quinta-feira, 7 de abril de 2016

A TUA PEREGRINAÇÃO


Paulo Paiva em iMissio

Peregrinar não é apenas andar pelos campos, como o próprio nome indica. Aliás, peregrinar não é apenas caminhar. O truque é perceber que há quem viva numa peregrinação permanente. Sem dúvida, hoje, esta é uma prática muito frequente. Quem ainda não fez uma peregrinação?

Um livro biográfico do Pe. Vítor Feytor Pinto, coordenado por Maria Antónia Vasconcelos, tem o título O Caminho faz-se caminhando, e demonstra como a própria vida é um caminho a percorrer.

O Pe. Vasco Pinto de Magalhães também apresenta conselhos preciosos para o caminho da vida no livro Não há soluções, há caminhos, como que a sugerir que na vida, não há receitas nem fórmulas predefinidas para ultrapassar as dificuldades, mas que, para cada vida, o seu discernimento.

Descobri à dias, numa partilha de um vídeo na internet de Malala Yousafzai, a menina paquistanesa atingida pelo exército talibã que exigiu na sede das Nações Unidas que todas as crianças no mundo devem ter direito à educação (meses mais tarde tornou-se na mais jovem premiada do Nobel, e logo o Nobel da Paz.) No vídeo perguntaram-lhe sobre qual era o seu livro preferido, e ela respondeu O Alquimista, de Paulo Coelho. Achei interessante, pois este não é um livro erudito e clássico, mas um livro que fala de uma peregrinação pelos caminhos de Santiago, um livro que fala de um caminho de descoberta, de experiências, de evolução pessoal. Claro, não apoio nem pretendo enaltecer o esoterismo do livro, contudo, ele não deixa de ser um livro cativante de iniciação ao sagrado.

Parecido com este, li em tempos outro livro de uma outra peregrinação. Relatos de um peregrino russo, de autor anónimo. Esta obra fala de um homem que num domingo comum entra numa igreja para rezar. Contudo, é surpreendido naquele momento pela leitura de uma das cartas de Paulo aos Tessalonicenses, que dizia que era preciso rezar sem cessar. Esta exortação levou-o a questionar como seria possível rezar sem cessar. Seria uma tarefa impossível, pois para além de rezar é necessário nem que seja, comer e dormir. Como podia Paulo pedir para rezar sem cessar? O livro conta, então, o seu caminho de mosteiro em mosteiro à procura de respostas, na descoberta da “Oração do Coração”, o relato das suas experiências espirituais. Em suma, também este é um livro de iniciação ao mundo espiritual da oração, e também muito cativante.

Um outro caminho de descoberta, é relatado em Confissões, primeira pessoa por Agostinho. Este é um homem que viveu na passagem do século IV para o V, mas cuja história de vida é muito semelhante aos nossos dias. Agostinho procurava por Deus, queria encontrá-lo, queria descobrir a verdade, saber como alcançar a paz, a verdadeira paz. Foi de seita em seita, de movimento em movimento, até que um dia, também ele, entrou numa igreja, a catedral de Milão e escutou o bispo Ambrósio. As homilias de Ambrósio iluminaram o espírito de Agostinho cujos olhos se foram abrindo. Escreve ele nas confissões: «Onde estava eu quando te procurava? Estavas diante de mim, e eu até de mim mesmo me afastava, e se não encontrava nem a mim mesmo, muito menos podia encontrar-te a ti» (2,2). Agostinho converteu-se muito tarde ao cristianismo. No entanto, foi bispo em Hipona (hoje Annaba, na Argélia), e é considerado Padre da Igreja. Escreveu inúmeras obras cristãs, muito importantes para a fé e a teologia cristã.

Ora, todos estes caminhos são preciosos. Para além de aprendermos muito com eles, eles abrem-nos horizontes para o nosso próprio caminho e daqueles que caminham connosco.

Há, claro está, um último caminho que menciono, de alguém para quem caminhar era o seu dia a dia. Trata-se do último caminho de Jesus, o nazareno. Aquele que foi do jardim das oliveiras para o Sinédrio, daqui para o Pretório, depois para o Palácio, e de novo ao Pretório com uma passagem pelo cárcere, e por fim, com uma viga de madeira às costas, até ao Golgotá (ou Calvário) onde foi crucificado.

Aprendemos de todos os caminhos. Mas este fica para sempre na memória.

Não julguemos ninguém. Não sabemos em que fase do caminho estão. Ajudemos sim, a percorrer o caminho. Esta é, creio, uma das tarefas mais atuais de quem é catequista, seja com adultos, seja com crianças e jovens.

Qual é a tua peregrinação?

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