sábado, 10 de setembro de 2016

A GRANDEZA DOS GRANDES E HUMILDES

Konrad Adenauer nasceu a 5 de Janeiro de 1876, em Colónia, Alemanha. Estudou Direito, teve 22 licenciaturas ad honorem. Foi prefeito de Colónia entre 1917 e 1933, fez oposição ao nazismo, foi expulso das suas tarefas e obrigado à aposentação. Preso duas vezes pela Gestapo, na segunda vez foi levado para um campo de concentração donde partiam os assinalados para serem exterminados. Numa dessas listas também constava o seu nome.. Libertado quando as tropas aliadas invadiram a Alemanha, foi eleito o primeiro chanceler da República Federal da Alemanha em 1949, reeleito em 1953, 1957 e 1961. Renunciou ao cargo em 1963, com 87 anos de idade. Num dos seus discursos programáticos havia dito: “Nós esperamos, com a ajuda de Deus, conseguir levar ao progresso o povo alemão e contribuir para a paz na Europa e no mundo”. Com Robert Schuman, ministro francês, e De Gasperi, primeiro-ministro italiano, Adenauer foi cofundador da Comunidade Europeia da Carvão e do Aço (CECA), a “Europa dos Seis”. Sem fazer reservas de o reconhecer e afirmar, pautou a sua vida e ação pelos princípios cristãos em que foi educado: “As impressões que se têm na casa paterna são decisivas para a vida dum homem. Os meus pais eram pessoas boas e levaram-nos, a nós filhos, a ter uma conceção cristã da vida. Tanto de manhã como à noite rezávamos juntos; ao domingo toda a família ia à Missa da manhã, e à tarde ao ofício divino na igreja dos Santos Apóstolos, em Colónia. O pai, sempre que voltava do escritório – ele era secretário no tribunal regional de Colónia – ia venerar, em silêncio, a Nossa Senhora Negra na Kupfergasse, quase todos os dias (…). Os princípios de meu pai eram muito simples: para além do temor de Deus, o sentimento do dever, a retidão, a operosidade e a sã ambição que se esforça por executar cada tarefa com todas as energias disponíveis”. Um dos seus filhos que foi sacerdote falou assim de Adenauer, seu pai: “A religiosidade de meu pai era viril, estável, consistente… Nunca ouvimos palavras melífluas da parte do pai… Nunca vimos a mínima dúvida no que se refere às convicções religiosas. Para ele a demonstração do apego à religião consistia na vida vivida em consonância com as responsabilidades cristãs” (cf. “Raízes Cristãs da União Europeia”, de Gerlando Lentini, Cidade Nova). Tendo lido e aprofundado as encíclicas sociais Rerum Novarum, de Leão XIII, e Quadragesimo anno, de Pio XI, encontrou nelas, como escreveu o jornalista Weymar, “um programa social orgânico impregnado pela fé numa ordem desejada por Deus, ordem que deveria ser aplicada também na esfera da sociedade moderna. Era uma grandiosa tentativa de superar, num espírito cristão de amor ao próximo, o conceito de luta de classes; e de libertar o mundo operário de uma situação aparentemente desesperada, marcada pelo anseio de uma redenção de proletariado”. Reagindo contra a massificação do homem, muito desejava a educação cristã da juventude, pois, tinha para si que “quando o homem se confunde com a massa acaba por se tornar presa fácil do materialismo”. E se propunha “permear de espírito cristão a vida política, económica e social”, também apontava as bases necessárias para a “existência cristã de cada cidadão”, a saber: “uma propriedade que liberte o trabalhador da angústia da fome e da miséria; uma casa na qual as crianças cresçam sãs e sem conhecer limitações às suas necessidades de luz e de Sol; uma liberdade suficiente, já que a personalidade de uma pessoa tem necessidade de tranquilidade e de espaço para se poder desenvolver retamente. E o pressuposto primário é a educação cristã da juventude”. E acrescentava: “… no lugar dos princípios fundamentais do materialismo temos de colocar os princípios da ética cristã, que devem ser determinantes na construção do Estado e na limitação dos seus poderes, nos direitos e nos deveres das pessoas, na vida económica e social, nas relações recíprocas dos povos”. Político de eleição e fiel aos seus princípios, conduziu a Alemanha a uma situação autêntica de liberdade, provocou o desenvolvimento económico de bem-estar e equilíbrio social, inseriu o país numa comunidade de países livres, incentivou, junto com os líderes da França e da Itália, a integração europeia, recompôs a Alemanha, fortaleceu o regime democrático. Na sua última audiência com Paulo VI, em 17 de setembro de 1963, este disse-lhe: “Num tempo cheio de sacrifícios, senhor Chanceler, pôde dar o seu contributo essencial à grande obra da reconstrução do seu País, de tal modo que, olhando para trás, o senhor pode constatar o quanto foram abençoados os seus trabalhos” (cf. Idem).
Adenauer foi, na verdade, um homem de Estado, honesto e amigo do seu povo. Nunca se baldou, nunca deixou cair os braços perante as enormes dificuldades que a governação lhe apresentava. Ele sabia e sentia que o maior revolucionário de toda a história da humanidade a quem seguia e anunciava, serviu de forma mansa e humilde de coração e morreu de braços abertos na cruz, por amor.


D. Antonino Dias Bispo Diocesano Portalegre Castelo Branco- 9-09-16

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