sábado, 18 de novembro de 2023

Ensina-nos, Senhor, não a temer, mas a escutar.

 



Ensina-nos, Senhor, não a temer, mas a escutar.

Ensina-nos não a temer a escuridão de certas horas, mas a escutar sim os nossos passos nas suas travessias nocturnas; os momentos em que o nosso coração parece seguro apenas da noite, imensa e deserta; as estações em que a sombra cai sem aviso.
Na verdade, Tu Senhor enches de um brilho precioso o céu de breu que se desenrola sobre nós.
Ensina-nos não a omitir, mas a abraçar a curva da solidão que se ergue a meio do caminho; o vazio que toma conta da nossa casa tornando-a a nós desconhecida e como que abstrata; o pressentimento que nos faz estremecer por tudo aquilo que nos pertence e nos falta. Na verdade, Tu Senhor estiveste e estás sempre connosco e, a qualquer momento, a nossa vida pode florir.
Ensina-nos não a cancelar, mas a integrar o turbilhão interior que assoma mesmo quando se diria sem motivo; a imperfeição que escondemos e com a qual só a custo nos reconciliamos; aquilo que à primeira vista é dissonante, mas cuja possibilidade de harmonia compreenderemos depois. Na verdade, Senhor, Tu amadureces a nossa visão da vida pois nos incitas a habitá-la na sua inteireza.
Ensina-nos, Senhor, não a arte do escapismo, mas a sabedoria da confiança, que nos coloca em Ti como somos. E somos frágeis, divididos por dentro, vacilantes, inseguros e incertos. Mas somos Teus filhos e filhas e é assim que a todo o tempo nos resgatas.


Cardeal D. José Tolentino de Mendonça



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