quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Talvez nos falte mais




Talvez nos falte mais. Sim, talvez nos falte sermos mais. Permitirmos que o encontro connosco aconteça no nosso quotidiano. Sem receio do que possamos descobrir. Sem medo de que os nossos cacos revelem a inteireza do que somos. Necessitamos deste descobrimento que nos ajuda a abraçar-nos. Que nos ajuda a abraçar o outro.

Talvez nos falte mais. Sim, talvez nos falte mais empatia. Essa capacidade de entrarmos na vida do outro. Sem acharmos que sabemos tudo o que sente, ou pensa. Falta-nos saber estar do outro lado. Saindo do nosso centro. Alargando os nossos sentidos ao outro que se faz presente na nossa vida.

Talvez nos falte mais. Sim, talvez nos falte mais incertezas. São elas que nos ajudam a caminhar. São elas que nos levam à descoberta. Do mundo. De mim. E do outro. São as incertezas que nos fazem relembrar a nossa fragilidade e, por isso, a nossa humanidade. Talvez nos falte mais incertezas, para deixarmos a arrogância de sabermos sempre tudo.

Talvez nos falte mais. Sim, talvez nos falte mais tempo. Quanto do nosso tempo é verdadeiramente nosso? Quanto do nosso tempo é dedicado à contemplação? Talvez não precisemos de mais tempo, mas sim de um maior proveito do mesmo.

Talvez nos falte mais. Sim, porque ainda vivemos imperfeitos. Inacabados. E precisamos de saber isso. Não para que seja vivido como um problema, mas para que possamos vivenciar a riqueza da nossa humanidade. Precisamos de saborear o que ainda não somos para que um dia possamos vir a ser tudo diante d'Aquele que é.

Talvez nos falte mais. E que bom. Que bom que não estamos finalizados. Que bom podermos delinear, vezes sem fim, em exploração e investimento, aquilo a que somos chamados a ser.

Talvez nos falte mais. Muito mais...


Emanuel António Dias

Sem comentários:

Enviar um comentário

Este é um espaço moderado, o que poderá atrasar a publicação dos seus comentários. Obrigado