sábado, 9 de agosto de 2025

AS CRIANÇAS NÃO SÃO CIGARRO DE AFIRMAÇÃO





Há quem fume para se afirmar, buscando atenção, identidade, influência social, integração.... Diz quem sabe que são sobretudo os adolescentes quem mais deita mão dessa arma. Mas pode tornar-se mortífera, sobretudo se quem a usa se deixa deslizar para o vício, ignorando os seus malefícios para a saúde do corpo e da carteira, bem como, em muitos casos, para o desequilíbrio dos parcos orçamentos familiares. No entanto, a meu ver, vão surgindo outras formas de afirmação mais difíceis de interpretar. São pouco estudadas nas suas causas, acho eu, muito menos nos seus efeitos, mesmo que possíveis pela ciência e permitidas pelas leis. As leis dizem-nos se um ato é legal ou ilegal. O que é legal, porém, nem sempre é lícito ou moral, até pode ser eticamente reprovável. Por outro lado, a experiência da vida, o peso da idade, os cabelos brancos e a ferrugem das dobradiças a afastar cada vez mais os pés para os enfiar nas meias e calçar os sapatos, fazem olhar para certas novidades com pouco entusiasmo. Muito mais quando se foi educado e passou a vida a viver e a ensinar a viver noutros padrões, com respeito absoluto pela dignidade humana, sobretudo dos mais frágeis. Seja como for, há que dar atenção a tais ‘modernices’, com paciência, com ternura e esperança, com dignidade, mesmo que com alguma dor. Não se pode perder o tino nem as estribeiras, mesmo que alguns espinoteiem com gana de partir a loiça!
Ora, antes que anoiteça, acompanhe-me, por favor, por esta cangosta adiante. Duas mulheres juntaram-se civilmente. Uma delas recorreu ao Banco de Esperma para ter uma criança. O óvulo que ela forneceu foi fecundado em laboratório com o sémen de um doador, não sei se identificado se incógnito. Depois, o embrião foi transferido para o útero da sua companheira, sendo esta a que engravidou e deu à luz. Se a primeira é a mãe genética, esta, a segunda, ao receber os óvulos da outra, torna-se em mãe substituta ou de aluguer. Em Portugal, é permitido que a criança fique com duas mães biológicas quando ambas participam da geração da criança. A criança foi pois registada no civil com duas mães, passando a ser considerada filha biológica de ambas, embora só tenha o adn da mãe que forneceu os óvulos e do doador do sémen. É vontade das duas mulheres que a criança faça caminho integrada na Igreja, querendo agora batizá-la. Noutra diocese, lá na paróquia onde possivelmente residem, a criança não foi batizada. Como tem ascendentes algures por outras bandas, querem agora batizá-la lá, uma forma de agir bastante comum, muitas vezes na tentativa de furar esquemas. Não pondo em questão a criança, pois não tem culpa de tal situação, o responsável pastoral, sabendo que a criança não fora batizada na sua terra, perguntou como agir, inclusive como fazer o respetivo registo paroquial no caso de haver Batismo. São, pois, duas questões: se a criança deve ser batizada apesar de não o ter sido lá onde vive, e se, no Assento do Batismo, devem constar as duas mães.
Ora, quanto ao Batismo da criança, a Igreja sempre deixou a questão em aberto, deixando-a à responsabilidade dos agentes da pastoral. Apenas lhes diz o que sempre lhes disse, inclusive quando se tratava ou trata de filhos de pessoas não casadas: “para que a criança seja batizada, deve haver uma esperança fundada de que será educada na religião católica”. Talvez fosse a falta desta ‘esperança fundada’ que levou os agentes da pastoral da terra onde vivem a adiar o Batismo da criança. Se quem prepara e batiza precisa desta ‘esperança fundada’, não lhe bastará que alguém o diga, é preciso que o testemunhe. Coisa, aliás, nem sempre fácil de avaliar e discernir. Infelizmente, muitos pais e padrinhos mentem à Igreja. Querem ser exceção, ao ponto de até já ter acontecido de alguém apresentar, para padrinhos, pessoas que nem batizadas são. E não só ficam de consciência tranquila, como, por vezes, manifestam orgulho por terem ludibriado os agentes da pastoral e as normas que deveriam cumprir. Não é, porém, aos agentes de pastoral que eles mentem. Eles mentem à Igreja, o que é bem mais sério.
Sobre como fazer o Assento do Batismo, nunca houve uma resposta clara. Anda muito pó no ar à espera de assentar para se vassourar o que deve ser varrido. Num ou noutro país, porém, e segundo a opinião de alguns peritos nessas áreas, como estes casos vão sendo mais frequentes e são precisas orientações, a Igreja, em fidelidade à sua doutrina, tem assumido que, no Assento do Batismo, nunca se deve escrever o nome de dois pais ou de duas mães do mesmo sexo. É certo que não são estas questões as que verdadeiramente interessam à pastoral, é verdade, mas são reais e criam tensão. Sabendo eu que uma resposta precipitada ou mal dada, logo se espalharia e poderia fazer doutrina, entendi que deveria partilhar com alguém a questão e perguntar-lhe o que é que ele entenderia, pois até poderia ter havido algum pronunciamento superior e eu dele não me ter apercebido. Soube depois que essa pessoa a quem perguntei, mui capaz e com elevadas responsabilidades e competência, mas também com as suas dúvidas, fez chegar a questão ao nível mais alto, aguardando-se ainda a resposta. Tudo isto leva a crer que a questão não é assim tão fácil e linear. Costuma dizer-se que a prudência e os caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. E como o leitor sabe, na Igreja, nestes casos e noutros semelhantes, se há princípios também há sensibilidades e sensibilidades. Enquanto uns, querendo ser mais papistas que o Papa, passam orgulhosamente para além da taprobana, insinuando que foi o Papa quem disse aquilo que eles gostariam que o Papa tivesse dito, mas, de facto, não o disse, outros há que, pelo facto de o Papa ter dito o que disse e disso não gostarem, preferem rasgar as vestes, vestir-se de saco e sentar-se na cinza, rezingando, não pelo calor das brasas que lhe aquecem as calças, mas pela frieza de coração e grave hiponatremia! Como veem, há perguntas cuja resposta é difícil, e, seja ela qual for, nunca agradará a todos. Só o Vasquinho da Anatomia é que, finalmente, com garbo e grande aplauso, conseguiu agradar às babosas tias sempre ludibriadas, aos colegas e fadistas da vida airada, ao embasbacado júri do exame de medicina e ao auditório presente na sala onde ele cacarejou sabedoria médica aos molhos, terminando a responder que o principal músculo flexor do pescoço era “o esternocleidomastóideo…”.
Embora todos desejemos que estas crianças cheguem ao nível mais alto no campo da cultura e do bem estar pessoal e social, há muitas perguntas que, embora se possam colocar perante qualquer criança que nasça, aqui, nestes casos, são muito mais pertinentes e abundantes. Os direitos inalienáveis das crianças não podem ser esquecidos por quem, porventura, delas se queira servir para se afirmar, pessoal, ideológica ou politicamente. E embora sejam contas doutro rosário, acho até que nem a legislação laboral portuguesa contempla os direitos e deveres relacionados com esta complexa parentalidade a três. Neste tempo de tantas perceções fulgurosas, esta é a minha perceção, aliás, aliada também ao direito da minha liberdade de expressão! ihihihih...



D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 08-08-2025.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Os rostos anónimos de Deus



“… porque todos deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo possuía, todo o seu sustento”
(Mc 12, 44).



Começa para muitos o tempo do descanso e sabe tão bem poder libertarmo-nos dos caminhos da rotina, da escravidão do despertador e da prisão do tempo sempre com hora marcada. Envergonho-me de o dizer, mas são mais que muitas as vezes que não guardo tempo para subir ao monte para orar em solidão (cf. Mt 14, 23), para falar-te em silêncio. Tantas outras começo, já deitada com o peso dos cansaços do dia, mas adormeço antes de te conseguir ouvir. Por isso, cada vez gosto mais destas nossas conversas semanais, durante as quais partilho contigo o que tenho trazido no coração.

Confrontada com imagens devastadoras dos incêndios desta última semana e, sobretudo, com rostos que retratam a exaustão que não carece de uma só palavra, o meu coração bate com arritmias de impotência. Tantos bombeiros, voluntários ou não, que não descansam neste mês em que o nosso país parece estar ‘fechado até setembro’, para que outros possam descansar, para que outros não percam os frutos do trabalho de uma vida e para impedir que alguém perca o dom mais precioso que nos deste: a vida. Lutam contra fogos descontrolados, tantas vezes ateados por ganância ou maldade, e com recursos ridiculamente limitados porque parece haver sempre meios para o supérfluo, mas nunca o suficiente para o necessário. Nesta rotina anual dantesca, só mesmo as populações locais se preocupam em alimentar e dar abrigo a estes homens e mulheres que dão tudo, como a viúva que com duas moedas deu todo o seu sustento (cf. Mc 12, 42-44).

Sei que há muitos outros heróis anónimos que por estes dias também têm dado tudo, pondo-se em situações de perigo para ajudar os mais fragilizados, como os idosos, enfermos, crianças e até animais, tentando poupá-los das consequências do egoísmo e da desumanidade do Homem. Simplesmente, a farda vermelha surge na época estival como símbolo deste esforço incansável. Nela estão estampados os rostos das pedras vivas que diariamente ajudam a construir a tua Igreja, mesmo que não o saibam.

Nunca deixa de me surpreender esta capacidade de tornar o pior no melhor de nós nestes momentos de maior angústia e dor. É entusiasmante ver que onde abunda o pecado, superabunda a graça (cf. Rom 5, 20) porque esta capacidade não vem de nós, mas de ti. É o teu Espírito que se move em nós e nos comove, que nos agita e impele, que nos enche de ti.

Nos momentos mais espinhosos da vida, nessa comunhão vemos a concretização da tua presença, da tua fidelidade e do teu amor no nosso ‘agora’. Perante tão grande e maravilhoso milagre, renova-se a esperança do nosso ‘amanhã’. Desconhecidos que aprendem a ver-se com compaixão; heróis que abrem caminhos de fé e caridade. Todos estes homens e mulheres bem-aventurados, com fome de coragem e de forças para continuar e com sede de justiça e de paz estão exaustos, Senhor. Oferece-lhes a leveza do teu jugo para que possam, enfim, descansar em ti.



Raquel Dias

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

«Mudam-se os tempos, mantém-se as vontades»



O mundo contemporâneo tem tão pouco de diferente de mundos de outros tempos, pelo menos na minha humilde compreensão!

O básico indispensável continua a sê-lo, embora mais requintado, mas nem por isso o foco se volta para a verdadeira essência do ser humano.

Olho para muitos problemas que afetam os nossos dias, como inacreditáveis de tão sem sentido, ridículos até?!

Que insanidade é esta de lutar por terra e mais terra para se ser dono e senhor? Mas de quê? - de léguas de sofrimento atroz que ceifam vidas a troco de nada?

Que loucura é esta que permite a terrível saga da FOME, quando há no mundo que chegue e que sobre para erradicar esta atrocidade?

Que dizer da ditadura do dinheiro que tudo pode e do poder que tudo domina, da violencia ? - como se fossemos imortais?!

E nós tantas vezes impavidos e serenos a normalizar o horror apresentado todos os dias aos nossos olhos? Temos um minuto de compaixão para 1 hora de scrol!

A diferença pode começar em nós, de forma simples e aparentemente inócua, mas há-de ressoar de alguma forma.

Força, luz e esperança para todos nós!

 Lucília Miranda

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Descansar sem culpa(s)



Chegamos ao fim de mais um ano letivo. Para muitos, esta é a medida de tempo que rege a época de trabalho e de descanso. O verão traz-nos a promessa de um tempo novo. Sem grandes preocupações nem responsabilidades. Sem grandes decisões ou complicações. Sem tantas dificuldades ou entraves. O trânsito nas grandes cidades abranda e faz-nos sentir que a vida seria mais fácil se não quiséssemos sempre ir todos para os mesmos sítios, a toda a hora. A migração de verão levará este movimento para Sul, onde nos encontraremos novamente e desejaremos, então, ter escolhido um destino de férias mais sossegado.

Parece que já não sabemos estar em lugares que não estão na moda, que não são mostrados nas redes sociais e que ninguém conhece. Bendito esse tempo da nossa infância em que as férias para sul significavam uma viagem de carro de dia inteiro, mas não implicavam o (re)encontro com milhares de pessoas. O tempo era diferente, a dispersão mais saudável e repartida. Havia tempo e espaço para todos. E sobrava. Não havia tantos atropelos nem na rua, nem nas praias, nem nos restaurantes que, por milagre, estão sempre cheios apesar “da(s) crise(s)”.

Usamos o verão para esquecer. As férias são arma pacífica e florida que não nos deixa espaço para sermos infelizes ou para desvelar as negatividades que nos assolam no resto do ano. E que bom que é.

Será? Será bom usarmos este tempo para esquecer o que não deixa de lá estar?

Ou faria mais sentido encontrar espaço para o descanso mais frequentemente, bem como para todas as outras emoções, sentimentos e eventos mais ou menos disruptores?

Queremos esquecer tudo num mês. Com três ou quatro mergulhos na piscina ou no mar que está cada vez mais quente (!).

Lamento informar que não é assim que funciona. O verão é só o verão e a vida continuará a desenrolar-se em nós como no inverno ou noutro tempo qualquer.

Que possamos encontrar tempo para descansar, para deixar o sol nutrir o corpo e a alma, mas que possamos encontrar também espaço para refletir de que formas podemos viver com mais coerência. Estejamos de férias ou não.

Boas férias! E bom descanso! Mesmo assim…



Marta Arrais

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Abraçar a experiência da vida!



Passamos grande parte da nossa vida focados no que está fora de nós. Tentamos controlar o que os outros pensam, o que sentem, o que fazem. Sofremos por palavras que não dissemos, por gestos que não recebemos, por acontecimentos que não conseguimos prever ou evitar.

E, nesse esforço constante de querer agarrar o incontrolável, esquecemo-nos daquilo que verdadeiramente está nas nossas mãos. Abraçar a vida como ela é, os outros como são, e a nós próprios com tudo o que trazemos.


Muitas vezes esquecemo-nos que nós somos o nosso lugar de chegada como peregrinos desta vida.

Esquecemo-nos que podemos recomeçar. Não importa quantas vezes. Cada dia é uma nova possibilidade. Cada manhã é uma folha em branco, onde podemos reescrever a nossa história, sem medo, mas com muita coragem.

Esquecemo-nos do amor. O amor que damos e o que recebemos. Acredito que é o motor do sentido da vida. Que transforma um mundo solitário, num lugar mais bonito e humano.

Está na hora de passarmos a olhar para dentro! O lugar onde podemos fazer as nossas escolhas, com a bússola do coração.

Boas férias!


Carla Correia

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Para Quem será?




A ideia de ser pó da terra não me agrada!

Possuir na mesma medida que o outro, não me basta!

A minha colheita é muito maior, pois trabalho para isso!

Aspiro para mim, para a minha vida, algo mais!

E Tu, Senhor… és Algo Mais.


Quero-Te na minha vida.

Quero-Te como colheita farta e maior vaidade.

Em Ti coloco toda a minha Esperança.

E abandono-me, totalmente, aos Teus desígnios.


Peço-Te uma Alma pobre.

Um coração capaz de se alegrar na dor e na desilusão.

Um corpo forte que leve Jesus a Todos e Todos a Jesus, de mãos abertas.

Que os meus olhos vejam a riqueza que é ter-Te sempre presente na minha vida.


Que a minha boca fale de Ti no silêncio profundo,

de uma oração humilde,

que me une a todos os jovens que, neste Jubileu,

anseiam encontrar-Te.

Vem, Senhor, com o Teu Reino de Amor.


Liliana Dinis,

S. João Maria Vianney, Cura de Ars, padroeiro do Clero com cura das almas


Se soubéssemos bem o que é um padre na terra, morreríamos: não de medo, mas de amor". A vida de São João Maria Vianney pode ser resumida neste pensamento.
Também conhecido como "Cura d'Ars", João Maria Vianney nasceu em 8 de maio de 1786, em Dardilly, próximo de Lyon. Seus pais eram camponeses e, desde pequeno, o encaminham ao trabalho da lavoura, tanto que, aos 17 anos, João ainda era analfabeto.
No entanto, graças aos ensinamentos maternos, conseguiu aprender muitas orações de cor e viveu uma forte religiosidade.



S. João Maria Vianney nasceu perto da cidade de Lião, em França, a 8 de Maio de 1786. Cedo descobriu a sua vocação para o sacerdócio. Mas foi excluído do seminário pela sua dificuldade nos estudos. Foi, então, ajudado pelo pároco de Écully e, com quase trinta anos, foi ordenado sacerdote em Grenoble. Em 1819, foi nomeado pároco de Ars. Permaneceu quarenta e dois anos a paroquiar a pequena aldeia, que transformou, graças à sua bondade, à pregação da palavra de Deus, a sua mortificação e à sua caridade. A sua fama espalhou-se de tal forma que gente de toda a parte o procurava para se confessar e ouvir os seus conselhos. Faleceu a 4 de Agosto de 1859. Foi canonizado por Pio XI, em 1925, que também o declarou padroeiro de todos os párocos.

Hoje, pretendo percorrer brevemente a vida do Santo Cura d'Ars, destacando alguns traços que possam servir de exemplo para os sacerdotes do nosso tempo, certamente uma época diferente daquela em que ele viveu, mas marcada, em muitos aspetos, pelos mesmos desafios fundamentais humanos e espirituais... O Santo Cura d'Ars sempre manifestou a mais alta consideração pelo dom recebido. Afirmava: "Que grandioso é o sacerdócio! Só se compreende bem no Céu... Mas, se o compreendesse sobre a terra, morrer-se-ia, não de temor, mas de amor". Além disso, quando criança, tinha confiado a sua mãe: "Se eu fosse padre, conquistaria muitas almas". E assim foi. No serviço pastoral, tão simples como extraordinariamente fecundo, este anónimo pároco de uma distante aldeia do sul da França conseguiu de tal modo identificar-se com o seu ministério que se tornou, de uma maneira visivelmente reconhecível,outro Cristo, imagem do Bom Pastor, que, ao contrário dos mercenários, dá a vida por suas ovelhas (cf. Jo 10:11). A exemplo do Bom Pastor, ele deu a vida durante as décadas do seu serviço pastoral. Sua existência foi uma catequese viva que adquiria uma eficácia particularíssima quando as pessoas o viam celebrar a missa, deter-se em adoração diante do sacrário ou passar muitas horas no confessionário... Atualmente, os desafios da sociedade moderna não são menos exigentes do que no tempo do Santo Cura d´Ars. Talvez até se tenham tornado mais complexos. Se naquele tempo havia a "ditadura do racionalismo", hoje verifica-se em muitos ambientes uma espécie de "ditadura do relativismo". Ambas oferecem respostas inadequadas à justa procura do homem... O racionalismo foi inadequado porque não teve em conta os limites humanos e aspirou a elevar apenas à razão a medida de todas as coisas, transformando-as numa ideia; o relativismo contemporâneo mortifica a razão, porque de fato chega a afirmar que o ser humano não pode conhecer nada com certeza além do campo científico positivo. Hoje, como então, o homem, "mendicante de significado e completude", sai em permanente busca de respostas exaustivas às questões de fundo, que não cessa de se colocar... O ensinamento que a este propósito continua a transmitir o Santo Cura d'Ars é que, na base de tal empenho pastoral, o sacerdote deve cultivar uma íntima união pessoal com Cristo, fazendo-a crescer dia após dia. Só se estiver apaixonado por Cristo, o sacerdote poderá ensinar a todos esta união, esta amizade íntima com o divino Mestre; poderá tocar os corações das pessoas e abri-las ao amor misericordioso do Senhor. Só assim poderá infundir entusiasmo e vitalidade espiritual à comunidade que o Senhor lhe confia... (Extratos de um discurso de Bento XVI, em 5 de Agosto de 2009).

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domingo, 3 de agosto de 2025

Caminho de Conversão

 



A vida é o bem mais precioso que Deus nos ofereceu. Não podemos dar-nos ao luxo de a desperdiçar. Como devemos viver para que a nossa vida faça sentido? A Palavra de Deus que escutamos neste domingo convida-nos a refletir sobre esta questão. Alerta-nos contra as opções que conduzem a becos sem saída; aponta-nos os caminhos que levam à plena realização.

No Evangelho Jesus, através da parábola do “rico insensato”, denuncia a falência de uma vida voltada exclusivamente para o gozo dos bens materiais. Quem aposta tudo no conforto, no bem-estar, na segurança que o dinheiro proporciona, é um “louco”. As suas opções irresponsáveis levam-no a passar ao lado das coisas mais belas da vida, das coisas que realizam o homem e lhe proporcionam uma felicidade sem fim.Deus confiou-nos um capital de valor inestimável: a nossa vida. Não podemos dar-nos ao luxo de desperdiçar esse dom, de o malbaratar em apostas falhadas. Apesar disso, nem sempre conseguimos perceber em que caminhos andar, que valores privilegiar, que opções tomar, para dar pleno significado à nossa existência. Deixamo-nos arrastar pelo movimento do rebanho, pela pressão social, pelos ditames do politicamente correto, pelos gritos estridentes dos influenciadores de serviço, pela tentação da acomodação e do bem-estar, pelo medo que nos impede de arriscar, até chegarmos a becos sem saída e mergulharmos no vazio, na frustração, na desilusão. O que podemos fazer para encher de significado a nossa vida? Como devemos viver? Que apostas devemos privilegiar?

Na primeira leitura, um sábio de Israel (o “Cohelet”) oferece-nos a sua reflexão sobre o sentido da vida. Com pessimismo, mas também com realismo, constata que não vale a pena o homem afadigar-se a acumular bens que um dia abandonará. Esses bens nunca encherão de sentido a vida do homem. Embora a reflexão do “Cohelet” não vá mais além, constitui um patamar para partirmos à descoberta de Deus e para encontramos n’Ele o sentido último da nossa existência.Para onde caminhamos? Qual o sentido da nossa vida? Vale a pena viver? Que proveito tira o homem desse enorme esforço que constitui a luta diária pela existência? Alguns filósofos existencialistas recentes, no contexto da reflexão sobre o sentido da vida, falam da futilidade da existência, da náusea que o homem moderno sente diante de realidades que lhe escapam, do absurdo de uma vida que se dirige inexoravelmente ao encontro da morte, da sensação de vazio e de angústia que acompanha os passos do homem sobre a terra. Não andamos longe da reflexão feita pelo Cohelet há muitos séculos sobre a “vanidade” do esforço humano e sobre o sentido – ou a falta de sentido – da vida. As conclusões, quer do Cohelet, quer das filosofias existencialistas agnósticas, seriam desesperantes se não existisse a fé. Para os crentes, a vida não é absurda porque ela não termina nem se encerra neste mundo. A nossa caminhada nesta terra está, de facto, cheia de limitações, de desilusões, de imperfeições; mas nós estamos convictos de que a vida que conhecemos aqui desemboca numa realidade totalmente “outra”, naquilo a que chamamos “a vida eterna”. Só aí encontraremos o sentido pleno do nosso ser e da nossa existência. É com esta certeza que vivemos e caminhamos?

Na segunda leitura Paulo convida-nos a optar pelas “coisas do alto”, em detrimento das “coisas da terra” (brilhantes e sugestivas, mas também efémeras e fúteis). Aquele que, no batismo, foi enxertado com Cristo, tem de viver de tal forma que seja, no meio dos seus irmãos, “imagem do Criador”.Usamos frequentemente as expressões “cristão praticante” e “cristão não praticante” para definir a nossa forma de viver a fé. O que é que elas traduzem? A nossa frequência dos sacramentos? A nossa participação nos rituais litúrgicos previstos no calendário religioso? A nossa obediência às leis da Igreja e às indicações vindas da hierarquia eclesiástica? Paulo propõe-nos uma categoria diferente para aferirmos o nosso envolvimento com a fé: a forma como vivemos os compromissos que assumimos no dia do nosso batismo. Nesse dia, comprometemo-nos a renunciar ao pecado, à escravidão que o egoísmo traz, à maldade que é incompatível com viver como filho de Deus. Temos “praticado” essa renúncia? Nesse dia comprometemo-nos também a escutar Jesus, a segui-lo no caminho do amor, do dom da vida, do serviço humilde a Deus e aos irmãos. Temos “praticado” esses “passos”? Temos procurado viver com coerência as exigências do nosso batismo? Optamos claramente pelas “coisas do alto”, ou as “coisas da terra” (brilhantes e sugestivas, mas também efémeras e fúteis) têm prioridade, condicionam a nossa forma de estar no mundo e de nos relacionarmos com os irmãos?

BILHETE DE EVANGELHO.

Ninguém pode decidir no lugar de outro. O próprio Jesus respeita a liberdade do homem, mas veio propor-lhe balizas para marcar o caminho sobre o qual tem escolhas a fazer. Põe-no de sobreaviso em relação às riquezas materiais que podem paralisar ou cegar. De facto, aquele que tem as mãos crispadas sobre os seus bens está impedido de partilhar, de fazer um gesto para com aquele que tem necessidade. E depois, o seu horizonte está fechado por todas as suas riquezas que o impedem de ver o irmão, e de se ver a si próprio na luz de Deus. Quando nos deixamos olhar por Deus, permitimos-Lhe olhar para onde estão as nossas verdadeiras riquezas; a oração ajuda-nos, então, a reconhecê-las para as desenvolver.


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sábado, 2 de agosto de 2025

Quais são as tuas raízes?



Quando falo em raízes não é naquilo que te prende, mas aquilo que te alimenta?

Por mais cidadãos do mundo que sejamos temos sempre algumas raízes que nos fazem fazer sentir em casa. Não sei se já te aconteceu sentires um cheiro que te faz viajar para um lugar onde já foste feliz. Um barulho que te lembra algo ou alguém, ou um sabor que te faz viajar? Eu já! Reparo que tudo isso me relembra a construção daquilo que hoje sou e como lido com as coisas mais simples do meu dia a dia, bem como as mais complexas.

Somos feitos de regressos a casa, à nossa árvore onde recarregamos e nos nutrimos.

Somos feitos de aconchegos e conforto e de tanto que nos alimenta o espírito.

Por vezes parecemos árvores frontosas capazes de resistir a ventos e vendavais, outras apenas um tronco frágil prestes a tombar, mas na verdade o que se vê não demonstra as raízes que nos sustentam. É certo que algumas raízes nos prendem e até restringem alguma vontade de virar costas, mudar de sítio e começar de novo, mas são essas raízes que também nos seguram quando tudo parece estar a sair do lugar.

Sou grata por ter muitas raízes, por entrar em lugares onde as pessoas me conhecem, frequentar encontros em que não me sinto estranha porque significa que as minhas raízes vão dando frutos de empatia e intimidade. São essas raízes que marcam quem sou e como quero ser, mais do que parecer.

Quando os teus frutos não forem os mais bonitos, não culpes uma ou outra raiz, pois se reparares elas vão acabar por se fundir para dar um certo resultado. Por mais troncos que tenhas na tua vida, lembra-te que as raízes, que são a parte menos visível, é a que realmente te segura.

Por isso volta e meia podemos parar e pensar em quem são essas raízes, o que te segura, o que te alimenta...na verdade aquilo que faz que sejas quem és.

E para ti amiga, quais são as tuas raízes?



: Raquel Rodrigues

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

OS PARTIDOS TAMBÉM EXCOMUNGAM!...ihihihihih



Devido ao título, já sei que me vai ler. Fico feliz por isso, mesmo que não goste e me mande à fava! Essa é a missão do título: não satisfazer o leitor com um mero olhar, mas espevitar-lhe a curiosidade, aquela curiosidade que nunca matou o gato. E sabe o que é excomungar? É isso mesmo, é afastar da comunhão, é excluir, é expulsar alguém de uma comunidade, associação, instituição ou grupo, devido aos seus desvios comportamentais, doutrinais ou edeológicos em relação a essa entidade. Hoje, infelizmente, com grande sofrimento para quem, sem qualquer espécie de culpa, apanha por tabela, vivemos num tempo de muitos Ex. Dá a impressão de que muitos Ex acontecem só porque sim, por dá cá aquela palha, é in!
Quando a Igreja, devido a matéria grave, e pública, afasta alguém da comunhão e da participação em determinados bens espirituais, é considerada discriminatória, retrógrada, sem sentido, medieval, segregacionista, uma coisa do demónio mais chifrudo que se possa imaginar. E esta pena, na Igreja, é o último recurso, só acontece quando se esgotam todos os outros instrumentos possíveis e imaginários, de âmbito pastoral e jurídico, tendo sempre em conta o bem do próprio culpável e a integridade espiritual e moral da Igreja. Não se trata tanto de expulsar, mas de chamar à razão. Até porque a comunhão da pessoa com a Igreja tem uma raiz ontológica que nunca se perde, ninguém lha pode tirar, radica no Batismo. O Batismo imprime carácter, não se repete, não se pode apagar nem safar, mesmo que alguém peça para o riscar dos livros, como às vezes acontece. Há, porém, uma dimensão mística ou sobrenatural e uma dimensão jurídica que podem perder-se. A mística perde-se, em parte, pelo pecado e, plenamente, com a perda da fé. A jurídica, aquela que une o fiel com a Igreja enquanto sociedade visível, com direitos e obrigações, perde-se mediante um ato constitutivo da legítima autoridade que o priva de certos direitos. É sobre esta comunhão jurídica que pode recair a pena de excomunhão. Também há determinados atos que, para além de pecado, são crime. Quem os comete, autoexclui-se da comunhão eclesial, excomunga-se a si próprio, mesmo que não exista uma declaração escrita por parte da autoridade da Igreja. É o caso, por exemplo, de quem pratica voluntariamente um aborto ou colabora para que ele aconteça, é o caso da profanação da Eucaristia, da absolvição do cúmplice, da violação do sigilo sacramental, do fingir ser padre, ‘celebrando’ missa ou ouvindo de confissão, etc. etc. Se se quiser reintegrar, a pessoa tem de fazer caminho, sendo sempre acolhida, animada e ajudada a que o faça, com determinação e esperança. Atenda-se, porém, que é o delito, o crime, que está em causa, não o pecado. Pecado e crime são duas realidades distintas. O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta, é uma falta de amor a Deus e ao próximo, fere a natureza do homem e a solidariedade humana. O crime é uma ação, uma infração sujeita às penas da Lei penal, tem uma pena anexa. Se todo o crime pode ser pecado, nem todo o pecado é crime. A gravidade de ambos também depende da consciência e circunstâncias de cada um. O pecado é perdoado por quem tem a faculdade de o perdoar em nome de Cristo e da Igreja, desde que haja arrependimento, propósito de emenda e estejam terminadas as penas, se penas houver. A aplicação destas ‘penas medicinais’ por parte da Igreja, que é mãe, perita em humanidade e quer o bem dos seus filhos, quando acontece nem sempre é compreendida por todos, escandaliza uns e mete medo a outros. Paciência!
Os Partidos políticos, porém, também excomungam, apesar das lições de inclusão e de democracia interna que sempre gostam de exibir e dar! Quando algum dos seus membros cospe fora do caco, também usam a pena de excomunhão, afastam-no da comunhão. Expulsam-no das suas fileiras por não alinhar com os seus princípios e modos de proceder. Com grande estrondo e alarido, mandam-no às malvas ou a pentear macacos. Não raro, deixando transparecer um certo ar de alívio e de desamor, aplaudindo o momento em que estas pessoas se põem realmente ao fresco, ficando até os não crentes do Partido a ‘rezar’ para que nem o diabo deles se lembre. Coisa que, aliás, alguns peritos da comunicação social, na sua função de mosca impertinente, não permitem que isso aconteça. Repetem-no à saciedade, picando os miolos de uns e de outros e saciando o seu apetite de alguma maledicência, não raro, em literatura de cordel. Mas também é certo que alguns membros dos partidos se auto excluem do mesmo. Se o Partido não muda, mudam eles, e pronto, ponto. Não sabendo nós se é na busca de carreirismo noutros partidos, já que o próprio não olha com atenção para o seu incomparável talento, se é por se sentir com uma superioridade moral e intelectual mui triste e amarfanhada por aquelas bandas, se apenas é para se ver livre daquela morrinha que lhe faz formigueiro nos movimentos peristálticos. São razões que a razão nem sempre é capaz de entender, embora todos saibamos que sempre houve canas agitadas pelos ventos: ora dobrando para a esquerda, ora para a direita, ora para o centro, ora para os lados em que os ventos levam os incêndios do coração!
Depois do 25 de abril andaram muito em voga os vira-casacas. Aliás, sem grande corte e alfaiataria pouco empática. Era uma estratégia de sobrevivência social para não serem chamados fascistas, retrógrados ou não serem perseguidos pelos puros, puríssimos, pelos donos da Revolução dos Cravos dos quais alguns pelejavam por partir os dentes à reação mesmo que dentes não tivesse e reacionários não fossem.
Acreditamos que os Partidos políticos também estão abertos a ‘todos, todos, todos’ sob a bandeira da sua alta definição de inclusão. Quanta mais gente filiada e mais fervorosa, sem fanatismos, melhor. No entanto, não confundem este estar aberto a ‘todos, todos, todos’, com o ter de aceitar ‘tudo, tudo, tudo’, engolindo sapos, cobras, lagartos e saramelas. Embora o espírito crítico e a diversidade seja uma mais-valia para a construção da unidade bela dum partido, há valores e princípios que todos devem respeitar. No entanto, nesse ato de excluir da comunhão, de excomungar, os partidos políticos puxam pelo engenho e arte para esclarecer, com a ternura própria do seu pio parenético, que foi um ato de lisura, de transparência, de coerência política e partidária, de purificação, de purga exemplar. Sabemos, porém, que, em muitas situações, não é preciso expulsar para impor uma certa cultura sectária. Basta fazer desaparecer o espírito crítico e a capacidade de renovação e de adaptação às novas exigências, mesmo que elas possam surgir em fidelidade aos valores e princípios fundacionais.
Quando da Igreja se trata, porém, muita gente acha que a Igreja, sendo enviada a todo o mundo para evangelizar e acolher ‘todos, todos, todos’, tem o dever de entender que este ‘todos, todos, todos’ é sentir-se na obrigação de aceitar tudo, tudo, tudo quanto alguns pensam, fazem, vivem, dizem, reivindicam e propagam. Ora, a Igreja existe precisamente para evangelizar e dizer a todos que nem tudo é igual a tudo, não é tanto faz...
As pessoas amam-se e acolhem-se, sem preconceitos e sempre, na sua igualdade e diferença, com mútua atenção, escuta e respeito. As ideias e erros, porém, discutem-se com fair play, esclarecem-se com diálogo sincero, tratam-se com delicadeza na certeza de que só a verdade nos libertará e é conversando que as pessoas se entendem.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 01-08-2025.

De que é feito o espírito?



O espírito é sagrado. Liga-nos ao céu, porque é o céu em nós. É o que escutamos quando conseguimos fazer silêncio dentro de nós mesmos. É o sopro divino que nos entregou a vida.

O espírito inspira-nos a que nos dediquemos a um destino, a um caminho e a uma forma de caminhar, muitas vezes contra o que é confortável e nos parece ser o melhor. No entanto, o espírito propõe, não impõe. Cabe sempre a cada um de nós decidir e, com isso, decidir-se. Somos o resultado do que fazemos com a liberdade de nos criarmos a partir do que nos foi dado. O espírito guia, mas apenas para quem decide deixar-se guiar.

Mais do que a inteligência ou as emoções, o espírito sabe o que é essencial e o que importa em cada momento. Aprendamos a calar as vozes do nosso interior e a escutar a do espírito que nos anima.

Cabe a cada um de nós cuidar do seu espírito, alimentando-o, enriquecendo-o, elevando-o. Toda a nossa existência será julgada de acordo com o que fizemos com a vida que nos foi confiada. Viemos com um tesouro e, enquanto alguns o desperdiçam como se não fosse precioso, outros multiplicam-no fazendo-se merecedores do que receberam e tornando-se dignos de que lhes seja confiado muito mais.

De que é feito o espírito?

O espírito é Amor.


José Luís Nunes Martins

quinta-feira, 31 de julho de 2025

AOS JOVENS DIOCESANOS EM PEREGRINAÇÃO A ROMA



Sob a coordenação do Secretariado Diocesano da Juventude e das Vocações da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, partiram para Roma, nos dias 27 e 28 deste mês, para regressarem no dia 4, jovens de Abrantes, Portalegre, Castelo Branco, Constância, Mouriscas, Montalvo e Sertã. Entre eles estão cinco sacerdotes, alguns consagrados e catequistas. Juntaram-se assim aos 11 527 jovens portugueses que se inscreveram pelos canais normais, pois outros lá estarão, com certeza, por sua conta, como sempre acontece. Nesta grande aventura de esperança, os jovens, além de participarem no programa oficial do Jubileu, sendo o primeiro grande encontro do Papa Leão XIV com os seus jovens, todos os peregrinos portugueses terão um encontro com o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, proporcionando-lhes “um momento de comunhão”, a passagem pela Porta Santa e por algumas basílicas, visitando também as igrejas das quais os cardeais portugueses são titulares, em cada uma com momentos de diálogo, música e exposição, oração.
Partilho com todos os diocesanos a mensagem que enviei aos jovens desta nossa Diocese de Portalegre-Castelo Branco:
“Olá, jovem peregrino da esperança. Peregrino e traquina, como são os jovens que amam a vida e gostam de viver com alegria respeitosa, espionando o futuro.
Peregrinar é uma constante na vida, somos peregrinos! Soe dizer-se que não é preciso ir a Coimbra quando se trata de desvendar algo fácil. Também te digo que não é preciso ir a Roma para saber o que é uma peregrinação. No entanto, ir a Roma em Peregrinação, se tem o peso histórico da tradição cristã, foi o sonho de muitos que nunca o conseguiram realizar. É um privilégio de poucos, sabe bem, é diferente, até se vê o Papa...
Aí, o silêncio de cada pedra e cada lugar fala pelos cotovelos e de forma eloquente, é um silêncio monumental. Esse silêncio, porém, aos pés de Pedro e dos Apóstolos, por certo que faz ecoar bem mais alto dentro de ti o amor de Jesus pela humanidade. Foi o amor de Jesus pela humanidade que, ao ser assumido como missão pelos seus amigos ao longo da história, originou tudo quanto aí vês, admiras, sentes e agradeces!
Saíste para ‘rezar com os pés’. Procuraste aligeirar a mochila para que pesasse menos às costas do teu coração e facilitasse a tua peregrinação até à porta santa do interior de ti mesmo.
Por cima das nuvens e na estrada, rezaste e continuas a rezar a vida no teu silêncio, procurando o essencial, o que dá sentido à vida e às coisas da vida. Lutaste e chegaste a Roma, em Peregrinação jubilar. Inconformado com o que já conseguiste, sabes que a meta da vida está muito para além daquela a que já chegaste.
Sem olhar para trás, importa agradecer o passado com orgulho, viver o presente com paixão e abraçar o futuro com esperança pelos caminhos da fé e da comunhão com Deus e com os outros, com entusiasmo e alegria, sendo missionário de Cristo em cada passo da vida.
Foi assim que Jesus nos ensinou na sua peregrinação da Galileia a Jerusalém. Experimentou a dureza e as alegrias do caminho, terminou na paixão e morte, sim. Mas ressuscitou, está vivo e quer que sejas feliz, coisa que também depende de ti.
Não tenhas medo! Anda daí, muita gente aguarda a tua generosidade e talento na alegria de servir com amor. O teu Bispo, em jubilosa esperança, agradece o teu testemunho de vida, bem como agradece a generosa dedicação do Secretariado Diocesano da Juventude e Vocações, na pessoa da Irmã Fernanda, dos sacerdotes e leigos que te acompanham.
Força, ficamos unidos na oração, desejando que te animes a ir mais além, em fidelidade ao lema latino: Plus ultra!”


D. Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 30-07-2025.

Viver a liberdade de Deus



“É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha
do que um rico entrar no Reino dos céus”
(Mt 19, 24).


Nestes últimos dias tens-me convidado a refletir sobre a liberdade. Tu e o teu provocador sentido de humor. Ouço frequentemente aquela frase cliché redutora e egoísta ‘a minha liberdade termina onde começa a tua’. Vivemos numa sociedade assoberbada de egos onde é comum entrarem em conflito uns com os outros, preocupados apenas com quem é o maior (cf. Mc 9, 34). Nas ruas, à mesa, em recreios de escolas, entre outros, andam tantos cabisbaixos por estarem mais interessados nos ecrãs onde mergulham do que nas pessoas à sua volta. A fantasia, as vidas perfeitas nas redes sociais, os avatares nos jogos e até os ‘desafios’ do TikTok, por vezes mortíferos, tornaram-se mais reais do que as suas realidades, por vezes, desinteressantes e rotineiras que passam a ser apenas uma névoa impalpável.

Posso não compreender tudo sobre a liberdade, mas sei que não é isto. Somos chamados a viver a tua liberdade, a que elevou a nossa condição humana para que pudesse tocar o divino. Sendo Deus, fizeste-te homem e o foste na perfeição. Um homem generoso, que foi a lugares improváveis, que partilhou o pão com os impensáveis e que amou os justos e injustos, os doutores e os pecadores, sendo fiel à vontade do Pai até àquele lugar de escândalo e de loucura onde morreste por nós.

Gostaria de pensar que, confrontada com a mesma encruzilhada, seria capaz de dar a vida por alguém. Talvez a escolha seja mais fácil quando são os nossos que estão em perigo, mas menos evidente se fosse um desconhecido. E talvez não porque já muitos entregaram suas vidas ao longo dos séculos por ti.

Sei que tenho ainda muitas amarras que me impedem a ser livre ao teu jeito porque há mágoas muito profundas cujas feridas teimam em não cicatrizar e que voltam a abrir-se quando o pensamento se desvia por lá. Não menos apertadas são as correntes que pus a mim mesma carregando as culpas das ações dos outros e da paralisia das minhas perante determinadas situações. As que não consegui prever e as que não soube compreender e acolher nos momentos em que aconteceram.

Curiosa é a contradição entre o teu olhar sobre as nossas fragilidades e o nosso olhar orgulhoso e carregado de juízos. Olho ao espelho e vejo apenas as minhas falhas enquanto tu vês a minha inteireza amando-me exatamente como sou. Gostava tanto de ver-me através do teu olhar e sei que grande parte das nossas frustrações e desilusões brotam da nossa incapacidade de nos aceitarmos como somos, aprisionando a nossa liberdade.

A tua liberdade convida-nos a viver uma vida de serviço sem ser servil, a amar o pecador mesmo que detestemos o seu pecado, a rejeitar a justiça do mundo quando for contrária à tua e tudo viver com a tua humildade e mansidão, mesmo quando nos perseguem por testemunharmos com a nossa vida tudo que és para nós.

Ouço com alguma tristeza cristãos a dizer ‘Deus tem mais que fazer do que se preocupar com os meus problemas’. Dizer isto é ainda não te conhecer bem porque prometeste estar sempre connosco. Não existem problemas mais ou menos importantes porque conheces tudo o que somos e quando algo nos entristece ou aflige, mesmo que por vezes não nos apercebemos, tu estás sempre presente.

Não há nada que com a tua graça não consigamos suportar. Bem disseste que para seguir-te era necessário aceitar a nossa cruz pois nela está toda a nossa vida, os dons que nos deste e as nossas fragilidades. Ao tomá-la aceitamos as pedras no caminho na certeza que estás em cada passo. Seguir-te é saber que vais à nossa frente para iluminar e guiar-nos nesse caminho que nos conduz ao Pai. Se, no entanto, dele nos desviar-nos ou se cairmos à sua beira, vens ao nosso encontro para nos levantar e pela mão nos levares de volta.

Sim, carregar a nossa cruz é difícil e muitas vezes nos parece demasiado pesada, mas também tu carregaste a tua até à morte. Como então não ver a sua beleza? Dá-me, Senhor, a coragem de desprender-me de tudo que me escraviza e a graça de tomar a minha cruz com verdadeira liberdade, a que me conduz a ver nos outros a missão que nos confias, mesmo nos momentos de dor e cansaço, por nela estás tu.



Raquel Dias

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Não estava à espera disto!



Seria incrível se vida se pudesse fazer prever. Se nos brindasse todos os dias com o mesmo conforto, com o igual de cada momento, com os poucos sobressaltos que gostaríamos. Mas isso não seria real, não nos faria crescer ou reposicionar-nos e, provavelmente, também não nos deixaria espaço para dar valor e agradecer o que temos de bom e de certo.

Só que a verdade é que viver o inesperado ou ser surpreendido com uma notícia que nos desarruma por dentro, custa. Dói-nos a impossibilidade de nada poder fazer para evitar o que acontece. Custa-nos não ter compreendido os sinais prévios que avisavam mais ou menos sonoramente sobre a “tempestade”.

E quando recebemos um diagnóstico ou uma notícia dolorosa que nos faz reavaliar tudo, há qualquer coisa dentro de nós que se suspende. Que trava. Que fica em ponto morto. Que paralisa. E nesse silêncio gritante e audível e, por uma fração de segundos, abrandamos na nossa capacidade de compreender, de esperar, de dar sentido, de aceitar.

As frases:

“Não estava à espera disto” ou “Como é que isto foi acontecer?” trazem-nos o espanto de quem preferia ter ficado refém da normalidade do costume.

Não vamos encontrar explicações para o que nos acontece, na maioria das vezes. A vida tem o seu “quê” de aleatoriedade que tanto nos pode fazer expandir o coração como torná-lo pequeno (de tão amachucado). Mas há algo (mais importante que explicações ou razões) que podemos encontrar: espaço e tempo para sentir e acomodar a dificuldade do novo. Espaço para respirar fundo e perceber os impactos internos do que nos aconteceu. Tempo para digerir, acalmar e sossegar novamente.

Nada disto se faz de um momento para outro.

E nada disto se deve fazer sozinho.

Enquanto a vida teima em surpreender-nos e, às vezes, em tirar-nos o chão debaixo dos pés, que nos sobre sempre a certeza de estarmos acompanhados.

Que não nos faltem mãos para nos suster e braços para nos agarrar. Haja o que houver.



Marta Arrais

terça-feira, 29 de julho de 2025

Como viver a fragilidade?


Vivemos num tempo em que se exalta a eficiência, o desempenho e o sucesso como se fossem virtudes absolutas. No entanto, todos nos deparamos com limitações: cansaço, dúvida, fragilidade, saúde mental e isolamento quando mais precisamos.

Como podemos entender isto à luz do Evangelho?

Para alguns, crentes ou não, falar da fragilidade de Jesus pode ser perturbador, senão mesmo irreverente. Porém, a fragilidade não faz parte da nossa humanidade? Jesus de Nazaré não habitou esta fragilidade sendo verdadeiro homem?

Há fragilidades que surgem dentro de nós, sobre as quais pouco ou nada podemos fazer, assim como há fragilidades que surgem das nossas relações. A única coisa necessária é que aprendamos a reconhecê-las e a aceitá-las, como aquilo que nos faz ser quem somos: imperfeitos, limitados, caminhando para uma dimensão da qual ainda pouco ou nada sabemos...

Na carta aos Gálatas, Paulo diz simplesmente de Jesus que «nasceu de uma mulher». Só isso. Nenhuma referência a Maria ou José. Uma mulher que O colocou na fragilidade. A fragilidade de um recém-nascido, necessitado, como todos os recém-nascidos, de cuidados e atenção.

A sua mãe deu-lhe um corpo: que conhecerá o cansaço, a fadiga, a fome, a sede, a angústia, a desilusão... As limitações que fazem parte da vida de todos nós.

Um homem familiarizado com a raiva e a indignação. Que não tem medo de expressar aquilo que muitos de nós hoje consideraríamos um sinal de fraqueza. Chora pela morte de um amigo. Luta por aqueles que não têm voz, por aqueles rejeitados. Não tem medo das mulheres que o amam e que, por elas, se deixa amar, cuidar e tocar, demonstrando uma abertura considerada inadequada naqueles tempos.

Mas a Sua fragilidade assume uma espantosa intensidade no homem que enfrenta a cruz. No Jardim das Oliveiras, pouco antes da sua prisão, a fragilidade de Jesus explode com força: «Pai, se quiseres, afasta este cálice de mim; porém não a minha, mas a Tua vontade se faça.» (na versão de Frederico Lourenço, que está mais próxima do texto original).

Portanto, Jesus ensina-nos a não rejeitar as limitações e a fragilidade. Rejeitá-las levaria a cair naquela ilusão de omnipotência que se expressa no eu sei e no eu posso. Jesus mostra-nos um Deus que não teme a fragilidade e as limitações. Aceitar as limitações é o primeiro passo para nos reconhecermos como humanos e estarmos ao lado dos irmãos que partilham connosco a fragilidade e as limitações de sermos homens e mulheres em caminho.

A fragilidade não é algo a esconder, mas sim a acolher. Por vezes pensamos que parecer cansado ou vulnerável é um sinal de fraqueza. Na realidade, é precisamente aí, nas nossas limitações, que começamos a ser verdadeiramente humanos. É o ponto em que deixamos de fingir e começamos a viver. É aí que Deus nos salva. É o Emanuel, o Deus connosco.

Claro que não é fácil. Mas é autêntico




:Paulo Victória

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Pedi e dar-se- vos -á




«Se o meu Senhor não levar a mal, falarei»



Pai…

estou tão cansada e sem rumo, que já não sei como falar conTigo.

Quando era criança, o diálogo conTigo era tão mais fácil.

Sentia-me sempre no Teu regaço e tudo era perfeito.

Agora,

a guerra instalou-se neste mundo cinzento…

a fome paira sobre a cabeça de tantas crianças…

o abandono dos anciães, em lares sem amor, aumenta…

o aborto é solução para uma vida que Tu criaste…

a morte é semente que lançamos à terra, regamos e cuidamos!



Hoje…

é o meu ser, confuso e triste, que Te invoca:

Se ainda há Fé, no coração da humanidade,

ressuscita em cada um de nós a capacidade de Te rezar insistentemente,

de Te escutar, de erguer a Tua vontade, de permanecer em Jesus…



Paizinho…

Perdão para aqueles que não Te amam nos outros.

Paz para aqueles que se perderam no mundo.

Esperança para os que caminham errantes.

Pão Vivo para os que não levam Jesus aos outros, nem trazem Jesus no sorriso.



Baixinho

em silêncio

de coração rasgado

com a alma despida

Bom Pai…

aqui nos tens

em oração…



Liliana Dinis


domingo, 27 de julho de 2025

Caminho de Conversão

 



Como nos relacionamos com Deus? Comunicamos com Ele? Sentimos necessidade de falar com Ele sobre a nossa vida, as nossas inquietações, dúvidas, alegrias e tristezas? Estamos interessados em escutar o que Deus tem para nos dizer? Como se processa o nosso diálogo com Deus? É sobre estas questões que a Palavra de Deus deste domingo nos fala.

Na primeira leitura o patriarca Abraão dirige-se ao Deus que veio visitá-lo e dialoga com Ele. Abraão expõe a Deus as suas inquietações, as suas dúvidas, as suas questões, num diálogo respeitoso, mas também frontal, sincero, confiante. Deus responde de forma franca às perguntas de Abraão e partilha com ele os planos que tem para o mundo e para os homens. É um diálogo honesto e verdadeiro de amigos que têm apreço um pelo outro e que se interessam pelo que o outro pensa e sente. Esta “conversa” pode ser modelo da nossa oração, do nosso diálogo com Deus.O diálogo de Abraão com Deus poderia servir de modelo para a oração de qualquer crente: é um diálogo humilde, reverente, respeitoso, mas também confiante, ousado, verdadeiro. Não é uma repetição de palavras ocas ou de fórmulas estereotipadas, gravadas e repetidas por um qualquer aparelho mecânico ou uma mente acrítica, mas um diálogo espontâneo e sincero, no qual o crente se expõe e coloca diante de Deus tudo aquilo que lhe enche o coração. As nossas orações são um diálogo espontâneo, vivo, confiante com Deus, ou são repetições fastidiosas de fórmulas fixas, mastigadas à pressa, sem significado e sem alma?

No Evangelho Jesus conta aos discípulos a sua experiência de Deus e mostra-lhes como devem falar com Deus. Convida-os a verem Deus como um pai bom e cheio de amor, sempre disponível para escutar os seus filhos; pede-lhes que, quando falarem com esse Pai, procurem perceber e acolher os projetos que Ele tem para o mundo e para os homens; sugere-lhes que se entreguem nas mãos desse Pai e que confiem n’Ele incondicionalmente. Assim, cada momento de oração será uma experiência inolvidável de intimidade, de familiaridade e de comunhão.Jesus convida os discípulos a pedir a Deus que compreenda as faltas que são inerentes à condição humana e perdoe os pecados que tiverem cometido. Mas também vincula, de algum modo, o perdão de Deus ao perdão que os seus discípulos devem oferecer uns aos outros. Aquele que se recusa a perdoar as fragilidades do seu irmão, não tem moral para pedir a Deus que lhe perdoe as suas próprias fragilidades. Poderemos rezar o “Pai nosso” e pedir a Deus que nos perdoe quando nos recusamos a abraçar um irmão que nos magoou ou a quem magoamos?

Na segunda leitura Paulo, dirigindo-se aos cristãos da cidade de Colossos, recorda-lhes o papel e o lugar de Cristo no projeto salvador de Deus em favor dos homens; e convida-os a serem coerentes com os compromissos que assumiram no dia em que escolheram caminhar com Cristo.O nosso batismo foi, para cada um de nós, o momento do compromisso com Cristo. Nesse dia, renunciámos ao pecado e comprometemo-nos a caminhar sempre atrás de Cristo no caminho da doação, do serviço simples e humilde, da entrega da vida por amor; fomos ungidos com o óleo do crisma e enviados ao mundo como testemunhas da salvação de Deus; recebemos a luz de Cristo e fomos desafiados a iluminar o mundo com a verdade de Cristo. É este “caminho” que temos vindo a percorrer? A nossa vida, as nossas opções, as nossas palavras, os nossos gestos e o nosso testemunho têm sido coerentes com os compromissos que assumimos no dia em que fomos batizados e começamos a caminhar com Cristo?

https://www.dehonianos.org/

sábado, 26 de julho de 2025

Na medida certa da vida...



Na medida certa da vida...


Na medida certa da vida, fazer de mim o próprio cais. A âncora, eu sei qual é.
O simples.

Procuro o reconhecimento do equilíbrio.
A busca pela harmonia. Os limites onde encontro a minha paz.

Com o tempo, torno-me abrigo de mim mesma. Sou o lugar seguro , que no silêncio posso repousar e recomeçar.

É no simples que me encontro e ganho consciência da essência que existe em mim. Os pés na terra, mostram-me a firmeza que me sustenta.

Quando tudo se dispersa, sei onde termina o ruído e começa o que sou.
É na conexão com a vida, que sereno o meu coração.


A âncora eu sei qual é. E na quietude do teu ser, quem te habita?

Boa semana!



Carla Correia

sexta-feira, 25 de julho de 2025

OS AVÓS DESPERTAM CONFORTO E ENERGIA



Celebramos o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos no IV Domingo de julho, na proximidade do dia 26, dia da festa de Santa Ana e São Joaquim, avós de Jesus, os pais de Maria, sua Mãe. Juntar a família, homenagear e reconhecer a importância dos avós na família e na sociedade, combater a solidão e o descarte, valorizar a sua experiência, conhecimentos e sabedoria, incentivar o diálogo entre as gerações, são alguns dos objetivos deste Dia Mundial.
Todos estamos chamados a ser protagonistas duma sincera revolução de gratidão e cuidado para com os mais velhos. O termo revolução, aqui, exprime aquela revolução que é levada a cabo pela força da ternura. Aquela que é capaz de fazer surgir uma nova cultura, a civilização do amor. Foi o amor a causa pela qual Deus, que é amor, entrou em relação com o homem. Por amor, e porque nos amou primeiro, de tal forma o fez que nos enviou o seu Filho único, para nos revelar esse amor e nos convidar a viver, amando. Por sua vez, o seu Filho que nos foi enviado, amando os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim, dando a vida por eles.
O amor é a forma mais alta e mais sublime de relação entre os seres humanos, sendo essa a resposta que Deus espera de cada um de nós e de todas as instituições e sociedades, valorizando a dignidade de cada ser humano. Ao .mesmo tempo, a civilização do amor, implica a gratidão, a capacidade de valorizar as pessoas e de reconhecer essa espécie de dívida que temos para com elas que nos ajudaram a viver na alegria e bem estar, no amor, na fidelidade, na amizade. Que nos ajudaram a ser felizes, mesmo que, por vezes, por entre experiências menos agradáveis. Esta revolução de amor e de gratidão leva a um compromisso global pelos avós, pelos mais idosos. Leva ao cuidado por eles, a ouvir, interagir, proteger, assistir, socorrer, preservar, curar, a tudo fazer pelo seu bem-estar. ‘As pessoas idosas são as primeiras testemunhas da esperança’, assim nos diz Leão XIV, na sua mensagem para o Dia dos Avós. E “a esperança é, em todas as idades, perene fonte de alegria. Além disso, quando é provada pelo fogo de uma longa existência, torna-se fonte de uma bem-aventurança plena”.
Na História da Salvação, Deus serve-se muitas vezes de pessoas idosas, ensinando-nos que, “aos seus olhos, a velhice é um tempo de bênção e graça e que, para Ele, os idosos são as primeiras testemunhas da esperança”. Leão XIV lembra que “a constatação de que hoje o número daqueles que estão avançados em idade aumenta cada vez mais torna-se, para nós, um sinal dos tempos que somos chamados a discernir, para ler bem a história que vivemos”.
Como a vida da Igreja e do mundo só se compreende na sucessão das gerações, “abraçar um idoso ajuda-nos a entender que a história não se esgota no presente, nem em encontros rápidos e relações fragmentárias, mas se desenrola rumo ao futuro”. Assim, “se é verdade que a fragilidade dos idosos precisa do vigor dos jovens, é igualmente verdade que a inexperiência dos jovens precisa do testemunho dos idosos para projetar o futuro com sabedoria”. Os avós são, regra geral, “um exemplo de fé e devoção, de virtudes cívicas e compromisso social, de memória e perseverança nas provações! A nossa gratidão e coerência nunca serão suficientes para agradecer este bonito legado que nos foi deixado com tanta esperança e amor”.
O Jubileu, desde as suas origens, representa um tempo de libertação. É bom olhar para os idosos nesta perspetiva jubilar, libertando-os sobretudo da solidão e do abandono, derrubando “os muros da indiferença na qual os idosos estão frequentemente encerrados. Em todas as partes do mundo, as nossas sociedades estão a habituar-se, com demasiada frequência, a deixar que uma parte tão importante e rica do seu tecido social seja marginalizada e esquecida”, diz o Papa.
Se a sociedade precisa duma mudança de atitude, também “cada paróquia, associação ou grupo eclesial é chamado a tornar-se protagonista da “revolução” da gratidão e do cuidado, a realizar-se através de visitas frequentes aos idosos, criando para eles e com eles redes de apoio e oração, tecendo relações que possam dar esperança e dignidade àqueles que se sentem esquecidos. A esperança cristã impele-nos continuamente a ousar mais, a pensar em grande”. Francisco, quando hospitalizado, afirmou: “o nosso físico é débil, mas, mesmo assim, nada nos pode impedir de amar, de rezar, de nos doarmos, de sermos uns pelos outros, na fé, sinais luminosos de esperança”.
E o Papa Leão XIV diz-nos que: “O bem que desejamos às pessoas que nos são caras - ao cônjuge com quem compartilhamos grande parte da vida, aos filhos, aos netos que alegram os nossos dias - não desaparece quando as forças se esvaem. Pelo contrário, muitas vezes é justamente o carinho deles que desperta as nossas energias, trazendo-nos esperança e conforto”.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 25-07-2025.

As coisas mais simples



Às vezes, o que nos salva são as coisas mais simples.

Um abraço que é abrigo.

Uma mão dada que nos ampara.

Um olhar que nos encontra e que nos toca.

Um sorriso que nos abraça o coração.

Um beijo que nos cura.

Um colo onde repousamos, onde serenamos

Uma palavra que nos conforta.

Um silêncio que é (e que nos faz) tanto sentido.

Uma companhia que nos faz sentir melhor só porque está connosco.

Um gesto que nos faz sorrir e que nos dá esperança.

Um céu estrelado que nos faz brilhar o olhar.

Um momento que nos tatua, para sempre, o coração.

Um instante de amor.

Às vezes, o que nos salva não são as coisas grandes.

Ou, talvez, até sejam…

Talvez as coisas maiores (e as melhores) sejam aquelas que nos acontecem, todos os dias, disfarçadas das coisas mais simples, mas cheias de amor.

Como quem diz: cheias de tudo.



Daniela Barreira

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Feliz o resto que salvaste



“Ainda que o teu povo, ó Israel, fosse tão numeroso como a areia do mar, só um resto dele voltará” (Is 10, 22-23).



Hoje dei por mim a pensar na beleza do resto. Atualmente é um vocábulo com uma certa conotação depreciativa, mas que, na verdade, é portador de tão grande esperança. No quotidiano falamos, por exemplo, em restos de comida, como se fosse comida de segunda categoria. Contudo, vejo nos restos que guardamos nos nossos frigoríficos oportunidades de tornar novo o que já saboreámos com apenas alguns retoques. Curiosamente, no Natal, a refeição tradicional da Consoada em muitas casas portuguesas é o ‘bacalhau com todos’ que me faz lembrar da universalidade da tua Igreja e dasalvação que nos ofereceste na cruz.

Na tua infinita sabedoria mostraste que os ‘restos’ são os primeiros a encontrar-te pelo caminho. A fragilidade e vulnerabilidade dos que são tratados pela sociedade como impuros e indignos, tal como os pobres, enfermos epecadores, faz deste resto excluído aqueles a quem deste a primazia do teu olhar. Foi a estes vieste escutar, saciar, curar e libertar com o teu toque de misericórdia e compaixão. Foi a eles que disseste, como à pecadora que te lavou os pés com as suas lágrimas de arrependimento: “A tua fé te salvou.” (Lc 7, 50) porque foram, na verdade os pescadores, doentes, pecadores e até estrangeiros os primeiros a acreditar que eras o cumprimento das promessas de Deus.

És o Bom Pastor, aquele que conhece cada um de nós pelo nome (cf. Jo 10, 14), aquele que proclama que há “mais alegria no céu por um só pecador que se converte do que por 99 justos que não necessitam de conversão’ (Lc 15, 7), aquele que se enche de compaixão pelo filho que “estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado” (Lc 15, 32). Corresao seu encontro, lançando-te ao seu pescoço e cobrindo-o de beijos (cf. Lc 15, 20). Vens sempre, como o Bom Samaritano, ao encontro daquele que, deixado meio morto na estrada eignorado pelos seus, é socorrido pelo mais improvável, um estrangeiro samaritano, povo odiado pelos judeus (cf. Lc 15, 30-31).

Felizes somos porque somos o resto que acreditou, ser ter visto, no testemunho daqueles que, como Tomé, puderam ver-te (cf. Jo 20, 29), como Estêvão, Pedro, André, Tiago, Filipe, Bartolomeu e tantos outros que, desde então, deram as suas vidas por ti e como Paulo, que após encontrar-te a caminho de Damasco, passou de perseguidor a evangelizador escolhendo os gentios, os que não pertenciam ao povo de Israel, o resto do mundo.

Graças te dou, Senhor, por todos os que vieram antes de mim e trouxeram a tua palavra aos confins da terra”. Graças te dou ainda por teres vindo ao meu encontro, quando estava perdida e por me teres reconduzido, no teu regaço, ao caminho que me convidas a percorrer, sem nunca desistires de mim, acolhendo-me com todas as minhas fragilidades e infidelidades e levantando-me sempre que caio e que quero desistir.

Obrigada por seres essa surpresa que a muitos choca porque os teus gestos nem sempre são os expectáveis. Os teus gestos falam uma linguagem que a maioria tantas vezes acomodada e adormecida desaprende a usar, a que se conjuga com verbos como ‘ver’, ‘compadecer-se’, ‘aproximar-se’, ‘carregar’, ‘hospedar’, ‘alimentar’ ‘cuidar’ ‘curar’ e ‘gastar-se’. Essalinguagem com entranhas de misericórdia, de entrega, de serviço, de fidelidade e de amor que, com a tua vida, nos vieste ensinar (cf. Lc 10, 29-37). “Dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também” (Jo 13, 15).



Raquel Dias

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Os "sem noção"

   

Hoje dedico estas palavras a todos os "sem noção" ( e já agora me penitencio caso alguma vez o tenha sido), e isto porque acho que estão a crescer exponencialmente e não é algo de que precisemos mais, sem dúvida!!


E estas palavras vão particularmente para quem critica nos outros aquilo que faz continuamente e não se coíbe de disfarçar. Para aqueles que estão sempre certos e para os quais o mundo está sempre errado.
Para aqueles que vivem com os princípios e valores do avesso e acham que estão às direitas.

Para aqueles que se acham mais que comuns mortais, sabem tudo e fazem tudo melhor!

Que se faça luz e consigam enxergar a realidade. Que não vivam em destilarias de falta de sensibilidade, falta de empatia, rancor!
O mundo podia ser bem mais bonito e leve se não insistíssemos em colocar na balança pesos que não equilibram!


Lucília Miranda

terça-feira, 22 de julho de 2025

És a Marta ou a Maria?



És a Marta ou a Maria?

Querida amiga, conheces a passagem bíblica da Marta e da Maria? Hoje é sobre ela que pende a minha reflexão.

No evangelho Jesus exalta a atitude de Maria que perante a Sua presença opta por Estar, para sentir e saborear a presença e a inspiração de Jesus. Ao invés Marta opta por Fazer, e está atarefada a garantir que nada falte nem a Jesus nem aos seus discípulos.

Imagino que Marta também gostasse de parar e ouvir Jesus como se mais nada houvesse de importante, mas ao mesmo tempo sente a responsabilidade de quem convida.

Imagino Marta a olhar para Maria e a perguntar: “porque não me ajudas?".

Diz-se que Maria escolheu a melhor parte, mas sabem, para mim, ela escolheu essa parte porque havia uma Marta a garantir o resto.

Acredito que para haver Marias disponíveis para ouvir, há muitas Martas a garantir que nada falte a quem precisa.

É importante alimentar a alma, mas se não tratarmos do essencial, das necessidades básicas de quem acolhemos duvido que tenhamos a capacidade para verdadeiramente Estar e escutar o que é importante.

Às vezes sou a Maria- contemplativa.

Às vezes a Marta - focada em concretizar.

Às vezes tento ser as duas e

Às vezes não me apetece ser nenhuma delas .

Talvez o segredo seja estar atenta ao que realmente é importante, pedir ajuda e discernir que atitude é a que mais faz falta no momento. Com a certeza, porém, que não somos perfeitos e às vezes devíamos ser mais Maria e outras vezes mais Marta, e às vezes basta SER e assim ficarmos com “a melhor parte.”

E tu amiga, como te sentes hoje: Marta ou Maria?

Lucas 10:38,42

Jesus e os discípulos seguiam o seu caminho. Ao entrarem numa aldeia, uma mulher chamada Marta recebeu Jesus em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria que se sentou aos pés do Senhor para o ouvir. Ora Marta andava muito atarefada, por ter muito que fazer. Aproximou-se e disse: «Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe só com todo o trabalho? Diz-lhe então que me venha ajudar.» Mas o Senhor respondeu: «Marta, Marta, andas preocupada e agitada com tantas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada.»


Raquel Rodrigues

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Uma só coisa necessária




Hoje e sempre quero escutar-Te


A Tua Voz é brisa suave que comanda.

É água que refresca.

É sal que dá sabor à vida.

É fogo que ilumina.

É terra fértil que dá Pão.


Quero acolher a Tua Palavra, Senhor!


A Tua Voz não tem tom, nem cadência.

Não é melodia simples, nem acorde sem sentido.

Não se faz sobressair, nem quer ser altiva.

Não é melosa, nem morna.

Não é tempestuosa, nem barulhenta.


Encontro os Teus desígnios nos meus sonhos!


A Tua Voz faz-se presença no silêncio.

Faz de mim uma serva boa e fiel.

Faz os meus olhos escutarem.

Faz os meus ouvidos ficarem saciados.

Faz da minha boca sorriso aberto de Paz.

Faz do meu coração Porto de abrigo.


Só amo quem conheço e reconheço!


A Tua Voz leva Jesus a todos e todos a Jesus,

num só gesto, num passo firme, num abraço que acolhe.

Sou Peregrina de Esperança!

Sou Abraão… Sou Paulo… Sou Marta… Sou Maria…

Sou a Tua voz no mundo…

Eu acolho a Tua Palavra, Senhor.



Liliana Dinis

domingo, 20 de julho de 2025

Acolher, Amar e Cuidar

 




As exigências da vida moderna obrigam-nos a correr a um ritmo estonteante e fazem-nos deixar para trás coisas fundamentais. A Palavra de Deus que a liturgia do décimo sexto domingo comum nos propõe convida-nos a redescobrir as prioridades e valores que tornam a nossa vida mais humana e mais cheia de sentido.

A primeira leitura propõe-nos o exemplo de Abraão, o homem que não se importa de gastar tempo com o “outro”. Quando aparecem junto da sua tenda três visitantes inesperados, Abraão acolhe-os, prepara-lhes um banquete, oferece-lhes o que tem de melhor. Em cada pessoa que nos “visita”, é Deus que vem ao nosso encontro. O tempo que gastamos a acolher e a cuidar dos nossos irmãos é um tempo que enche de significado a nossa vida.Através daquela velha lenda que narra a “visita” de Deus a Abraão, a catequese de Israel apresenta um Deus que vem ao encontro do homem, que aceita o convite do homem e entra na sua casa, que se senta à mesa com o homem e que estabelece com ele laços familiares, que conhece perfeitamente os sonhos do homem e os realiza. É esse Deus, o Deus da comunhão e do encontro, em quem acreditamos? É esse o Deus com quem caminhamos? Estamos disponíveis para o acolher na nossa vida, para lhe abrir as portas do nosso coração e para mergulharmos no seu amor?

No Evangelho duas irmãs – Marta e Maria – acolhem Jesus na sua casa. Marta prepara para o hóspede uma boa refeição; Maria senta-se aos pés de Jesus, a escutar o que Jesus diz. São duas atitudes válidas, próprias do discípulo. Mas Lucas, o narrador deste episódio, aproveita para sugerir que a escuta da Palavra de Jesus deve preceder a ação. A ação sem a escuta de Jesus torna-se mero ativismo que, mais tarde ou mais cedo, se esvazia de sentido.Qual é a nossa perspetiva da hospitalidade e do acolhimento? Como é que acolhemos as pessoas que entram na nossa vida e na nossa casa? Ao narrar-nos uma “visita” de Jesus a casa de uma família amiga, Lucas sugere-nos delicadamente que o verdadeiro acolhimento não se limita a abrir a porta, a instalar a pessoa no sofá mais cómodo, a ligar a televisão para que ela se entretenha sozinha enquanto corremos para a cozinha para lhe preparar uma refeição memorável; mas o verdadeiro acolhimento passa por dar atenção àquele que veio ao nosso encontro, por escutá-lo, por partilhar com ele a nossa vida, por fazê-lo sentir o quanto nos preocupamos com aquilo que ele sente… Temos consciência de que, muitas vezes, o “estar com” a pessoa é muito mais expressivo do que o “fazer coisas” para ela?
Jesus, contra os costumes da época, aceita hospitalidade na casa de duas mulheres; Jesus, contra o costume da época aceita que uma das mulheres – Maria – assuma o lugar de sua discípula. Nas mais diversas situações Jesus mostrou, com gestos bem concretos, que no projeto de Deus não há lugar para a discriminação de seja quem for. Estamos conscientes disso? Não será já altura de eliminarmos da sociedade e da Igreja atitudes discriminatórias que não vêm de Deus ou do Evangelho, mas sim do nosso egoísmo, da nossa prepotência, dos nossos preconceitos?

Na segunda leitura Paulo fala aos cristãos de Colossos da sua experiência: ele tem-se esforçado por testemunhar em todo o lado o projeto salvador de Deus revelado em Cristo. Espera que também os cristãos de Colossos se disponham a construir as suas vidas à volta de Cristo. Nesse sentido, exorta-os a viverem numa comunhão cada vez mais perfeita com Cristo, pois é em Cristo que os crentes encontrarão a salvação e a vida em plenitude.Paulo de Tarso, o “apóstolo dos gentios”, é uma figura ímpar da história do cristianismo. Devemos-lhe o ter levado o Evangelho ao encontro do mundo greco-romano, fazendo com que a proposta de salvação quer Jesus veio trazer saltasse todas as fronteiras e chegasse a todos os homens. Mas devemos-lhe, especialmente, o exemplo de compromisso pleno, de doação total, de entrega completa a Jesus e ao Evangelho (“já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” – Gl 2,20). Temos consciência – como Paulo tinha – que a Igreja nascida de Jesus é, fundamentalmente, uma comunidade missionária? É com o mesmo empenho e decisão de Paulo que nós “agarramos” a missão que Cristo nos confiou e que damos testemunho de Cristo em todos os lugares onde a vida nos leva? Como é que a nossa comunidade cristã considera e valoriza os homens e as mulheres que dedicam toda a sua vida à causa do Evangelho?


https://www.dehonianos.org/

sábado, 19 de julho de 2025

Carta a um jovem presbítero





Faço parte de um conjunto de padres que já olham o entardecer da vida, tendo já passaram “o peso do dia e o seu calor”. Posso dizer, em nome da maioria, que muito folgamos com a tua chegada ao serviço presbiteral. Quando vemos que o fenómeno da vocação sacerdotal ainda vai dando frutos, no tempo incerto em que vivemos, muito felizes nos sentimos. Um dia, também nós fomos tocados pela centelha de divino que constitui a vocação e, no meio de dificuldades e dúvidas, aceitámos avançar. Por isso, sê bem-vindo. Esperamos que algum exemplo que deixamos possa ser-te útil para o caminho que agora começas e esperamos que seja longo e feliz.

Não quero dar-te conselhos. Mas hás-de consentir-me que te dê um breve testemunho, assente nas mais de quatro décadas de experiência de vida presbiteral. A nossa formação não foi melhor do que a tua. Tivemos talvez uma vantagem: como a nossa sociedade e a nossa Igreja viviam uma prodigiosa explosão de esperança, no último terço do século passado, foi-nos talvez mais fácil partir de baterias carregadas para a longa estiagem que se seguiu. Era o tempo que se seguiu ao Concílio Vaticano II e à revolução do 25 de Abril. Interiorizámos intensamente o gosto da vida sacerdotal, num tempo em que gostávamos mais de ser sacerdotes do que de parecê-lo. Mas não fiques a lamentar o tempo que te é dado viver. Os desafios de hoje são talvez maiores do que os do meu tempo. Na nossa juventude ficávamos extenuados para atender o povo de Deus que comparecia massivamente às nossas celebrações. Hoje tudo é diferente.

Tal como nós, terás de alimentar o teu sacerdócio numa empatia sem tréguas com o mistério pascal de Jesus. Sem essa experiência mística e orante, não é possível a perseverança. Repara que isso não se consegue num dia, nem num ano, nem em todo o tempo da formação que te foi proporcionado. É um longo exercício de escuta do rumor da vida, em ti e naqueles que contigo se cruzam. Espero que tenhas bons encontros, aqueles encontros que, se estiveres atento, te são proporcionados pela Providência que age misteriosamente pelos interstícios da espuma dos dias. Tens de ser um orante sem ser um rezador. Nunca me esqueço o que um antigo professor de teologia, que nem era grande coisa, mas me ensinou a diferente entre a oração e o psitacismo. Esta última palavra, pouco frequente, exprime uma disfunção psicológica que consiste na separação entre a mente e a linguagem. A oração começa tarde na vida, como testemunham os místicos. Mas é necessário não descuidar a manhã da vida, mesmo na secura da espera. Não esqueças que o afecto é a porta de entrada na condição de sujeito da vida divina e da vida humana que são a mesma vida. Por isso, não te deixes desligar da fonte que não deixa de correr.

Se um conselho te posso dar é que ligues o teu sacerdócio ao grupo dos 72 discípulos, de preferência ao grupo dos 12. Os 12 Apóstolos são evidentemente importantes como estrutura da missão da Igreja. Mas os 72, de que fala Lucas, são os missionários invisíveis e informais que assinalam a conquista da realidade, com o destino do sal. Mas é deles que o Cristo diz que são eficazes na precipitação de Satanás como um raio em céu sereno. Isso quer dizer que participam invisivelmente na criação e redenção. São esses que fundam um espírito sacerdotal como ele deve ser: uma causalidade só manifesta no efeito, um poder que só vem do coração e não do bastão.

Enfim, se ainda tens paciência, ainda te digo uma coisa mais. Espero que a tua segurança como sacerdote te venha de seres sentinela e não de seres cortesão. Sei que hoje vives um pouco inquieto quando ao modo de fundar o teu sacerdócio e a tua perseverança. Espero que não confies na placagem psicológica que tanto te pode vir da ala progressista como da conservadora. Não cedas ao impulso de apoucar a tua dignidade pela vulgaridade com que serves o povo de Deus nem de a tentar acrescentar pelos adereços, um pouco ridículos, de um passado que não foi nada do que parece. Com os olhos postos Naquele que é a cabeça da Igreja, nunca culpes o teu povo pela falta de fé e pela ausência na prática religiosa. Quanto mais sozinho estiveres na tua celebração mais te concentra na acção que realizas. Chora os teus pecados em vez de chorar os que julgas que são do povo que te é dado servir.

Aceita um abraço dos mais velhos que te saúdam fraternalmente.



“Carta a um jovem presbítero” do P. Jorge Teixeira da Cunha in Jornal Voz Portucalense (9 julho 2025)



Pe Jorge Teixeira da Cunha


sexta-feira, 18 de julho de 2025

LEÃO XIV RELANÇA A SINODALIDADE OFERECENDO PISTAS...



A Secretaria-Geral do Sínodo acaba de publicar "Pistas para a Fase de Implementação do Sínodo", apelando a trilhar o caminho iniciado por Francisco e confirmado por Leão XIV. Aos Grupos de Estudo canónico, teológico e pastoral, Leão XIV acrescentou mais dois grupos: um para refletir sobre "A liturgia em perspetiva sinodal" e outro sobre "O estatuto das Conferências Episcopais, das Assembleias Eclesiais e dos Concílios Particulares". A Secretaria-Geral garantirá "que as decisões do Papa, amadurecidas também a partir dos resultados desses Grupos, sejam harmoniosamente integradas ao caminho sinodal em andamento". Permanecerá à disposição de todos para ouvir, acompanhar, “animar o diálogo e a troca de dons entre as Igrejas”. Oferecerá, com base nas contribuições e perguntas recebidas, “mais estímulos e instrumentos” e compromete-se a ter sempre "a porta aberta" para ouvir as necessidades, intuições e propostas das Igrejas locais, para "facilitar" o seu trabalho e responder às solicitações de conteúdo e metodologias. Tudo fará para promover a escuta e o diálogo que levará toda a Igreja à Assembleia Eclesial de outubro de 2028, a essa importante ocasião "para compartilhar experiências de renovação de práticas e estruturas em sentido sinodal" e possam ser submetidas ao Papa para uma possível "validação definitiva".
O Documento enfatiza que, neste mundo, “preso numa espiral de violência e guerra sem fim, que luta cada vez mais para criar oportunidades de encontro e diálogo”, há mais do que nunca a necessidade de uma Igreja “sinal e instrumento” da “unidade de todo o gênero humano”. Recorda que muitas Igrejas locais estão a seguir “com entusiasmo” o caminho sinodal; outras, “ainda se perguntam como empreender a fase de implementação ou estão a dar os primeiros passos”. Importante é “avançar com coragem”, enfrentando resistências e dificuldades.
O Jubileu das Equipes Sinodais e dos Organismos de Participação, a realizar de 24 a 26 de outubro de 2025, será uma “oportunidade para construir laços, trocar experiências e nos sintonizar melhor”, procurando que “a ocasião de caminhar juntos fisicamente em direção à Porta Santa se torne uma oportunidade para trocar dons e celebrar aquela esperança que não desilude”. É sempre bom "experimentar práticas e estruturas renovadas" para tornar a vida da Igreja "cada vez mais sinodal". Assim, esta fase não é "uma espécie de exercício", "uma tarefa adicional solicitada por Roma", nem um momento para formular "hipóteses abstratas". Tampouco é um "retorno" ou "uma pura repetição do que já foi experimentado". Esta fase de implementação "faz parte da vida ordinária das Igrejas", devendo-se identificar "caminhos formativos para alcançar uma conversão sinodal tangível nas diversas realidades eclesiais". Nela devem participar homens e mulheres, na variedade de seus carismas, vocações e ministérios; pequenas comunidades cristãs ou comunidades eclesiais de base; paróquias, associações, movimentos; pessoas consagradas. Todos, pois "não pode ser um caminho limitado a um núcleo de adeptos". Importa "ampliar as possibilidades de participação e o exercício da corresponsabilidade diferenciada de todos os batizados". Deve envolver-se aqueles que até agora permaneceram “à margem” deste caminho, “pessoas e grupos de diferentes identidades culturais e condições sociais”, em particular os pobres e excluídos. De igual forma, deve haver um “cuidado especial” para “escutar aqueles que expressaram dúvidas e resistências”. O desejo é que se busquem “instrumentos de escuta” em diversos contextos e não apenas nas paróquias, mas, por exemplo, nas universidades, nos centros de escuta e acolhimento, nos hospitais e prisões, nos ambientes digitais.
O “primeiro responsável” pela fase de implementação em cada Igreja local é o bispo diocesano que deve recorrer a outras figuras e organismos, como os Conselhos presbiteral, pastoral, económico, e, sobretudo, às equipes sinodais diocesanas, cujo trabalho, na fase de consulta, foi “precioso”. Se não fizer parte, será “regularmente informado” sobre os trabalhos, reunindo-se com a equipa “quando for oportuno”. As equipas sinodais devem ser valorizadas, renovadas, reativadas ou criadas onde não existirem, devendo incluir “leigos, leigas, sacerdotes e diáconos, consagrados e consagradas de diferentes idades e portadores de diferentes culturas e modelos de formação”. Também deve ser avaliada a oportunidade de convidar representantes de outras comunidades cristãs ou religiões como “observadores”.
O Documento Final do Sínodo é um texto “rico e orgânico” cujo “conhecimento é essencial promover”, sendo “oportuno” proporcionar “momentos e/ou instrumentos de formação, acompanhamento e orientação na leitura”. Há nele “alguns pontos fortes”, como a “perspetiva eclesiológica”; o impulso ecuménico; a visão de um “diálogo” com outras tradições religiosas e a sociedade. Caminhando juntos como Igreja, as Igrejas locais devem “compartilhar os passos dados em algumas áreas específicas”, como, por exemplo, “o acesso efetivo a funções de responsabilidade e papéis de liderança que não exigem o Sacramento da Ordem por parte de mulheres e homens não ordenados, leigos e leigas, e consagrados e consagradas”. Recomenda-se que o método sinodal não se reduza "a uma série de técnicas de gestão de encontros", mas seja vivido, com esperança, como uma "experiência espiritual e eclesial que implica o crescimento num novo modo de ser Igreja".

D. Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 18-07-2025.

Sabedoria Popular: «DIZ-SE QUE DORMIR…»



Não é possível viver sem descansar e sem dormir. Já diz o povo que quem não pode repousar não pode muito durar, melhor sabe o descansar depois de muito trabalhar, quem suou na luta descansará na abundância e serviço feito descansa o peito. Diz-se, ainda, que bom sono e boa comida acrescentam a vida, o dormir é meio sustento, bom conselheiro e bom alimento e o sono é meia vida e outra meia a comida.

No entanto, deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer, à sombra da figueira não é bom dormir, arranja boa fama e deita-te a dormir, a abundância não deixa dormir o rico e na cama que farás nela te deitarás.

Na verdade, diz-se que não dorme bem quem tem inimigos, quem se deita a dormir acaba a pedir, quem tem demandas não dorme quando quer, quem dorme descansa e deixa descansar e dorme bem quem tem a consciência tranquila.

Por outro lado, a sabedoria popular afirma que bom comer traz mau dormir, depois do almoço deitar e depois da ceia passear, quem ceia e se vai deitar má noite há de passar, antes deitar sem ceia que acordar com dívidas e se queres enfermar, ceia e vai-te deitar.

Diz-se, também, que a quem dorme descansado dorme-lhe o cuidado, uma noite sem dormir são oito para a substituir, camarão que dorme, a onda o leva, dormir de janela aberta constipação quase certa, para muito sono toda a cama é boa, boca aberta ou sono ou fome certa, livro adquirido sono perdido e o sono é parente da morte.

Reconheçamos que quem dorme não peca, a dormir não se alcançam vitórias, quem mais dorme menos vive, quem muito dorme pouco aprende, quem muito dorme muito perde e muito dormir enfraquece, não dorme em paz quem tem culpa e quem quer dormir, paga a guarda.

De qualquer forma, quem não pode dormir acha a cama malfeita, quem dorme em pé ou dorme no chão não cai da cama, quem dorme com gato acorda arranhado, a quem dorme ou preguiça nunca lhe acode a justiça e dormirei e boas novas acharei.



Paulo Costa