quarta-feira, 3 de abril de 2019

PARO, ESCUTO E OLHO?




“Paro, escuto e olho!” Muitos de nós habituamo-nos a ouvir esta frase nos bancos da escola, quando aprendemos as regras básicas de trânsito, concretamente os cuidados a ter quando era necessário atravessar uma linha de comboio, numa passagem de nível sem guarda. Para atravessar a linha em segurança, diziam-nos, era preciso parar, escutar a eventual aproximação de um comboio e olhar, no sentido de perceber se alguma composição se aproximava.

Fui aos bancos da escola buscar esta recordação transpondo o lema para aquilo que deve ser a nossa atitude nos dia de hoje. Vivemos em ritmo acelerado. Dividimos o tempo entre rotinas diárias e horários a cumprir, entre o stress matinal para não nos atrasarmos no cumprimento dos nossos compromissos diários, cumprimento esse nem sempre compatível com as filas de trânsito que temos de enfrentar ou com os transportes públicos que utilizamos. Já temos a agenda bem preenchida, mas ainda conseguimos esticar o tempo e arranjar uns minutos ou umas horas para fazer mais qualquer coisa. Para quem tem filhos, junta-se a esse ritmo, muitas vezes alucinante, a gestão das rotinas e horários dos mais novos e o apoio às tarefas escolares, que em minha opinião são demasiadas, tendo em conta a carga horária escolar sobrecarregada dos estudantes.

No meio de tanta azáfama, temos a preocupação de PARAR, de assegurar um tempo para nós? Sim, um tempo sem nada de especial para fazer. Um tempo para estar, fazer silêncio, para descontrair física e psicologicamente (sim, também é necessário...), para sentir simplesmente os movimentos da nossa respiração, para poder contemplar, em silêncio e sem outras preocupações, as maravilhas da criação.

Porque muitas vezes nos deixamos enredar demasiado pelas obrigações que temos, saber parar é importante para criar em nós a disponibilidade interior que nos permite ESCUTAR... Escutar Deus, nos momentos de oração que vão alimentando a nossa fé, momentos esses que precisamos de incluir no nosso dia a dia; e escutar os outros (família, amigos, colegas de trabalho ou pessoas com quem nos cruzamos ocasionalmente), que esperam de nós um pouco de atenção, uma palavra da nossa parte, um gesto, uma ajuda concreta ou simplesmente um pouco do nosso tempo. [Não nos esqueçamos que também podemos beneficiar da atitude de escuta que os outros possam adotar].

É esta atitude de escuta que nos leva a OLHAR o mundo de uma forma diferente. Que nos leva a reparar em pequenos pormenores e a marcar a diferença, com um pequeno gesto que seja, na vida de alguém. Como aquela pessoa que acabava de sair de um momento de oração numa igreja e a quem foi pedido um gesto de ajuda a uma senhora em cadeira de rodas. Que sentido teria tido esse momento de oração se, tal como o sacerdote na parábola, a pessoa que acabara de rezar na igreja passasse ao lado e não ajudasse o seu próximo? (cf. Lucas 10, 29-37)

A Quaresma, este tempo favorável que estamos a viver, em que devemos abrir de modo especial o nosso coração à vontade de Deus, é uma ocasião propícia para percebermos melhor quando, e em que circunstâncias, devemos parar, quem podemos e devemos escutar e para onde devemos olhar. Peçamos a Deus a graça da abertura de espírito, que nos dará uma atitude de maior disponibilidade interior, e tenhamos a ousadia de pôr os pés ao caminho, para que as vivências desta Quaresma deem frutos, até porque a fé sem obras é morta (cf. Tiago 2, 26).

Cláudia Pereira

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