo que acredito? Cristo vive em mim? Contribuo para esta debandada? Não me faço estas perguntas apenas como professor de EMRC, mas também, como cristão na minha vida pessoal e social...


Se até aos finais dos anos 80 e inícios de 90, filho de dois batizados, seria batizado e frequentarias as aulas de Religião e Moral, hoje, já não se passa o mesmo... Assistimos a uma mudança cultural e a uma verdadeira descontinuidade com as gerações anteriores. Estamos de fronte a uma quebra entre gerações e a sua cultura. Quer queiramos ou não, e usando uma expressão tão querida de Francisco, enfrentamos uma fratura da "memória", da memória cristã! Tantos pais, para não "perder" os filhos, têm um certo receio ou medo de dizer o que sentem perante escolhas ou ações que "ferem" a vida cristã.


O que fazer?

Antes de mais, é necessário um olhar realista. Olhar para as coisas como elas são e não para aquilo que nos ilude ou que gostaríamos que fosse. É preciso pensar a identidade dos jovens, não como um dado adquirido de uma vez por todas, mas como caminho, que nas condições atuais, pode durar a vida toda. E pode tratar-se de um caminho cheio de curvas, com aproximações e afastamentos.


Os jovens não são inertes nem pessoas indiferentes. Eles vivem num "campo de forças"; numa tensão constante entre a vontade de acreditar e a dificuldade de decidir-se no que diz respeito ao crer; entre a atração que sentem pelo discurso religioso e o fascínio que exercem as visões laicas e fechadas ao transcendente, que até parecem mais adultas.


Aquilo que, na minha opinião, me parece mais certo, é que saímos de uma lógica pela qual, a instituição Igreja, goza de um reconhecimento à priori - pelo qual basta apenas obedecer áquilo que ela diz, caso contrário fica-se com o sentimento de culpa. As afirmações do Magistério são submetidas à avaliação pessoal, que se podem aceitar ou não.


Francisco disse-o na entrevista já citada: «Os jovens são mais informais e têm o seu próprio ritmo. Temos de deixar que o jovem cresça, temos de o acompanhar, não o deixar sozinho, mas acompanhá-lo. E saber acompanhá-lo com prudência, saber falar no momento oportuno, saber escutar muito. Um jovem é inquieto. Não quer que o incomodem e, nesse sentido, pode-se dizer que “o vestido da primeira comunhão não lhes serve”.

Passamos de um tempo, em que nascer em certas zonas geográficas simbolizava ser católico romano, para um tempo, em que se escolhe em liberdade, não só, se se quer ser católico, bem como, de que forma é que o será. E parece-me que isto não será passageiro...


«Por isso, há que procurar aquilo que atrai um jovem e exigir-lho.» disse ainda o Papa. A catequese, o Magistério, não pode ser apenas teórico. É necessário que o jovem se envolva; se sinta comprometido...


João Paulo II falava da necessidade de fazer da Igreja um grande laboratório da fé onde a inteligibilidade da fé, a liturgia e a moral tenham papel preponderante. Francisco na entrevista fala de três linguagens, de três idiomas: "o idioma da cabeça, o idioma do coração e o idioma das mãos."


Para comprometer os jovens precisamos, nas palavras de Francisco de: «Três linguagens: pensar o que se sente e o que se faz, sentir o que se pensa e o que se faz, fazer o que se sente e o que se pensa. (...) Há que procurar uma metodologia da catequese que junte as três coisas: as verdades que se devem crer, o que se deve sentir e o que se faz, o que se deve fazer, tudo junto.»





Paulo Victória


Cronista

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