segunda-feira, 25 de abril de 2016

«O amor é o bilhete de identidade do cristão»


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O papa Francisco afirmou este domingo, no Vaticano, perante mais de 70 mil jovens de todo o mundo reunidos para o Jubileu dos Adolescentes, no contexto do Ano da Misericórdia, que «o amor é o bilhete de identidade do cristão».

«É o único "documento" válido que permite o reconhecimento para sermos reconhecidos como discípulos de Jesus. Se este documento perde a validade e não se volta a renová-lo, deixamos de ser testemunhas do Mestre», declarou na homilia da missa, a que preside neste momento.

«O verdadeiro amigo de Jesus distingue-se essencialmente pelo amor concreto que brilha na sua vida. Quereis viver este amor que Ele nos dá? Procuremos então frequentar a sua escola, que é uma escola de vida, para aprender a amar», acrescentou.

Amar, prosseguiu Francisco, «quer dizer dar, e não só coisas materiais, mas algo de nós mesmos: o próprio tempo, a própria amizade, as próprias capacidades».

Em todas as circunstâncias da vida, mesmo naquelas em que Deus está distante, Ele oferece «uma amizade fiel»: «Mesmo se o dececionas e te afastas dele, Jesus continua a amar-te e a permanecer junto de ti, continua a crer em ti mais de quanto crês tu em ti próprio».

«Isto é muito importante! Pois a principal ameaça, que impede de crescer como se deve, é ninguém se importar de ti, é quando sentes que te deixam de lado. Ao contrário, o Senhor está sempre contigo e sente-se contente em estar contigo», vincou o papa.

Numa idade em que surge, «de modo novo», o desejo de se afeiçoar e receber afeto, a referência a Deus ajudará a tornar ainda mais bela ternura: «Querer bem sem me apoderar, amar as pessoas sem querer possuí-las, mas deixando-as livres».

«De facto, existe sempre a tentação de poluir o afeto com a pretensão instintiva de agarrar, "possuir" aquilo de que se gosta. A própria cultura consumista agrava esta tendência. Mas, se se aperta muito uma coisa, esta mirra-se, estraga-se: depois fica-se dececionado, com o vazio dentro. Se ouvirdes a voz do Senhor, revelar-vos-á o segredo da ternura: cuidar da outra pessoa, o que significa respeitá-la, protegê-la e esperar por ela», assinalou.



O que é a liberdade?

A adolescência é também um período marcado por grande «desejo de liberdade», e muitos creem que «ser livre significa fazer aquilo que se quer», mas «é preciso saber dizer não» a esse modo de pensar.

«A liberdade não é poder fazer sempre aquilo que me apetece: isto torna-nos fechados, distantes, impede-nos de ser amigos abertos e sinceros; não é verdade que, quando eu estou bem, tudo está bem. Ao contrário, a liberdade é o dom de poder escolher o bem: é livre quem escolhe o bem, quem procura aquilo que agrada a Deus, ainda que custe. Mas só com opções corajosas e fortes é que se realizam os sonhos maiores, os sonhos pelos quais vale a pena gastar a vida», apontou.

Francisco desafiou também os adolescentes a resistirem à cultura dominante: «Não vos fieis de quem vos distrai da verdadeira riqueza que sois vós, dizendo que a vida só é bela se se possuir muitas coisas; desconfiai de quem quer fazer-vos crer que valeis quando vos mascarais de fortes, como os heróis dos filmes, ou quando vestis pela última moda. A vossa felicidade não tem preço, nem se comercializa; não é uma "app" que se descarrega do telemóvel: nem a versão mais atualizada vos poderá ajudar a tornar-vos livres e grandes no amor».

«Quando parece exigente amar, quando é difícil dizer não àquilo que é errado, erguei os olhos para a cruz de Jesus, abraçai-a e não largueis a sua mão que vos conduz para o alto e vos levanta quando caís», apelou o papa.

«Fazei como os campeões desportivos, que alcançam altas metas treinando-se, humilde e duramente, todos os dias. O vosso programa diário sejam as obras de misericórdia: treinai-vos com entusiasmo nelas, para vos tornardes campeões de vida! Assim sereis reconhecidos como discípulos de Jesus. E a vossa alegria será completa», concluiu.



Viver sem Jesus é como se não ter rede no telemóvel

No sábado, houve confissões, peregrinações e procissões até à Porta Santa da basílica de S. Pedro e, à noite, a dança e os concertos de música rap no estádio olímpico de Roma. O dia foi marcado pela surpresa de ver o papa Francisco a confessar, em plena Praça de S. Pedro.

Foram 16 os jovens que tiveram a oportunidade de estar face a face com Bergoglio no sacramento da Reconciliação. Entre estes estava Francesco, que estava pronto para se ir confessar com determinado padre, dos 150 que estavam na praça, mas quando viu o papa a chegar, foi aconselhado a ir confessar-se a ele. «O papa dirigiu-me palavras respeitantes ao facto de ajudar os mais frágeis e de não utilizar, absolutamente, a prepotência. De fazer da humildade uma das minhas qualidades. E ser forte porque sou humilde, e não porque uso a prepotência», contou à TV2000, a estação da Conferência Episcopal Italiana.

Igualmente emocionada estava Letizia, da cidade italiana de Perugia, que quando ficou a sós com o papa não conseguiu conter as lágrimas. «Foi tudo muito belo mas o que mais me abalou foi toda o conjunto de sentimentos, de pensamentos e de palavras que de repente se abateram sobre mim. Logo que me aproximei de Francisco e me sentei ao pé dele, com a emoção, a tensão e com o que tinha para lhe dizer, irromperam-me as lágrimas. E então ele disse-me: não te quero ver assim tão triste, sobretudo porque é belo ver sorrir os jovens da tua idade. Depois perguntou-me de onde vinha. E eu disse-lhe que vinha de Perugia. E ele respondeu-me: ah, a cidade onde são feitos os bombons "Baci"!».

Terminadas as confissões, o papa reentrou na sua residência, na Casa de Santa Marta. «Um dos dias mais belos da minha vida. Obrigado, Papa Francisco», escreveu no Twitter o cantor de rap italiano Rocco Hunt, publicando uma "selfie" com Bergoglio. O também "rapper" Moreno, igualmente com uma fotografia com o papa, comentou no Instagram: «Uma emoção indescritível, um dia que não se pode esquecer! Obrigado Francisco».

À noite, na festa que decorreu no estádio olímpico de Roma, foi exibida uma mensagem em vídeo do papa Francisco, que sabe não só como falar aos jovens, como também conhece que o seu ambiente natural são os telemóveis e a comunicação através da internet e, em particular, das redes sociais.

«Quantas vezes me acontece telefonar a amigos, mas acontece que não consigo pôr-me em contacto com eles porque não há rede. Estou certo de que também vos sucede o mesmo, que o telemóvel não apanhe rede em alguns lugares... Pois bem, recordai que se na vossa vida não houver Jesus, é como se não houvesse rede! Não se consegue falar e fica-se fechado em si próprio», afirmou.

No jornal italiano "Corriere della Sera", escreveu-se, a propósito desta intervenção: «O professor jesuíta sabe que, para chegar ao coração, é preciso abrir, com método, as portas da mente. Se os adolescentes, hoje, dependem do "smartphone", porquê demonizá-lo? É melhor torná-lo um aliado, com uma metáfora ("não há rede") ou com uma "selfie"».

E a concluir o artigo: «No Vaticano não faltaram aqueles que, na vigília, rasgavam as vestes (talares) porque "os cantores não estão em linha com o pensamento da Igreja" e que "há o risco de ceder ao pensamento dominante" (...). O pensamento hoje é confuso, as correntes contínuas, os modos fluidos: se a Igreja não tem a coragem de descer à corrente da vida com os adolescentes, perderá uma geração. Isto, Francisco compreendeu-o muito bem. Ele tem rede. Ele está sempre onde ela se apanha».

Ontem, no Twitter, Francisco lançou um apelo: «Queridos jovens, os seus nomes estão escritos no céu, no coração misericordioso do Pai. Sejam corajosos, contracorrente!». E hoje, na mesma rede social, recordou: «Queridos jovens, com a graça de Deus, vocês podem ser cristãos autênticos e corajosos, testemunhas de amor e de paz».

Rui Jorge Martins
Com "Corriere della Sera", "La Repubblica"

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