sexta-feira, 26 de abril de 2019

O que é teu não me diz respeito!

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Não me interessa o que se passa na tua vida. Não me diz respeito o teu caminho. A tua guerra. Não me dizem respeito as tuas lutas, as tuas mágoas, as tuas dificuldades ou as tuas travessas. Não me interessam as pontes que atravessas, os rios que nadas, os mares ondes mergulhas, os trilhos que percorres e, muito menos, as lágrimas que choras. Não me interessas. Não me dizes respeito. Divorciei-me do que não faz parte dos meus horizontes e do que está para além do que quero ver. Se não é meu, não faz parte de mim. Se não me diz respeito, não olho. Se não atrofia o meu coração, não (me) faz mossa.
É assim que vamos vivendo. Atravessando como quem não olha. Caminhando como quem não vê. Mergulhando como quem não quer conhecer nenhuma água para além da sua. Os muros dos outros não nos dizem nada. São silêncios altos que não nos falam e, mesmo que falassem, não estaríamos interessados em ouvir. As lutas dos outros mancham as nossas espadas, que não se podem cansar noutros combates que não sejam os nossos. As dificuldades dos outros perturbam a nossa paz fictícia e imaginada.
Não sei que sentido temos encontrado em viver assim. Alheados de tudo o que não é nosso. Como se nos bastássemos. Como se nos fôssemos suficientes sem mais nada e mais ninguém. Não sei se será suficiente continuar assim. A não respeitar o que não nos diz respeito. Ou, simplesmente, a não querer saber.
Talvez valha a pena olhar para o lado mais vezes. Oferecer companhia para a luta de quem também ali vai. Oferecer bondade para olhar para o caminho de quem também não sabe por onde ir. Oferecer a força de mais dois braços para remar e para avançar. Talvez valha a pena perceber que só aquilo que se partilha e divide de poderá, algum dia, multiplicar.

Marta Arrais

imissio.net

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