
Somos teimosos. Ficamos presos ao que não soubemos (ou quisemos) ultrapassar. Custa-nos avançar. Não nos passa na garganta. Não nos passa, de todo. Fazemos coleção do que nos acontece e vamos sobrepondo as pessoas, os lugares, as experiências, os dias e os instantes. Custa-nos a desilusão, a mágoa, a desvantagem. Custa-nos o espanto que as mudanças nos provocam. Custa-nos a falta de bondade e de gentileza. Custa-nos o que foi injusto e o que doeu. Custa-nos muito. Custa-nos não saber o que fazer do tempo que nos sobra. Custa-nos não ter coragem para dizer o que precisa de ser dito.
Felizmente, e à custa do que nos acontece repetidas vezes, vamos ganhando imunidade para as coisas difíceis. De repente, já não nos custa tanto. Já fazemos de conta que não ouvimos. Já disfarçamos um vestígio de sorriso. Já devolvemos menos interesse. Já não ligamos. Já não importa.
Importa, talvez, pensar que há desvantagens em deixar de querer saber. Há desvantagens em passar à frente. Perde-se sempre um pouco de esperança e de fé quando se passa à frente. Mas, por outro lado, não se pode viver refém do que nos custa.
Há caminho mais à frente, para quem decide avançar. Para quem fica quieto, à sombra do que podia ter sido, há menos vida. Menos brilho. Menos luz.
Ainda que haja riscos, vale a pena passar à frente.
Vale a pena sair da toca.
Vale a pena deixar ir.
Vale a pena não guardar o que não é nosso. Os que não são nossos.
Vale a pena tirar novas fotografias em vez de olhar, repetida e tristemente, para as velhas.
Vale a pena saltar por cima.
Passa à frente, sem esquecer. Mas passa à frente. Lá adiante, já estão à tua espera.
Marta Arrais
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