quinta-feira, 30 de junho de 2022

A bondade é o teu dever



Todos cometemos erros de todos os tipos, mas um dos piores é o perdermos uma oportunidade de ser bondosos. Se estás numa situação em que podes fazer a diferença e decides não avançar, falhas. Pode ser por vergonha, preguiça, orgulho ou outra coisa qualquer, mas nenhuma delas te desculpará, porque o bem é uma obrigação de todos nós, mais ainda diante de quem está longe de compreender isso.

Não te preocupes com o que pensam os outros, nem sequer sobre o que pensam de ti. Isso não te diz respeito. Pensa, decide e age com clareza e de acordo com os teus valores, nunca em função do que podem os outros pensar, dizer ou fazer.

Há dois tipos de pessoas no mundo: as que fazem e as que ficam a assistir. As primeiras cometem muitos erros. As segundas não fazem nada. Quem fica à espera de que aqueles que assistem façam alguma coisa, passa, em pouco tempo, a ser um deles.

Peço-te que te empenhes em nunca desaproveitares uma ocasião de revelares a tua bondade. Por vezes, dirás, é quase impossível ser bom… sim, mas, sabes, boa parte das vezes, ser mais difícil é um sinal claro de que é ainda mais importante.

No mais fundo de ti, por baixo da tua alma, há uma luz que nunca se apaga. Nunca. Podes escondê-la, revelá-la ou tentar pegar fogo ao mundo com ela. Essa chama é a tua vida, é o porquê e o para quê da tua existência, é o amor que alguém depositou em ti e que espera que o utilizes para o bem. É um fogo que brilha e te indica o rumo do bem e, ao mesmo tempo, ilumina o caminho até lá.

Ser livre é ter várias opções e escolher a melhor. Quem prefere a mais fácil, ou a que mais lhe agrada, não é livre, é apenas fraco.

Aproximam-se tempos difíceis. Prepara-te. Aprende a viver com pouco e sem egoísmos. Se o conseguires, servirás de modelo aos que cruzam o teu caminho. Faz o bem, sem te preocupares com quem vai ficar com os aplausos.

Podes mudar o mundo inteiro se decidires que a tua vida não é para ti e que, por isso mesmo, a entregares aos outros, sem esperar por ninguém. Faz o bem, sem esperar por uma oportunidade melhor.

Mantém-te calma quando chegarem as horas mais duras, elas passarão, da mesma forma como passam os dias bons. Faz o bem, sem contar forças, porque quando alguém faz o bem, nunca as forças se lhe esgotam.

Luta pela felicidade, como lutarias pelo pão para os teus filhos se estivessem à fome.

Gosto muito de ti. Rezo por ti.



José Luís Nunes Martins


quarta-feira, 29 de junho de 2022

Pensa menos e vive mais!



Às vezes sinto que pensamos demasiado. Percorremos cenários não-idílicos na nossa cabeça, vivemos neles, fazemos mil e um filmes e, quando acabamos, percebemos que nada disso aconteceu ou aconteceria.

A escola ensinou-nos (e ensina-nos) a usar a cabeça, a mente, os pensamentos. Ensinou-nos a trabalhar muito (às vezes mais do que bem) e a sentir pouco. Os problemas ficavam do lado de fora das portas e, lá dentro, era como se só existissem folhas em branco para encher de coisas que não interessavam nem ao Menino Jesus.

Fomos aprendendo a pensar muito, mas não aprendemos a pensar bem. Viciamo-nos em pensamentos tal como nos viciámos no trabalho, no ritmo, na aceleração dos dias, no colocar o pé no acelerador ou no travão sem sequer ter noção consciente disso. Vivemos em piloto automático e só acordamos quando alguém nos morre, nos adoece, nos deixa ou nos grita que já chega de viver assim.

Já chega.

Já chega de pensar no que pode acontecer. No que devia ser e não é. No que gostávamos que fosse. Já chega de imaginar possibilidades, de arquitetar futuros pouco verosímeis e razoáveis. Pouco saudáveis e equilibrados. Sim, porque os nossos pensamentos voam para as possibilidades de fortunas rápidas, dos aplausos que não se acabam e da prosperidade que também não… e o espaço para olhar para o que sente? Para o que se sente quando se pensa no que se pensa?

Já chega de pensar tanto. Pensa menos. Vive mais. Sente mais. Se queres pensar nalguma coisa, pensa em maneiras de seres mais feliz e de fazeres mais felizes os outros. Não imagines mundos e fundos de impossíveis que quase nunca condizem com a realidade de ninguém. A vida é curta. E passa como uma flecha. A escolha é tua: ou deixas que a flecha te atravesse e andas por aí a sangrar sem te aperceber ou cura essa ferida e atira a flecha para outro dia qualquer.

Pensa menos. Vive mais. Mas não vivas mais depressa.

Sempre mais devagar.

Tudo mais devagar.

Quem tem pressa chega sempre mais tarde ao que importa realmente.


Marta Arrais

terça-feira, 28 de junho de 2022

De Igrejas Vazias



«Nós continuamos a viver as nossas vidas como se os valores de referência fossem os mesmos da societas christiana das gerações passadas. Continuamos a celebrar-nos, a fazer das nossas liturgias espetáculos. Continuamos a deleitar-nos com multidões que, embora evidentes, são estatisticamente irrelevantes.

Continuamos a pensar em improváveis ​​mudanças de tendência apenas porque em algum lugar há um aumento muito pequeno de vocações para o ministério ou para a vida consagrada. Continuamos a pensar nisso em termos de ambientes tranquilizadores como as paróquias, associações, movimentos, talvez investindo nestes últimos, dada à sua dimensão presencial eficiente e visível.

Estamos satisfeitos com nossas igrejas na aparência, com a nossa boa gente cujo nível de informação religiosa não ultrapassa o jardim de infância. Não percebemos que corremos o risco de ficar de fora do curso da história.»

Cettina Militello




Lembrei-me desta teóloga siciliana ao ler um entrevista que D. Carlos Azevedo deu a um meio de comunicação social.

O bispo português trabalha para a Santa Sé, no Conselho Pontifício para a Cultura, desde 2011. No departamento dos bens culturais, ocupa-se de arquivos, biblioteca, museus e toda a parte de património imaterial, onde entra a música. Mas um dos seus trabalhos mais complexos que tem que lidar é o das igrejas sem fiéis. O que se pode fazer? Na Holanda, por exemplo, 80% das igrejas não tem culto. E como não há recursos financeiros, não se podem cuidar.

Tantas igrejas vazias… O mesmo começa a acontecer em Portugal. Tenhamos a coragem de o admitir. Somos cada vez mais uma minoria.

Depois de séculos em que a fé cristã foi professada e vivida por grande parte da população das nossas comunidades, percebemos que nossa realidade é plural. Os indiferentes à religião cresceram imenso. Mas não é só isso, também os diferentes apareceram nas nossas aldeias, vilas e cidades, homens e mulheres que acreditam num Deus diferente do Deus de Jesus Cristo. Os cristãos hoje, são apenas uma parte de um todo. Perceber isso realmente, e agir pastoralmente, é algo que exige muito esforço. A secularização é galopante e a pandemia acabou por afastar ainda mais pessoas. Citando o Papa Francisco: "É preciso ir ao encontro das pessoas". Não há mal em sermos poucos.

O mistério cristão permanece como pano de fundo genérico para as ações de quem crê. Mas na maioria das vezes, a crença funciona como um 112. Recorremos à fé quando já não temos respostas na esperança humana…

Mas a Esperança Cristã é muito mais que um cenário do teatro que parece ser a nossa vida. Ela nasce do encontro pessoal com Jesus Cristo.

«É a pequenez e a insignificância de Jesus que, uma vez aceite como manifestação do Deus vivo, abala e renova todas as nossas categorias». (Cardeal Carlo Maria Martini)


Paulo J. A. Victória


segunda-feira, 27 de junho de 2022

Acreditar



Acreditar que, um dia, a paz ainda nos serena a alma.

Acreditar que, um dia, a luz ainda nos ilumina o caminho.

Acreditar que, um dia, o alento ainda nos abraça os dias.

Acreditar que, um dia, a força ainda nos inunda a vida.

Acreditar que, um dia, um milagre ainda nos salva.



Acreditar que, um dia, um olhar ainda nos cura por dentro.

Acreditar que, um dia, um sorriso ainda nos toca o coração.

Acreditar que, um dia, uma mão ainda ampara tudo o que somos.

Acreditar que, um dia, um abraço ainda nos abriga de tudo.

Acreditar que, um dia, um gesto de amor ainda é tudo.

Acreditar que, um dia, a gentileza ainda nos mostra o segredo de viver.

Acreditar que, um dia, alguém ainda nos inspira a ser do bem.

Acreditar que, um dia, nós ainda fazemos corações sorrir.

Acreditar que, um dia, as pessoas ainda se são sempre perto.

Acreditar que, um dia, o amor ainda nos muda o mundo.

Acreditar que, um dia, esse amor ainda nos faz sentido. E ainda é sentido.


Acreditar que, um dia, esse dia ainda é todos os dias.


Daniela Barreira

domingo, 26 de junho de 2022

A caminho de Jerusalem

 



A liturgia de hoje sugere que Deus conta connosco para intervir no mundo, para transformar e salvar o mundo; e convida-nos a responder a esse chamamento com disponibilidade e com radicalidade, no dom total de nós mesmos às exigências do "Reino".
A primeira leitura apresenta-nos um Deus que, para actuar no mundo e na história, pede a ajuda dos homens; Eliseu (discípulo de Elias) é o homem que escuta o chamamento de Deus, corta radicalmente com o passado e parte generosamente ao encontro dos projectos que Deus tem para ele.
O Evangelho apresenta o "caminho do discípulo" como um caminho de exigência, de radicalidade, de entrega total e irrevogável ao "Reino". Sugere, também, que esse "caminho" deve ser percorrido no amor e na entrega, mas sem fanatismos nem fundamentalismos, no respeito absoluto pelas opções dos outros.
A segunda leitura diz ao "discípulo" que o caminho do amor, da entrega, do dom da vida, é um caminho de libertação. Responder ao chamamento de Cristo, identificar-se com Ele e aceitar dar-se por amor, é nascer para a vida nova da liberdade.

https://www.dehonianos.org/

sábado, 25 de junho de 2022

Deus é o porquê da confiança





Deus não é uma ideia. A fé é a certeza de que este mundo é apenas algo do qual fazemos parte, mas que é para nós. Serve para o nosso bem. A realidade não é contra o que somos, é para nosso proveito, por amor.

Só quem não confia em nada vive longe de Deus. Talvez viva cheio de si, condenando tudo e todos. Viver desconfiado não é viver… é morrer de forma lenta e constante. Confiar é ver mistérios bons em nós e em torno de cada um dos nossos dias.

Só confiarás nos outros, se confiares em ti, porque todos tendemos a ver fora de nós aquilo que há no nosso interior. Os inocentes tendem a ser crédulos e os culpados a ser desconfiados… ninguém é melhor do que um mentiroso para detetar outro, assim também, os que vivem de acordo com valores mais ousados reconhecem até o bem que há nos que não parecem ter nenhum.

Procura escutar Deus. Não julgues que Ele é diferente da Vida. Conhece-te a ti mesmo e aos que vivem contigo. Ama-os. Vive e em pouco tempo descobrirás quem enche a tua vida com o seu sopro. Assim que descobrires que és uma parte essencial do mundo, terás a certeza de que és conhecido e amado, de que és mais, muito mais, do que aquilo que costumas julgar no dia a dia.

Ainda que tudo te falhe, não perderás Deus, porque nunca deixará de confiar em ti.


José Luís Nunes Martins


sexta-feira, 24 de junho de 2022

QUARENTÕES CINQUENTÕES SESSENTÕES etc. e tal



Pessoas há que nos fazem esbarrar com perspetivas diferentes de ler e olhar a realidade envolvente. Sabem abrir janelas para sacudir tapetes e oferecer a oportunidade para varrer o pó de debaixo deles, o pó que, voluntária ou distraidamente, aí se vai acumulando. Mas não só: também sacodem e provocam quem, julgando-se imune das maleitas sociais e eclesiais, se têm como impermeáveis, mui limpos e asseados no cumprimento ‘exemplar’ do seu dever, ‘como sempre o fizeram’. Mas será esse o caminho certo?
Armando Matteo, italiano de Catanzaro, presenteou-nos com mais um livro a que deu o título “Converter Peter Pan – o destino da fé na sociedade da eterna juventude”. Está traduzido e editado pela Paulinas Editora. Saco daí, mesmo de forma avulsa, algumas ideias para provocar a leitura completa deste livro, no qual, o Autor, na “ausência de uma relação adulta e madura da fé”, pergunta: “que espaço resta para o Evangelho na época do triunfo de Peter Pan?”. Por amor à Igreja e na linha do Papa Francisco, ele denuncia, provoca, sugere coisas que podem fazer mossa em muita gente, seduz ao debate, coloca pistas nos caminhos duma nova, necessária e corajosa ação pastoral que só a fé em Jesus Cristo, o amor à sua Igreja e a força do Espírito podem fazer discernir e despoletar.
Como sabemos, Peter Pan é um personagem criado pelo escocês James Mattheu Barrie. Trata-se de um menino que se recusa a crescer e vive na Terra do Nunca, uma terra mágica, de fantasias. Essa criança, escreve Matteo, tem hoje “alojamento confortável e alimento abundante no coração dos adultos”: vivem num mundo de fantasias, não querem crescer e dificultam que alguém o faça. Com outras fadas Sininho e outros piratas liderados por temíveis Capitães Gancho, o autor chama-nos a atenção para aqueles adultos que hoje procuram sentido no mito da eterna juventude, como se, para voar, a imaginação bastasse. Um mito “alimentado de forma descomedida pelas alavancas económicas e financeiras contemporâneas, graças, sobretudo, ao sistema publicitário e à cultura televisiva”. Com a agravante, diz ele, “de essa máquina económica-cultural estar nas mãos dos próprios adultos!”. Assim, com o único objetivo de movimentar dinheiro, se degradam e esvaziam os adultos e os jovens. O lema é preciso: “Somos livres, somos únicos, para ser e permanecer sempre jovens. Apenas jovens. Nada mais do que jovens. E estamos aqui para beber até à última gota possível esta vida que hoje tão generosamente se encontra nas nossas mãos”. Esta determinação faz com que tenhamos diante de nós “uma massa de quarentões, cinquentões e sessentões que fazem tudo para não envelhecer, chegando assim à idade da velhice sem nunca terem sido adultos, estando, aliás, demasiado ocupados a manter-se jovens, ativando desse modo as condições para liquidar os verdadeiros jovens”.
O Papa Francisco, na Exortação Cristo Vive, alerta para essa “adoração da juventude, como se tudo o que não é jovem aparecesse detestável e caduco”. Diz ele: “O corpo jovem torna-se o símbolo deste novo culto e, consequentemente, tudo o que tenha a ver com este corpo é idolatrado e desejado sem limites, enquanto o que não for jovem é olhado com desprezo. Mas é uma arma que acaba por degradar os jovens, esvaziando-os de valores reais e utilizando-os para obter benefícios individuais, económicos ou políticos”.
E pedindo aos jovens que não se deixem usar para promover esse falso culto da juventude que confunde beleza com aparência e promove uma espiritualidade sem Deus e uma afetividade sem comunidade nem compromisso, a fazer acreditar num futuro paradisíaco que nunca o será, Francisco propõe-lhes “outro caminho, feito de liberdade, entusiasmo, criatividade, horizontes novos, mas cultivando ao mesmo tempo as raízes que nutrem e sustentam” e que saibam “descobrir que há beleza no trabalhador que regressa a casa surrado e desalinhado, mas com a alegria de ter ganho o pão para os seus filhos. Há uma beleza estupenda na comunhão da família reunida ao redor da mesa e no pão partilhado com generosidade, ainda que a mesa seja muito pobre. Há beleza na esposa mal penteada e já um pouco idosa, que continua a cuidar do seu marido doente, para além das suas forças e da própria saúde. Embora já esteja distante a lua de mel, há beleza na fidelidade dos casais que se amam no outono da vida, naqueles velhinhos que caminham de mãos dadas. Há beleza, para além da aparência ou da estética imposta pela moda, em cada homem e cada mulher que vive com amor a sua vocação pessoal, no serviço desinteressado à comunidade, à pátria, no trabalho generoso a bem da felicidade da família, comprometidos no árduo trabalho, anónimo e gratuito, de restabelecer a amizade social. Descobrir, mostrar e realçar esta beleza, que lembra a de Cristo na cruz, é colocar as bases da verdadeira solidariedade social e da cultura do encontro” (cf. CV180-184).
De facto, esta acelerada mudança de época com a sua educação 4.0, tanto para as gerações da transição do mundo analógico para o digital, como para a geração Z, a formada por aqueles que nasceram dentro da era digital e são considerados nativos digitais, se é uma resposta necessária à quarta revolução industrial, também não se cansa de dinamizar e potenciar o mito da eterna juventude com produtos e serviços pressionados pelos mídia e não só. Quem não mantiver os atributos da juventude, é velho, é cota. Por isso, rejeita-se a idade que se tem para não se assumir o que já se é. Altera-se o aspeto físico, endivida-se a carteira, veste-se à jovem e cuida-se a maquilhagem mesmo que roce o ridículo. E só porque se despreza o envelhecimento natural, se quer competir ou agrupar com quem é jovem e se entende que isso traz beleza e sucesso na vida social, profissional e afetiva.
Matteo explica que este adulto 4.0, o adulto pós-moderno, ‘sem’ mais nada acima e além de si próprio, é o “adulto sem transcendência, sem verdades, sem limites, sem moral e sem política” que “experimenta uma emoção e um sentimento de liberdade e de unicidade que só o pode deixar inebriado”. Para ele, fora da juventude não há possibilidade de salvação. Além disso, se descarta totalmente a cristandade, também obriga a entender, definitivamente, que hoje em dia a fé já não é um pressuposto óbvio da vida, mas é, muitas vezes, marginalizada e até desprezada”. Isto traz desafios não só de ordem antropológica mas sobretudo de ordem profundamente religiosa cujas formas de transmissão da fé não podem ser as da época da cristandade. Tampouco as de mudar isto e aquilo para que tudo fique na mesma. Ao jeito de Cristo, com Ele e a sua mansidão, há que sair ao encontro do Peter Pan, não para que ele nos fascine e converta, mas para que possa ser esclarecido sobre quão nobre é ser adulto e quão bela é a verdadeira plenitude da vida.
E Matteo escreve: “O sinal das igrejas semivazias é-nos oferecido para confessarmos a nós mesmos a verdade: os adultos não-praticantes estão a tornar-se crentes de uma forma diferente. Estão a tornar-se crentes no Deus da juventude e correm cada vez mais o risco de ficar emalhados na grande rede de um sistema económico-financeiro que descobriu que ganha muito dinheiro com esta história do ‘antiage’, com esta promessa ilusória de serem sempre sexy, sempre jovens, sempre em forma, esplendorosos, sexualmente ativos, saudáveis e alegres, sob quaisquer condições meteorológicas. E a este sistema é completamente indiferente que esses lucros consistentes se obtenham ao preço elevadíssimo de um individualismo desenfreado que imbeciliza os adultos, deprime os jovens, descarta os idosos, enlouquece os mais pequenos”.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 24-06-2022.


Solenidade do Nascimento de João Batista

Com muita alegria, a Igreja, solenemente, celebra o nascimento de São João Batista. Santo que, juntamente com a Santíssima Virgem Maria, é o único a ter o aniversário natalício recordado pela liturgia.

São João Batista nasceu seis meses antes de Jesus Cristo, seu primo, e foi um anjo quem revelou seu nome ao seu pai, Zacarias, que há muitos anos rezava com sua esposa para terem um filho. Estudiosos mostram que, possivelmente, depois de idade adequada, João teria participado da vida monástica de uma comunidade rigorista, na qual, à beira do Rio Jordão ou Mar Morto, vivia em profunda penitência e oração.

Pode-se chegar a essa conclusão a partir do texto de Mateus: “João usava um traje de pêlo de camelo, com um cinto de couro à volta dos rins; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre”. O que o tornou tão importante para a história do Cristianismo é que, além de ser o último profeta a anunciar o Messias, foi ele quem preparou o caminho do Senhor com pregações conclamando os fiéis à mudança de vida e ao batismo de penitência (por isso “Batista”).

Como nos ensinam as Sagradas Escrituras: “Eu vos batizo na água, em vista da conversão; mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu: eu não sou digno de tirar-lhe as sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo” (Mateus 3,11).

Os Evangelhos nos revelam a inauguração da missão salvífica de Jesus a partir do batismo recebido pelas mãos do precursor João e da manifestação da Trindade Santa. São João, ao reconhecer e apresentar Jesus como o Cristo, continuou sua missão em sentido descendente, a fim de que somente o Messias aparecesse.

Grande anunciador do Reino e denunciador dos pecados, ele foi preso por não concordar com as atitudes pecaminosas de Herodes, acabando decapitado devido ao ódio de Herodíades, que fora esposa do irmão deste [Herodes], com a qual este vivia pecaminosamente.

O grande santo morreu na santidade e reconhecido pelo próprio Cristo: “Em verdade eu vos digo, dentre os que nasceram de mulher, não surgiu ninguém maior que João , o Batista” (Mateus 11,11).

São João Batista, rogai por nós!


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quinta-feira, 23 de junho de 2022

Mãe, deixa-me…



No final de mais um ano letivo estava para escrever algo sobre os jovens. Mas, eis que vi este texto numa rede social. Limito-me a traduzir. Infelizmente não sei quem é o autor.

«Mãe, deixa-me crescer como uma criança; se eu não aprender com as experiências, não poderei encarar a vida da melhor maneira possível.

Mãe, deixe-me correr e mesmo que faça escoriações nos joelhos; depois de chorar vou aprender que cair significa magoar-me, vou aprender que no perigo terei que ter cuidado.

Mãe, deixa-me manchar a minha mesa de cor, deixa as minhas mãos sujarem-se de guache, cola e adesivo, vou aprender com cores a pintar o mundo.

Mãe, deixa-me encher a cara de molho, deixa-me descobrir a comida com as mãos, deixa-me descobrir os sabores, deixa-me experimentar, não me alimente! Se tu insistires eu desisto e vou procurar ter razão quando não quiser comer sozinho.

Mãe, deixa-me chorar de vez em quando, não corra para mim assim que eu insinuar um gemido, tenta esperar. Eu tenho que aprender a gerir a dor por mim mesmo! O que farei quando tiver que enfrentar dificuldades e tu não estiveres ao meu lado?

Mãe, deixa as tuas tarefas de lado de vez em quando, unta o teu rosto com geleia comigo, vamos construir juntos grandes castelos, vasos enormes, pirâmides de Lego, se te sentares ao meu lado, sinto-te mais perto.

Mãe, não faças essa cara quando estou com febre, tenho que adoecer, bactérias e vírus têm que me fortalecer; para de entrar em pânico, eu vou viver sempre com medo se tu o tiveres sempre, quando estás comigo.

Mãe, se me deixares com a avó não é o fim do mundo. Eles também precisam de mim e eu preciso deles! Sai e come uma pizza, não vou passar fome e não vou enlouquecer de solidão. Vou aprender, à distância, a não depender sempre de ti.

Mãe, se eu for devagar, não corras, não sou uma máquina e preciso de tempo para aprender. Parece fácil para ti o que é incompreensível para mim. Lembras-te de quando eras criança? Também te aconteceu não entender as coisas simples.

Mãe, confia em mim, sou pequeno, mas estou aprendendo a viver! Solta a minha mão de vez em quando, deixa-me correr, deixa-me esconder, deixa-me brincar; se me enches com essa camisola, mal consigo respirar!

Viva, mãe, e deixa-me viver, respeita os meus tempos, os meus espaços, os meus sonhos!

Mãe, não sei se serei engenheiro e não sei se serei um chef: me dá-me a liberdade de escolher, de errar, de entender à minha maneira o que quero ser .

Mãe, não precisas de criar uma criança especial, mas feliz. Então pára de dizer que o estuda é o compromisso mais importante. Deixa-me cultivar as minhas emoções com os amigos enquanto caminho na floresta ou mergulho no mar. Por favor, deixa-me abraçar-te, cantar ou ouvir música contigo.

Mãe, deixa-me entender com o teu bom exemplo que esta vida, que começou em teu ventre e que continua a ser vivida ao teu lado, principalmente na infância, é difícil, mas bela. Uma vida que, como uma águia, sobe cada vez mais alto em direção a Deus. Esse Deus que me quis, ama-me e espera-me.»


Paulo J. A. Victória

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Sabias que também te podes zangar?





O mundo quer fazer-nos acreditar que só as emoções positivas são válidas. Estar feliz, contente, expressar os ecos de uma vida realizada pessoal e profissionalmente parece ser o que a comunidade global nos pede. Que expressemos o que somos de bom, de honesto, de maravilhoso, de positivo. Somos reféns de uma positividade quase venenosa que se apoderou dos dias e da vida de todos nós. O que queremos é a alegria. A esperança. O acreditar num mundo melhor.

No entanto, nem sempre a nossa realidade nos permite estar felizes. Realizados. Plenos. Com vontade de fazer tudo bem feito.

Nem sempre nos será possível reagir de forma tranquila ao que nos acontece. Que tipo de pessoas seríamos se assim fosse?

Vivemos numa comunidade global que esconde a zanga. Que se envergonha e se encolhe quando alguém fala um bocadinho mais alto. Ai de quem se zanga! De quem reage efusivamente às injustiças ou às debilidades humanas dos que nos rodeiam. Ai de quem sente tudo com muita intensidade. Isso não é válido. Ou aceitável.

O que parece ser aceitável é baixar a cabeça. Deve ser por isso que vemos tanta gente “marreca” na rua. Com o peso do que foi acumulado (e nunca zangado) até o corpo se vergou. O saudável parece ser o sorriso a todo o custo. Mesmo que de plástico. Mesmo que mentiroso. Mesmo que provoque o cerrar do maxilar e que nos faça doer a boca, a cara, o corpo, a alma e os dias.

Terei de informar, ainda que a muitos nos custe compreender, que também nos podemos zangar. Também podemos bater com a porta (mais ou menos literalmente, claro!). Também podemos não estar bem, não estar felizes e, quem sabe, frustrados com a vida que construímos e nos construiu.

O que não podemos é continuar a mentir. A viver numa nuvem de paz quando por dentro também somos guerra. A mostrar mãos abertas quando, por dentro, também somos punhos cerrados que precisam de justificar um grito.

Não vamos estar sempre bem. Não será sempre fácil. A zanga também nos ajuda a ver melhor. Quanto mais não seja, ajuda-nos a ver o que não queremos ser. A marca que não queremos deixar nos outros.

Enquanto não nos zangarmos e não expressarmos as mágoas que trazemos dentro, vamos continuar a enrolar uma tempestade perfeita dentro daquilo que somos. E quando essa tempestade rebentar, vamos desejar ter-nos zangado quando era tempo disso.


Marta Arrais

terça-feira, 21 de junho de 2022

Na dor, na fadiga e no perigo



Sofrer, suportar e afrontar são decisões duras apenas possíveis quando se cultiva a fortaleza. Uma virtude tão importante e decisiva no campo de batalha do mundo exterior, como na nossa casa ou, ainda mais, no nosso íntimo.

Só quem é forte no seu coração, pode ter valor em sua casa e no mundo.

A constância que resulta de uma fé firme é capaz de fazer milagres. À medida que vai revelando a sua existência, vai também alargando o seu poder de resistência a tudo o que nos quer meios mortos.

O mal quer-nos submissos. O bem quer-nos livres.

A constância é a firmeza do ânimo nos bons propósitos. É próprio da constância não variar, duvidar ou questionar, apesar das contradições que se apresentem ou dos trabalhos e desgraças que possam acontecer. A constância é fortaleza em ação continuada.

O bem vence sempre que nos dispomos a combater o mal a cada dia, arrancando pela raiz cada vez que germina em algum ponto. Os heróis são também estes que compreendem que esta luta não termina.

Há talvez mais heroísmo em resistir aos sofrimentos, desgostos e injustiças sem perder a confiança e o rumo do que em lutar para alcançar algo novo.

A quem foram dadas as graças das virtudes que compõem a honra e delas ainda não se desfez, sabe que é tão nobre aquele que arrisca a sua vida como o que, com o mesmo ânimo, se dispõe a sofrer o que tiver de enfrentar.

Uma grande parte das cicatrizes são como que condecorações se são sinal de uma batalha vencida e não de uma mágoa que ainda queremos que doa.

Pode vencer o inimigo quem não se consegue vencer a si mesmo?

Não cedas ao mal. Por mais que te tente. Não lhe cedas, porque resistir-lhe é vencê-lo. Se lhe cederes uma vez, perdoa-te. Se lhe cederes várias vezes, perdoa-te. Mas se algum dia chegares a fazer-te seu servo, perdeste-te.

Deposita em ti a mesma confiança que depositaram aqueles que te sonharam, geraram e criaram.

Na dor, na fadiga e no perigo, sê firme na fé.


José Luís Nunes Martins


segunda-feira, 20 de junho de 2022

É sempre muito mais o que nos une




É sempre muito mais o que nos une. Apesar de todas as diferenças e de todas as dificuldades há sempre muito mais em nós que nos iguala.

É sempre muito mais o que nos une. Mesmo quando não o conseguimos ver. Estamos eternamente unidos à nossa humanidade. E quando nos apercebemos disto conseguimos realizar o bom e o belo. Permitimos que cresça em nós a unidade capaz de dar corpo ao mistério vivido no dom da nossa vida.

É sempre muito mais o que nos une. E mesmo não colocando isso em prática, sabemos, bem no fundo de nós, que estamos intimamente ligados através das nossas idiossincrasias. A forma que surge quando damos as mãos, colocando de lado os nossos julgamentos e preconceitos de lado, dá a conhecer ao mundo a nossa verdadeira riqueza: a de nos unirmos na nossa inteireza.

No final não contarão conquistas individuais. No entardecer da nossa vida não será valorizado o que arrecadamos. No final dos nossos dias contará o amor que demos e recebemos. Contarão os dias em que deixamos que a nossa vida fosse escrita na história de alguém. Contarão os dias em que permitimos que o outro fosse verdadeiramente.

É muito mais aquilo que nos une. E não podemos deixar que a azáfama da vida ou a sede do mundo nos deixe cegos para esta realidade. Saibamos acolher esta verdade dando testemunho dela com as nossas palavras, com a nossa presença e com os nossos gestos.

Num mundo sedento de presença e afeto somos convidados, mais do que nunca, a sermos pontes de relação. A sermos construtores de uma alegria sustentada no amor que todos acolhe.


Emanuel António Dias

domingo, 19 de junho de 2022

Quem é Jesus?

 


A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa reflexão a figura de Jesus: quem é Ele e qual o impacto que a sua proposta de vida tem em nós? A Palavra de Deus que nos é proposta impele-nos a descobrir em Jesus o “messias” de Deus, que realiza a libertação dos homens através do amor e do dom da vida; e convida cada “cristão” à identificação com Cristo – isto é, a “tomar a cruz”, a fazer da própria vida um dom generoso aos outros.
O Evangelho confronta-nos com a pergunta de Jesus: “e vós, quem dizeis que Eu sou?” Paralelamente, apresenta o caminho messiânico de Jesus, não como um caminho de glória e de triunfos humanos, mas como um caminho de amor e de cruz. “Conhecer Jesus” é aderir a Ele e segui-l’O nesse caminho de entrega, de doação, de amor total.
Quem é Jesus, para nós? É alguém que conhecemos das fórmulas do catecismo ou dos livros de teologia, sobre quem sabemos dizer coisas que aprendemos nos livros? Ou é alguém que está no centro da nossa existência, cujo “caminho” tem um real impacto no nosso dia a dia, cuja vida circula em nós e nos transforma, com quem dialogamos, com quem nos identificamos e a quem amamos?
A primeira leitura apresenta-nos um misterioso profeta “trespassado”, cuja entrega trouxe conversão e purificação para os seus concidadãos. Revela, pois, que o caminho da entrega não é um caminho de fracasso, mas um caminho que gera vida nova para nós e para os outros. João, o autor do Quarto Evangelho, identificará essa misteriosa figura profética com o próprio Cristo.
Fomos constituídos profetas no momento da nossa opção por Cristo (Baptismo). Como se tem “cumprido” a nossa missão profética? Na fidelidade e no empenho, ou na preguiça e no comodismo? No medo que paralisa, ou na inquebrantável confiança no Deus que está ao nosso lado?
A segunda leitura reforça a mensagem geral da liturgia deste domingo, insistindo que o cristão deve “revestir-se” de Jesus, renunciar ao egoísmo e ao orgulho e percorrer o caminho do amor e do dom da vida. Esse caminho faz dos crentes uma única família de irmãos, iguais em dignidade e herdeiros da vida em plenitude.
O cristão é, fundamentalmente, aquele que se “revestiu de Cristo”. Que significa isto, em concreto? Que assinamos um documento no qual nos comprometemos a viver como baptizados? Que respeitamos apenas as leis e orientações da hierarquia? Que nos comprometemos somente a ir à missa ao domingo, a ir a Fátima uma vez por ano e a rezar o terço de vez em quando? Ou significa que assumimos o compromisso de viver como Cristo, de assumir os seus valores, de fazer da nossa vida um dom de amor, de nos entregarmos até 
à morte para construir um mundo de justiça e de paz para todos?


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sábado, 18 de junho de 2022

Como se aceita o que não se compreende?



Nem sempre conseguimos aceitar o que não podemos compreender. A vida falha-nos como se o gerador implacável que a sustenta não prestasse para nada. Brinda-nos com a sua intermitência estranha, arbitrária e, demasiadas vezes, breve.

Detestamos falar da morte. Preferimos ir vivendo como se estivéssemos colados à eternidade que este mundo não nos dá.

Detesto falar da morte e do escuro que se dilui no coração quando a palavra faz eco debaixo da pele e dos dias. No entanto, a verdade é que a morte existe. Também é verdade que nos leva os nossos amigos sem nos deixar tempo para despedidas. Também é verdade que nos faz tremer o chão da alma e nos faz compreender que somos, simplesmente, uma faísca que passa e que não fica.

Perdemos uma das nossas. Uma alma-luz que dava o seu sorriso como quem nos serve uma fatia de bolo deliciosa e inesquecível. Uma pessoa-coração que distribuía o que era por todos quantos se cruzaram consigo. Uma pessoa que cuidava dos que toda a gente esqueceu (e continua a esquecer) porque continua a ser mais fácil não falar de deficiência grave, de doença mental e de solidão crónica. É sempre mais fácil não ver.

A Cristiana via as pessoas que conhecia. Tocou todos quantos se cruzaram com ela e amou-os como quem vem a este mundo para isso. (e não será para isso que aqui estamos?)

A Cris deixou os seus amigos, a sua família, os seus doentes, as pessoas que a conhecem e conheceram demasiado cedo. Em Fátima, onde não vivia, foi encontrar a escada que a levou para o Céu. Os que ficamos debatemo-nos entre a zanga, o sorriso da Cris e o sorriso de Nossa Senhora. Que raio foi acontecer? Mas, como assim?

Fica-nos uma esperança bonita, regada de (tantas!) lágrimas:

Que Nossa Senhora tenha vindo ajudá-la a subir as escadas que a levaram ao Alto e que nos possa ajudar a nós a ser tão santos como era a Cris.

Até ao Céu, Cris.

Dá-nos notícias, por favor. Vê se usas uma borboleta, um passarinho ou aquela brisa fresca do fim do dia para nos lembrar que estaremos sempre juntos.


Marta Arrais

sexta-feira, 17 de junho de 2022

AMIGOS QUE VALE A PENA TER E COM ELES CONVIVER



Toda a gente gosta de ter amigos, muito mais os adolescentes e os jovens. No entanto, se se diz que quem tem um amigo tem um tesouro, é porque eles não andam por aí aos molhos, são raros. Há muita gente conhecida, é verdade, mas amigos amigos....
No dia 21 deste mês de junho, muita gente recorda uma dessas pessoas que muitos jovens e estudantes têm em grande apreço pela ajuda que ela lhes dá pelos caminhos da vida. É uma presença que anima, protege, conforta, estimula, tranquiliza. Quer o leitor saber de quem se trata?... A quem está a patinhar em certos debates, o interlocutor, impaciente, manifesta-lhe pressa em saber o que realmente interessa para passar à frente. O patinhador, continuando com o seu paleio inútil e sem esclarecer o que é perguntado, costuma afirmar: “lá chegaremos, já lá chegaremos!”... Constata-se, porém, que nunca ou raramente lá chega. Mas eu vou chegar, não estou a patinhar!
Como sabemos, a amizade ajuda à construção da identidade e à definição de valores, ideias e opiniões sobre si próprio, sobre os outros e o mundo, é capaz de rasgar autoestradas para as viagens da vida. Além disso, se em momentos mais complicados se pode contar com a lealdade, a ajuda e a confiança dos amigos, também se conta com eles para conversar, conviver, divertir e partilhar momentos felizes. Embora a traição dos amigos possa doer muito, há amigos que são extremamente leais, nunca falham. Antes de mais, porém, chamo a atenção para o Amigo por excelência. Ele é amigo de todos como se cada um fosse o único, não faz acessão de pessoas, não considera ninguém como número, a todos trata como amigos e a todos chama pelo nome, conhece muito melhor cada um deles do que cada um deles a si próprio, sempre estende a sua mão amiga e não falha, até deu a vida por cada um: é Jesus. Como amigo sincero em busca da nossa amizade, segredou-nos tudo quanto era possível acerca do seu Pai para que a sua alegria estivesse em nós e a nossa alegria fosse completa. E se Ele permanece firmemente fiel, também nos deu um critério para que possamos avaliar a nossa lealdade para com Ele. Disse-nos que seríamos seus amigos se nos amássemos uns aos outros como Ele nos amou.
Frequentemente acontece que os amigos dos nossos amigos se tornam amigos comuns. Ora, os melhores amigos de Jesus são aqueles que aceitaram a sua amizade, a partilharam com Ele e os outros e hoje se encontram no gozo da felicidade eterna. A esses lhes vamos fazendo o cerco para que também sejam nossos amigos. Assim, referimo-nos aos santos como se de pessoas de família se tratasse, contamos com a sua amizade, oração e proteção junto de Deus. É certo que a primeira pessoa que reza por nós é o próprio Jesus que pediu ao Pai que todos fossemos um como Ele e o Pai são um. O que sustenta cada um de nós na vida "é a oração de Jesus por cada um de nós, diante do Pai, mostrando-lhe as feridas que são o preço da nossa salvação", afirmou o Papa Francisco. Mas também o Espírito Santo nos ajuda na nossa fraqueza, Ele próprio intercede por nós (cf. Rom 8, 26-27).
E os santos? Como se traduz a sua amizade para connosco? Os santos “não cessam de interceder em nosso favor, diante do Pai, fazendo com que a nossa fraqueza seja assim grandemente ajudada pela sua solicitude fraterna” (LG49). Esta nossa união com aqueles que adormeceram na paz de Cristo, não se interrompe, antes pelo contrário, é reforçada pela comunicação dos bens espirituais. E embora saibamos que todos os bens espirituais nos veem de Deus por meio de Cristo, todos gostamos de ter estes santos amigos a quem tantas vezes pedimos que se associem a nós, fazendo valer as nossas orações junto de Deus. E eles não regateiam isso. São Domingos, por exemplo, já moribundo, dizia aos seus confrades: “Não choreis, que eu vos serei mais útil depois da morte e vos ajudarei mais eficazmente que durante a vida”. E Santa Teresa do Menino Jesus afirmava: “Quero passar o meu céu a fazer o bem sobre a terra” (CIgC956).
Estes nossos amigos, porém, os santos, não usam a lógica que muita gente usa neste mundo. Eles não servem para meter uma ‘cunha’ a Deus para que Deus nos deixe entrar pela porta do lado, a porta dos interesses e do egoísmo. A lógica deles é outra, eles intercedem por nós e ajudam-nos quando nós queremos ser ajudados a aceitar os critérios da verdadeira amizade para com Jesus, a amizade que Ele nos tem e nos apontou. Assim, quando, por exemplo, falamos em Padroeiro ou Padroeira falamos de um Anjo, de Nossa Senhora ou de um santo ou santa, alguém que está junto de Deus e, por vários motivos e nossa devoção, é declarado ou considerado como nosso protetor e defensor junto de Deus. Ao longo da história, houve muita gente que marcou a diferença e hoje é apresentada como estímulo para todos.
Luís Gonzaga é um deles. Foi o primeiro de sete irmãos de uma família nobre e influente do norte de Itália. Seu pai traçara para ele um projeto de vida militar no qual o iniciou em tenra idade. Dada a sua condição social, Luís frequentava os ambientes ricos e aristocráticos da nobreza italiana. Nas pisadas que dava e nos serviços que ia prestando, inclusive como pajem do filho de Filipe II de Espanha, surpreendia sempre. O seu pensamento e maneira de estar e agir prendiam-se sempre com o saber se isso lhe serviria de alguma coisa para ser verdadeiramente feliz, neste mundo e no outro. Depois de algumas teimas consigo mesmo sobre qual o caminho a seguir, depois de séria reflexão, oração e ajuda de outros ao seu discernimento, foi determinado. Sendo, como filho mais velho, o príncipe herdeiro dos títulos e funções importantes de seu pai, a tudo renunciou e decidiu ingressar na Ordem dos Jesuítas. A sua determinação causou surpresa geral. O pai sentiu que todos os planos que tinha traçado para ele fracassaram, ficou de mau humor, tentou dissuadi-lo, mas foi impossível, ele queria ser padre: “É nisso que penso noite e dia”, disse ele ao pai. A doença, porém, deu vida curta a Luís Gonzaga, foi contagiado na sua constante dedicação aos doentes do tifo, vindo a falecer no dia 21 de junho de 1591. Os seus restos mortais encontram-se na Igreja de Santo Inácio, fundador da ordem Jesuíta, em Roma. Foi beatificado quatorze anos após a morte. Mais tarde foi canonizado por Bento XIII e declarado padroeiro dos jovens e estudantes. No século passado, Pio XI declarou-o padroeiro de toda a juventude cristã.
Felizes os jovens que encontram na vida uns amigos de carne e osso, uns ‘santos de ao pé da porta’ que os ajudem a crescer e a discernir o caminho certo nas encruzilhadas existenciais. Mas felizes também aqueles que gostam de ter na roda dos seus amigos os santos que já viveram as turbulências deste mundo e continuamente intercedem por nós, sendo luz e incentivo nos caminhos da vida. Conhecer o currículo de cada um é um desafio sempre enriquecedor e estimulante.

D. Antonino Dias . Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 17-06-2022.


quinta-feira, 16 de junho de 2022

Procissão de Corpo de Deus

 






Solenidade do Santíssimo Corpo de Cristo e Festa da Primeira Comunhão

 

Hoje a nossa Igreja esteve novamente em festa. Foi um dia muito especial para a nossa Paróquia, é o dia do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.

As crianças do 3ºano receberam Jesus pela primeira vez. Jesus, que na Eucaristia se continua a oferecer e entregar por nós.

Foi um momento solene e por isso vivido e partilhado em comunidade. Fomos hoje à Igreja que é a "casa" que acolhe a todos, para edificar, em comum, um futuro de felicidade que desejamos para as nossas crianças.

  





























Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

 


No centro da Solenidade deste dia está quer a celebração de Deus que alimenta o seu povo e que, no seu Filho, dá-lhe o alimento supremo e eterno, quer a grande Eucaristia dos crentes.
Para exprimir esta oração de louvor e de agradecimento, que dirigimos ao Senhor acolhendo o dom do seu amor, a Escritura emprega duas palavras: a bênção (primeira leitura) e a ação de graças (segunda leitura).
Estas duas dimensões de oração estão intimamente ligadas e devem habitar a nossa vida para além da missa, para testemunhar todo o amor com o qual Cristo ama os homens (Evangelho).
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é a festa da Pessoa de Cristo. Ao levantarmos os olhos para o Pão e o Vinho consagrados, só podemos dizer: «É mesmo Ele! Meu Senhor e meu Deus!»


PALAVRA PARA O CAMINHO: COMER PARA VIVER.
É a lei biológica da nossa condição humana: é preciso comer para viver. A nossa vida espiritual exige também ser alimentada e cuidada, para crescer e ser fecunda. Ao multiplicar os pães e os peixes para a multidão que tinha vindo escutar o seu ensinamento, Jesus respondia, certamente, a uma necessidade física imediata. Mas revelava já todo o seu amor pelos homens e o seu desejo de os saciar com o verdadeiro alimento: a sua própria vida, o seu corpo entregue como Pão da Vida, o seu sangue derramado como sangue da Aliança.
Assim, comungar é ser alimentado pela vida de Jesus, enriquecido pelas suas próprias forças, ser capaz do seu amor. Do mesmo modo que comemos para viver, comungamos na Eucaristia para viver como discípulos de Jesus… Que fazemos das nossas comunhões? Que vidas fazem elas crescer em nós?
Para meditar estas interrogações, perguntemo-nos verdadeiramente sobre o que nos faltaria se não tivéssemos Eucaristia…
A Eucaristia é verdadeiramente «vital» para nós?

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quarta-feira, 15 de junho de 2022

A Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo ou Corpus Christi

 

Igreja Matriz de Arronches
Dia 16 de Junho 

 11h 30m - Eucaristia
 12h 30m  Procissão de Corpo de Deus

Itinerário:  Praça da Republica,
Rua 5 de Outubro, Largo Serpa Pinto, Rua Almirante Cândido dos Reis , Praça da República.

Vamos louvar e dar a graças ao Senhor.

O que Corpus Christi significa?

 

Festa do amor de Cristo por nós  

 


A grandeza contida neste Sacramento é inexprimível em linguagem humana. Às palavras da Consagração, pronunciadas pelo sacerdote, o próprio Deus obedece, e se realiza o maior milagre da face da Terra. Por essa maravilha, bem podemos avaliar o quanto Ele nos ama de maneira incomensurável. Toda a criação se ordena em função do Homem-Deus, e o supremo ato de amor d’Ele pelos homens consistiu na instituição da Eucaristia para perpetuar sua presença entre os homens. Nada mais adequado do que a Igreja comemorar esse dom incomparável: a solenidade de Corpus Christi.

Origem da festa de Corpus Christi

Logo nos primeiros séculos, a Quinta-Feira Santa tinha o caráter eucarístico e a Eucaristia já era o centro e coração da vida sobrenatural da Igreja. Todavia, fora da Missa não se prestava culto público a esse sacramento. O pão consagrado costumava ficar guardado numa espécie de sacristia, e mais tarde lhe foi reservado um nicho num ângulo obscuro do templo, onde se punha um cibório em forma de pomba, suspenso sobre o altar, sempre tendo em vista a eventual necessidade de atender a algum enfermo.

Mas durante a Idade Média, os fiéis foram sendo cada vez mais atraídos pela sagrada humanidade do Salvador. A espiritualidade passou a considerar de modo especial os episódios da Paixão. Criou-se por isso um clima propício para que se desenvolvesse a devoção à Sagrada Eucaristia. Então, em 1264, a festa litúrgica em louvor ao Santíssimo Sacramento foi instituída por Urbano IV. Ela deveria marcar os tempos futuros da Igreja, tendo como finalidade cantar a Jesus Eucarístico, agradecendo-Lhe solenemente por ter querido ficar conosco até o fim dos séculos sob as espécies de pão e vinho.

Motivos para celebração da festa

Vários motivos haviam conduzido a Sé Apostólica a dar esse novo impulso à piedade eucarística, estendendo a toda a Igreja uma devoção que já se praticava em certas regiões da Bélgica, Alemanha e Polônia. O primeiro deles remonta à época em que Urbano IV, então membro do clero de Liège, na Bélgica, analisou de perto o conteúdo das revelações com as quais o Senhor Se dignara favorecer uma jovem religiosa do mosteiro agostiniano de Mont Cornillon, próximo a essa cidade.

Em 1208, quando contava apenas 16 anos, Juliana fora objeto de uma singular visão: um refulgente disco branco, semelhante à lua cheia, tendo um dos seus lados obscurecido por uma mancha. Após alguns anos de intensa oração, fora-lhe revelado o significado daquela luminosa “lua incompleta”: ela simbolizava a Liturgia da Igreja, à qual faltava uma solenidade em louvor ao Santíssimo Sacramento. Santa Juliana de Mont Cornillon fora por Deus escolhida para comunicar ao mundo esse desejo celeste.

Mais de vinte anos se passaram até que a piedosa monja, dominando a repugnância proveniente de sua profunda humildade, se decidisse a cumprir sua missão, relatando a mensagem que recebera. A pedido seu, foram consultados vários teólogos, entre os quais o padre Jacques Pantaléon — futuro Bispo de Verdun e Patriarca de Jerusalém —, e este mostrou-se entusiasta das revelações de Juliana. Transcorridas algumas décadas, e já após a morte da santa vidente, quis a Divina Providência que ele fosse elevado ao Sólio Pontifício, em 1261, tomando o nome de Urbano IV.

Encontrava-se esse Papa em Orvieto, no verão de 1264, quando chegou a notícia de que, a pouca distância dali, na cidade de Bolsena, durante uma Missa na Igreja de Santa Cristina, o celebrante — que passava por provações quanto à presença real de Cristo na Eucaristia — vira transformar-se em suas próprias mãos a Sagrada Hóstia em um pedaço de carne, que derramava abundante sangue sobre os corporais.

A notícia do milagre espalhou-se rapidamente pela região. Informado de todos os detalhes, o Papa mandou trazer as relíquias para Orvieto, com a reverência e a solenidade devidas. E ele mesmo, acompanhado de numerosos Cardeais e Bispos, saiu ao encontro da procissão formada para conduzi-las à catedral.

Pouco depois, em 11 de agosto do mesmo ano, Urbano IV emitia a bula Transiturus de hoc mundo, pela qual determinava a solene celebração da festa de Corpus Christi em toda a Igreja. Uma afirmação contida no texto do documento deixava entrever ainda um terceiro motivo que contribuíra para a promulgação da mencionada festa no calendário litúrgico: “Ainda que renovemos todos os dias na Missa a memória da instituição desse Sacramento, estimamos todavia, conveniente que seja celebrada mais solenemente pelo menos uma vez ao ano para confundir particularmente os hereges; pois, na Quinta-Feira Santa a Igreja ocupa-se com a reconciliação dos penitentes, a consagração do santo crisma, o lava-pés e muitas outras funções que lhe impedem de voltar-se plenamente à veneração desse mistério”


.Origem das Procissões Eucarísticas de Corpus Christi

Ainda no século XIII, surgiram as grandes procissões conduzindo o Santíssimo Sacramento pelas ruas, primeiro dentro de uma âmbula coberta, e mais tarde exposto no ostensório. Também neste ponto o fervor e o senso artístico das várias nações esmeraram-se na elaboração de custódias que rivalizavam em beleza e esplendor, na confecção de ornamentos apropriados e na colocação de imensos tapetes florais ao longo do caminho a ser percorrido pelo cortejo.




Os Papas Martinho V (1417-1431) e Eugênio IV (1431-1447) concederam generosas indulgências a quem participasse das procissões de Corpus Christi. Mais tarde, o Concílio de Trento — no seu Decreto sobre a Eucaristia, de 1551 — sublinharia o valor dessas demonstrações de Fé: “O santo Sínodo declara que é piedoso e religioso o costume, introduzido na Igreja de Deus, de celebrar todos os anos com singular veneração e solenidade, em dia festivo e peculiar, este excelso e venerável Sacramento, levando- O em procissões por vias e locais públicos com reverência e honra”.


O amor eucarístico do povo fiel não se restringiu, porém, a manifestações externas; pelo contrário, elas eram a expressão de um sentimento profundo posto pelo Espírito Santo nas almas, no sentido de valorizar o precioso dom da presença sacramental de Jesus entre os homens, conforme Suas próprias palavras: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20). O mistério de amor de um Deus que não só Se fez semelhante a nós para resgatar-nos da morte do pecado, mas quis, num extremo de ternura, permanecer entre os seus, ouvindo suas súplicas e fortalecendo-os em suas tribulações, passou a ser o centro da vida cristã, o alimento dos fortes, a paixão dos santos.

Vê-se com a instituição da Sagrada Hóstia – e particularmente na celebração de Corpus Christi – que nosso Salvador arde de desejo de estar cada vez mais presente na vida de seus filhos, fazendo surgir sempre novas possibilidades de se aproximar mais deles. Cumpre a nós correspondermos a essa divina dádiva, e tomarmos como centro, não apenas de nossa espiritualidade, mas de toda a nossa existência, a Jesus Sacramentado, que é, já nessa Terra, nossa “recompensa demasiadamente grande”. (Gn 15, 1)~


Fontes: Excertos de artigo de Mons. João Scognamiglio Clá Dias em “O inédito sobre os Evangelhos”, vol. I, p. 435-447. Revista Arautos do Evangelho, n. 6, p. 6-10; n. 90, p. 24-31. Com adaptações.


terça-feira, 14 de junho de 2022

Encerramento das actividades do MCC 2021/2022 - Ultreia Diocesana

A Ultreia Diocesana é já no dia 26 junho, na Queixoperra, confirma a tua presença, junto dos respetivos centros de ultreia, até dia 16 de junho.
Decolores


Prece aos Santos Populares





Santo António, São João e São Pedro,

invocamos-vos neste mês de junho como Santos populares

e é grande o nosso contentamento pois estamos em festa.

O tempo mais quente e os dias mais longos

são um convite à boa disposição e ao convívio nas ruas e praças,

onde os bairros engalanados com arcos, balões e manjericos

e os arraiais abrilhantados noite dentro com inúmeras tradições,

enchem-nos de entusiasmo e animação.

A verdade é que o nosso Deus é Vida em abundância,

quer ver-nos satisfeitos e felizes e a Boa Nova de Jesus

é motivo de verdadeira felicidade e autêntica alegria.

No entanto, é triste vermos como facilmente pecamos

e nos agarramos a coisas e a pessoas que não nos fazem bem,

e nos afastam do essencial, uns dos outros e do Deus do Amor

que é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Caros Santos populares,

que fostes pessoas normais e pecadores como nós,

mas quisestes ser cristãos a sério,

nunca desististes de procurar ser melhores a cada dia

e sempre pedistes e acolhestes a graça de Deus,

ajudai-nos a sermos bons cidadãos e mais santos como vós.

Inspirai-nos no nosso quotidiano para que procuremos seguir a Jesus

com a garra e a radicalidade como vós o fizeste.

Que sejamos capazes de ser discípulos do Mestre

com o empenho e entusiasmo que vós tivestes na vossa vida.

Apesar de terdes sido na vida tão diferentes uns dos outros,

dissestes ‘sim’ ao Senhor, de forma genuína e apaixonada,

deixastes tudo e todos para anunciar o Evangelho

e isso é um estímulo extraordinário para todos nós, aqui e agora.

Que levemos por toda a parte a Palavra de Deus

e abracemos a Jesus e sejamos suas testemunhas como tu, Santo António.

Que sejamos humildes, façamos penitência

e preparemos o caminho do Senhor como tu, São João Batista.

Que sejamos pescadores de homens

e tenhamos a tua fé, sinceridade e espontaneidade, São Pedro.

Caros Santos populares,

sede modelos de santidade para todo o povo cristão

e rogai por nós junto de Deus para que sejamos fiéis

ao nosso batismo e vivamos a nossa fé com bom humor.

Santo António, pedimos-te que abençoes os namorados,

os pobres, os oprimidos, os animais,

os viajantes, os pescadores e as grávidas

e faz com que encontremos sempre as coisas que perdemos.

São João, pedimos-te que protejas os amigos,

os doentes, as grávidas e os casados

e que nos alivies quando estivermos com dores de cabeça e garganta.

São Pedro pedimos-te que protejas os pescadores,

os marinheiros, os pedreiros, os viúvos, os porteiros e os pioneiros

e que nos dês sempre o tempo que mais precisarmos.

Ó queridos Santos Populares, concedei-nos a verdadeira alegria,

dai-nos de uma vez por todas a paz e livrai-nos da pandemia!

Amém.


Paulo Costa


segunda-feira, 13 de junho de 2022

Santo Antônio de Lisboa, de Pádua ou do mundo todo?

"Doutor da Igreja", "Martelo dos Hereges", "Doutor Evangélico", "Arca do Testamento" é como os Papas o chamaram. Para o povo fiel, ele protege os pobres, auxilia na busca de coisas e pessoas perdidas, orienta os sentimentos e inspira a vida de oração...

Santo Antônio


Santo Antônio de Lisboa, de Pádua ou do mundo todo?

Por alguns ele é chamado de Santo Antônio de Lisboa, cidade onde nasceu. Outros preferem chamá-lo de Santo Antônio de Pádua, lembrando a cidade onde exerceu suas funções e nas cercanias da qual morreu. Cada um desejando a glória de que o Santo tenha sido de sua cidade.

Quem acabou resolvendo essa “disputa” foi o Papa Leão XIII que chamou Antônio de “o santo do mundo todo”. E Leão XIII tinha razão: a devoção a Santo Antônio é universal. Ele é verdadeiramente Santo Antônio de todo o mundo…

Embora tendo uma vida terrena curta —morreu aos 36 anos— tornou-se um dos santos mais populares do mundo, sendo venerado tanto no Oriente quanto no Ocidente, no norte e no sul. No Brasil, a devoção a Santo Antônio foi uma herança deixada pelos portugueses.

Santidade, Oratória e… Milagres


Sua santidade, sua oratória e modo de ser, sua caridade: tudo isso contribuiu para que o nome de Santo Antônio corresse o mundo. Contudo, é inegável que os milagres a ele atribuídos ajudaram em muito o crescimento de sua popularidade.

Durante seus sermões, ele falava uma só língua, porém, frequentemente, era entendido por pessoas de outros países, que falavam outros idiomas. Seu Provincial aproveitou-se desse fato miraculoso e o encarregou da ação apostólica contra os hereges na região da antiga Romagna e no norte da Itália. Ele tornou-se, então, um extraordinário pregador popular. Falava numa língua e era compreendido por todos…

Era tal é a quantidade de fatos extraordinários e sobrenaturais que aconteciam durante suas pregações e depois delas ou que eram obtidos através de suas orações e intercessão que Frei Antônio é considerado o santo dos milagres.

Sem dúvida, ele é o “Santo dos Milagres”. Se relacionarmos os milagres a ele atribuídos chegaremos a um número impressionante. Pode ser até que essa tenha sido uma das causas de ele ter sido canonizado em menos de um ano após a morte. E isto é certo, pois, a boca fala da abundância do coração. Assim como só quem admira pode entusiasmar, só quem é santo pode santificar…

Morreu cedo, fez muito e continua a fazer


Santo Antônio Apesar de ter apenas 34 anos, Antônio estava muito doente. Em 1229 foi morar no convento de Arcella, em Camposampiero. Mas, não parou de exercer sus funções de pregador. Depois de pregar a Quaresma de 1231, sentiu-se muito cansado. Ele precisava de repouso.

Tentando dar a Frei Antônio descanso merecido e também necessário para sua sobrevivência, os frades fizeram para ele um “quarto” sobre os galhos de uma enorme nogueira, ali mesmo no mosteiro, em Camposampiero. Mesmo assim o povo o procurava.

Decidiram então levá-lo para Pádua. Cuidadosamente prepararam um carro puxado por bois, agasalharam bem o enfermo e deram início à longa viagem. No caminho, Antônio foi piorando. Pararam, então, em um povoado onde havia um convento franciscano.
O Santo estava no fim. Sua saúde deteriorava constantemente e ele sofria muito: precisava ficar sentado constantemente pois só assim conseguia respirar. Mas não deixava de cumprir suas obrigações religiosas. Rezava constantemente até que, vendo o fim acercar-se pediu o santo viático e a unção dos enfermos.

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domingo, 12 de junho de 2022

Solenidade da Santíssima Trindade

 



A Solenidade que hoje celebrámos não é um convite a decifrar a mistério que se esconde por detrás de “um Deus em três pessoas”; mas é um convite a contemplar o Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de amor.
A primeira leitura sugere-nos a contemplação do Deus criador. A sua bondade e o seu amor estão inscritos e manifestam-se aos homens na beleza e na harmonia das obras criadas (Jesus Cristo é “sabedoria” de Deus e o grande revelador do amor do Pai).
A segunda leitura convida-nos a contemplar o Deus que nos ama e que, por isso, nos “justifica”, de forma gratuita e incondicional. É através do Filho que os dons de Deus/Pai se derramam sobre nós e nos oferecem a vida em plenitude.
O Evangelho convoca-nos, outra vez, para contemplar o amor do Pai, que se manifesta na doação e na entrega do Filho e que continua a acompanhar a nossa caminhada histórica através do Espírito. A meta final desta “história de amor” é a nossa inserção plena na comunhão com o Deus/amor, com o Deus/família, com o Deus/comunidade.

https://www.dehonianos.org/

sexta-feira, 10 de junho de 2022

OS MAUS FÍGADOS DE GENTE SEM PAZ


A saúde da paz foi sempre muito precária, muito débil. Sempre houve gente de maus fígados, prepotente, volúvel. Gente fascinada pela cultura da morte, por imperialismos históricos, por arsenais de armamento escondido a espreitar por detrás da porta para provocar, ameaçar ou atingir quem está ou passa inocente. “Se queres conhecer o vilão, mete-lhe o pau na mão”, diz o nosso povo. E di-lo sem grande esperança em qualquer espécie de profilaxia ou de terapia. O povo sabe que estes ‘doentes’ são maus doentes, não colaboram na possível cura. Antes pelo contrário, orgulham-se dela, promovem e agravam a doença por entre os estridentes aplausos dos seus aduladores e subservientes de serviço. Apesar de ser um dos seus principais deveres, o mundo, graças a estas patologias humanas, tem muita dificuldade em se governar na paz. Depressa esquece que todos fazemos parte do género humano, da fraternidade universal, que todos somos irmãos, responsáveis uns pelos outros. Entre nós, porém, também há sinais de retrocesso no que à paz diz respeito. Há quem, em pezinhos de lá e com linguagem subtil, ocultando chamar os bois pelo nome, se esforce por levar a água ao seu moinho para triturar e inverter o que tanto tem custado a conquistar ao longo dos tempos: o respeito pela vida: “não matarás”. Há quem defenda a cultura da morte como se de um salto civilizacional se tratasse ou como se essa fosse a questão mais premente das políticas de saúde pública ou da vida social a resolver. Se a vida é o vértice da paz, se a paz e a vida são bens por excelência da condição humana e de qualquer ordem social, se a paz e a vida são bens interdependentes ou correlativos, a paz não pode ser senão a vitória do direito e a feliz celebração da vida devidamente cuidada e assistida. Toda e qualquer ofensa à vida é um atentado contra a paz. Se queres a paz, respeita a vida, a paz começa em ti. Esta paz que começa em cada um de nós, porém, não é possível se baseada em sofismas ou fantasias que levem à eliminação da própria vida ou da vida de terceiros, seja em forma de aborto, de eutanásia ou de qualquer outra forma de violência fratricida: “não matarás”. Mal da sociedade e do progresso quando o direito perde o seu caráter humano, quando deixa de ser o que deve ser e se empanturra de indiferença, frieza e deturpações, deixando de defender a vida e a pessoa diferente, criando dela uma imagem negativa e incómoda ou fabricando uma falsa compaixão por ela, ao ponto de a excluir ou destruir, sobretudo as mais frágeis. E tudo isto invocando o direito à plena liberdade e à dignidade pessoal de quem o faz ou pede que lho façam, e ao dever de quem o deve permitir ou colaborar. De facto, somos uns artistas sem igual em busca de razões sem razão só para manifestar maus fígados, satisfazer ideologias e egoísmos vários e não fazer o que devemos fazer para acompanhar e cuidar! Porque não é fácil enfrentar a verdade e edificar sobre a rocha, governa-se e vive-se ao som dos ventos, das modas e dos interesses, construindo sobre areia movediça e querendo voar contra o SOL esquecendo que as asas são de cera!... Nenhum projeto civilizacional se aguenta quando construído sobre os alicerces da cultura da morte! Infelizmente, perde-se a memória, ignoram-se as lições da história!...
Sabemos que a par dos conflitos que acompanham a história humana, o homem sempre buscou a paz. Mas, que paz? É certo que o mundo pode proporcionar uma certa tranquilidade a pessoas e sociedades, levando-as a viver sem grandes preocupações e dificuldades. Deus dá graças comuns a toda a gente, “faz nascer o sol sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos.” (Mt 5, 44-45). A isso, porém, só latamente se pode chamar paz, não só porque se limita ao âmbito material e exterior, mas também porque leva a pensar que a paz consiste na ausência de guerra. Sem negar essa tranquilidade que o mundo pode dar, Cristo disse-nos: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. A paz que vos dou não é a paz que o mundo dá” (Jo 14, 27). Realço: a paz que Jesus nos dá não é “a paz que o mundo dá”, é a paz que Ele nos alcançou através da morte, reconciliando-nos com Deus, servindo, amando, lavando os pés aos outros, dando a vida. Por isso nos diz: “dou-vos a Minha paz”. É uma paz própria, caraterística d’Ele. Não como o mundo a dá por medo de consequências, por cansaço de violências, de injustiças, de humilhações. É uma paz que não se pode reivindicar nem comprar porque não está armazenada nem à venda, mas pode e deve-se pedir e construir. É uma paz dada gratuitamente, por amor, como dom e prenda confiada aos homens, não como prémio merecido. Jesus dá essa paz onde e quando a vontade de competir, de dominar, de ser o mais importante e o mais forte, ceder lugar ao serviço, ao amor desinteressado pelos últimos, à humildade de reconhecer que todos somos irmãos e responsáveis uns pelos outros. Esta paz não é mera ausência de guerra, é presença de Deus que é amor, é paz com Deus, é paz em Deus reconciliados que fomos com Ele pela morte de seu Filho, o Príncipe da Paz. E se a vida nos apresenta dificuldades, não devemos ficar perturbados nem ter medo, estamos com Ele, Ele venceu o mundo: “Disse-vos estas coisas para que tenhais a Minha paz. Neste mundo tereis aflições, mas tende coragem: Eu venci o mundo” (Jo 16,33).
São Paulo VI escreveu assim: “A paz, para nós, cristãos, não é somente um equilíbrio exterior, uma ordem jurídica, um conjunto de relações públicas disciplinadas; para nós, a Paz é, antes de mais nada, o resultado da atuação dos desígnios de sapiência e de amor com que Deus quis instaurar relações sobrenaturais com a humanidade. A Paz é o primeiro efeito desta nova economia, a que nós chamamos a Graça; “graça e paz”, repete o Apóstolo; é um dom de Deus que se torna estilo da vida cristã, é uma fase messiânica que reflete a sua luz e a sua esperança também sobre a cidade temporal e que fortalece com razões bem mais elevadas aquelas mesmas razões sobre as quais ela assenta a sua paz. Na verdade, à dignidade de cidadãos do mundo, a Paz de Cristo acrescenta a de filhos do Pai celeste; à igualdade natural dos homens, ela ajunta a da fraternidade cristã; às desavenças humanas que sempre comprometem e violam a paz, aquela Paz de Cristo enfraquece os pretextos, contesta os motivos e aponta-lhes as vantagens de uma ordem moral ideal e superior e revela-lhes ainda a prodigiosa virtude religiosa e civil do perdão generoso; à insuficiência da habilidade humana para criar uma paz sólida e estável, a Paz de Cristo fornece o auxílio do seu otimismo inexaurível; à falsidade da política do prestígio orgulhoso e do interesse material, a Paz de Cristo sugere a política da caridade; à justiça, muitas vezes cobarde e impaciente, que afirma as suas exigências com o furor das armas, a Paz de Cristo infunde a coragem invencível do direito, haurido das razões profundas da natureza humana e do destino transcendente do homem. E acentue-se ainda que não é medo da força e da resistência a Paz de Cristo, a qual recebe o seu espírito do sacrifício que redime; não é fraqueza transigente perante as desgraças e as deficiências dos homens sem sorte e sem defesa, esta Paz de Cristo possui a compreensão da dor e das necessidades humanas e sabe encontrar oportunamente amor e dádivas para os pobres, para os fracos, para os deserdados, para os que sofrem, para os que são humilhados e para os vencidos. Por outras palavras: a Paz de Cristo, mais do que qualquer outra fórmula humanitária, é solícita pelos Direitos do Homem” (II Dia Mundial da Paz, 1969).

Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 10-06-2022.


quinta-feira, 9 de junho de 2022

Ama e serás eterno!



O medo nunca está nos perigos que nos assustam, está sempre e só em nós. É o medo que é perigoso. A consciência de que, por vezes, o medo é apenas um monstro interior que nos quer moribundos é já um golpe decisivo para o vencer e para vivermos melhor.

Há medos bons, até porque o excesso de valentia é por vezes pior do que a cobardia, porque conduz a resultados ainda mais imprudentes e trágicos.

Aqui, como em tudo, importa encontrar a virtude por entre os excessos.

Todos sentimos medo, mas alguns de nós conseguem assumir uma espécie de coragem de existir que permite viver uma vida muito mais larga, sem demasiadas inquietações.

Quem tem medo do sofrimento já está a sofrer. Se tens medo, vai ver. Aproxima-te e poderás verificar que a fonte de desassossego é, quase sempre, menor do que aquela que a tua imaginação havia criado. A ignorância é cúmplice do medo.

Se tenho mesmo de sofrer, então mais vale que seja já.

Por maior e mais concreto que seja o perigo que tens à frente, não deixes que o medo seja maior do que tu, não permitas que seja ele que guie os teus passos. Olha o medo nos olhos e vais vê-lo fugir de quem lhe pergunta quem é.

Não tenhas medo de perder quem amas. Não o perderás, nunca. Entretanto, aproveita para o amares o melhor que puderes já neste mundo.

Se não tiveres medo da vida, compreenderás o que é a morte.

Não fujas de nada, ama.

Não temas o ódio dos outros, tem, sim, esperança no seu amor.

Quem ama é feliz. Por mais horrores que tenha de sofrer por causa disso, se o amor for verdadeiro, a sua alma fez-se feliz… e assim será, para sempre.


José Luís Nunes Martins


quarta-feira, 8 de junho de 2022

Papa Francisco e a ternura dos idosos que conduz ao encontro com Deus

 


Na Audiência Geral de 8 de junho, o Papa Francisco nos encoraja a observar como a sabedoria e a ternura dos idosos, e o carinho dos avós com os netos, nos ajudam a entender a ternura de Deus.