domingo, 9 de novembro de 2025

Dedicação da Basílica de Latrão

 



A Basílica de S. João de Latrão é a catedral do Papa, enquanto Bispo de Roma. Construída pelo imperador Constantino, no tempo do Papa Silvestre I, foi consagrada no ano 324. Ela é chamada “a igreja-mãe de todas as igrejas da Urbe e do Orbe”; e é o símbolo das Igrejas de todo o mundo, unidas à volta do sucessor de Pedro. A Festa da Dedicação da Basílica de Latrão convida-nos a tomar consciência de que a Igreja nascida de Jesus (que a Basílica de S. João de Latrão simboliza e representa) é hoje, no meio do mundo, a “morada de Deus”, o testemunho vivo da presença de Deus na caminhada histórica dos homens.

Na primeira leitura, o profeta Ezequiel anuncia aos exilados na Babilónia que Deus vai fixar definitivamente a sua morada no meio do Seu Povo. Da “casa de Deus” brotará um rio de água viva e abundante que se derramará sobre toda a terra de Israel. Essa água irá fecundar o deserto, fazer com que nasçam árvores de toda a espécie, carregadas de frutos comestíveis e de folhas medicinais que serão remédio contra a morte. O povo de Deus, vivificado pela água que brota da morada de Deus, conhecerá a vida em abundância, a felicidade sem fim.Se Deus reside no meio dos homens e derrama sobre eles vida em abundância, porque é que existem na história do nosso tempo tantos pontos negros de miséria, de injustiça, de exploração, de sofrimento? Dificilmente conseguiremos, alguma vez, encontrar uma resposta totalmente satisfatória para esta questão… Convém, no entanto, ter presente que uma parte significativa dos males da humanidade resulta do facto de os homens serem indiferentes às propostas de vida que Deus continuamente lhes faz… Não é Deus que falha; são os homens que, utilizando a sua liberdade, recusam a vida que Deus lhes oferece e preferem construir a história humana de acordo com esquemas de egoísmo e de pecado. Para que a presença de Deus na nossa história tenha um impacto real na forma como, dia a dia, se constrói o nosso mundo, é necessário que a humanidade abandone os caminhos do orgulho e da autossuficiência e aprenda a escutar, com humildade e simplicidade, as propostas e os desafios de Deus. No que nos diz respeito, estamos dispostos a isso?

No Evangelho, Jesus apresenta-Se como “o Templo Novo” onde Deus reside e onde marca encontro com os homens para lhes oferecer a sua Vida e a sua salvação. Quem quiser encontrar Deus deve aproximar-se de Jesus, tornar-se seu discípulo, abraçar o seu projeto, seguir os seus passos, viver animado pelo seu Espírito.Como é que podemos encontrar Deus e chegar até Ele? Como podemos perceber as propostas de Deus e descobrir os seus caminhos? O Evangelho que nos é proposto na Festa da Dedicação da Basílica de Latrão responde: é olhando para Jesus. Nas palavras e nos gestos de Jesus, Deus revela-Se aos homens e manifesta-lhes o seu amor, oferece aos homens a vida plena, faz-Se companheiro de caminhada dos homens e aponta-lhes caminhos de salvação. “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9) – disse um dia Jesus a Filipe, quando este Lhe pediu que “mostrasse o Pai” aos Seus discípulos. Somos, assim, convidados a olhar para Jesus e a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho”, aquela proposta de vida e de salvação que Deus nunca desistiu de nos apresentar; somos convidados a tornarmo-nos discípulos, a seguir Jesus a par e passo. Jesus é o Caminho que nos leva até Deus (“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém pode ir até ao Pai senão por Mim” – Jo 14,6). Estamos dispostos a deixarmo-nos conduzir por Jesus?

Na segunda leitura, Paulo recorda aos cristãos de Corinto (e aos cristãos de todos os tempos e lugares) que são, no mundo, o Templo de Deus onde reside o Espírito. Animados pelo Espírito, os cristãos são chamados a viver segundo um dinamismo novo, dando testemunho da bondade e da misericórdia de Deus no meio dos seus irmãos.O apóstolo Paulo vê nos conflitos, divisões, ciúmes, contradições, vaidades, dos membros da comunidade cristã de Corinto sinais evidentes da preponderância daquilo a que ele chama “a sabedoria do mundo”. Essa “sabedoria do mundo” opõe-se à “loucura da cruz”. A “sabedoria do mundo” é a lógica de quem ainda vive de forma egoísta, entrincheirado atrás do seu orgulho e da sua autossuficiência e ainda não se revestiu de Cristo. A nossa comunidade paroquial ou religiosa é uma comunidade fraterna, solidária, e que dá testemunho da “loucura da cruz” com gestos concretos de amor, de partilha, de doação, de serviço, ou é uma comunidade fragmentada, dividida, cheia de contradições, onde cada membro puxa para o seu lado, ao sabor dos interesses pessoais?

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Jesus fala do Templo que é seu corpo! 
Onde está Jesus? 
Jesus está presente na Igreja, que é o seu corpo, de vários modos: quando ela reza, quando assiste aos pobres, quando prega, quando governa o povo de Deus, quando administra os sacramentos, mas principalmente e de um modo especial quando ela celebra a Eucaristia!
 A presença Eucarística é a mais completa presença de Cristo na terra.
 Nesta vida, é desses modos que temos sua presença. 
Na vida futura nos uniremos a Ele diretamente, de modo total, sem necessidade de sinais sensíveis.

sábado, 8 de novembro de 2025

Assim também está bem!




No outro dia, enquanto lia um livro, deparei-me com uma frase que me fez parar; a frase era: “assim também está bem”. Vinha na sequência do relato de um testemunho de alguém que acabou por mudar radicalmente a sua vida após uma experiência de quase morte. Para além da força e da profundidade do relato, chegava esta frase simples, quase inaudível, mas, ao mesmo tempo, um grito.

“Assim também está bem”.

A reflexão que fiz trouxe-me ao lugar onde estou na minha própria vida. E resgatou-me esta ideia de que nem sempre a versão idealizada dos acontecimentos é a melhor versão. Claro que vivo (e vivemos) com uma expectativa elevada sobre tudo. Gostávamos de ser isto ou aquilo. De trazer este ou aquele resultado brilhante e iluminado para a nossa vida. Gostávamos, até, de evitar o sofrimento, os dissabores, as quedas e os momentos em que resvalamos ladeira abaixo. Contudo, não é isso, a vida. Quase nunca é isso, a vida. E talvez nos seja necessária esta sabedoria encerrada aqui: “assim também está bem”. Ou seja:

Não é como eu quero, mas assim também pode ser.

Não é o que eu esperava, mas quem sabe não chegue a ser melhor do que imaginei.

Não é como eu tinha visto o cenário final, mas aceito que também possa ser assim.

Comecei, assim, a fazer este exercício internamente. O de imaginar várias situações com resultados diferentes dos que eu gostaria ou quereria. E em cada um que contrariava a minha esperança ou as minhas vontades, tentava dizer: “assim também está bem”. E mudava tudo.

Ou melhor, mudava o mais importante: a minha postura relativamente ao que poderia acontecer.

Gostava de viver mais como este homem que viu a vida virada do avesso, mas que a recuperou de uma forma completamente nova e inaugurada.

Talvez nos falte amar mais as reviravoltas. Os planos trocados. As perspetivas nunca imaginadas.

Talvez esteja aí a raiz para uma vida mais pacificada.


Marta Arrais


sexta-feira, 7 de novembro de 2025

A esperança renovada...



É preciso acreditar, confiar e entregar-se, para que a magia da vida aconteça.
E a magia da vida é esta experiência de amor e de fé.

A Porta Santa, é a porta do nosso coração. E o nosso coração é o elo de maior ligação com Deus e, por isso, o elo de maior ligação com todos.

É preciso desarrumar, provocar e humanizar a vida, para que ela se regenere.

É preciso fazer o simples e o verdadeiro: limpar a casa por dentro.

Descobrirmo-nos na nossa existência
é uma ampliação profunda do nosso ser.

Estamos. Somos. Caminhamos.
A Esperança quando é viva, tem um sabor a eternidade!

Boa semana!


Carla Correia,

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Os arrogantes caem de muito alto



A arrogância leva os que se deixam ir a pensar e a julgar-se acima de todos os outros. O egoísta considera-se o centro do seu mundo e quer que os outros também o vejam como o ponto em torno do qual tudo se move, porque julga ser o único importante.

O arrogante vê sempre o que lhe é dado como uma pequena prestação de tudo aquilo a que julga ter direito.

A humildade é o reconhecimento da verdade; ser humilde é a forma mais concreta de ser grande.

A arrogância é fruto da ignorância, pois só quem ignora o que ainda lhe falta saber pode achar que já sabe muito.

Todos temos raízes humildes. Todos começamos do zero e, por mais harmonioso que seja o meio em que crescemos, terá sempre limitações.

Há quem não aceite a sua pequenez, igual à de todos nós, e por isso procure a todo o custo apresentar-se como alguém que não é. Quem assim se preocupa com aquilo que, de facto, não é, acaba por se esquecer de valorizar e de usufruir do que tem e do que é. Erro atrás de erro.

Talvez o maior problema de quem decide centrar-se em si é que acaba por nem amar nem se deixar amar. E isso é trágico.

O orgulho vai-nos fazendo subir, degrau a degrau, para níveis sempre mais elevados. O problema é que desses patamares nunca se desce… apenas se cai… no chão… e sozinhos.

A boa notícia é que há sempre quem ama e se preocupa com os que se escondem no orgulho. Não nos esqueçamos de agradecer a quem nos ajudou a levantar depois das nossas maiores quedas.


José Luís Nunes Martins

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Que história queres viver?



Ninguém nos explica que quem escreve a história da nossa vida somos nós.

Ninguém nos prepara para as intempéries que os outros podem ser, para as expectativas, para a vontade de corresponder ao que o mundo espera de nós.

Vimos a este plano (e a esta vida) sem manual de instruções, sem guia, sem mapa. Tudo nos parece uma experimentação constante. Às vezes julgamos que a vida adulta abrandará as dificuldades e nos premiará com mais certezas e mais definição. Mas é precisamente quando crescemos (e temos de tomar conta de tudo o que somos) que tudo parece desfocar-se ainda mais. Já não sentimos que é devido agradar aos pais, mas também parecemos não saber agradar-nos a nós mesmos. Como se estivéssemos numa permanente descoberta que, em vez de nos arrumar e pacificar, nos desestabiliza e desfortalece.

Queremos aceitar que somos adultos e, tantas vezes, nos aparece a nossa criança interna a precisar de colo, de atenção, de validação externa. E é nesses momentos que parecemos menos capazes de o fazer. Mais permeáveis às imprevisibilidades, mais frágeis, mais pequenos.

No entanto, e enquanto a vida não (nos) prescreve, somos chamados a escrever o que queremos que a nossa vida seja. Sem pretensões. Sem querer agradar. Mas sabendo que a única pessoa que não devíamos desiludir é aquela criança que mora, ainda, dentro de nós. É por ela que vale a pena continuar a apagar linhas, a reescrevê-las e a tornar a fazer (e a ser!) se for necessário.

Pedem-nos muito, todos. Pede-nos muito, a vida.

Mas somos nós os únicos capazes de dizer o não (ou os nãos) que mais nos trouxer(em) de volta à rota.
E a única rota por que vale a pena viver é a do coração.

A da alma.

Porque o dinheiro, os interesses, o prestígio e o parecer bem têm sempre os dias contados. Mas a alma e o coração que nos são casa… esses… nunca prescrevem. Nem mesmo quando a vida (nos) terminar.


Marta Arrais

terça-feira, 4 de novembro de 2025

A Deus os que partiram



“Formamos um só corpo em união com Cristo e

estamos unidos uns aos outros como membros do mesmo corpo.” (Rom 12, 5)



Senhor,

Quero os teus santos conhecer,

E em comunhão com eles viver.

Têm tanto para nos ensinar,

Exemplos de vida convertida em amor

Por, como Paulo, terem sido

por ti encontrados pelo caminho.


Santos que a tua vida testemunharam,

A ti se consagraram e por amor

Beberam do cálice do teu batismo,

Aceitando encarcerações, perseguições,

E muitos deles o martírio.


Nessa comunhão, sejamos gratos também

Pelos santos de trazer por casa e

Por aqueles que connosco conviveram,

Partilharam o pão, as nossas alegrias e tristezas

Até terem sido chamados por ti.


Há sempre dor no partir porque os olhos já não os veem,

Os ouvidos já não os escutam e as mãos já não os sentem.

Mas consola-nos a esperança de saber

que venceste o aguilhão da morte

Para nos ressuscitar contigo (cf. 1 Cor 15, 42-57).

Dá-lhes agora, Senhor, o eterno descanso na tua presença.


A nós que por aqui ainda andamos,

Dá-nos a tua graça para que

A chama da fé não se apague,

E amor pelos outros nunca acabe,

Sejam amigos ou inimigos.


Ajuda-nos a combater o bom combate (cf. 2 Tim, 4, 6-7)

Lutando contra a tirania do poder,

O egoísmo do dinheiro,

A marginalização dos que são diferentes

Ou que não compreendemos

E as muitas injustiças e desigualdades da sociedade.


Livra-nos das tentações do tentador,

Dos olhos que fingem não ver,

Dos ouvidos que não te escutam,

Da indiferença de corações empedernidos

E da ingratidão por tudo o que fazes

Por cada um de nós, através de nós e

Apesar de nós.



Raquel Dias,

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Os Nós e os outros.



Prolifera o discurso do Nós e ou outros como se Nós fossemos os detentores da verdade, da razão e da pureza. Os outros, esses... são diferentes e como tal não são Nós. Há que defender o Nós seja lá o que isso for. Se o Nós é um estatuto, uma condição social ou económica então eu não faço parte disso.

Alguém nos anda a vender a ideia de que há os bons e os maus, os que podem e os que não podem e esquecem-se que entre o Nós há quem mate, roube e seja corrupto como os dito ”outros”. Alguém nos anda a vender a ideia que não há mal em ser sexista, racista ou machista pois isso até dá likes e pronto, se o Nós gosta então está tudo bem.

Se isso é o Nós, então não quero!

Gosto de ouvir opiniões diferentes e sujeito-me muitas vezes a isso para treinar a minha resistência. Ainda que revire os olhos, tento ouvir os que têm uma opinião diferente e tentar perceber a razão disso. Não é fácil!

Não gosto de pessoas que tentam impor o anormal como a nova normalidade, pois para mim não vale tudo.

Não vale o insulto disfarçado de piadola;

Não vale o desdém disfarçado de presunção;

Não vale a ignorância disfarçada de sabedoria.

O resultado é bem visível.

Andamos agressivos uns com os outros, prontos a atirar pedras a quem ousa questionar ou até, com a melhor das intenções, se atreve a discordar de algo.

Andamos a incendiar relações, a pôr em causa amizades em troca de um suposto lugar entre os bons. O problema é que ninguém é perfeito e volta e meia caímos na desgraça tal qual anjo caído do céu. De repente alguém começa a ver que não és perfeita, que falhas como todos e rapidamente deixas de pertencer ao Nós. E aí começam as guerras internas, as mágoas e as tristezas.

Enquanto isso, brincamos com o nosso tempo e damos demasiado tempo a ouvir barulho que nos separa e, a dar um péssimo exemplo do que somos. Sem que nos apercebamos o nosso Nós está a ser destruído porque em breve todos querem ser os outros.

E tu amiga, quando sentes que não fazes parte do Nós?


Raquel Rodrigues

domingo, 2 de novembro de 2025

Lembro-me de ti...



 

 Lembro-me de ti...

Hoje a saudade aperta-me
e o teu rosto toma conta de mim.
Sinto tanto a tua falta!
Falta de tudo o que há de mais belo em ti!
Às vezes dou comigo a chamar por ti
como se não tivesses ido embora...
Amavas genuinamente a vida,
protegias-me acima de tudo e de todos.
O teu abraço era tão bom,
era o meu porto seguro...
e o teu olhar dizia-me que estarias sempre ao lado,
mesmo quando te procuro e não te vejo...
Às vezes dou comigo a rir-me do teu riso,
a lembrar-me das tuas histórias,
a sentar-me no teu lugar,
a comer o teu prato favorito,
a cheirar a tua roupa...
faz-me tanto bem!
Lembrar-me de ti aproxima-me do paraíso,
onde acredito que estás...
A morte foi a porta através da qual regressaste
à casa que sempre foi a tua...
Por vontade de Deus
somos imensamente mais do que aparentamos,
mais do que pensamos que somos.
Somos loucamente eternos.
Por isso, acredito que te voltarei a ver!
Hoje digo-te «até amanhã», ou «até já»,
ou melhor «Adeus»!
Sim, «a-Deus», porque é no seio de Deus,
que havemos de ser e nos havemos de encontrar.

Padre João Torres

Solenidade de Fiéis Defuntos

 



O que é que está por detrás do projeto que Deus tem para os homens e para o mundo? O que é que move Deus no seu agir? As leituras que a liturgia deste dia nos propõe não podiam ser mais claras: por detrás de tudo o que Deus tem feito na história dos homens, está o seu amor: um amor que não exclui ninguém, um amor que não se deixa condicionar por fronteiras de qualquer espécie, um amor que transforma e renova todos aqueles que estiverem disponíveis para o acolher. No final da nossa peregrinação sobre a terra, espera-nos o encontro face a face com o amor de Deus. Agora e depois, sempre o amor de Deus.

Na primeira leitura um sábio judeu de Alexandria olha para a história do seu povo e reflete sobre a “moderação” com que Deus tratou os egípcios, culpados de oprimirem os hebreus radicados no delta do rio Nilo. Ele atribui essa “moderação” ao amor: esse Deus omnipotente, que criou tudo o que existe, ama com amor de Pai cada ser que saiu das suas mãos – mesmo os opressores, mesmo os egípcios – porque todos são seus filhos muito queridos.
A experiência de sermos profundamente amados por Deus é uma experiência deslumbrante e transformadora. Não nos deixa indiferentes; liberta-nos do nosso egoísmo, do nosso fechamento, da nossa autossuficiência. Ensina-nos olhar os nossos irmãos com o mesmo olhar de amor com que Deus nos olha; inspira-nos a aproximarmo-nos dos nossos irmãos com a mesma bondade que Deus manifesta por nós; mostra-nos o “lado bom”, o lado “amável” que existe em cada homem ou em cada mulher. “Empapados” pelo amor de Deus, tornamo-nos testemunhas desse amor no mundo. É esta a nossa experiência? O amor de Deus tem sido a “escola” onde aprendemos a amar os irmãos e as irmãs que caminham ao nosso lado?

No Evangelho, Lucas narra-nos a história de um homem pecador, um chefe de publicanos chamado Zaqueu. Habituado aos insultos e ao desprezo dos seus concidadãos, Zaqueu encontrou Jesus numa rua de Jericó e descobriu n’Ele o rosto do Deus que ama. Esse amor mudou-lhe o coração e a vida. Naquele dia, o Zaqueu mesquinho, egoísta, oportunista, desprezível, desapareceu. Em seu lugar apareceu um Zaqueu generoso, justo, capaz de partilhar os seus bens e de se comover com a sorte dos pobres. Foi um milagre do amor. Só o amor pode fazer milagres como este.
A atitude de Jesus para com o pecador Zaqueu proclama bem alto o imenso amor de Deus por todos os seus filhos, mesmo por aqueles que escolheram caminhos errados e se colocaram a si próprios em situações sem saída. Isto não significa, contudo, o branqueamento do pecado. O egoísmo, a injustiça, a opressão, a mentira, a ambição desmedida, geram inevitavelmente sofrimento e morte. Não cabem no projeto que Deus tem para os seus filhos. Devem ser combatidos e vencidos. Deus distingue claramente entre o pecador e o pecado. Ao pecador, Deus ama-o sempre; ao pecado, Deus abomina-o sempre. Contudo nós, seres humanos, nem sempre conseguimos distinguir claramente os dois campos: misturamos pecado e pecador, embrulhamos tudo no mesmo papel e atiramos tudo para a mesma fogueira. Seremos capazes de aprender com Deus a distinguir entre a pessoa e os seus atos? Seremos capazes de lutar contra a maldade sem sentir a tentação de eliminar a pessoa frágil que, por qualquer razão, fez uma escolha errada e cometeu um ato que consideramos mau?

Na segunda leitura o apóstolo Paulo, dirigindo-se aos cristãos de Tessalónica, sublinha o papel de Deus na salvação do homem: é d’Ele que parte o chamamento inicial à salvação, é Ele que acompanha a caminhada diária do homem, é Ele que oferece ao homem, no final do seu caminho na terra, a vida definitiva. Por detrás de tudo isso está, naturalmente, o amor de Deus pelos seus filhos. Paulo convida os tessalonicenses a não se deixarem distrair por futilidades e a esperarem pacientemente o dia em que se irão encontrar face a face com o amor de Deus.
Paulo pede a Deus que fortaleça a fé e o compromisso dos tessalonicenses, a fim de que eles não falhem o alvo e se fiquem por caminhos que não levam a lado nenhum. Faz sentido. Sem a ajuda de Deus, dificilmente conseguiremos alcançar a meta sonhada; sem a ajuda de Deus facilmente podemos gastar a vida a correr atrás de valores fúteis e efémeros, que não proporcionam vida em abundância. Estamos conscientes disto? Lembramo-nos de pedir a Deus que fortaleça os nossos bons propósitos e que nunca cesse de nos apontar o caminho que conduz à vida verdadeira?

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sábado, 1 de novembro de 2025

Solenidade de todos os Santos

 


Primeira leitura: Como descrever a felicidade dos mártires e dos santos na sua condição celeste, invisível? Para isso, o profeta recorre a uma visão. As visões do profeta cristão trazem uma mensagem de esperança nesta provação. A revelação proclamada é a da vitória do Cordeiro. Ele transformou o caminho de morte em caminho de vida para todos aqueles que O seguem, em particular pelo martírio, e eles são numerosos; participam doravante ao seu triunfo, numa festa eterna.

Salmo responsorial: O salmo de hoje proclama as condições de entrada no Templo de Deus. Ele anuncia também a bem-aventurança dos corações puros. Nós somos este povo imenso que marcha ao encontro do Deus santo.

Segunda leitura: Desde o nosso baptismo, somos chamados filhos de Deus e o nosso futuro tem a marcada da eternidade. Segunda mensagem de esperança. Ela responde às nossas interrogações sobre o destino dos defuntos. Que vieram a ser? Como sabê-lo, pois desapareceram dos nossos olhos? E nós próprios, que viremos a ser?
A resposta é uma dedução absolutamente lógica: se Deus, no seu imenso amor, faz de nós seus filhos, não nos pode abandonar. Ora, em Jesus, vemos já a que futuro nos conduz a pertença à família divina: seremos semelhantes a Ele.

Evangelho: Que futuro reserva Deus aos seus amigos, no seu Reino celeste? Ele próprio é fonte de alegria e de felicidade para eles.
No seu conjunto, as “bem-aventuranças” deixam uma mensagem de esperança e de alento para os pobres e débeis. Anunciam que Deus os ama e que está do lado deles; confirmam que a libertação está a chegar e que a sua situação vai mudar; asseguram que eles vivem já na dinâmica desse “Reino” onde vão encontrar a felicidade e a vida plena.

A SANTIDADE DE MUITOS

Fruto da conversão realizada pelo Evangelho é a santidade de muitos homens e mulheres do nosso tempo; não só daqueles que foram proclamados oficialmente santos pela Igreja, mas também dos que, com simplicidade e no dia a dia da existência, deram testemunho da sua fidelidade a Cristo. Como não pensar aos inumeráveis filhos da Igreja que, ao longo da história do continente europeu, viveram uma santidade generosa e autêntica no mais recôndito da vida familiar, profissional e social? «Todos eles, como “pedras vivas” aderentes a Cristo “pedra angular”, construíram a Europa como edifício espiritual e moral, deixando aos vindouros a herança mais preciosa. O Senhor Jesus havia prometido: “Aquele que acredita em Mim fará também as obras que Eu faço; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai” (Jo 14,12). Os santos são a prova viva da realização desta promessa, e ajudam a crer que isto é possível mesmo nos momentos mais difíceis da história». [nº 14 da Exortação Apostólica Ecclesia in Europa de João Paulo II]

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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

AmaDeus!

 



“Sou o caminho, a verdade e a vida.” (Jo 14, 6)

 

Senhor, és o único Caminho que quero seguir.
Que cada passo seja uma oração,
Cada obstáculo uma oblação,
Cada inspiração alento para não desanimar.

Senhor, és a única Verdade que quero conhecer.
Homem te fizeste e na cruz te entregaste,
Cruz de escândalo e de perdão,
Cruz de loucura e de salvação (cf. 1Cor 1,23).

Senhor, quero que sejas a Vida em mim,
Vida que acolhe os que a sociedade rejeitou,
Vida que devolve a dignidade aos que a sociedade humilhou,
Vida que sem pecado a todos amou.

Pela tua graça, Senhor, dá-me a o desapego e a coragem para seguir-te,
O entendimento e a sabedoria para a tua verdade escolher,
A fortaleza e a perseverança para a cruz carregar e as dificuldades ultrapassar,
A piedade e a fé para reconhecer que só tu és “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6)
E a liberdade para em tudo amar e servir (cf. Sto. Inácio de Loyola).

Raquel Dias

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Quero dar-te um abraço





Quero dar-te um abraço e demorar-me. Descansar nos braços de quem também quero que descanse nos meus. Com força, para que se sinta toda a vontade e os corações se possam reconhecer um ao outro e passem a bater ao mesmo tempo. E demorar, porque se um abraço tem um certo poder de cura, eu quero ficar assim até que tudo fique bem, ou pelo menos melhore.

Chega a acontecer que num abraço não se saiba quem está a curar quem!

Um abraço verdadeiro é uma entrega tão generosa que quase se sente o outro como uma mãe grávida sente o filho que traz dentro de si. Nada mais importa. Quem me dera conseguir dar abraços assim…

Quando nos abraçamos, há algo sagrado que envolve os que abrem os seus braços para se entregar e se acolher o outro. É uma espécie de encontro de almas, em que a presença do outro se sente ainda mais, quanto mais se aperta.

Quanta tristeza há naquele lugar e tempo em que eu desejo o abraço de alguém que não mo dá, que não o quer, porque não me quer.

E que alegria imensa há em abraçar alguém até ao ponto em que o abraço parece terminar — e o outro, em vez de nos largar, nos aperta ainda com mais força… naqueles seus braços onde parecemos encaixar na perfeição…

Como uma mãe que tem no colo a solução para todos os problemas do mundo, também eu queria poder fazer dos meus braços um refúgio seguro para quem precisa descansar de tanto lutar e sofrer…Um abraço pode ser o ponto em que uma tristeza ou uma dor profunda se aceitam e assim se pode, por fim, seguir adiante.

Abraça os que amas enquanto podes.

Quem sabe se não está para breve o dia em que já não poderás sentir os braços de quem te ama – nem sentir-te a ti mesmo nesse lugar que também é uma morada tua.


José Luís Nunes Martins


quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Educação: Leão XIV alerta para «eficientismo sem alma» e pede renovação no tempo da inteligência artificial


Papa publica carta apostólica «Desenhar novos mapas de esperança», no 60.º aniversário da declaração conciliar «Gravissimum Educationis»

Foto: Vatican Media


Cidade do Vaticano, 28 out 2025 (Ecclesia) – O Papa publicou hoje um documento dedicado à educação, no qual alerta para um “eficientismo sem alma” e pede renovação das propostas e instituições católicas, perante o advento da inteligência artificial.

“As tecnologias devem servir a pessoa, não substituí-la; devem enriquecer o processo de aprendizagem, não empobrecer as relações e as comunidades. Uma universidade e uma escola católica sem visão correm o risco de cair no eficientismo sem alma, na padronização do conhecimento, que se transforma em empobrecimento espiritual”, escreve Leão XIV, na carta apostólica ‘Desenhar novos mapas de esperança’’, que assinala o 60.º aniversário da declaração ‘Gravissimum Educationis’, do Concílio Vaticano II, sobre a educação.

O novo documento alerta para os riscos de uma cultura educativa centrada apenas na tecnologia e na produtividade, propondo um “humanismo integral” que una conhecimento, ética e fé.

O Papa realça que “nenhum algoritmo poderá substituir o que torna a educação humana: poesia, ironia, amor, arte, imaginação, a alegria da descoberta e até mesmo a educação para o erro como oportunidade de crescimento”.

“O ponto decisivo não é a tecnologia, mas o uso que fazemos dela. A inteligência artificial e os ambientes digitais devem ser orientados para a proteção da dignidade, da justiça e do trabalho; devem ser governados com critérios de ética pública e participação; devem ser acompanhados por uma reflexão teológica e filosófica à altura”, sustenta.

O texto foi assinado esta segunda-feira, na Basílica de São Pedro, antes da Missa de abertura do Jubileu do Mundo Educativo, numa breve cerimónia acompanhada pelo cardeal português D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, da Santa Sé.

Leão XIV propõe uma abordagem pastoral criativa, que passe por “reforçar a formação dos professores também no plano digital”, “valorizar a didática ativa” e “promover a aprendizagem em serviço e a cidadania responsável”, evitando “qualquer tecnofobia”.

A carta pastoral aborda ainda a importância do discernimento sobre “a conceção didática, a avaliação, as plataformas, a proteção de dados e o acesso equitativo”.


A responsabilidade ecológica não se esgota em dados técnicos. Eles são necessários, mas não suficientes. É necessária uma educação que envolva a mente, o coração e as mãos; novos hábitos, estilos comunitários, práticas virtuosas. A paz não é ausência de conflito: é força suave que rejeita a violência. Uma educação para a paz desarmada e desarmante ensina a depor as armas da palavra agressiva e do olhar que julga, para aprender a linguagem da misericórdia e da justiça reconciliada”.

O Papa soma três novas prioridades para o Pacto Educativo Global, lançado por Francisco em outubro de 2020, somando-as às “sete vias” identificadas pelo seu predecessor.

Essas prioridades passam pela “vida interior”, destacando que os jovens “precisam de espaços de silêncio, discernimento, diálogo com a consciência e com Deus.

A segunda diz respeito ao digital, com apelos ao “uso sábio das tecnologias e da IA, colocando a pessoa antes do algoritmo e harmonizando as inteligências técnica, emocional, social, espiritual e ecológica”.

A terceira refere-se à “paz desarmada e desarmante”, de que Leão XIV tem falado desde o início do seu pontificado, educando “para linguagens não violentas, reconciliação, pontes e não muros”.
Foto: Lusa/EPA
         

A carta apostólica reconhece que a hiperdigitalização pode “fragmentar a atenção” e fala numa “crise das relações”, realçando que “é precisamente aqui que a educação católica pode ser um farol: não um refúgio nostálgico, mas um laboratório de discernimento, inovação pedagógica e testemunho profético”.

O Papa relaciona ainda a crise educativa com as desigualdades globais.

“Vivemos num ambiente educativo complexo, fragmentado, digitalizado. Perante os muitos milhões de crianças no mundo que ainda não têm acesso ao ensino primário, como podemos não agir?”, questiona.

“Perante as dramáticas emergências educativas provocadas pelas guerras, pelas migrações, pelas desigualdades e pelas diversas formas de pobreza, como não sentir a urgência de renovar o nosso compromisso?”, acrescenta.

O documento reafirma que “a educação não é uma atividade acessória, mas constitui a própria trama da evangelização: é a forma concreta pela qual o Evangelho se torna gesto educativo, relação, cultura”.

A formação cristã, acrescenta Leão XIV, “abrange toda a pessoa”, nas suas dimensões “espiritual, intelectual, afetiva, social, corporal”, e a educação “não mede o seu valor apenas na escala da eficiência”, mas “na dignidade, na justiça, na capacidade de servir o bem comum”.

"Esquecer a nossa humanidade comum gerou fraturas e violência; e quando a terra sofre, os pobres sofrem mais. A educação católica não pode calar: deve unir justiça social e justiça ambiental, promover sobriedade e estilos de vida sustentáveis, formar consciências capazes de escolher não apenas o conveniente, mas o justo. Cada pequeno gesto – evitar desperdícios, escolher com responsabilidade, defender o bem comum – é alfabetização cultural e moral.”

A carta apostólica indica que “a escola católica é um ambiente onde fé, cultura e vida se entrelaçam” e que a família “continua a ser o primeiro local de educação”.

Contra “a subordinação da educação ao mercado de trabalho e à lógica muitas vezes rígida e desumana das finanças”, o Papa pede uma educação aberta à cooperação global e à fraternidade.

Leão XIV deixa um apelo à superação das divisões e à construção de redes educativas, na Igreja Católica, como uma “constelação viva e plural”.

“Onde no passado havia rivalidade, hoje pedimos às instituições que convergirem: a unidade é a nossa força mais profética”, apela o documento.

A declaração ‘Gravissimum Educationis’, promulgada pelo Papa Paulo VI a 28 de outubro de 1965 durante o Concílio Vaticano II, definiu a educação como um direito universal e parte essencial da missão da Igreja.

OC

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Outono




0s tons mudam, as folhas caem, anoitece mais cedo...

É o fechar de um ciclo, início de outro.
Há beleza nos dois, assim saibamos respeitar a natureza e aprender com ela.

E certamente tão mais sábios seríamos se estivéssemos atentos ao que "ela " nos ensina.

O sol dá lugar a chuva, o calor ao frio, os dias vividos fora de casa a um recato maior. Um pouco à semelhança do que acontece na nossa vida!

Que saibamos então viver a beleza de cada dia com as suas particularidades. Nem sempre luz , nem sempre sombra, aprendendo, valorizando e evoluindo.


Que seja um Outono bonito para todos.


Lucília Miranda


segunda-feira, 27 de outubro de 2025

A vida não é sobre termos tudo...



A vida não é sobre termos tudo...


...É, antes, sobre cuidar de tudo o que temos, de tudo o que somos.

É reconhecer o valor dos pequenos gestos, acolher as pessoas que caminham connosco de forma inteira,

aquelas que veem para além do que podemos oferecer, e que nos amam pelo que habita dentro do nosso coração.

A verdadeira beleza da vida revela-se na capacidade de a abraçarmos por completo. Na coragem de permanecermos fiéis a nós próprios, não pelo que o mundo espera que sejamos, mas pelo que acreditamos poder oferecer à própria existência.


Nos momentos decisivos,
Deus ilumina o nosso caminho.
E tal como São Paulo,
também nós, por vezes, caminhamos cegos, até que a vida, na sua infinita bondade, revela-nos a luz que dissipa a escuridão.

Boa semana!


Carla Correia

domingo, 26 de outubro de 2025

(“aquele que se exalta será humilhado e aquele que se humilha será exaltado” )

 





A liturgia do trigésimo domingo comum propõe-nos uma reflexão sobre a forma como Deus exerce a Sua justiça. A justiça de Deus não ignora o sofrimento dos pobres, dos mais fracos, daqueles que nem sempre obtém justiça nos tribunais dos homens. A justiça de Deus concretiza-se essencialmente como amor e misericórdia. Todos os que estiverem disponíveis para acolher o amor misericordioso de Deus, encontrarão graça e salvação.

Na primeira leitura um sábio judeu do séc. II a.C. lembra aos seus concidadãos – impressionados pela arrogância dos conquistadores gregos e pelo brilho da cultura helénica – que Deus não faz aceção de pessoas: Ele escuta as súplicas dos desprezados e faz justiça às vítimas dos poderosos. Talvez as vozes dos humildes não signifiquem nada para os grandes do mundo; mas elas atravessam as nuvens e vão diretas ao coração de Deus.Jesus Ben Sira garante-nos que “a oração do humilde atravessa as nuvens” e chega a Deus. Porquê? Porque Deus está especialmente atento ao pobre, ao desvalido, aos que o mundo despreza? Sem dúvida. Deus está sempre atento às súplicas dos seus filhos mais frágeis. Mas é provável que Ben Sira esteja a insinuar outra coisa: que a oração do humilde “toca” o coração de Deus e agrada a Deus; e que a oração do rico não “toca” o coração de Deus e não agrada a Deus. Expliquemos isto… O pobre apresenta-se diante de Deus com humildade e simplicidade e coloca-se confiante nas mãos de Deus; sente-se pequeno, frágil indigno, e vê em Deus aquele que o pode salvar; com gratidão, entrega toda a sua vida nas mãos de Deus e confia no Seu amor; a sua atitude e a sua oração agradam a Deus. O rico, pelo contrário, apresenta-se diante de Deus seguro da sua importância, do seu estatuto, do seu poder; petulante e autossuficiente, sente-se mais como um “parceiro” de Deus, do que um “filho” que tudo deve ao amor de Deus; a sua atitude e a sua oração não agradam a Deus. E nós, como é que nos apresentamos diante de Deus?

No Evangelho Jesus, conta uma parábola “para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros”. Colocando frente a frente a figura de um fariseu de vida exemplar e de um publicano de vida mais do que duvidosa, Jesus tira uma conclusão desconcertante: de nada valem as “boas obras” do “justo” que, convencido dos seus méritos, se apresenta diante de Deus e dos irmãos com orgulho e arrogância; Deus prefere o pecador que, humildemente, reconhece a sua indignidade e se dispõe a abraçar a salvação que lhe é oferecida.A certeza de possuir qualidades e méritos em abundância pode conduzir ao orgulho. Do orgulho nasce a arrogância e o desprezo por aqueles que não são como nós. Ora, isto é perigoso. Entrincheirados atrás da nossa importância e da nossa pretensa autoridade moral, julgamo-nos melhores do que os outros; e sentimo-nos no direito de avaliar, de criticar, de julgar e de condenar aqueles que nos rodeiam. O passo seguinte é erguermos muros de separação: do nosso lado colocamos os “bons” (aqueles com os quais nos identificamos, os que têm uma visão do mundo e da vida semelhante à nossa) e no lado oposto colocamos os “pecadores” (aqueles com os quais não nos identificamos, os que têm visões “diferentes”, os que têm comportamentos que reprovamos). Onde é que isto nos conduz? Não servirá para criar exclusão e marginalização? Ajudará a potenciar a fraternidade, a inclusão, a comunhão? Temos o direito de nos considerarmos melhores do que um agnóstico, ou do que um ateu? Poderemos continuar, de forma ligeira, a alimentar a nossa ilusão de inocência, a condenar os outros à luz dos nossos critérios, e a esquecer a compaixão de Deus por todos os seus filhos?

A segunda leitura
propõe-nos o testemunho do apóstolo Paulo na fase final da sua vida: apesar de todas as contrariedades e vicissitudes que teve de enfrentar por causa da sua fidelidade a Jesus e ao Evangelho, Paulo manteve-se fiel e coerente: combateu o bom combate e guardou a fé. Resta-lhe agora confiar em Deus e entregar-se nas suas mãos. O exemplo de Paulo aponta o caminho aos crentes de todas as épocas.Paulo experimentou, no seu caminho de testemunho missionário, o abandono, a solidão, a traição, a incompreensão de muita gente, inclusive de alguns irmãos na fé. Por outro lado, sentiu sempre que o Senhor estava com ele, o animava e lhe dava forças para que “a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todos os pagãos a ouvissem”. A experiência de Paulo é, afinal, a experiência de todos os “profetas” que Deus envia ao mundo para serem arautos da sua salvação no meio dos homens: de um lado está o ódio do mundo, que desgasta e traz desânimo; do outro está a solicitude de Deus que conforta, sustenta, defende, anima e renova as forças dos seus enviados. É esta também a nossa experiência? A certeza da presença de Deus ao nosso lado dá-nos a força necessária para cumprirmos fielmente a missão que nos foi confiada?

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sábado, 25 de outubro de 2025

Pessoas que são tanto.





Pessoas que abraçam. Que abraçam mesmo, do fundo do coração.

Pessoas que dão a mão como quem dá o coração: para sempre.

Pessoas que olham mais fundo, que olham a alma.

Pessoas que sorriem como quem abraça.

Pessoas que são feitas de tanta ternura, que quase parece que cura.

Pessoas que são colo que tudo aconchega, que tudo serena.

Pessoas que falam como fala o amor.

Pessoas que escutam como se escuta o amor, mesmo sem ser preciso dizer.

Pessoas que são companhia em todas as horas: faça chuva ou faça sol.

Pessoas que são amparo, que são conforto.

Pessoas que cuidam, que (se) importam.

Pessoas que são porto de abrigo.

Pessoas que fazem sorrir.

Pessoas que têm o coração do lado certo: do lado do bem.

Pessoas que são esperança a existir, a ser verdade.

Pessoas que são de verdade.

Pessoas que são amor em forma de gente.

Pessoas que são tanto.

Mesmo sem saberem.

Só por serem, por estarem, por existirem.

Pessoas que são tanto: Que nunca nos faltem. E que nunca as deixemos faltar, também.


Daniela Barreira


sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Viemos para incomodar…



Não digo isto com orgulho mas, com responsabilidade.

Por vezes sinto que vivemos numa aparente normalidade em que tudo é permitido, em que o bom senso foi substituído pelo "meu" senso. Parece que, ora, não há mal em nada, ora há mal em tudo. Gratificação é suborno e vender bifanas em plena procissão religiosa é “dar de comer a quem tem fome”J. Parece que vale tudo ao ponto de perdermos a noção do que é correto ou não.

Depois, claro, há os que “vêm para incomodar” pois insistem em alertar para certas e determinadas coisas que não estão bem. É claro que são desvalorizadas e apelidados de beatas e velhos do restelo. Enfim…e alguns até são.

Não gosto de incomodar ninguém, mas sinto que às vezes sou obrigada a fazê-lo!

Não aceito discurso de ódios que incomodam tantos mas, que parecem terem boas sementeiras.

Não compreendo que uma opinião, por mais estranha que pareça, seja de imediato alvo de insulto ao invés do contraditório.

Não gosto que se use as instituições apenas para fazer bonito, para usar estatuto ou benefício.

Incomoda-me que se utilize a Igreja para “fazer” festas, benzer objetos, ou à sombra da honra de santos fazermos negócios sem qualquer busca pela espiritualidade.

Incomoda-me perceber que gostamos muito das aparências, mas pouco da prática do culto, da fé e da busca de Deus: isso é para os outros!Enquanto isso, organizam-se festas e em que se quer fazer o melhor com os melhores músicos, o maior número de andores e por aí, mas na vivência comunitária, raramente vemos os seus rostos nem o seu testemunho. Com sorte, vemos os seus filhos na catequese, mas nas eucaristias: isso é para os outros!

Incomoda-me e confesso a minha fraqueza, tolda-me a mente.

Sei que esta carta vai incomodar algumas almas e até, quiçá, dar origem a comentários que me vão incomodar, mas é assim a vida!

E tu amiga, o que te incomoda?


Raquel Rodrigues

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

O silêncio das grandes dores




Por fora, parecemos sempre ter vidas melhores, com menos tristezas e mais paz e alegria, como se houvesse uma lei que obrigasse todas as pessoas a esconder as suas adversidades.

As dores pequenas gritam, as grandes atacam-nos em silêncio e deixam-nos mudos, como elas.

A verdade é que as pessoas mais extraordinárias estão cheias de cicatrizes. O sofrimento faz, apesar de tudo, as almas mais fortes.

A luz mais bela de cada um de nós só se revela através das brechas abertas pelas pancadas que sofremos. E é por essas mesmas aberturas que nos chega o ar que refresca e desanuvia o nosso interior.

Muitas das mais belas histórias de amor foram escritas – e algumas vividas – por pessoas destroçadas.

Quem mais ama, mais sofre. Mas só é feliz quem ama, até ao fim deste mundo. Quem aspira ao céu, deve estar disposto a colocar à prova essa sua vontade e a pagar o custo pela viagem. A alguns é exigido tudo.

O mundo está cheio de gente que tem medo de ser feliz.

Talvez viver seja aprender a sofrer e a encontrar-lhe o sentido.

Pouco se reza quando se entregam apenas palavras.


José Luís Nunes Martins


quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Quem tudo quer controlar, pouco vive!



A necessidade de controlar tudo o que acontece pode chegar-nos por causa de uma profunda necessidade de segurança.

Temos a ilusão de que se conseguirmos (e pudermos) controlar o mundo à nossa volta, podemos viver numa bolha idealizada e maravilhosa, mas pouco real (no fundo).

A verdade é que a necessidade de controlo, do expectável e do previsível acaba por nos oferecer um conforto que a vida nunca nos vai oferecer, uma vez que se caracteriza, precisamente, por ser o oposto.

A vida vai acontecer-nos apesar de tudo o que queiramos ou precisamos.

A vida mostra-nos os lugares para onde é necessário olhar, as feridas que, por estarem abertas, ainda precisam da nossa atenção e revela-nos que as pessoas que são o que são, independentemente da nossa pretensão de as mudar.

Julgo que não podemos condenar quem se sente confortável a tentar controlar o que acontece. Mas podemos dizer-lhe, ou dizer-lhes, que esse não é um caminho saudável. O caminho que nos poderá deixar verdadeiramente livres é o de deixar ir, deixar ser, deixar acontecer.

É, sem dúvida, uma aprendizagem até aos nossos últimos dias. Não vamos conseguir render-nos e entregar-nos ao que a vida é de um dia para o outro.

Mas podemos ter consciência, compreender que fazemos o que fazemos por um motivo válido e sério.

Controlamos para sobreviver. Para tentar encontrar uma alternativa num mundo disforme e absurdo que pouca solução parece ter para nos oferecer.

Talvez seja assim porque a única solução para resolver o que o mundo é,

É o que somos.


Marta Arrais

terça-feira, 21 de outubro de 2025

A beleza do desapego...



Ver a beleza do desapego... é algo difícil.

Somos seres apegados a tudo o que nos rodeia: sítios, coisas, pessoas, lembranças, rotinas.

Apegamo-nos até mesmo a ideias sobre quem somos.

Apegamo-nos ao que conhecemos, pois o desconhecido por vezes assusta.

Queremos prender os cilcos efémeros da natureza. Mas a vida é movimento. Um movimento profundo de aprendizagem e transformação.

Há um convite de leveza e harmonia no desapego. Um convite em aceitar a beleza de cada instante. Um convite em experimentar a humildade da existência.

Há um convite de fé e de esperança, em cada acolher de mãos abertas.

O desapego pode ser a prova
mais subtil da consciência humana, e também, a mais libertadora.

O desapego deixa o convite de habitarmos a vida e confiar no seu fluxo invisível de amor.

Boa semana!


Carla Correia

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Catequese: D. António Augusto Azevedo pede «empenho renovado» a catequistas «num tempo que exige novo impulso»

 Presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã afirmou catequese como «laboratório de diálogo capaz de iluminar a procura de sentido de homens e mulheres do nosso tempo»

Foto Educris

Fátima, 18 out 2025 (Ecclesia) – D. António Augusto Azevedo apelou hoje a um “renovado compromisso” dos catequistas na missão de anunciar a fé, afirmou este como um “tempo que exige de cada um novo impulso” na ação e na missão da catequese.

“Vivemos um tempo sinodal que é um tempo de aprofundamento e continuidade que mobiliza toda a Igreja e na qual a catequese e os catequistas devem ter um papel e um empenhamento acrescidos”, afirmou nas palavras que deram início às Jornadas Nacionais de Catequistas 2025, que decorrem até domingo.


“O número 145, no capítulo V do documento final do sínodo, fala-nos da catequese como uma prática formativa que deve receber novo impulso. Uma catequese centrada em itinerários de iniciação cristã, em saída e extrovertida, aproximada da experiência de cada um. Um laboratório de diálogo capaz de iluminar a procura de sentido, certamente de muitos homens e mulheres do nosso tempo”, acrescentou.

O presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé (CEECDF) saudou os mais de 1100 participantes, de todas as dioceses portuguesas e começou por recordar as palavras do Papa Leão XIV aos catequistas lusófonos no Jubileu dos Catequistas, em Roma, que decorreu em Roma, entre 26 e 28 de setembro.

“O Papa pediu-nos em Roma, na nossa língua, a coragem e a dedicação constantes no anúncio do evangelho para que as crianças, os adolescentes e os jovens connosco cresçam intuindo que Deus as ama e tem para elas grandes sonhos”, recordou.

No final da sua intervenção D. António Augusto Azevedo contextualizou o tema da iniciativa – «Credo: A fé celebrada e testemunhada» – e desejou que o encontro possa ser um tempo de “procura, redescoberta e transmissão do tesouro que é o da fé”.

“Num mundo que tende a valorizar e a extremar as diferenças, o desafio que temos, como cristãos e a fazer comunhão. Professar o credo é um grande sinal de comunhão”, disse.

D. António Augusto de Azevedo pediu um “renovado compromisso, renovado empenhamento de todos”, nos secretariados diocesanos, dioceses e paróquias, “um renovado compromisso de cada um, de cada catequista” para implementar o “novo itinerário no qual a Igreja em Portugal está empenhada”.

As Jornadas Nacionais de Catequistas 2025 vão contar com quatro conferências, que abordam diferentes dimensões do Credo, desde a sua centralidade na vida da Igreja, passando pela vivência da fé, até ao papel do catequista como anunciador da vida nova do Evangelho.

Entre os oradores estão o padre Carl-Mario Sultana, da arquidiocese de Malta e presidente da Equipa Europeia da Catequese, e D. Alexandre Palma, bispo auxiliar do Patriarcado de Lisboa.

O segundo dia das Jornadas é marcado por uma conferência sobre «O crescimento da/na Fé durante o Tempo aprofundamento mistagógico», com testemunhos de catequistas e catequizandos.

As Jornadas terminam com uma Eucaristia presidida por D. António Augusto Azevedo, na Basílica da Santíssima Trindade.

Segundo informa o portal Educris, as Jornadas contam com a participação de mil e cem catequistas de 20 diocese do país.

Em 2025, comemoram-se os 1700 anos do Concílio de Niceia (325-2025), onde se formulou a primeira versão do Credo.

LJ/LS

domingo, 19 de outubro de 2025

Festa do Acolhimento- Benção das mochilas

 


Foi com uma igreja cheia que a nossa paróquia celebrou mais um domingo. Este, porém, foi um domingo especial em que todos os alunos foram convidados a participar na Bênção das Mochilas.

Conforme explicou o nosso pároco, a Bênção não era só para as mochilas, mas também para os estudantes. Muitos foram os que responderam sim a esta chamada e participaram.

Com e por todos eles toda a comunidade rezou pedindo para que a todos Deus guie, proteja, ilumine e sejam conduzidos sãos e salvos ao longo de todo o ano letivo. Foi sem dúvida alguma um belo momento e significativo momento para todos quantos participaram nesta celebração.

A Missa da Bênção das Mochilas proporciona um encontro entre Igreja, família e escola, onde as crianças passam a maior parte do tempo durante o ano, e despertar a comunhão entre elas não apenas na teoria, mas na prática e no convívio social. Também tem o objetivo de resgatar o valor da bênção nas famílias, mostrando sua importância.

O Papa Francisco, no final de 2019, lançou um grande desafio aos educadores, estudantes e familiares: participar de um grande Pacto Global pela Educação. Uma verdadeira aliança entre escola, família e sociedade para que se possa colocar cada vez mais no centro do processo educacional o desenvolvimento integral da pessoa, ajudando as novas gerações a assumirem como princípio de suas vidas o humanismo solidário e a proteção da Casa Comum.

Antes da celebração, os alunos foram convidados a levar suas mochilas até o altar, onde no final da missa o Sr. Padre Rui fez uma oração pedindo a bênção divina para os alunos nesta etapa escolar que se iniciou e para os materiais escolares.
 

 ORAÇÂO
“Que o Senhor os abençoe e guarde. Que Ele lhes mostre o brilho de sua face na inventividade criativa de homens e mulheres que facilitam e ampliam os limites humanos, através da Ciência e da Tecnologia, frutos da inteligência que nos faz imagem e semelhança do Criador.

Que o Senhor tenha cuidado e carinho com vocês, todos os dias, em todos os momentos, e que vocês sejam cuidadosos e carinhosos com todos os que cruzarem o seu caminho.

Que o Senhor lhes revele o seu rosto no rosto daqueles que mais necessitam do seu amor e dê, a todos, saúde e paz.

Que Ele esteja à sua frente para guiá-los. Que ele esteja atrás de vocês para protegê-los. Que Ele esteja sobre vocês para iluminá-los. Que ele esteja dentro de vocês para fortalecê-los.

E que Ele esteja sempre ao lado de vocês, amigo e companheiro de caminhada. Que ele abençoe a vocês e seus objetos escolares. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Amém!








O Dia Mundial das Missões de 2025



O Dia Mundial das Missões de 2025 será celebrado no dia 19 de outubro, com o tema "Missionários da esperança entre os povos".

Mensagem do Papa Francisco

Para o Dia Mundial das Missões de 2025, o Papa Francisco enfatiza a importância de ser "mensageiros e construtores da esperança". Ele convida todos os cristãos a renovar seu compromisso de levar a mensagem de Jesus Cristo a todos os cantos da Terra. A mensagem central deste ano é a esperança, refletindo a vocação missionária de cada batizado.

www.vatican.va+1



 

Necessidade de orar sempre sem desanimar

 



As leituras que a liturgia do vigésimo nono domingo comum nos propõe recordam-nos a importância de manter com Deus uma relação estreita, uma comunhão íntima, um diálogo insistente, uma escuta atenta… O diálogo contínuo com Deus trará à nossa vida uma nova luz: permitir-nos-á compreender os silêncios de Deus, respeitar os tempos de Deus, entender o projeto de Deus, confiar sempre no amor de Deus.

A primeira leitura traz-nos um episódio da caminhada do povo de Deus pelo deserto: durante um confronto de Israel com os amalecitas, Moisés ficou em oração, no cimo de um monte, pedindo a Deus que salvasse o seu povo. Ao contar esta história, a catequese de Israel pretende sublinhar o poder da oração. O crente só conseguirá enfrentar as duras batalhas que a vida lhe impõe se puder contar com a ajuda e a força de Deus; e essa ajuda e essa força brotam de um diálogo contínuo, nunca interrompido e nunca acabado, com esse Deus salvador e libertador que acompanha o seu povo em cada passo do caminho.
O Deus de hoje – como o Deus de ontem – não suporta a injustiça, a opressão e a maldade; Ele nunca fica do lado do opressor e não aceita ser cúmplice do injusto e do violento. Mais: Deus está presente e atuante nos gestos e nas palavras de todos aqueles que lutam pela libertação do seus irmãos e procuram fazer nascer um mundo mais justo e mais livre. Temos consciência disso? Somos capazes de reconhecer a presença e a ação de Deus naqueles que se esforçam por construir um mundo mais humano e mais pacífico?

No Evangelho Jesus conta aos discípulos uma parábola sobre “a necessidade de orar sempre sem desanimar”. Segundo Jesus, Deus escuta sempre a oração dos seus filhos e, no tempo oportuno, há de dar resposta a tudo aquilo que eles lhe dizem. Entretanto, independentemente da resposta de Deus, a oração faz bem: aproxima os crentes de Deus, fá-los entender o projeto de Deus, leva-os a confiar incondicionalmente em Deus, na sua misericórdia, na sua bondade, no seu amor.Timóteo é exortado a servir a Palavra e a proclamá-la “a propósito e fora de propósito”, em todas as circunstâncias, sem medo, sem vergonha, sem atenuar a radicalidade e a exigência da Palavra de Deus, sem cedências aos interesses dos que se sentem incomodados pelos desafios de Deus. É assim que procedem aqueles e aquelas a quem a Igreja confia o serviço da Palavra? Os que têm a missão de proclamar a Palavra e de a explicar aos irmãos, procuram fazê-lo de forma clara e cativante, a fim de que a Palavra chegue ao coração dos que a escutam?

Na segunda leitura um mestre cristão do final do primeiro século convida os crentes a terem sempre em conta, na construção do edifício da sua fé, a Sagrada Escritura. Ela é um lugar privilegiado de encontro entre Deus e o homem. Escutar a Escritura é escutar o Deus que fala e que mostra o caminho que conduz à vida verdadeira. A oração também passa pela escuta desse Deus que nos fala através da Sua Palavra escrita.Timóteo é exortado a servir a Palavra e a proclamá-la “a propósito e fora de propósito”, em todas as circunstâncias, sem medo, sem vergonha, sem atenuar a radicalidade e a exigência da Palavra de Deus, sem cedências aos interesses dos que se sentem incomodados pelos desafios de Deus. É assim que procedem aqueles e aquelas a quem a Igreja confia o serviço da Palavra? Os que têm a missão de proclamar a Palavra e de a explicar aos irmãos, procuram fazê-lo de forma clara e cativante, a fim de que a Palavra chegue ao coração dos que a escutam?

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sábado, 18 de outubro de 2025

Recomeços



Volta e meia somos convidados a recomeçar rotinas, a recomeçar encontros e conversas que por um espaço de tempo parece que ficaram suspensas.

Os recomeços causam adrenalina como se esperássemos algo novo ou diferente. E às vezes é isso mesmo que acontece outras, é mais do mesmo. Por isso, os dias antes e depois dos ditos recomeços costumam ser duros. Entre a ansiedade, as expectativas e a vontade de voltar à rotina que nos traz segurança, há todo um “eu” que cresce, sem dar conta, uma maturidade diferente e a capacidade de dar a cada recomeço o valor que tem.

Recomecem trabalhos, escolas ou projetos!

Recomecem reuniões, discussões e resolução de problemas

Recomecem os motivos para aguçar a nossa criatividade

Recomecem as canseiras de quem nem tempo tem para marcar encontros

E que recomece diariamente a vontade de olhar para tudo com um olhar novo e puro.

Olhar com paixão para o amor de anos.

Olhar com entusiasmo para o trabalho que fazes todos os dias.

Olhar com novidade para as conversas do costume

E Não te esqueças de seres tu também um bom motivo de recomeços.

Se sentes que algo que fazes não te está a fazer bem - recomeça, não esperes para o novo ano.

Se sentes que uma conversa não te faz bem - recomeça, muda de assunto e conduz tu.

Se sentes que precisas de perceber por onde recomeçar…fecha os olhos e Reza!

Quem sabe era esse o recomeço que precisavas e o reencontro que adiavas.

E tu amiga, que recomeços estás a adiar?


Raquel Rodrigues


sexta-feira, 17 de outubro de 2025

aDeus!




“Tendo despedido a multidão, subiu sozinho a um monte para orar.” (Mt 14, 23)

‘Despediu-os’. Ouvir isso nos dias que correm causa espanto e consternação, sobretudo se os despedidos forem pessoas que nos são queridas. Isto deve-se ao peso negativo que atribuímos a despedir, no contexto de uma sociedade com uma economia instável, na qual a desvalorização das pessoas mergulha-as numa vida cuja qualidade deteriora-se progressivamente.

Contudo, o significado do verbo ‘despedir’ tem muito mais alcance. Basta pensar que neste episódio relatado em Mateus, Jesus despede a multidão depois de ter multiplicado os pães e peixes para alimentá-la. Uma atitude bem contrária ao ato laboral de prescindir dos serviços de alguém. Assim despedir em ‘jesuano’ significa enviar depois de ter acolhido. É entregar aDeus a pessoa que parte. É aquele momento agridoce que conduz à saudade. Em francês dizemos “au revoir” quando nos despedimos. Existe nessa expressão um alento: despedimo-nos até nos voltamos a ver. Mesmo na ausência, a presença do outro fica apenas adiada. Similarmente a ‘saudade’ é o reconhecer que a porta se fecha e a distância física aumenta, a tristeza pode até bater à porta com mais ou menos regularidade, mas o que guardamos são todos os momentos felizes, a alegria que partilhámos quando estivemos juntos. Como é preciosa a linguagem que nos permite estar em relação com os outros.

Ora na semana passada quem se despediu fui eu. Despedi-me dos alunos, educadores, do colégio e muito provavelmente do ensino. Despedi-me sem ter sido despedida. Despedi-me sabendo que fui tão bem recebida. Despedi-me ciente de que deixo uma parte de mim para trás, como exprime maravilhosamente Saint Exupéry no Principezinho: “aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Despedi-me esperando que tenha sabido dar mais do que recebi, mas sei que recebi muito de todos. Os anos passados no colégio fortaleceram-me, ajudaram-me a crescer profissional e pessoalmente e redobraram a minha esperança.

Nos olhos curiosos e bondosos dos mais novos, vi a possibilidade de vir a conhecer, graças a eles, um mundo melhor, quem sabe mais generoso, mais tolerante e com menos ódio no coração. Talvez seja exatamente graças a esses olhares esperançosos, aos sorrisos doces e rasgados de alegria e a tantos gestos afetuosos de carinho e de consolo que tenho hoje coragem de partir. No meu coração estão gravados os abraços que recebi de antigas alunas no dia do aniversário da morte do meu pai, as mensagens, os desenhos no quadro, os abraços de despedida e até as lágrimas que alguns derramaram ao ver-me chorar… Entrei quebrada e insegura, mas todo o amor que ali recebi e tudo o que ali vivi devolveu-me a tua paz e a confiança de saber que chegou a hora de ser ‘livre para servir’ noutro lugar.

Vou, mas não sacudo o pó das minhas sandálias (cf. Lc 9, 5), pelo contrário, abençoo e agradeço o tempo que ali passei. A ti entrego os que ali conheci, dos mais novos aos ‘jovens há mais tempo’. Perguntarão talvez porque vou embora de um lugar que tanto me marcou. Vou porque em boa hora compreendi que quando há dor no partir, maior é a vontade de voltar. Compreendi que testemunhar-te é saber sair da nossa bolha de conforto para dar-te a conhecer em lugares onde foste esquecido. Tu ensinaste-nos que “não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os enfermos” (Mc 2, 17) e consequentemente quem escolhe seguir-te acolhe os teus ensinamentos e aceita os teus envios.

Vou, recupero o meu nome de batismo, não mais serei ‘stôra’, ‘miss’, ‘teacher’ ou ‘madame’, mas ficará sempre a tão portuguesa saudade.


Raquel Dias


quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Tenho mais do que mereço ou menos?




Há momentos em que nos sentimos algo perdidos entre a certeza de que merecemos muito mais do que aquilo e aqueles que está e estão à nossa volta, e uma outra certeza contrária que nos garante que tudo o que temos já é muito mais do que merecemos.

Serei eu um desafortunado que merece compaixão e que deve aspirar a mais do que tenho ou, pelo contrário, sou um impostor que já tem muito mais do que seria justo? E é nesta espécie de maré interior que a forma como me vejo e me avalio varia entre opostos.

A verdade é que mereceremos sempre ser mais, porque haverá sempre que precise do que temos e somos de bom. Se seguirmos por esse caminho chegaremos ao céu, em todos os sentidos!

Mas também é verdade que desconsideramos muito o que já há de bom na nossa vida. Assim, é quase sempre uma mentira completa que tenhamos pouco e que sejamos uns desgraçados que vivem num qualquer vale de trevas.

Neste mundo nem sempre recebemos o que merecemos. Nem as recompensas nem as penalidades.

Talvez não seja bom confiar nas emoções do momento, e procurar, com calma, olhar com verdade para todos os que nos amam e para tudo quanto julgamos nosso, mas que, num instante, podemos perder.

Que eu saiba sempre reconhecer e acolher o amor que me é dado por outros, e, da mesma forma, nunca me satisfaça com o que já sou e amo, procurando e encontrando sempre formas de ser e amar mais.


José Luís Nunes Martins


quarta-feira, 15 de outubro de 2025

CATEQUESE: Festa do Acolhimento , Benção das Mochilas

 

CATEQUESE: Festa do Acolhimento



No próximo domingo, dia 19 de outubro, na missa das 12h00, acolhemos as crianças do 1º ano da Catequese.

Elas começam, assim, o caminho de descoberta e de conhecimento do grande Amigo que é Jesus.

A acompanhá-los, teremos as famílias, a comunidade paroquial e meninos mais velhos da nossa catequese.

Durante a missa decorrerá o compromisso dos pais, das catequistas, das crianças, da comunidade, em participar na educação para a fé, uns acolhendo e outros sentindo-se acarinhados, no final a Benção das Mochilas

A nossa comunidade paroquial faz festa e está muito feliz em receber-vos!

Leão XIV, apelo para o 99º Dia Mundial das Missões

 


O Santo Padre a todas as paróquias: “Obrigado por tudo o que farão para me ajudar a apoiar os missionários em todo o mundo”

Cidade do Vaticano, 13 out 2025 (Ecclesia) – O Papa lançou um apelo ao contributo dos católicos para ajudar ação missionária da Igreja, recordando a sua própria experiência como religioso no Peru.

“Quando fui padre e depois bispo missionário no Peru, vi com os meus próprios olhos como a fé, a oração e a generosidade vividas neste dia podem transformar comunidades inteiras”, refere Leão XIV, numa mensagem para o 99.º Dia Mundial das Missões.

O Papa sublinha que esta celebração quase centenária é uma ocasião em que toda a Igreja se une em solidariedade e oração pelos missionários.

“As vossas orações e o vosso apoio ajudam a espalhar o Evangelho, a apoiar programas pastorais e de catequese, a construir novas igrejas e a cuidar das necessidades de saúde e educação dos nossos irmãos e irmãs nos territórios de missão”, sublinha a mensagem em vídeo, enviada aos jornalistas.

Leão XIV recorda o tema escolhido para a celebração deste ano, pelo Papa Francisco, “Missionários de esperança entre os povos”, em ligação com o Jubileu.

“Renovemos o nosso compromisso alegre de levar Jesus Cristo, nossa Esperança, até aos confins da terra. Obrigado por tudo o que vão fazer para me ajudar a apoiar os missionários em todo o mundo”, conclui.

A 5 de outubro, encerrando o Jubileu do Mundo Missionário e dos Migrantes, no Vaticano, o Papa tinha falado “nova era missionária” na Igreja, que passa por acolher quem chega de longe.

“Os barcos que esperam avistar um porto seguro onde parar e os olhos cheios de angústia e esperança, que procuram terra firme onde desembarcar, não podem e não devem encontrar a frieza da indiferença ou o estigma da discriminação”, disse, na homilia da Missa a que presidiu na Praça de São Pedro.

Na última mensagem que assinou o Dia Mundial das Missões, o Papa Francisco tinha pedido uma “nova estação evangelizadora”, a partir da “grande esperança” cristã, lembrando que “a pertença à Igreja nunca é uma realidade adquirida”.

“Na sociedade moderna, a pertença à Igreja nunca é uma realidade adquirida de uma vez para sempre. Por isso, a ação missionária de transmitir e formar a maturidade da fé em Cristo é ‘o paradigma de toda a obra da Igreja’”, refere o documento.

OC


terça-feira, 14 de outubro de 2025

Ainda vais a tempo de seres quem és



Apercebo-me de que, muitas vezes, vivemos em esforço. Sentimos que temos de corresponder às expectativas dos pais, dos professores, dos amigos, da sociedade no geral. Vivemos como se o guião da nossa própria vida nos fosse alheio. Como se nem sempre reconhecêssemos ou tivéssemos consciência dos motivos para seguir este ou outro caminho.

Começamos cedo a querer que os outros nos aceitem. Que gostem de nós como somos, mas, para que isso aconteça, sentimos que temos sempre de ser outra coisa qualquer. Uma versão melhor. Mais bem trabalhada. Mais bem resolvida. Mais aceitável para quem nos encontra.

Começamos cedo a disfarçar. A fazer de conta que estamos a conseguir chegar a todo o lado e a fazer o que nos pedem com uma cara alegre que, tantas vezes, só queria poder estar triste. Ou amuada. Ou zangada. Ou outra coisa qualquer que sempre fica menos bem nas fotografias ou nos stories das redes sociais.

Vamo-nos habituando a sentir menos e, depois, a não sentir de todo. Para nos protegermos. Para sobreviver num mundo que valoriza o esforço sem limites, a produtividade, a mente, o racional e o saber. Assim avançamos pela vida sabendo de tudo, menos de nós e do mundo que nos habita (ou assola?) por dentro.

Creio que a vida não pode ser só isto. Não pode compadecer-se simplesmente desta promessa vazia que nos fizeram: se trabalhares muito e bem vais ser muito feliz. Se fizeres o que é esperado, vais encaixar. Se disseres o que os outros querem ouvir, mesmo que não concordes, vais ser erguido em braços.

Se assim for, ainda não percebemos nada do que viemos cá fazer. Já dizia o agora Santo Carlo Acutis, será que nos contentamos em ser fotocópias? Repetições e réplicas uns dos outros? Sem saber onde começamos e onde terminamos?

Podemos, ainda, (e agora!) começar a esculpir e a descobrir a nossa versão original. Aquela que já quer saber pouco do que os outros pensam. Que se prioriza. Que diz que não mesmo que isso provoque o espanto alheio. Que não se deixa corromper, manipular ou subornar. Que vive para ser quem é, independentemente do que os outros esperam que seja.

Ainda vais a tempo de seres quem és. Todos os outros caminhos acabarão por deixar de valer a pena.


Marta Arrais