O quarto Domingo da Páscoa é considerado o “Domingo do Bom Pastor”, pois todos os anos, neste domingo, somos convidados a escutar um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é apresentado como “Bom Pastor”. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus põe, hoje, à nossa reflexão.
O Evangelho apresenta Cristo como o Pastor bom e verdadeiro, que ama as suas ovelhas e que conhece cada uma delas. Aqueles e aquelas que querem fazer parte do rebanho de Jesus, devem escutar as suas indicações, acolher as suas propostas, dispor-se a segui-l’O. Jesus conduzi-las-á onde há vida verdadeira e nunca permitirá que as suas ovelhas – essas ovelhas a quem Ele tanto quer – lhe sejam roubadas.Nas nossas comunidades cristãs, temos pessoas que presidem e que animam, pessoas a quem foi confiado o serviço da autoridade. Podemos aceitar, sem problemas, que elas receberam essa missão de Jesus e da Igreja, apesar dos seus limites e imperfeições. Mas convém igualmente ter presente que o único “Pastor verdadeiro”, aquele que nunca falha, aquele que somos convidados a escutar e a seguir sem condições, é Jesus. Procuremos escutar e acolher, com humildade, mas também com consciência crítica, as indicações que nos são dadas pelos líderes das nossas comunidades; mas não nos esqueçamos de as confrontar, para aquilatar da sua validade, com as indicações que nos foram deixadas por Jesus, o Bom Pastor, o nosso único Pastor. Como nos posicionamos diante daqueles a quem foi confiado, na comunidade cristã, o serviço da autoridade?
A primeira leitura fala-nos de pessoas que assumem atitudes diferentes diante da proposta que o Pastor (Cristo) apresenta. De um lado estão “ovelhas” comodamente instaladas nas suas certezas, no seu orgulho, nas suas velhas seguranças, na sua autossuficiência, que recusam pertencer ao rebanho de Jesus; de outro, estão ovelhas interessadas em escutar a voz de Jesus e dispostas a segui-l’O até às pastagens da vida abundante. É esta última atitude que nos é proposta.Os “pagãos” de que se fala nesta leitura estão totalmente disponíveis para acolher a salvação. São pessoas sedentas de Deus, que buscam uma vida mais autêntica e que aceitam o desafio de caminhar atrás de Jesus. De alguma forma representam todos aqueles que se sentem profundamente gratos pelo amor e pela misericórdia de Deus, os que estão dispostos a abraçar com todas as suas forças os desafios que Deus lhes apresenta. Também representam aqueles que, mesmo tendo uma história pessoal complicada e uma caminhada de fé nem sempre exemplar, estão abertos à novidade de Deus e se deixam questionar por Ele. Representam ainda os que não têm medo de se desinstalar, de arriscar partir para uma vida nova, de percorrer caminhos exigentes, de seguir Jesus no seu percurso de amor e de entrega, mesmo que isso implique a cruz e o dom da vida. Sentimo-nos disponíveis para abraçar a eterna novidade de Deus que nos espreita em cada curva da estrada da vida? Aceitamos viver numa dinâmica de conversão nunca terminada? Estamos dispostos a deixar que em cada “hoje” Deus reprograme a nossa vida conforme o seu projeto?
A segunda leitura mostra-nos o reencontro final de Jesus com as suas ovelhas. Aquelas ovelhas que escutaram a voz de Jesus e O seguiram, venceram a injustiça, a violência e a morte. No final do seu caminho na terra, reencontraram Jesus, o Bom Pastor; com Ele acederão eternamente às fontes da água viva.Muitos homens e mulheres passam pela vida perante a indiferença de toda a gente. Ignorados e desprezados, vivem humildemente e os seus nomes não ficam registados nos livros que contam a história dos povos. As suas vidas terão feito sentido, ou terão fracassado? Deus conhece os seus nomes, os seus padecimentos, os seus sonhos, as suas obras, os seus corações? João, o profeta de Patmos, fala-nos de um “livro” onde Deus tem registada a história do mundo. Nesse livro estão os nomes, os rostos de todos os homens e mulheres, mesmo aqueles que, aparentemente, passaram ao lado da vida. As suas vidas não foram perdidas, pois Deus conhece-os e tomou nota de tudo aquilo que passaram. Quando, depois das suas vidas sofridas, se apresentarem diante de Deus, Deus “enxugar-lhes-á todas as lágrimas” e oferecer-lhes-á vida em abundância. Todos os filhos e filhas de Deus estão registados no livro da vida, mesmo os mais humildes, os mais pobres, os que nunca têm voz, aqueles que não entram na contabilidade da história que os homens escrevem, aqueles que o mundo despreza e deixa abandonados na berma da estrada da vida. Sabemos que constamos do livro de Deus, mesmo que os homens com quem nos cruzamos não nos conheçam, não reparem em nós, nos tratem com desprezo, apaguem qualquer sinal da nossa passagem pelo mundo?
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